Estações escrita por Emma


Capítulo 31
Nosso


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez, desculpem pela demora e aproveitem... Mico que me ignorou completamente. está ai seu capítulo (enjoada do meu ♥ )



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“Eu sei que você não se decidiu ainda, mas eu nunca erraria com você, eu já soube desde o momento que nos conhecemos, não há dúvida na minha mente de onde você pertence” – Make you feel my love - Adele

 

Laura se espreguiçou sentindo a maciez do edredom contra seu corpo, suspirando, colocou o antebraço na frente dos olhos por causa da claridade, ela provavelmente tinha se esquecido de puxar as cortinas noite passada. Erguendo a outra mão sobre o criado mudo puxou seu celular e quando viu a hora se assustou. “MERDA!”. Estava atrasada. E Louise também. “Como não ouvira o despertador?”.

Quando ia sair apressadamente da cama, ela notou uma coisa. Estava completamente nua. Olhando ao redor do quarto para se situar ela voltou a si ao perceber suas roupas da noite passada abandonadas sobre a cadeira da penteadeira e os sapatos de Orlando próximo. Se jogando contra os travesseiros outra vez fechou os olhos novamente, deixando sua mente ser inundada por lembranças da noite anterior e sorriu mordendo o lábio inferior. O charme fazia jus a ele. Alice estava certa em tudo o que supôs. Orlie era um parceiro doce, experiente e incrível.

Apesar de ser sábado pela manhã, estava bastante tarde e ela tinha obrigações, estava até estranhando que sua “obrigação” ainda não tivesse pulado na sua cama. Fato que ela agradeceu internamente por não ter ocorrido. Como explicar o porquê dela e Orlando estarem dormindo sem roupas?! O calor não seria uma desculpa com o clima frio dos últimos dias... E ele? Onde estaria? Já teria ido tão cedo e sem se despedir? Descartando essa hipótese, ela resolveu se levantar, por uma roupa e procurá-lo, afinal, Orlie não iria descalço.

* * *

Quando chegou a sua cozinha minutos depois de fazer uma higiene matinal rápida, colocar um vestido soltinho e passar pelo quarto da filha, a cena que viu aqueceu seu coração e quase a levou a chorar. Ela se apoiou no batente e admirou-os por alguns segundos... Louise estava em pé, ainda vestida no pijama, sobre uma cadeira próxima ao balcão, Orlando na frente do fogão fazendo panquecas enquanto a menina despejava calda sobre as que estavam prontas. Sua filha interagia com Orlando com um sorriso tão feliz que Laura quis correr até o homem e beijá-lo até que ficassem sem fôlego por ele ser tão agradável e realmente gostar da ruivinha de cinco anos.

— Veja Lou Lou, a dorminhoca acordou! – encarou a menina e em seguida ela com um sorriso doce.

— Mamãe, bom dia! Tio Orlie e eu fizemos o café para você – Laura olhou a mesa posta e um banquete que cheirava tão bem.

— Orlando você fez tudo isso sozinho? Eu não sabia que tinha esse dom?!

— Como assim sozinho? Lou Lou me ajudou – o homem fingiu indignação enquanto ela caminhava até eles, se aproximando primeiro da filha e beijando sua bochecha, em seguida enlaçou a cintura do namorado que estava de costas ainda terminando a última leva de panquecas.

— Obrigada – ela sussurrou contra suas omoplatas.

— Pelo que? – ele a olhou de canto com um sorriso confuso.

— Por você ter sido simplesmente maravilhoso ontem, por isso... mas principalmente – indicou Louise com o queixo –  por ela – em seguida ficou na ponta dos pés beijando sua bochecha.

Ele se virou tirando a massa pronta e pondo junto com o outro monte que a menina despejaria calda em cima. Desligando o fogão ele tomou seus lábios enquanto a segurava pela nuca, o par quebrou o beijo com um sorriso enorme de satisfação em seus rostos.

— Não há pelo que agradecer, estou adorando fazer parte disso... – aumentando um pouco o tom, para que a menina pudesse ouvir, perguntou – O que minhas garotas preferidas acham de comermos um pouquinho e depois darmos uma volta no parque Chapultepec? – assim que Louise ouviu se pronunciou.

— Tio Orlie eu já disse que você é o melhor?! – Laura sorriu, saindo dos braços do namorado e pegando a filha no colo.

Os três caminharam até a mesa. Orlando puxou a cadeira o mais próximo que conseguiu dela, Louise permanecia sentada nas pernas da mãe e sorria quando Orlie lhe fazia cócegas ou contava alguma história divertida. A advogada também percebeu que ele não conseguia mais manter as mãos longe dela. Quando não tocava a parte baixa de suas costas, suas mãos subiam para acariciar a nuca ou os cabelos. Ela sorriu mais uma vez, o coração batendo mais forte preenchido de um sentimento bom. Aquela com certeza era uma manhã adorável e ela podia se ver assim, nesse mesmo lugar, com Louise em seu colo e Orlando ao seu lado, por muito tempo. 

* * *

  Paris, França...

 

— Victor – Sonia chamou batendo na porta do quarto em que o amigo dormia em sua casa. Não demorou muito tempo para um rosto atordoado pelo sono com um olhar repleto de preocupação aparecer diante da porta aberta.

— Oi Ceci, aconteceu algo? – a expressão dela era um indicativo forte de que sim, algo estava acontecendo, mas ele perguntou da mesma forma. A ex modelo suspirou e balançou a cabeça, tentando encontrar as palavras.

Um pequeno feixe de luz passou pelo rosto dela e ele pode ver a marca de lágrimas nas bochechas. Abriu a boca, porém as palavras lhe faltaram, ela precisou de um novo suspiro para conter suas emoções e conseguir falar.

— Alexandre foi baleado em um assalto, Helena acabou de me telefonar para contar, os médicos ainda não tem um parecer do quadro dele.

— Oh meu Deus! Como assim? – ele a puxou em seus braços e sentiu quando Sonia o apertou fortemente, seu corpo começou a tremer e Victor sentiu as lágrimas em sua camisa.

 - Eu não faço ideia Vic – ela o encarou angustiada, sua expressão era ainda mais penalizada do que minutos atrás – só sei que preciso ir até lá, preciso levar as crianças, preciso...

Honey— ele a tirou de suas divagações enquanto segurava seu queixo e beijava sua testa – acalme-se, ok?! Estou aqui contigo e vou ajuda-la a cuidar de tudo o que for necessário, apenas tente não surtar.

— E se ele morrer Victor? – os olhos azuis dela estavam tão grandes de medo que cortou o coração dele – Eu vou me culpar o resto da vida por ter escondido Arthur dele – ela afundou o rosto no seu peito novamente, apertando os dedos com força contra o algodão da camisa do advogado.

— Sonia – ele pediu – olhe para mim por favor – hesitantemente ela o obedeceu – vamos esperar notícias, não sofra por antecipação. Vá arrumar suas coisas e a das crianças e deixa que eu cuido do resto. Vou começar providenciando as passagens.

— Vic, o pai de Helena está na cidade a negócios e disse que seu avião está no hangar privado dele a nossa disposição, basta telefonarmos.

— Ótimo. Façamos o seguinte então. Você vai para o seu quarto e fazer o possível para tentar se acalmar, se não vai assustar seus filhos. Eu vou pedir para Marie fazer um chá de camomila para você e depois subir para organizar o que precisa ser preparado para a viagem. Certo?

— Sim, obrigada – a abraçando mais uma vez ele sussurrou contra sua têmpora:

— Por nada querida, relaxe, tudo vai ficar bem, você verá. Eu irei contigo e estarei ao seu lado o tempo todo.

* * *

Cidade do México, sala de espera do Hospital Del Rio...

 

Heitor olhava ao redor frustrado por estar nessa posição novamente. Sentado, de braços cruzados, sem muito que fazer diante da situação, apenas a espera de notícias sobre a vida de uma das pessoas que ele mais amava em sua vida.

— Eu confesso que não imaginava nem na pior das hipóteses que estaria sentado na sala de espera de um hospital outra vez, sem notícias sobre um ente querido, em tão pouco tempo – murmurou para sua esposa.

Hey bonitão, vamos tentar manter nossa mente longe da negatividade ok?! – ela deslizou os dedos pelos seus cabelos, que ele havia bagunçado de tanto passar as mãos, na intenção de arrumá-los e reconforta-lo – Foi uma fatalidade, como poderíamos evitar? Você ouviu a moça, Ale apenas agiu como o homem corajoso que ele é.

— Eu sei Helena, eu sei. Mas isso não me deixa menos aflito, preciso de respostas! – Heitor se levantou e antes de virar-se ouviu a voz de um homem.

— Que bom que eu posso ajudar então senhor – estendendo a mão para cumprimenta-lo, o médico continuou – sou Dr. Fernandez, cirurgião que atendeu a emergência do Dr. Del Rio. Boa noite.

— Boa noite doutor. Como está meu amigo?

— Nós conseguimos estabilizá-lo – ambos suspiraram em alívio – acabamos de dar início a cirurgia. Por sorte as balas não perfuraram nenhum órgão importante. Uma delas ficou presa na musculatura intercostal e a outra passou de raspão. A princípio imaginamos que a primeira bala tivesse atingido o coração, porque ele sangrou bastante e na verdade faltou pouco, porém para nosso alívio foi uma pequena ruptura na veia pulmonar que já está sendo cuidada pelo nosso cirurgião toráxico que acabou de chegar.

— Ele já está fora de perigo então?

— Digamos que o perigo maior já passou.

— Graças a Deus – Helena apertou a mão de Heitor com suavidade.

— Os pais ou a esposa do doutor chegaram?

— Não, estão a caminho – Helena respondeu.

— Peço então que a senhora lhes avise sobre o quadro dele. Assim que a cirurgia iniciar ou qualquer nova atualização eu venho informa-los.

— Obrigado Dr. Fernandez.

— Por nada – o médico segurou gentilmente o ombro de Heitor, para tranquiliza-lo ainda mais – gostaria que soubessem que o Dr. Del Rio é muito estimado por toda nossa equipe, esperamos que não haja nenhuma complicação na cirurgia e daremos o nosso melhor para isso.    

O engenheiro sorriu consentindo e agradeceu o homem, enquanto este voltava para a ala cirúrgica. Helena se lançou em seus braços e beijou de leve os lábios do marido.

— Eu lhe disse meu amor, Alexandre não vai nos deixar agora – ele sorriu e permaneceu olhando em seus olhos.

— Mesmo assim você ainda está tensa, por quê? – Heitor moveu uma das mãos, encaixou-a em sua bochecha suavemente.

— Não é nada – ela mentiu desviando o olhar. Era sim. Sonia estava vindo e logo mais todos saberiam sobre o pequeno Arthur – só estou preocupada com os gêmeos. Nunca ficaram sem mim por tanto tempo, Otávio já deve ter tomado até a mamadeira de leite que deixei para Catarina – Heitor sorriu. O garoto deles era um esfomeado – e eu não quero que eles tomem outro leite se não o meu até completarem seis meses.

— É só isso mesmo meu amor? – a amazona amaldiçoou o marido por conhecê-la tão bem, entretanto, ela mascarou o melhor que conseguiu e se inclinou beijando-o para distrai-lo.

— Sim amore, obrigada por se importar.

— Vai ficar tudo bem, vamos torcer para não haver nenhuma complicação e logo mais nosso amigo estará aqui conosco.

* * *

Parque Chapultepec, horas mais tarde...

 

Apesar de não ser uma das típicas manhãs ensolaradas que eles experimentavam no México. O passeio no parque estava sendo uma aventura para Louise. A garota estava com as bochechas tão coradas de correr que quase se assemelhavam ao tom do seu cabelo. Sua mãe e seu namorado seguiam de mãos dadas, as vezes paravam e tiravam fotos dela, deles ou do local, sempre com um sorriso estampado no rosto, seja por alguma coisa que a menina fazia, ou pelos beijinhos roubados.

Eles já tinham visitado o Castillo de Chapultepec, que em nada deixava a desejar em comparação aos castelos que ela conheceu na sua temporada na Europa. Fato que não a deixou surpresa quando ouviu um guia aleatório revelar a seu grupo que ele havia sido inspirado na Champs-Élysées. Era lindo, exuberante e clássico. Com salas espaçosas e banhadas em requinte. A menina tinha ficado tão impressionada com cada detalhe que Laura se arrependeu por nunca ter vindo antes. Agora, porém, estava “super empolgada”, como ela mesma descreveu, para visitar o zoológico, mas os adultos resolveram parar para comer antes.

As feirinhas com artesanato e comida estavam a todo vapor, eles pediram uma porção de nachos e outra de burritos, um refrigerante médio e água. Sentaram-se numa mesinha esperando, Orlando tirou o celular do bolso e viu que o grupo do trabalho estava movimentado.

— Você já viu a quantidade de mensagens no grupo da empresa? – perguntou enquanto arrastava as notificações e se surpreendia. O pessoal da empresa nunca conversaria tanto em tão pouco tempo.

— Não Orlie, meu celular acabou descarregando – Laura sorriu ao olhar para a filha que tinha tirado o Ipod da pequena mochila que carregava e dedilhava o aparelho, sua expressão era cômica, mordendo o lábio inferior concentrada um jogo – é algo sério?

— Não sei, vou descobrir agora – respondeu enquanto clicava no ícone de mensagens e selecionava o grupo.

— Mamãe... – a garota abandonou seu Ipod por alguns segundos e se inclinou sobre a mesa.

— Oi meu amor – elas se encararam.

— A gente ainda vai demorar pra ver os bichinhos? Eu quero conhecer a girafa.

— Não querida, depois que comermos nós iremos. Você não está com fome?

— Estou com mais vontade de ver a girafa. – ela bufou e se encostou contra a cadeira e voltou a mexer no seu eletrônico. Laura sorriu, afagando seus cabelos e recebeu um sorriso da filha.

— Laura – ele a encarou surpreso enquanto trazia o celular para que ela visse algo na tela – você não vai acreditar nisso...

— O que aconteceu? – ela perguntou temerosa, fitando-o antes de olhar para o celular.

Mi cariño... Dr. Alexandre Del Rio foi baleado em um assalto noite passada, veja a reportagem.

Oh my godness Orlie – a namorada o olhou aflita, cobrindo a boca com a mão.

— Segundo nosso chefe, as informações foram que ele passou por uma cirurgia e já está fora de perigo.

— Graças a Deus! – suspirou aliviada, enquanto ele arrastava mais algumas mensagens.

— Parece que Sr. Montecarllo pediu para que você o acompanhasse em uma visita ao Dr. Del Rio.

— Ele disse a hora?

— À tarde. Ele já deve ter ligado para seu celular, tome o meu e retorne acertando os detalhes.

— Obrigada.

* * *

— Olha a girafa tio Orlie – ele a ergueu e a pôs sobre seu ombro – ela é linda e tão altona.

Laura estava mais atrás, a notícia sobre o assalto a seu cliente a tinha entristecido um pouco. Todavia ela tentou não deixar isso estragar o resto do passeio deles.

— Lou Lou – o homem cochichou baixinho – você sabe quando é o aniversário de sua mãe?

— Dã tio Orlie – ela revirou os olhos – claro que sei – ele sorriu.

— Quando então?

— Dia 24 de dezembro.

— Ok, obrigada lindinha.

* * *

Quando as portas de vidro do hospital Del Rio se abriram diante dela já haviam passado alguns minutos depois das quatro horas da tarde. As paredes brancas e a iluminação perfeita não lhe trouxeram a tranquilidade que ela costumava ter toda vez que as cruzava. A engenharia elegante e moderna de Heitor contrastava harmonicamente com os traços da arquitetura contemporânea de Helena, com referências clássicas em detalhes do ambiente que sob um olhar atento ganhavam ainda mais destaque.

O chão era de porcelanato tão branco que reluzia, nem dava para acreditar que a todo momento pessoas transitavam por ali. Ao olhar para seu lado direito, percebeu que César estava dormindo com a cabeça reclinada em seu ombro e Charlie também, mas sobre o colo de Victor, que carregava com a mão desocupada o bebê conforto com Arthur e Cristal espantava um bocejo, cansada da desgastante viagem de dez horas. Uma garoa fina e insistente caia sobre a cidade, deixando o clima tão triste quanto seus espíritos, seu celular tinha descarregado e ela temeu dar o próximo passo por inúmeros motivos. E se a próxima notícia que ela recebesse era de que ele havia morrido? Pare com isso Sonia! – Ela se repreendeu.

Notando sua hesitação, Victor logo perguntou:

— Ceci, queres que eu vá procurar um hotel e leve as crianças comigo? Ou mesmo que eu pegue Arthur para darmos uma volta até você decidir o que quer fazer?

— Não Vic, está tudo bem – ela puxou uma respiração profunda enquanto encarava o caçula mais uma vez – já passou da hora de Arthur conhecer seu pai... Vamos? – acenando com a cabeça, os seis entraram e direcionaram-se a recepção.

Sonia não deixou de perceber todos os funcionários com olhos voltados para ela. Alguns mais contidos, outros não escondiam seu choque. Victor lhe deu um olhar encorajador quando chegaram a mesa da recepcionista.

— Senhora Del Rio, boa tarde. Que bom vê-la por aqui.

— Obrigada e boa tarde Erika... Me diga por favor que Alexandre está bem?!

— Sim senhora – as duas mulheres sorriram. Sonia mais aliviada – a cirurgia terminou ainda pela madrugada, acredito que ele esteja descansando.

— Muito bom ouvir isso. Em que quarto ele está?

— Vou pedir para Lauren acompanhá-los até lá.

— Obrigada.

* * *

Helena, que a essa altura já tinha ido até sua casa olhar as crianças e acomodar os sogros, havia voltado e estava sentada no sofá ao lado de Bernardo. Foi a primeira a vê-la, distraindo-se da conversa, obrigando o homem a olhar na direção do que havia chamado sua atenção. Cristal chamou por ele e o avô levantou-se, pegando-a do chão e lhe abraçando apertando.

O engenheiro vinha da lanchonete com um copo de suco para ela, quando viu Victor com o bebê conforto na mão ficou tão sem reação que nem sentiu quando o objeto escorregou. O barulho despertou os outros presentes na antessala do quarto, que viraram-se para receber um Heitor tão surpreso quanto magoado.

— Boa tarde a todos – Sonia cumprimentou tímida, virando-se para Bernardo que ainda aconchegava a neta no colo – Como Alexandre está?

— É vovô – a menina segurou suas bochechas e o encarou temerosa – meu pai está bem?

— Não se preocupe docinho – ele beijou a testa dela – a cirurgia foi um pouco mais complicada do que o médico esperava, mas seu pai foi forte e suportou tudo muito bem. Ele acordou algumas horas atrás sentindo um pouco de dor, deram-lhe a medicação e ele voltou a dormir, sua avó está lá dentro e acredito que ele acordará a qualquer momento com muita vontade de ver você e seus irmãos dorminhocos.

— Graças a Deus – Sonia soltou a respiração que ela nem lembrava que havia prendido, ouvir de seu sogro que Alexandre estava bem lhe trouxe uma tranquilidade instantânea – estávamos tão aflitos sem notícia alguma.

— Imagino o tamanho da sua aflição, mal deixou Ale e já foi brincar de casinha com outro cara! – resmungou Heitor.

— Heitor!!! – Bernardo e Helena o repreenderam juntos.

— O que faço da minha vida não lhe diz respeito Heitor! – Sonia respondeu seca – E eu gostaria muito que você medisse suas palavras na frente dos meus filhos – ela lhe deu um olhar acusador e fechou a expressão para ele.

— Me desculpe palas crianças – o olhar que ele lhe devolveu deixou claro que seria a única coisa pela qual ele pediria desculpas.

— Querido – Helena interviu o fuzilando com suas orbes escuras – já que você derramou meu suco, será que podemos ir até a lanchonete buscar outro? – ele bufou e a seguiu, havia entendido pelo tom e pela cara que ela fez que não era um pedido, era uma intimação. 

* * *

— Helena – ele exasperou – você sabia sobre isso?

— Depende ao que você se refere quando diz “isso”? – revidou começando a se irritar também.

Dammit!— bravejou – Como assim a que eu me refiro? – o rosto dele estava vermelho e ela achou melhor recuar. Ele realmente estava com raiva – A Sonia mal deixou Alexandre e já se enfiou na cama de outro cara! Ale vai ficar arrasado... Merda! – ele chutou a parede do corredor próximo ao banheiro e quase sem movimento onde haviam parado para conversar – A criança, é dele?

A amazona se segurou para não sorrir. Ele certamente explodiria. Estava a ponto de voltar na sala de espera e socar o homem. Não era certo, mas o achava extremamente sexy dessa forma. Henrique poucas vezes ficara irritado com algo ou fazia birra, todavia a expressão em sua face era o mesmo que olhar para o filho. O sentimento causado, porém, era outro. Os braços cruzados na frente do peito forte, as sobrancelhas formando um vinco na testa, os olhos azuis escurecidos e avermelhados, os cabelos loiros e levemente compridos caindo furiosamente pelos cantos do rosto. Seu marido era uma visão! E ainda bem que era só dela. Heitor a encarava como se pudesse fuzilá-la por ter escondido tudo isso dele e pela demora em respondê-lo. Enquanto ela só queria beijar fora sua raiva.

Olhando ao redor, caminhou os poucos passos que os separavam, segurando sua nuca o puxou para um beijo aquecido, ele demorou a ceder e quando retribuiu o beijo e a abraçou, ela sabia que tinha conseguido afetá-lo. Quebrando o contato, o abraçou também, beijando sua bochecha e o encarando em seguida. Seus olhos eram mais suaves, a neblina de mágoa ainda permanecia, mas já não tão densa quanto há minutos atrás.

— O bebê é do Alexandre. Me desculpe por não ter lhe contado, eu não podia. Sonia havia me pedido segredo, mesmo que eu não concordasse com a omissão da criança, não era meu direito revela-la.

O engenheiro desviou o olhar e encarou a parede por alguns segundos, murmurando:

— Sonia não deveria ter feito isso com Alexandre.

— Assim como ele não deveria tê-la traído com Melissa – revidou.

Heitor bufou cansado dessa história sem cabimento e já sentindo entrar em combustão outra vez.

— Quando essa merda toda se resolver Bonitona, só não diga que não avisei! Alexandre não fez droga nenhuma, cacete! – ele se afastou e estava voltando na direção em que vieram quando ela segurou seu pulso fortemente e o fitou.

— Não quero que fiquemos chateados um com o outro por causa disso – afastando a insistente mecha loira que havia deslizado pela testa outra vez continuou – não vou deixar aquela vadia ser a culpada por mais um desentendimento nosso. Isso não é um problema que nós dois podemos resolver, só cabe ao Ale e a Sonia, então, por favor, vamos tratá-lo assim? – ela o olhou com os olhos escuros suplicantes e ele não resistiu sorrir, soltando toda raiva com uma baforada. Sua amazona tinha razão e ele a amou um pouco mais por suas palavras.

— Você está certa amor, desculpe. Só me abrace mais uma vez e me de outro beijo. Eu vou ficar bem, deve ser o sono falando por mim.

— Você precisa ir para casa descansar – ela falou quebrando o beijo que ele havia pedido, ainda envolta no abraço também solicitado – está acordado desde ontem. Ale já está fora de perigo bonitão. Eu não quero vê-lo desmaiando de exaustão.

— Eu vou assim que Ale acordar de novo, ok?! Quero que ele saiba que estou aqui quando essa bomba estourar.

— Tudo bem, depois, casa!

— Sim senhora – ele sorriu e sua esposa se sentiu satisfeita.

* * *

— Então querida, você seguiu em frente mesmo? – Bernardo perguntou casualmente, com o mesmo tom gentil que Alexandre usava.

Não tinha passado mais que minutos da chegada deles até Clarice aparecer e se oferecer para ficar com Cristal e os gêmeos no escritório de Alexandre. Os mais novos ainda dormiam e Cristal estava exausta. Victor tinha ido até o SUV alugado buscar algumas coisas que eles possivelmente precisariam e ela supôs que ele ficara no escritório com eles.

— Victor é um amigo de longa data Bernardo – ela respondeu balançando o bebê conforto, mesmo sabendo que seria inútil, seu filho logo acordaria querendo mamar.

— Sendo assim o menino é meu neto? – o senhor perguntou cheio de esperança, enquanto sorrindo ela tomava no colo o garoto que ainda bocejava de sua soneca. Virando-o, ela o pôs de frente para o avô, quando o menino abriu os olhos, primeiro a encarou, sondou o ambiente e finalmente voltou os olhinhos para Bernardo. Foi quando ele não teve mais dúvidas. A criança era seu neto – não precisa dizer mais nada Sonia, ele tem os mesmos olhos curiosos de Alexandre quando era um bebê – estendendo os braços, perguntou – posso?

— Claro – ela entregou-lhe o filho – qual nome dele?

— Arthur.

— É um nome lindo – silêncio rapidamente cresceu entre eles enquanto Bernardo admirava o menino que era muito parecido com seu Alexandre. Seu coração se enchendo de afeição pelo caçulinha, e quando o bebê segurou seu polegar com a pequena mãozinha ele já o amava profundamente como aos outros netos. Voltando a olhar para Sonia perguntou – Porque não nos contou sobre ele filha? – ela se sentiu agradecida por não haver nenhuma sombra de julgamento em sua pergunta.

— Eu estava tão machucada Bernardo. Descobri pouco tempo depois que sai de casa, estávamos uma bagunça, eu em especial me sentia tão perdida.  Estava profundamente decepcionada com Alexandre e no começo foi como uma espécie de vingança – ela balançou a cabeça pela tolice – pensei em contar tantas vezes, e quando finalmente eu decidi que iria, acabei tendo outra péssima surpresa com seu filho – Bernardo a olhou com compaixão, não era bem assim, mas ele não discutiria. 

— E porque agora?

— Quando Helena me ligou dizendo que Alexandre havia levado um tiro, foi como se eu tivesse voltado no tempo, no exato momento em que minha mãe me disse sobre o acidente do meu pai. Foi tão repentino e inesperado. Pensei em todos os anos que eu não o tive e percebi que não poderia mais privar meu filho disso, independente das circunstâncias, Arthur tem um pai. Um bom pai. Eu não posso mais privá-lo disso, nem Alexandre, ele tem o direito de saber sobre o menino.

— Obrigado, seria terrível não saber que ganhei mais um netinho – ele sorriu para o bebê – não é garoto? Sei que você também não ia querer crescer sem a gente.

— Eu sinto muito, mas realmente estou apavorada – Sonia suspirou apertando as mãos contra os olhos fechados.

— Por que filha? – indagou confuso.

— Porque eu não faço ideia de como Alexandre vai reagir – Sonia encarou o chão – Faz meses que não o vejo, não sei como está sua vida e de repente vou lhe trazer uma surpresa gigantesca e que a longo prazo só vai se tornar maior.

— Você usou a palavra certa, vai ser uma surpresa – ele buscou seus olhos com suavidade – porém, uma das boas. Vai ser um choque no começo, como foi para todos nós ao lhe vermos com o pequeno, entretanto, depois que meu filho tomá-lo no colo – beijou a cabeça do neto – vai se derreter de amores tal qual eu.

— Assim espero, Arthur não tem culpa dos nossos erros, e eu jamais desejaria que ele fosse um fardo para qualquer um de nós.

— Nunca filha – encaixando o bebê em seu colo, segurou a mão da nora – nunca – apertando-a suavemente e ela respondeu com um sorriso genuíno.

Nesse momento Cecília entrava na sala e não conseguiu esconder a expressão de choque quando viu Sonia e Bernardo segurando um bebê nos braços. O torpor foi tão grande que ele teve que ir até ela e trazê-la de volta a realidade.

— Me desculpe Sonia, eu só... não esperava isso – a ex modelo respondeu com um sorriso envergonhado, enquanto sua sogra caminhava até ela e curiosa sondava o bebê.

— É nosso neto Cecília – a senhora ficou sem palavras, apenas admirando o menino que a fitava com os olhos grandes e atentos.

A primeira senhora Del Rio demorou alguns segundos para falar, ainda perplexa com a descoberta. Entretanto, não resistiu deslizar o dedo indicador pela bochecha macia do bebê.

— Ele se parece muito com Alexandre quando pequeno... Veja esses olhos de jabuticaba.

— Bernardo disse a mesma coisa... Quando ele nasceu e me olhou pela primeira vez eu soube que ele tinha os olhos do pai. Apesar de que, minha mãe insistiu muito que na verdade eram os olhos do avô de quem ele recebeu o nome.

— Ele tem o nome do seu pai querida?

— Sim, Arthur.

— É um nome muito bonito, faz jus ao dono – ela sorriu para o menino e lentamente ia se encantando com ele.

— Você quer segurá-lo? – Sonia indagou.

— Sim – Cecília respondeu contidamente eufórica, enquanto Sonia acomodava o filho no colo da avó.

— Está tudo bem com Alexandre? Você saiu com uma cara de quem queria falar algo...

— Deus meu! Acabei de distraindo, afinal, não tinha como – os três sorriram a medida que concordavam – Ale acordou – os dois viram o semblante relaxado de Sonia mudar. A hora havia chegado – vai ficar tão feliz em saber que vocês estão aqui.

— Posso chamar as crianças Sonia? – pediu Bernardo.

— Sim – respondeu sentindo o coração martelar furiosamente em seu peito, a envolvendo numa onda de desespero.

* * *

— Você tem certeza que vai dar conta de vigiar Lou Lou? Eu posso ligar para a babá dela, não precisa se incomodar – Laura perguntava e Orlie a empurrava gentilmente pelo caminho da porta da frente, certificando-se de pegar um guarda chuva no caminho.

— Não se preocupe, será um prazer. Nós vamos escolher algo para ver na Netflix e pedir o jantar. Alguma preferência?

— Por favor, não caia no papo de Louise e a deixe ver qualquer coisa, preste atenção na faixa etária. Não quero ninguém me acordando no meio da noite porque teve um pesadelo por ter visto alguma carnificina ou algo paranormal.

Baby, eu tenho outros planos para você no meio da noite – ela corou sorrindo e ele a beijou de leve.

— Convencido. E Sobre o jantar, pode ser sushi ou outra comida japonesa.

— Certo, a mesa estará pronta quando retornar – ela soprou um beijo para ele e saiu fechando a porta. Entrando no carro, mandou uma mensagem para seu chefe. Ele também estava a caminho e provavelmente chegariam juntos ao hospital.

* * *

O patrão de Laura estava na recepção quando ela chegou, com uma pequena caixa nas mãos. O que ela acreditou ser um presente. Montecarllo caminhou até a moça e a cumprimentou.

— Boa tarde Laura. Como vai?

— Bem senhor, obrigada.

— Espero não tê-la atrapalhado com meu pedido.

— Não, imagina. Eu realmente queria fazer uma visitar ao Dr. Del Rio, ele é uma boa pessoa.

— Vamos até o balcão saber se podemos vê-lo então?

Chegando até a atendente, o homem a cumprimentou e perguntou-lhe sobre o médico. Erika explicou-lhes que o patrão ainda dormia, mas que ela ficaria feliz em acompanhá-los para que pudessem deixar o presente com a família.

Laura avistou uma mulher alta e muito bonita, ao se aproximar notou que era a esposa do doutor, Sonia Del Rio, ela realmente era linda, muito mais pessoalmente. Chamava a atenção sem querer, os olhos azuis mesmo abatidos exalavam um brilho único. Outra senhora segurava um bebê e ela sorriu lembrando-se de quando Louise era tão pequena quanto ele e sentiu o peito apertando de saudades, sua garotinha estava crescendo tão rápido.

— Senhora, estes são os advogados do Dr. Del Rio – o homem estendeu a mão para ela se apresentando.

— Dr. Montecarllo e essa é a minha auxiliar, senhorita Aldrin – a ruiva esticou a mão para ela. Sonia os cumprimentou sorrindo.

— No que podemos ajuda-los? – Cecília perguntou.

— Só viemos saber a respeito do Dr. Del Rio e desejar melhoras, nos informaram que ele ainda está dormindo então, não queremos incomodar.

— Na verdade ele acabou de acordar – ela revelou.

— Imagino que agora ele só queira a família por perto – esticando a mão, ele lhe entregou o presente – diga que mandamos lembranças e desejamos que ele se recupere rápido. Até mais.

— Obrigada pela gentileza – Sonia recebeu a caixa – nós entregaremos para ele.

— Obrigado também. Até mais senhoras – as duas mulheres sorriram agradecidas.

— Por nada.

— Boa noite a todos – Laura se despediu, olhando para o bebê e sorrindo ternamente.

* * *

— Sonia? – Victor chamou entrando na antessala.

— Oi Vic – ela se levantou e caminhou até onde ele havia parado.

— Tudo bem?

— Até agora sim – ela esboçou um sorriso – Alexandre acabou de acordar, Bernardo foi buscar as crianças e Cecília, como você pode ver, não quer mais me devolver meu filho – Sonia soltou uma risada baixa.

— Eu vou sair para comer alguma coisa, estou faminto. Também pensei em procurar por um hotel, pesquisei alguns agora pouco, tem um Sheraton aqui próximo. Você vai ficar com Helena mesmo?

— Não, pegue quartos para mim e as crianças também. Helena está recebendo os sogros e Heitor e eu não estamos nos melhores ânimos. O Sheraton é maravilhoso, se tiver desocupada, peça a suíte presidencial da cobertura, o espaço é bom, tem um quarto menor acoplado e eu preciso por conta das crianças.

— Pode deixar, volto mais tarde para pegar vocês. Me telefone qualquer coisa, boa sorte – ela o abraçou e suspirou. Segurando seu rosto entre as mãos continuou – você tomou a decisão certa querida, mesmo com tudo o que Alexandre fez, ele deve saber sobre Arthur, ninguém merece não saber sobre a existência de um filho. Me coloquei no lugar dele e percebi que odiaria essa omissão – ele levantou uma sobrancelha sorrindo – Entretanto, não se preocupe, sei que vai dar tudo certo e saiba que qualquer bronca, você tem a mim, basta me ligar que rapidamente eu volto.

— Obrigada Vic, obrigada mesmo – ela o abraçou outra vez – você estar aqui comigo tem tornando tudo mais fácil – O advogado sorriu e beijou sua testa.

— Até logo.

* * *

Gael e Laura saíram do hospital quando a tarde finalizava em tons de alaranjado que escureciam o céu nublado pela chuva fina de mais cedo. Era final de outono, o dia parecia correr mais depressa e as noites se alongarem. Eles caminharam juntos até o ponto do estacionamento onde seus carros estavam e o patrão se despediu desejando uma boa noite e agradecendo pela companhia, entrou no carro importado caro e saiu. A ruiva caminhou mais um metro e parou na vaga onde seu modesto Kia Soul estava, sorriu comparando as máquinas. Olhando ao redor sentiu um arrepio percorrer sua coluna, imaginando ser o frio, esquentou os braços com as mãos, destravou o veículo e abriu a porta.

Enfiando a chave na ignição um sorriso maroto estampou seus lábios, seria uma deliciosa visão a que ela teria ao chegar em casa mais uma vez. Só de imaginar Orlando e Louise rindo juntos em sua cozinha enquanto arrumavam a mesa do jantar lhe fez desejar uma onda verde de sinais, porque se não infligiria a lei só para se apressar em estar com os dois.

Sentada no banco do motorista com o motor ligado e parado por segundos. Enquanto decidia sua vida ela parecia tão idiota, qualquer um acreditaria que estaria tentando descobri como manipular a marcha e a embreagem para sair do lugar. Antes que o segurança viesse lhe perguntar se queria ajuda ela manobrou o veículo e saiu pisando um pouco mais no acelerador do que deveria, com o olhar fixo na estrada e um sorriso estampado no rosto ligou o som do carro. Beneath your beautiful do Labrinth tocou e a ruiva pensou que tinha sido o momento perfeito. Orlando estava vendo por trás da armadura de perfeição que ela erguera esses anos e tudo o que seus olhos faziam enquanto ela o encarava era pedir que ele não a machucasse.

O futuro era incerto, mas ela estava adorando não seguir os métodos de sua mente inteligente e viver o inesperado ao lado do seu “galã” latino, ele não era perfeito, isso era óbvio, porém ela atiraria as reservas pela janela por hora. Quando a trava de segurança da portaria se ergueu o refrão da música soou alto e ela cantarolou junto:

“Você me deixaria ver por trás da sua beleza? Você me deixaria ver por trás da sua perfeição? Desfaça-se disso, garoto, desfaça-se disso agora, garoto. Quero ver por dentro, você me deixaria ver por trás da sua beleza esta noite?”

 

* * *

Victor estava no passeio que ligava a porta lateral do hospital ao estacionamento. Caminhou poucos metros até onde o SUV descansava em uma das últimas vagas, ele vinha distraído mexendo no celular buscando o endereço exato do hotel. Desbloqueando o alarme, seus olhos varreram rapidamente o local e seu coração perdeu uma batida ao vislumbrar um tom de ruivo conhecido. A boca secou e tão rápido quanto aparecera a mulher sumira dentro do carro. Ele começou a se apressar, seria possível?! A adrenalina em seu corpo crescendo em expectativa, ele quis gritar seu nome, entretanto provavelmente ela não ouviria com a porta e vidro fechados. Antes que pudesse se aproximar o suficiente a ruiva misteriosa arrancou o deixando para trás juntamente com suas esperanças.

"Controle-se Victor! Que merda! Você precisa parar de se encher de esperança toda vez que encontra uma ruiva pela rua...". Sua mente o repreendeu, ele sentiu que dessa vez era diferente, aquela tonalidade de cabelo era tão único quanto sua dona e o advogado podia jurar tê-lo visto uma vez apenas. "Dammit Laura! Você vai acabar me enlouquecendo qualquer dia... Já que não vai voltar pra mim, saia dos meus pensamentos sua ruivinha má!". Suspirou retomando o caminho para seu carro, sorrindo de sua tolice.

* * *

— Alexandre, filho? Está se sentindo melhor? – Bernardo questionou entrando no quarto e caminhando até parar ao lado de sua cama. Ele havia se desligado do soro sozinho e o homem pensou no quanto médicos nunca sabem estar do outro lado.

— Não estou mais sentindo dor, só um incômodo, mas eu sei que é normal quando o efeito da anestesia passa – ele sorriu.

— Bom saber, porque têm umas pessoas querendo vê-lo.

— Pai, por favor, eu não quero ver ninguém. Diga que estou indisposto ou algo assim – o médico virou o rosto para o lado e bufou frustrado.

— É uma pena Ale, acho que realmente você ia querer recebê-los – o pai o encarou com um olhar conhecedor e seu sorriso entregou o jogo ao filho.

— Não me diga que as crianças estão ai... – a voz parou por segundos enquanto seu coração se enchia de expectativa – pai?! – sua face foi tomada por uma expressão totalmente contrária a de segundos enquanto sentava-se na cama.

— Sim e a bela mãe deles também – piscou – ainda lhe trouxeram uma surpresa.

— Por favor não me diga que a surpresa é aquele advogado, porque se sim, é um pesadelo na verdade!

— Ele também veio – Alexandre bufou novamente – mas seja esperto homem! Parece até que estou falando com o turrão do Heitor! – o pai o repreendeu – Não deixe o ciúme consumi-lo, o advogado não está mais aqui e Sonia está tão preocupada contigo... Seja esperto, aproveite-se disso, não aparente estar tão bem e a deixe mimá-lo um pouco.

— Tenho certeza que se ela tivesse a intenção de me mimar não traria o namorado pai! – torceu o canto da boca.

— Você é mais inteligente do que isso meu filho, como eu disse, se aproveite da situação e tenha certeza que mau humor não vai atrai-la, pelo contrário. Portanto, desfaça essa cara que eu vou chamá-los antes que seus filhos não se contenham e corram porta a dentro.

— O senhor está certo como sempre pai, obrigado – ele apertou o ombro do filho gentilmente e foi buscar o restante da família.

* * *

 “Olá você aí do outro lado, pelo menos posso dizer que eu tentei lhe dizer, que sinto muito por partir seu coração, mas não importa, isso claramente não lhe deixa mais em pedaços” Hello - Adele

 

Daddy!— as três crianças chamaram juntas quando eufóricas passaram pela porta do quarto e correram até a cama.

Hey guys! Como eu estava com saudade de vocês – eles se envolveram num abraço desleixado, os filhos tomaram cuidado para não pressionar a área do peitoral coberta por ataduras. Na verdade, Sonia os tinha alertado antes de entrarem no quarto.

— A gente também papai! – Cristal se manifestou sentando-se na cama e ajudando os irmãos a subirem com ajuda da escada de 2 degraus posicionada no chão.

Sonia permanecia no canto observando tudo, agora aliviada de verdade em poder vê-lo bem, não querendo interromper o momento e perdida nos pensamentos e suposições das reações que sua revelação poderia trazer.

— Olha só você – sua língua coçou para terminar a sentença chamando-a de linda, porque céus! Ela estava maravilhosa. Adorou o novo tom dourado e o corte dos cabelos, os olhos que mesmo com bolsas escurecidas em baixo ainda lhe traziam tanta paz, o rosto tão perfeito que ele nunca mais queria parar de admirar. Tinha certeza que seus olhos o estavam denunciando, porque se o que ela esperava com toda essa distância era fazer com que ele a esquecesse, havia falhado miseravelmente, apenas colocar os olhos sobre ela depois de todo esse tempo só o tinha feito ficar ainda mais apaixonado – obrigado por trazê-los – sorriu agradecido e feliz. Feliz como não se sentia desde quando partiu para Genebra ano passado.

— Oi – ela também sorriu e ele sentiu o quanto estava apreensiva pela tom da sua voz – tudo bem, nós queríamos vê-lo e confirmar que você estava bem. Você nos assustou bastante Dr. Del Rio – outro sorriso e ele foi as nuvens, seu pai estava certo, depois de todo esse tempo, foi uma das primeiras vezes que os olhos azuis de sua mulher não lhe olhavam com acusação e frieza – Como está se sentindo?

— Estou bem, já não sinto mais tantas dores e agora que meus pequenos estão aqui me sinto muito melhor – ele os abraçou mais uma vez e as crianças lhe devolveram o afago em forma de sorrisos e beijos distribuídos pela bochecha.

Ouvindo o conselho do pai, gemeu um pouco mais do que deveria quando César se apoiou no local onde descansava as gazes cobrindo os pontos do tiro de raspão. Sonia saiu do canto em que estava tão rápido que quando Alexandre se atentou ela já havia movido o menino do lugar e o afastado mais para trás. Tocando gentilmente sua costela ferida.

My gosh! Você está bem? César querido – ela olhou para o filho, passando a mão em seu rosto e tentando não assustá-lo por seu pequeno surto – você precisa tomar cuidado quando for abraçar o papai, ele não está mais sentindo dor, porém, ainda está machucado. Ok?!

— Eu sei, me desculpe mamãe – ela sorriu e beijou a bochecha dele.

— Acho que você deve desculpas a outra pessoa meu rapaz...

— Desculpa papai, prometo prestar mais atenção.

— Tudo bem garoto, já passou – ele sentiu os movimentos circulares que os dedos de sua esposa faziam sobre a atadura, tão suaves e discretos que pareciam alucinação. Só não sabia dizer se eram voluntários ou não.

— Papai – Charlie chamou e ela, parecendo acordar de um torpor, parou com a carícia – você sabia que todo mundo tá dizendo que o senhor é um super herói?

— Não me diga?! – o homem fingiu surpresa.

— É verdade papai, Clarisse quem nos falou – Cristal confirmou.

Os quatro conversaram trivialidades sobre a rotina deles na nova cidade e sobre o acidente que tinha tornado o pai em um novo super herói para as crianças. Sonia permaneceu próxima, vez ou outra respondendo com sorrisos ou palavras curtas. Mesmo que Alexandre achasse que era indiferença, a verdade era que sua mente estava muito longe, dando voltas e voltas na mesma indagação: “como ela deveria contar a verdade sobre o bebê?! Como se faz esse tipo de revelação? Nós já estamos no século XXI, deveria ao menos existir um tutorial!”. Rindo dos caminhos tolos que seus pensamentos faziam de vez em quando, preocupou-se um pouco com Arthur, logo o pequeno choraria com fome, podia sentir seus seios lhe avisando. Os deixando conversar por mais um tempo, finalmente decidiu que era hora de contar a Alexandre sobre seu filho caçula.

— Crianças, será que vocês deixariam a mamãe mostrar ao seu pai a surpresa que trouxemos?

— Eba! – Charlotte exclamou feliz – você vai amar papai.

— Se você gosta princesa, tenho certeza que também irei amar.

— Nós não podemos ficar mamãe?! – Cristal pediu.

— Primeiro eu gostaria de conversar a sós com Alexandre, depois vocês podem voltar. Tudo bem?

— Sim – responderam tristes, porém, obedeceram ao comando da mãe e levantaram-se da cama.

— Cacau peça pra sua avó trazer a surpresa para mim, por favor.

— Tá bom mamãe.

Quando Sonia viu os fios castanhos de Cristal, a última a passar, sumirem de vista e o clique da porta foi ouvido, ela se aproximou da cama e buscou seus olhos. O que ela encontrou lá a assustou profundamente, desviando o olhar um calafrio subiu pela espinha e ela se abraçou tentando se acalmar.

— Eu te causo tanto asco assim que mal pode me olhar nos olhos?!

— Não é isso Alexandre, eu só... É complicado e estou com um pouco de medo.

— Não precisa, eu já estou bem.

— Eu fiquei muito feliz em ver que sim – ela sorriu tocando sua mão e se sentando na beirada da cama. A eletricidade correu frenética entre eles e ela se afastou do toque – não é bem isso que me preocupa, é o que tenho para lhe contar.

— E o que seria isso então? – um vinco de confusão se formou no meio de sua testa.

Uma longa respiração. Duas. Três. Assim que se sentiu segura abriu os olhos e buscou os dele. "Caramba!". Era o mesmo tom de castanho dos de Arthur, recheado com uma compreensão tão intensa. "Droga!". Ela sabia que talvez não merecesse.

— Apenas me diga – fora ele agora que alcançara sua mão, acariciando-a com o polegar – sem julgamentos. Prometo – ela bufou uma risada, mas não tirou a mão. Se ao menos ele imaginasse o que ela tem a lhe revelar.

Um toque na porta a levou a se levantar e encará-lo:

— Gostaria que você conhecesse alguém – ele acenou e ela saiu do quarto. Encontrando Cecília do lado de fora, esta lhe passou o neto e desejou boa sorte.

Sonia voltou segurando um bebê nos braços e viu o sangue de Ale ser drenado do seu rosto e as sobrancelhas quase chegarem à linha do cabelo. Sua boca se abriu e ele não conseguia dizer uma palavra tamanho o choque. O que ele diria afinal? Caramba! Inúmeras coisas passaram por sua cabeça. Ele gaguejou várias sílabas, mas a única pergunta que soou quase um minuto depois foi:

— De quem é essa criança? – e ela viu o medo nos olhos dele, era tamanho que eles lacrimejaram. Em todo o tempo em que estiveram juntos ela nunca o vira tão apreensivo. Como uma presa cercada por caçadores atrozes. Alexandre realmente estava apavorado pela perspectiva daquele bebê pertencer a Sonia e outro homem. "Ele não seria filho do advogado não é?! Sonia não queria outro bebê, eles tinham conversado sobre isso... DEUS! Ela não poderia ter feito isso com ele! Era demais! Supor sobre os dois como ‘amantes’ era o que ele mais fazia, entretanto se ela lhe dissesse sim, era a confirmação que seu coração tanto temia".

Sonia se aproximou e sentou-se novamente na beirada da cama, Arthur começara a fazer burburinhos. Rapidamente ele fechou os olhos, a criança entrou em seu campo de visão e por tudo o que era mais sagrado ele não queria ver sua possível semelhança com o advogado playboy.

Ela se inclinou e beijou a testa do menino para acalmá-lo. Podia sentir seu pavor fluindo, sua mandíbula endurecida e resignada tal qual sua mente. Ajeitando o bebê enrolado na manta em um braço, ela achegou-se o mais perto possível do homem. O médico podia senti-la mais próximo. A conexão entre seus corpos se tornando mais intensa. O coração acelerando-se ainda mais. Buscando toda coragem que possuía, voltou os olhos para ele e moveu os lábios, descansando levemente o queixo na cabeça do filho. A ex modelo o tocou tão suave quanto só ela poderia e Alexandre, após um sôfrego suspiro, abriu seus olhos e segurando seus olhares, enfim ela revelou seu segredo.

— Ele é nosso.


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Notas finais do capítulo

SPOILER ALERT:
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Vocês ficariam felizes se eu disser que possivelmente teremos um beijo A&S no próximo capítulo?! o.O o.O

bye, obrigada por lerem :*