Estações escrita por Emma


Capítulo 32
Questão de Tempo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, 6 meses sem postar hein?! Nem com o TCC ano passado fiquei tanto tempo sem aparecer por aqui... Um milhão de desculpas, eu realmente me afundei no mar da falta de inspiração, e esse capítulo em especial tinha um diálogo entre A&S bem difícil de construir, portanto eu precisei mergulhar fundo nos sentimentos deles, para pode transmitir algo digno do que estava acontecendo. Ainda sim, eu olhava e sentia que faltava algo, espero que não, me digam depois rs

Queria também dedicar esse capítulo todinho pra minha leitora mais assídua e especial, Mico Leão, que passou por uma perda terrível esses dias... Bbzão, espero que isso traga um pouco de alegria ao seu coração, amo você.

Desculpem os erros, revisei o máximo que pude. Sem mais delongas, vamos ao que importa.



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"Nós nunca íamos dormir brigados,
Mas isso é tudo o que estamos fazendo ultimamente
E você está se afastando como se me odiasse
Você me odeia? Você me odeia? Oh..." 

Love me or leave me - Little Mix

 

“Ele é nosso.”

A frase parecia ecoar em sua cabeça. Tantos cenários com aquele bebê sendo de Victor inundaram sua mente que não havia restado lugar para supor que ele poderia ser seu. “Meu filho”. Alexandre desencostou-se da cama hospitalar sem se importar com a dor que percorreu seu sistema nervoso e analisou o garoto que Sonia acabara de virar na sua direção.

Os olhos de Alexandre moveram-se dos seus e se mantiveram fixos sobre o menino, como se a qualquer momento ele fosse desaparecer tão inesperado quanto surgiu. Sonia viu o oscilar de sentimentos aparecerem nas expressões de seu marido, podia ver as lágrimas de alegria nas irises castanhas passeando entre o brilho de fúria, o vinco de resignação na testa em contraste com o leve sorriso de amor formando-se em sua boca. Ela temia o momento e quando finalmente ele a encarou outra vez o que viu não lhe surpreendeu. Dizer que Alexandre estava ferido parecia eufemismo sem tamanho.

— Caramba Sonia! – ele arfou balançando a cabeça em contradição – Meu Deus... Ele é nosso mesmo?

— Sim... – a ex modelo balançou a cabeça, desviando o olhar.

— E – ele elevou a voz – por que diabos você não me disse isso antes? – o menino se assustou e Sonia levantou-se, tentando acalentá-lo. O doutor passou a mão pelos cabelos, terminando por massagear a testa com as duas mãos, suspirando profundamente pra tentar conter suas emoções. Algo que pareceu não funcionar, pois ele ainda sentia o peito queimar em indignação.

— Me desculpe Alexandre – sua voz soou fraca e ela o encarou novamente com os olhos marejados, o levando a se amaldiçoar por ter gritado – eu realmente sinto muito por lhe dizer isso assim, mas só me senti preparada agora.

— Então quer dizer que caso eu não tivesse sofrido esse “acidente” provavelmente nunca saberia sobre meu filho?

— Eu tentei te contar... – Sonia parou alguns segundos, tomando fôlego para começar sua explicação. Tinha ensaiado um possível discurso tantas vezes, mas agora ele fugira e lhe deixara totalmente a mercê do improviso – No começo, o único sentimento que eu conseguia ter por você era raiva, por tantos motivos e eu tinha acabado de descobrir mais um – suspirando para conter as lágrimas de caírem ela prosseguiu – eu não queria mais filhos, definitivamente não no momento em que nos encontrávamos e principalmente não com o homem que havia me traído – a língua dele coçou para reafirmar que ele não tinha feito isso e principalmente que não era uma desculpa para a omissão da criança, entretanto ele se segurou – Foi quando aconteceu o acidente com Helena, como sabes fiquei com as crianças até tudo se acalmar, então Heitor foi buscá-las depois de todo aquele tempo longe e percebi o quanto a distância os tinha machucado. Percebi também que se eu não te contasse, ia machucar meu filho tanto quanto, a longo prazo, mas iria, porque ele veria os irmãos tendo um pai e ele não.

— Mesmo assim eu só soube hoje, meses depois – inquiriu tentando não ser tão venenoso em suas palavras, porém estava falhando miseravelmente... “Droga, ele tinha todo direito do mundo de estar chateado!”— Com certeza isso foi obra do seu namoradinho, não? Ele a convenceu de que seria um pai melhor para o meu filho?

O bebê tinha se acalmado um pouco e ela o colocou sobre o sofá cama que acabara de forrar com uma manta. Suspirando ela voltou a olha-lo. Podia ver que a posição em que ele estava sentado o incomodava e tudo o que ela menos queria era discutir com ele, ainda mais naquelas circunstâncias, mas não ia ouvi-lo calada, o culpado maior de tudo isso era Alexandre e não ela.

— Victor não teve nada com isso Alexandre! – ele bufou um sorriso debochado e ela continuou – na verdade, foi você.

— Ah ok... – ele se levantou, franzindo a testa em dor e mesmo sobre os protestos dela caminhou até onde estava, mantendo certa distância, fitando-a com raiva, sentimento esse que ele sabia que não era Sonia que o despertara, porém no momento ele precisava direcioná-lo a alguém, mesmo que não fosse a pessoa que o merecesse – Como lhe dei uma dica de que eu não queria outro filho, que não gostaria de ser informado se tivesse tido ou algo parecido? – ele deu mais uns passos e gemeu.

— Você deveria se sentar, vai acabar abrindo seus pontos.

— Dane-se meus pontos Sonia! – o médico elevou a voz outra vez, desviando o olhar para o bebê que permanecia alheio a discussão, ocupado em chupar sua mãozinha e prosseguiu – Que me costurem de novo! – o ar entre eles crescia rarefeito de tantas palavras não ditas que a cada frase um ressentimento novo era destilado – Eu quero mesmo é entender porque escondeu essa criança de mim tanto tempo?!

— Porque na noite seguinte a cirurgia de Helena, quando entrei em seu escritório para lhe contar sobre minha gravidez, eu encontrei você e Melissa quase nus dormindo no sofá! – ela cuspiu – O que você queria que eu fizesse ? Que pedisse para ela se vestir e nos deixasse conversar?!

Alexandre cambaleou tentando entender. Sentiu como se tivesse levado uma bofetada. Ele não tinha permitido que Melissa se quer chegasse perto da sua sala novamente, muito menos que compartilhasse um cochilo com ele sem roupa. Do pouco que ele se lembrava daquela noite, sabia que havia tomado um relaxante com suco de maracujá e praticamente desmaiado de sono. A não ser que a vagabunda tivesse armado para ele outra vez. Um novo lote de raiva tomou conta dele e estremeceu. “PORCARIA!!! Desgraçados, filhos da p...”. Ele respirou se acalmando.

— Sonia... eu e Melissa... – sua voz era menos ríspida, todavia ela o cortou.

— O que você vai dizer? Que não estão juntos?! Dessa vez não foram fotos Alexandre, eu vi com meus próprios olhos. Poupe-se e me poupe também – ela revirou os olhos. “Ele ia mesmo continuar negando toda vez algo que ela própria já tinha constatado?!”— sua vida não me interessa mais. Eu sei que você deu ações do hospital para ela – o doutor gemeu em frustração – descobri naquela mesma noite e me senti novamente a pessoa mais idiota do mundo inteiro. Estava indo te contar que teríamos um bebê enquanto você dava ações do hospital para sua amante, namorada ou seja lá como a titule... Foi por isso que resolvi me mudar para Paris também, pode ter sido imaturidade minha, mas saber de tudo aquilo me machucou muito, muito mesmo, eu estava sofrendo, uma bagunça completa e cheia de hormônios, não pensei em tantas coisas, eu só quis proteger meu coração.

— Eu... – que merda ele deveria dizer depois de ouvir seus motivos?! Como ela poderia estar tão errada sobre tudo e ao mesmo tempo ele não podia fazê-la entender? Ele não fizera nada daquilo que ela acreditava, porém, suas justificativas eram todas dignas. No lugar dela talvez tivesse agido da mesma maneira. Negar novamente só pioraria as coisas entre eles, que já estavam bastante aquecidas. Só lhe restava uma alternativa: pedir desculpas – sinto muito ter magoado você dessa forma. Nunca foi minha intenção. Melissa não significa absolutamente nada para mim.

— Difícil de acreditar, todavia, gostaria que soubesse que está tudo bem, eu tenho conseguido superar a relação de vocês – ela acreditava ardentemente nisso, mas quando sentiu as palavras saindo de sua boca soou como a maior mentira que ela já havia contado – não posso deixar que o fato de não ter dado certo entre a gente atrapalhe seu relacionamento com nossos filhos, inclusive com ele – Sonia apontou para o bebê com o queixo.

“Tenho conseguido superar a relação de vocês...” Isso significava o que precisamente? Ela já não tinha mais nenhum sentimento por ele? Estava apaixonada e seguindo em frente com o advogado engomadinho, era isso? Essa história iria enlouquecê-lo!

Alexandre puxou uma respiração profunda. Assim que ele estivesse melhor mataria Melissa e Vicente com suas próprias mãos, eles haviam tornado suas vidas, tanto a dele quanto a de sua esposa, uma bagunça gigantesca por puro despeito.

— Eu fico muito grato então Sonia – eles estavam frente a frente, mas suas atenções voltadas para o filho caçula – Agora – o médico distraiu-se do garoto e buscou os olhos dela, ambos os olhares mais límpidos depois das farpas trocadas – eu adoraria saber o nome dele – ele sorriu buscando dissipar o clima de exaltação que pairava sobre eles.

E funcionou. A mulher falou segundos depois lhe devolvendo o sorriso

— Arthur.

— Como seu pai – Sonia balançou a cabeça afirmativamente – teria sido um nome da ‘Lista’ que eu aprovaria com certeza, é lindo – seu sorriso se alargou pela referência a grande lista com nomes e significados que eles possuíam desde que começaram a escolher nomes para Cristal, ela ficava guardada no criado da cama deles, a última vez em que a visitaram foi quando ela estava no auge dos seus 7 meses de gravidez de César e Charlie e finalmente eles chegaram no acordo de que os gêmeos receberiam o nome do casal do qual eles eram cúmplices da história de amor.

— Quando eu soube que era um garoto eu não tive dúvidas a respeito, sabia que seria perfeito para ele... Meu pai era tão maravilhoso, espero que Arthur seja um homem tão bom quanto ele foi.

— Eu também espero que ele seja a melhor pessoa para você e para nós, como o primeiro Arthur em sua vida.

— Eu pensei muito nele, no meu pai, quando eu recebi a notícia de que você poderia morrer eu me apavorei, você ia perder tudo sobre a vida de Arthur, você nem o conhecia na verdade, foi quando percebi que enquanto o escondia de ti eu estava privando-o de ter um relacionamento contigo, fazendo um papel semelhante ao da “morte”, foi nesse momento que minha ficha caiu e eu vi o quão errada estava, me desculpe novamente.

— Tudo bem, eu também peço desculpas por tudo o que falei, foi um choque muito grande – ele se distanciou dela e parou em frente ao local em que o filho dormia – será que eu posso pegá-lo?

— Se você acha que consegue fazer isso sem lhe prejudicar, sim. Afinal, ele é seu filho.

Meu filho— ele degustou as palavras, sentindo os olhos marejarem – meu filho – repetiu enquanto ela se curvava para pegar o menino e acomodá-lo em seu colo. Os dois sentaram-se e Arthur bocejou. Alexandre estendeu o dedo indicador e o bebê o agarrou – Hey garoto, aqui é seu pai – levou a mão dele a boca e beijou suavemente os dedinhos, sentindo a maciez de sua pele. Soltando-a, ele levou o polegar pelos contornos conhecidos, estudando seus traços desenhados no rosto pequeno e delicado do menino. Os olhos tão semelhantes aos seus o fitaram curiosos, tentando decifrar a face estranha – sim meninão, sou seu pai, demoramos um pouco para nos conhecer, mas grave bem minha voz, eu nunca mais irei me separar de você.

— Entendo se você quiser fazer um teste de DNA – sua mulher disse, sentando-se no sofá, mantendo uma distância segura.

— Sonia – ele buscou seus olhos – eu sei reconhecer características genéticas, essa criança tem bastante das minhas, pela primeira vez um dos nossos filhos resolveu sinalizá-las de uma forma mais expressiva – Alexandre sorriu e continuou a acariciar o rosto do bebê – Todos os outros tem olhos azuis lindos como os seus, mas ele – tocou suavemente as pálpebras – tem os olhos castanhos iguais aos meus e o cabelo também, não é o tom claro que Cristal herdou de ti, são da mesma cor dos meus... Tudo nele se parece comigo – o pai reconhecia encantado, a garganta secando de emoção em contradição com olhos que enchiam-se de lágrimas – Veja só essas mãozinhas, você as reconhece? – ele a esticou sobre sua palma, Sonia sorriu em concordância.

Quantas vezes ela tinha feito aquela comparação? Já havia perdido as contas, eles eram extremamente parecidos. Tanto quanto ela e sua primogênita. As mãos, o nariz fino e com os contornos masculinos, os olhos doces e convidativos que tanto a encantavam, a textura macia dos cabelos, que pendiam entre liso e ondulado, até o “redemoinho” que ele tinha no meio da cabeça era igual ao de Alexandre. E ela acreditava que a pequena marca marrom claro na coxa era o sinal de nascença que César também herdara do pai.

— Se você acha as mãos parecidas, espere até ver os pés de Arthur, vocês têm muito em comum – ela sorriu passando a mão pelo rosto do filho e em seguida Alexandre se inclinou beijando sua testa. Logo o menino se agitou, virando a cabeça em busca de algo e soltando um choro de frustração por não encontrá-lo.

— Parece que alguém está com fome – ele passou a criança para o colo da mãe que segundos depois já havia se aprontado e começado a amamentá-lo.

Alexandre adorava vê-la amamentar. Era doce, íntimo e familiar, tanto que seu coração ardia. Enquanto o pequeno se concentrava em sugar tudo o que podia, ele mantinha os olhos fixos na cena a sua frente. Ainda lhe parecia tão surreal, há algumas horas ele só tinha 3 filhos e agora, boom, eram 4. Como ele já podia estar tão apaixonado por aquele menino? Não fazia nem 1 hora que eles se conheciam. Arthur desfocou sua atenção da mãe e olhou para ele, parando por segundos e sorrindo mesmo com mamilo em sua boca, voltando a sua atividade rapidamente. O doutor se sentiu nas nuvens, uma lágrima solitária escapou por sua bochecha e ele beijou a cabeça do filho.

— Ele sorriu para mim Sônia, ele sabe quem eu sou – ela o encarou, olhando Arthur e voltando a fitá-lo com um sorriso bobo nos lábios.

— Aposto que ele sabe sim, a conexão foi rápida – depois de uns minutos os olhinhos do menino começaram a piscar constantemente, era dica de que logo ele adormeceria.

— Eu já o amo tanto – Alexandre revelou segundos depois, tocando-o suavemente, totalmente enternecido.

— Ele é adorável – ela o afastou com cuidado e arrumou a roupa, colocando-o deitado sobre a manta.

Ela se levantou e Alexandre olhou uma última vez para Arthur antes de segui-la, sentindo uma fisgada forte ao ficar de pé ele inclinou-se na esperança de estancar a dor. Sonia o segurou, encarando-o aflita.

— Meu Deus Alexandre! Está tudo bem? Quer que eu chame alguém? – analisando seu rosto, ele riu, ao menos ela ainda se importava com ele.

— Não – o médico lembrou-se das palavras do pai e gemeu quando voltou a posição ereta. Isso fez com que ela permanecesse segurando-o e ele riu internamente. Não era certo, mas e daí?! Ela era sua mulher e ele tiraria um pequeno proveito da proximidade entre eles – não precisa, vou ficar bem, porém, queria lhe pedir algo.

— Se estiver ao meu alcance eu farei com certeza.

— Fique um tempo aqui, eu queria conhecer meu menino melhor, isso se tudo for verdade mesmo e eu não acordar até mais tarde – ele descontraiu e ela sorriu largamente. Alexandre se parabenizou por isso, porque depois da risada dos seus filhos, aquele sorriso era tudo o que ele mais amava. Tudo.

— Alexandre... – ela hesitou.

— Você não pode me negar isso depois de tudo, eu não participei de nada em relação ao garoto – ela gostou de não sentir mais veneno em seu tom. E ele estava certo.

— Okay, mas só alguns dias, eu tenho projetos inacabados em Paris para o próximo ano, minha vida agora é lá.

— Não darling, é aqui comigo, sempre foi ao meu lado... – ele suspirou e foi despertado pela voz dela.

— O que você disse?

“MERDA! Ele tinha dito em voz alta?!”

— É isso que você ouviu – confessou, afinal o doutor não ia e nem queria fugir do assunto – não vá, seu lugar é aqui comigo... Eu nunca quis perdê-la.

— Porque me traiu então? – ela delineou nos lábios um sorriso triste e sofrido, abaixando o olhar logo após, soprando a última sentença melancolicamente – Era tudo perfeito até você resolver manchar isso.

O diálogo já não era cheio de farpas afiadas e o ar que pairava entre eles era de uma saudade tão dolorida. Alexandre suspirou sem saber como se defender novamente. Precisava virar o jogo a seu favor. Mas como?!

— Posso te fazer uma pergunta? – inquiriu.

— Pode fazer qualquer perguntar Alexandre, só não sei se vou respondê-la.

— Foi fácil para você me esquecer e seguir em frente?

— Como? – ela finalmente voltou a encará-lo e redarguiu sentindo a garganta secar e o coração bater contra o peito tão forte quanto um tambor.

— Queria saber se foi fácil para você amar outro, pelo que vi vocês estão juntos a bastante tempo, foi por isso que perguntei. Porque eu não deixei de pensar em você um dia se quer...

— Que merda de brincadeira é essa Alexandre? – refutou se afastando e permanecendo de costas para ele – Que papinho é esse de não conseguir seguir em frente?! Nunca foi meu amor que esteve em discussão. Eu sofri mais do que você pode imaginar, nada nunca doeu igual. Eu descobri que o amor pode ser tão tóxico quanto pode ser doce. Era isso o que você queria? – ela se virou com os olhos vidrados, a dor bem marcada em suas expressões – Saber o quanto doeu? Alexandre, eu sobrevivi a tudo por causa das crianças, mas nos primeiros meses, tudo o que eu queria era desaparecer, ou simplesmente morrer, qualquer coisa que acabasse com minha dor.

— Como eu queria que você acreditasse que eu sofri também – a mulher virou o rosto em outra direção, cética – e sofri sozinho, sem a alegria que as crianças poderiam trazer... Eu lhe disse que Melissa não significa nada para mim Sônia, e é verdade!

— Não diga isso – a ex modelo o repreendeu, voltando a enfrentá-lo – prefiro acreditar que um dia você se descobriu apaixonado por ela, do que acreditar que esse relacionamento entre vocês era algo meramente carnal, se não vou me questionar se ela foi a única.

— O que eu estou tentado dizer é que a única mulher que eu amei foi você! – ele quebrou distância entre eles e captou sua atenção ao se colocar centímetros diante dela – Nunca existiu nenhuma outra, é por você que meu coração chama – Sonia engoliu a seco. Percebendo que a afetara, o doutor se lembrou de algo e arriscou quando pegou a mão de sua mulher e a pôs sobre seu coração – “quando não estou com você meu peito fica vazio”, você se lembra disso? – ela permanecia fitando-o sem palavras e ele prosseguiu – “meu coração se recusa a bater, ele grita: ‘Sonia’ constantemente. Talvez tenha sido assim desde a primeira vez em que a vi. No instante em que eu esbarrei em você naquela festa e nossos olhares se cruzaram, sabia que estava perdido”... Eu não menti quando lhe disse isso, meus sentimentos são os mesmos, se os seus ainda são também, por favor, acredite em mim, pois eu a amo, desejo profundamente tê-la de volta, acredite em mim quando digo que nunca amei ninguém como amo você Sonia.

 

“Mergulho em grandes ondas congeladas onde o passado retorna a vida, combatendo o medo pela dor egoísta, valeu a pena toda vez, segure-se firme antes de nos batermos, pois nós dois sabemos como isso termina.” Clarity – Zedd.

 

Alexandre estava jogando pesado. Droga, o que ela deveria dizer diante de tudo isso?! Tudo podia ser uma encenação, mas porque ela não conseguia acreditar que era?! Seu coração martelava fortemente contra o peito, ela tentou fugir do seu olhar, porém ele não permitiu e dificultou ainda mais sua situação, pois ela não via mentira ou dúvida alguma sobre tudo o que ele acabara de lhe dizer.

Seu marido recitara as palavras do rei César para Charlotte quando lhe pedia desculpas por dormir com outra mulher, as mesmas palavras que lhe dissera em sua primeira noite em Paris como casal, fazia alguns anos, mas Sônia lembrava-se de cada detalhe, fez questão de guardar em um local especial de sua memória e coração, tudo foi tão doce e lânguido ao mesmo tempo. Ela não se lembrava tão especialmente de sua primeira vez como se lembrava daquela noite. Os beijos macios que se transformaram em toques sedentos e necessitados, Alexandre tinha um toque requintado, experiente, sutil e sedutor, naquela noite ele tinha sido o parceiro mais perfeito, o amante mais devoto e o noivo mais apaixonado, não tinha como ser mentira, ela sentia tudo fluindo dele como magia sendo liberada em uma camada envolvente de luz, invadindo-a e arrebatando-a.

Porque ela ainda o amava tanto? Ele tinha traído sua confiança, seu casamento e o amor deles, todavia Sonia queria desesperadamente se perder nele, ouvir seu coração e acabar com a dor da distância.

O médico como bom leitor das reações de sua esposa, logo levou a mão que não estava ocupada para tocar o rosto perfeito dela, deixando o polegar livre para deslizar pela bochecha lisa e esguia. Tudo o que ele mais queria era beijar seus lábios, que nunca estiveram tão convidativos, ele deveria arriscar?

 Sonia suspirou fechando os olhos, perdendo-se com as carícias, sentindo-se inebriada pelo toque e pela presença. Sua mente dizia “se afaste ou você só irá se machucar, você já viu como termina...”, já seu coração implorava “entregue-se, acredite, você o ama!” ... O que ela deveria fazer? Porque tudo tinha que ser tão complicado? Ela abriu os olhos e se arrependeu quando encontrou os de Alexandre. Ele a fitava com uma devoção tão pura e necessitada... Droga, droga, droga... Onde estava sua força de vontade nesses momentos?! Porque ele estava se inclinando? Alexandre ia fazer o que ela achava que ia?

 

“Nosso relógio faz tic-tac até quebrar seu vidro e me afogo em você de novo, porque você é o pedaço de mim que eu desejaria não precisar, numa perseguição implacável que eu ainda luto nem sei por quê...”

 

O olhar do homem deslizou dos olhos para a boca de sua mulher, tentou com todas as suas forças se controlar, mas não podia mais resistir e quando Sonia também começou a cobiçar os lábios dele, Alexandre não resistiu mais e cedeu ao desejo que o consumia, permitindo seus lábios tocarem o dela.

Começou devagar, tímido, como uma redescoberta, a mão dele liberou a dela em seu peito e subiu, enfiando-se pelo cabelo sedoso a medida em que ele mordiscava o lábio inferior e sua língua pedia a passagem que ela não opôs ceder. Às mãos dela apertaram as costas, as unhas fincando-se na lombar, as línguas em uma batalha furiosa sobre quem sugava mais. Segundos nunca foram tão apreciado por esses dois, um beijo nunca significou tanta coisa, o desejo transbordou de tal maneira que se ele insistisse mais um pouco, ela arrancaria a roupa e eles fariam amor bem ali.

 

“Se o nosso amor é tragédia, porque você é meu remédio? Se o nosso amor é insanidade, porque você é minha lucidez?”

 

Alexandre começou a sentir o incômodo em sua ferida pela posição curvada em que estava e pela força do abraço de Sonia, mas diabos que ele pararia o beijo por causa disso! Morreria ali se preciso, definharia em dor (que ele quase não sentia diante de todos os outros sentimentos que o acometiam) e iria feliz.

 

* * *

 

Era isso, Sonia pensou, era exatamente aquilo. O gosto adocicado e quente do beijo, a pressão certa do toque dos dedos sobre a pele de sua nuca, o cheiro que servia como um calmante para seus medos mais profundos... Era ele, sempre fora e para sua tormenta, sempre seria também. Tinha certeza que por mais que tentasse seu coração nunca queimaria assim por Victor, Alexandre a tinha estragado para qualquer outro homem. E holy shit, porque todas essas sensações tinham que ser tão boas? Ela entendeu o real sentido do ditado “brincar com fogo” e naquele momento ela queria tanto se queimar.

.

.

.

Entretanto, ela não podia. Ou não deveria pelo menos, e se afastou ofegante, ainda com os olhos fechados, não tinha como encará-lo agora.

— Sonia... – o médico tentou, mas ela desvencilhou-se de seus braços e foi para um lugar seguro.

— Não diga nada – falou por sobre os ombros, de costas para ele outra vez – isso não é algo que vai acontecer uma segunda vez, nossa posição ainda é a mesma Alexandre. Eu trouxe Victor para resolvermos tudo sobre o divórcio. Assim que você tiver condições sentaremos com seu advogado e daremos um ponto final em nossa história.

 

“Caminhamos em meio a um desfile vermelho e nos recusamos a fazer as pazes, isso penetra fundo em nosso chão e nos faz esquecer todo o bom senso, não fale enquanto eu tento ir embora, porque nós dois sabemos o que escolheremos. Se você puxar então empurrarei mais fundo e me perderei de novo em você...”

 

— Não Sonia, primeiro me diz que não sentiu nada – ele voltou a se aproximar e tocou seu ombro suavemente, porém ela retesou ao senti-lo, levando-o a soltá-la – me diz olhando nos meus olhos e eu juro que lhe dou o divórcio e a deixo viver em paz com seu advogadozinho, se não, não me peça para abrir mão de tudo aquilo que mais me importa.

— Alexandre – Sonia se virou novamente – nós não estamos nos separando porque eu deixei de sentir e sim porque você me enganou! Não é o que eu sinto ou sentia que precisamos discutir... Eu juro que quero resolver isso nos termos mais amigáveis possíveis – suspirando continuou – espero que sua insistência não me leve a tomar medidas drásticas... Vou chamar as crianças para se despedirem.

— Sonia – ele tentou novamente.

— Eu realmente preciso ir Alexandre – ela saiu da sala, não lhe dando chance de continuar com a conversa.

Encostando-se contra parede ela finalmente pode respirar. O que diabos tinha acontecido com ela? Como podia ter sido tão fraca? Sonia tocou seus lábios ainda incrédula. Alexandre havia lhe beijado, ela tinha cedido e gostado, muito mais do que esperava e deveria. Sua mente tentava filtrar tudo, quando ouviu o sotaque italiano da amiga.

 

“Se o nosso amor é tragédia, porque você é meu remédio? Se o nosso amor é insanidade, porque você é minha lucidez?”

 

— Sonia querida, você está bem? – abrindo os olhos ela se deu conta de onde estava, por sorte, apenas Helena preenchia a antessala – Você parece que viu um fantasma...

— Lê eu... – a amazona a encarava com o cenho franzido.

— Sonia você está me assustando. Alexandre lhe fez algo?

A ex modelo acenou com um movimento de sua cabeça.

— Nós nos beijamos Helena – ela revelou com um expressão mortificada.

— U-A-U – assobiou baixinho, em troca de uma resposta melhor.

— Não precisa me questionar, isso com certeza foi algo que não devia ter acontecido e que eu definitivamente quero ignorar.

— Tudo bem, entendo, mas já que você quer ignorar, primeiro vá até o banheiro limpar as manchas de batom. Alexandre fez uma bela sujeira – ela piscou dissimulada e pela primeira vez Sonia teve vontade de matá-la.

— Helena! – ela repreendeu, preferindo mudar de assunto – Sabe onde meus filhos estão?

— Bernardo e Cecília os levaram até o parque da ala infantil.

— Obrigada, vou buscá-los para se despedirem do pai.

Quando Sonia virou-se na direção da saída rumo ao local onde as crianças estavam, Melissa vinha adentrando o ambiente, porém estagnou assim que a notou. As duas mulheres se encararam por alguns breves segundos, até a médica virar para o lado e perceber que havia uma terceira pessoa ali presente, Helena. Seus olhos amendoados estamparam um medo repentino, logo ela abaixou a cabeça e rapidamente tomou o caminho pelo qual acabara de vir.

Estranhando a atitude de Melissa, Sonia olha para Helena que esbanjava um sorriso vitorioso no rosto.

— O que eu perdi aqui? – perguntou cismada.

Oh amore, digamos que eu tenha ensinado a essa vadia com quem ela não deve mexer, agora, depois de ver a reação dela, tenho certeza que Melissa a deixará em paz.

— Lê, você deu uma prensa nela? – Sonia indagou divertida.

— Não meu bem, o que prometi que faria com ela assim que meus bebês nascessem? Que lhe daria uma surra não é mesmo?! Foi exatamente o que eu fiz, não como eu gostaria de ter dado, mas serviu, aquela carinha sonsa ficou vermelha e inchada por pelo menos dois dias, e na boca deve ter ficado uma cicatriz do anel que eu usava. Eu disse a ela que sabia como dominar uma cobra e que nunca mais destilasse seu veneno sobre você. Vejo que ela entendeu.

— Você é demais honey! Não sei se lhe agradeço ou finjo que fiquei aborrecida por teres uma atitude tão infantil. – as duas sorriram, Sonia sentindo que não deveria, ainda que a vadia merecesse, violência física nunca era a solução.

— Eu não deveria te contar isso com tanta alegria uma vez que me custou uma briga séria com meu marido, mas no fundo, eu não me arrependo, bateria nela outra vez sem pensar muito por ter lhe machucado tanto.

— Ela não fez isso sozinha Lê, porém, lhe agradeço por se importar e cuidar de mim.

— Sempre amore, sempre.

 

* * *

 

— Alê?

— Pode entrar irmão – o médico se encontrava sentado no sofá cama ao lado de seu filho, que ainda dormia.

— Que surpresa em cara?!

— Põe surpresa nisso... – por alguns lentos segundos um silêncio confortável se estendeu entre eles, até Heitor resolver quebrá-lo com uma indagação que rondava sua mente desde que vira a criança.

— Você tem certeza que ele é mesmo seu?

— Heitor, olhe para o menino, ele é a minha cara – ele o estudou e comprovou o que seu amigo tinha dito – até os olhos, você não terá como comprovar porque Arthur está dormindo, mas tenho certeza que ele é meu sim.

— Eu gostei do nome.

— Eu também. Foi uma homenagem muito bonita... Quando soubemos que os gêmeos seriam um casal, eu até cogitei dar ao menino esse nome, seria uma ótima maneira de Sonia honrar a memória do pai, até porque eu imaginava que não teríamos mais crianças, nós havíamos conversado a respeito... Parece que o destino tinha outros planos não?!

— E agora? Como ficam as coisas entre vocês?

— Excelente pergunta... – Alexandre suspirou rindo e Heitor o acompanhou.

— Aconteceu algo entre vocês nesse tempo ou você estava testando qual tom de batom melhor se encaixa na sua pele?

— Eu beijei Sonia, ela correspondeu e disse que nada havia mudado, que seguiria com o divórcio 

Bloody hell man... E o que você vai fazer?

— Eu estava desistido Heitor, porém, depois de sentir a intensidade do nosso beijo, vi que ainda existe muito sentimento entre nós... Pouco importa que ela tenha trazido o namoradinho, Sonia é minha esposa e vou lutar por ela até o fim da minha vida, porque a amo demais.

Heitor sorriu ao ver o brilho de esperança retornar aos olhos do amigo, então ofereceu seu apoio.

— Conte comigo companheiro, tenho certeza que essa merda toda vai se resolver. Agora que sei que estás bem eu vou para casa, passo para vê-lo amanhã.

— Obrigado, vá ficar com sua família.

 

* * *

 

Naquele início de noite ao chegar em casa, Laura se deparou com uma das cenas mais doces que ela tinha certeza que veria na sua vida. Orlando estava deitado no sofá e Louise aconchegada em seu peito, ambos adormecidos, ele tinha os dedos enfiados nos cabelos ruivos da menina e a outra mão repousava em suas costas, com os lábios descansando contra a testa de sua filha.

O Ipod conectado a uma pequena caixa de música soava uma canção. Com os ouvidos bem treinados, ela logo reconheceu uma música de Coldplay, umas das preferidas de sua garotinha e dela também. Miracles falava sobre ver a beleza do mundo através dos olhos de alguém e que as vezes as estrelas resolviam refletir na terra em forma de pétalas. Um verso em especial lhe tocava bastante, cantava para Louise desde que ela era um bebê, olhando dentro seus belos olhos azuis quando a colocava para dormir, ao passo que ela dava as últimas piscadas antes de cair no sono. 

“Quando eu olho em seus olhos, esqueço tudo aquilo que me machuca...”

Rapidamente puxou seu celular e tirou uma foto enviando-a para Alice, não demorou muito e seu telefone vibrou despertando-a dos doces pensamentos aos quais sua mente lhe conduzia enquanto desfrutava da singeleza do que contemplava.

Ela se afastou, indo em direção a cozinha silenciosamente, não queria acordá-los agora. Logo que atendeu a ligação sua amiga disparou:

— Me diga que finalmente vocês transaram e que por favor fez uso daquela cartela de preservativos que lhe dei na última vez em que fui aí, porque um homem que trata sua filha dessa maneira, merece não só seu coração como seu corpo e tudo o que tiveres para oferecer – Laura não resistiu e soltou uma gargalhada juntamente com a morena.

— Tens razão, Orlie merece todo amor do mundo, Louise está encantada com ele, veja isso – ela clicou no botão e logo o aparelho trocou as câmeras mostrando a mesa posta com um jantar esperando por ela – eles preparam para mim Ally – voltando a câmera para o modo inicial novamente seu rosto estampou a tela – Aquele homem na minha sala é simplesmente maravilhoso.

— Você ainda não me respondeu... – Laura abriu um sorriso travesso e mordeu de leve o lábio inferior encarando a amiga – Quer saber, nem precisa, esse sorriso no seu rosto e o rubor em suas bochechas estão lhe denunciando, você FINALMENTE fez sexo depois de todos esses anos de seca.

— Estou de tão bom humor que não vou responder suas gracinhas... E sim, nós dormimos juntos, foi incrível e claro que nos protegemos, eu não arriscaria ficar grávida outra vez tão cedo – a ruiva revirou os olhos – Ele foi tudo o que eu esperava que fosse.

— Me dê detalhes sua malvada – uma careta de falsa frustração se formou no rosto da outra advogada – eu torci tanto por vocês, não deixe que eu me afogue em um mar de suposições – Laura sorriu, ela tinha toda intenção de contar tudo a sua amada Ally, não precisava de apelação, mas o drama fazia parte do relacionamento delas há anos. Que fique claro que a dramática sempre fora a morena.

— Orlando é um homem experiente, inteligente, gentil e atencioso. Ele também sabe fazer bom uso dessas características na cama. É um amante maravilhoso, mesmo que minha experiência não tenha sido ampla, Victor era muito bom no que fazia e me deixou um tanto exigente – agora fora a vez de Alice revirar os olhos em deboche – mas meu galã latino não me decepcionou, pelo contrário.

— Eu estou imensamente feliz por vocês Laurinha, tudo o que mais desejo é ver você e minha afilhada realizadas e transbordando alegria, por isso diga a esse senhor que se ele fizer qualquer uma das duas sofrer, juro que colocá-lo dentro de uma cadeia será o menor dos males que lhe farei, isso é uma promessa. Você e Lou Lou, juntamente com meus pais e Patrick, são tudo de mais precioso que possuo.

— Você é a melhor amiga que alguém poderia ter, sorte a minha em ter lhe encontrado. Quanto ao recado, venha pessoalmente dá-lo, ficaria muito feliz em ter você e Patrick comigo uns dias.

—  Vou tentar fugir dos planos de natal dos meus pais esse ano e passar seu aniversário com vocês, lhe confirmo até dia 15.

— Tudo bem, bom falar contigo Ally, vou acordar aqueles dois, pois estou com fome, até logo.

— Até baby, beijos.

* * *

 

Laura se aproximou do sofá, ajoelhando-se ela pôs-se a acariciar desde a têmpora até o maxilar de Orlando, ele despertou com um suspiro, ao notá-la sorriu e seu coração acelerou algumas batidas.

— Parece que alguém não me esperou para jantar... – ela sussurrou.

— Nós arrumamos a mesa assim que a comida chegou e viemos para sala assistir X-Factor— também sussurrando, ele apontou a tv ligada – não demorou muito e ela caiu no sono e acabei indo junto... Ninguém comeu ainda, isso se você descontar os furtos de shakemaki que Lou Lou fez.

— Acho que nosso passeio no Chapultepec hoje a cansou, ela ficou bastante animada em conhecer os bichinhos. Obrigada por nos levar.

— Acredite, o prazer foi todo meu linda.

— Deixe-me colocá-la na cama – Laura se inclinou e Orlando a interrompeu.

— Deixa que eu faço isso.

Não demorou muito e ele estava diante da cama dela, repousando o corpo pequeno da garotinha, acomodando-a sob o edredom, lhe beijando a testa em seguida. Quando Orlando encontrou a ruiva na porta do quarto ela lhe enlaçou o pescoço e lhe deu o beijo pelo qual ele tinha esperado o dia todo. Puxando o ar eles se afastaram.

— Vamos jantar? – as mãos dele passeavam pela cintura dela.

— Eu estou com vontade de outra coisa agora... – ela sugeriu e ele captou imediatamente o que era ao olhar em seus olhos cor de âmbar, que haviam adquirido um tom mais escuro.

— Mas e quanto ao jantar?

— Deixe-o esperando um pouco mais...

 

* * *

Alguns dias depois...

 

A noite estava pela metade quando Heitor dirigia para casa com um sorriso gigantesco no rosto, passara o dia assim, seu pai logo cedo ligara o felicitando e ele correu para abrir as novas edições de três de suas cinco revistas preferidas sobre arquitetura e engenharia. Todas estampavam como manchetes principais Herrera Construções e o desempenho dele com as restaurações no Egito. Os críticos eram profissionais da área que ele admirava desde a época da faculdade, doutores com um currículo invejável destacando o quão excelente havia sido seu trabalho.

Por mais intenso que fora seu dia ele estava cheio de energia, não tinha visto Helena e as crianças desde quando saíra pela manhã e precisava compartilhar a novidade, em especial com ela, apesar de suspeitar que sua amazona já soubesse por alguma mídia social. Emails encheram sua caixa de entrada com solicitações de orçamentos, sua secretária não tivera folga e ele também não, por isso não fora almoçar em casa.

Estacionando seu conversível, entrou pela garagem mesmo, no caminho uma de suas funcionárias o abordou perguntando se ele iria jantar. Heitor agradeceu e em seguida dispensou a jovem senhora subindo para seu quarto. Helena estava sentada em frente ao computador de mesa da bancada em seu quarto, AutoCad e Revit abertos, ele percebeu que ela trabalhava em um projeto e estava renderizando um dos ambientes.

Sendo o mais silencioso possível foi andando pelo quarto, ao passar por sua cama viu Henrique e Gabriela, o pequeno Otávio também dormia entre eles. Seu coração vibrou de tanto amor com a cena, seus olhos passearam procurando por sua caçula, quando então notou que ela estava no colo de Helena mamando. Ele sempre achara que sua esposa era a mais sexy mulher do mundo todo, e Helena nem precisava se esforçar para isso acontecer, como agora, quando ela era a definição de maravilhosa, trabalhando concentrada em seu projeto ao mesmo tempo em que cuidava dos seus filhos, ela podia ser mais perfeita?

Catarina resmungou um pouco e logo ela apoiou a perna de uma maneira que facilitasse o balanço e continuou mexendo com o mouse com a mão livre, enquanto acalentava a menina, que não demorou muito a se aquietar, com a outra.

Ele não duvidava, todavia, existiam momentos como aquele, em que tinha plena certeza que era um bastardo afortunado, tinha 4 crianças adoráveis e uma mulher que era a personificação de tudo o que ele havia sonhado quando se imaginou casando com alguém. Constantemente se perguntava como ela conseguia, como ela havia feito para enfeitiçá-lo dessa maneira? Gostava da vida boêmia, entretanto, bastou apenas uma única noite de beijos no sofá da recepção do antigo prédio em que moravam – Heitor sorriu se lembrando do dia em que a pedira em namoro – e estava perdido, seu coração batia mais rápido só de olhá-la, a sensação de perdê-la fora de longe a pior dor que experimentara e ele agradecia ao ser que regia o mundo e poupara sua vida.

— Hey bonitona – ele falou se aproximando e lhe dando um beijo cheio de saudade.

— Oi – ela se afastou sorrindo e tentou recompor a respiração.

— Me dê essa menininha aqui, deixe que eu a acomodo – Catarina já havia parado de sugar, porém o mamilo da mãe ainda permanecia em sua boquinha. Heitor a pegou com cuidado e a levou para a cama, balançando-a no caminho com a experiência de alguém que já fizera isso muitas vezes.

Helena terminava de arrumar a alça da camisola quando seu marido retornou a mesa, puxando um assento sem encosto e se pondo ao lado dela.

— Você jantou algo na empresa amore?

— Não, tinha esperanças de conseguir comer com vocês, mas só no caminho para casa que vi que já havia passado do horário das crianças jantarem.

— Que bom então, porque eu estava esperando por você, deixe só que eu salve essas modificações e nós poderemos descer para comer algo.

— No que você está trabalhando baby?

— Naquele último projeto que você me passou.

— Oh sim, desculpe importuná-la tanto, mas ainda não achei nenhum arquiteto tão bom quanto você.

— Oh Heitor, pare! Você enche muito meu ego... – ele adorou ver como as bochechas dela ainda se ruborizavam facilmente com um comentário desse – Mas querido, sério, eu não me importo, adoro trabalhar com isso, tenho ido menos a construtora por causa do malabarismo que faço com 3 crianças pequenas, desconsidere Henrique, ele é bastante independente e nunca nos deu trabalho mesmo – ambos sorriram concordando – Por isso estou preferindo projetar aqui por casa, agora que os gêmeos estão começando a engatinhar vão colocar nosso escritório abaixo, aquele espaço que usávamos como brinquedoteca para Henrique não aguenta Gabriela por muito tempo – terminando de fazer os últimos cliques necessários na tela, estendeu o corpo sobre ele e lhe deu um selinho – Vamos?

— Sim – os dois levantaram-se e o engenheiro envolveu seu braço por sua cintura – quando eles chegaram a cozinha Heitor sorriu e a encarou dando-lhe um sorriso manhoso. Tinha uma mesa pequena, posta para dois do outro lado da grande porta de vidro que dava para a varanda. Tinha velas e champanhe, o que o levou a perguntar:

— Champanhe?

— Sim, muito apropriado para comemorar todas aquelas críticas sobre seu trabalho meu amor, ou você achou que eu deixaria passar em branco?!

— Eu estava louco para te contar, mesmo imaginando que você soubesse, fiquei tão feliz em ler aquelas palavras vindas de pessoas como aqueles homens, sabes o quanto eu os admiro.

— Sim, eu sei meu bonitão e você foi merecedor de todo louvor que recebestes. Você me enche de orgulho Sr. Herrera, meus parabéns!

— Devo muito disso a você bonitona, muito obrigada por estar comigo sempre.

— Sempre bonitão, sempre.

Ele se inclinou para beijá-la mais uma vez, era para ser algo rápido, todavia Helena deslizou a língua por sobre os lábios dele e tudo mudou de rumo. Sendo tomada pela intensidade do beijo, só voltou a si quando percebeu-se sentada sobre o mármore frio da parte desocupada da bancada da ilha, no meio da cozinha, com seu marido entre suas pernas, passando a mão por suas coxas subindo sua camisola e robe juntos, os beijos continuavam e seguiam aumentando.

Heitor afastou o robe do caminho, soltando o laço da cintura, abaixou as alças da camisola liberando o ombro enquanto seguia fazendo um caminho de beijos pela pele que lhe ia sendo oferecida. A respiração de sua esposa ficava cada vez mais ofegante e ela começara a desabotoar sua camisa social, o paletó e a gravata ele já havia deixado no quarto.

— Você quer continuar isso aqui?

— Não seria a primeira vez – ela mordeu o lábio e ele gemeu.

Dammit mulher, não faça isso. Aliás, faça sim – eles sorriram e a amazona o puxou pela gola, envolvendo-os em outro beijo. A camisa de Heitor escorregou por seus braços e caiu no chão.

Quando ela deixou escapar um grito alto demais e relaxou em seus braços, ele agradeceu internamente por ter dispensando a funcionária que tinha ficado no encargo de lhes servir o jantar. Eles comeram e subiram, encontrando as crianças ainda dormindo em sua cama, Heitor a encarou e ela sabia o que ele queria.

— Vamos deixá-los ficar aqui conosco só por hoje – ele pediu e Helena sorriu – eu realmente não quero perdê-los de vista essa noite.

— Ok, tudo bem bonitão, mas fique ciente que se um dos gêmeos acordarem Gabriela pela madrugada, é você quem a fará dormir de novo – Heitor acenou em acordo – Vamos ter que nos apertar e possivelmente acordaremos com o pé de Henrique na cara de alguém.

Como Helena havia dito, na manhã seguinte, Heitor fora o primeiro a pular da cama com uma pesada certeira de Henrique em seu queixo, começando a se arrepender um pouco de deixá-los passarem a noite com eles dois.


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Notas finais do capítulo

Eu pulei alguns dias no final e sei que talvez tenham sentido falta das reações de Sonia após toda essa situação e principalmente depois de beijar Alê, mas isso será abordado no próximo capítulo.

Beijos, até o próximo.



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