Estações escrita por Emma


Capítulo 30
Um Leve Sopro de Neve


Notas iniciais do capítulo

Hello everyone... Primeiro eu queria pedir desculpa pelos quase 5 meses sem postar, foi difícil retomar o pique depois do TCC, estava (estou) numa correria também com os últimos preparativos da formatura. Enfim, aproveitem e me digam o que acharam depois. Agradeçam a Mico e Ari que sempre me cobram capítulos novos, um beijo suas lindas ♥



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“Uma estrada solitária, cruzando outra linha fria do estado, quilômetros longe daqueles que amo por razões difíceis de encontrar. Enquanto me recordo de todas as palavras que você me falou não posso evitar desejar estar lá, de volta ao lugar onde eu amo estar, oh, yeah...”. Dear God - Avenged Sevenfold

 

Muitos anos atrás...

A primeira neve começava a cair discretamente sobre a vidraça da porta dupla que separava o quarto da sacada, logo a frente tímidos flocos desciam pelas árvores nuas do Central Park e se esparramavam sobre as folhas secas do gramado já não tão verde. O outono se despedia e sinalizava o começo de mais um inverno em New York.

O corpo esguio e tonificado de Arthur elevou-se um pouco sobre a cama, apoiado sobre o cotovelo ele sorriu ao observar sua Viviene dormir tranquila ao seu lado. Constantemente pensava na sorte que tinha, Vivi conseguia ser linda até enquanto dormia com a boca um pouco aberta, passando as mãos delicadamente pelos fios loiros lembrou-se de todas as vezes em que temeu não ganhar seu coração, mas entre todos os muitos pretendentes ela o havia escolhido e agora estava ali, deitada na cama dele, grávida de sua filha. Sua mão desceu dos cabelos e parou na barriga arredondada, acariciando, os olhos voltados para lá, totalmente encantado. Alguns minutos depois ele ouviu:

— Ela ainda nem nasceu e você já está apaixonado? – Viviene perguntou com a voz nublada pelo sono.

            - Sou apaixonado por ela tanto quanto sou por sua mãe – se inclinando ele bicou seus lábios – Bom dia minha querida.

— Bom dia mon cher— sorriu também, pousando as mãos no rosto dele – No que você estava pensando?

— Na sorte grande que eu tirei, por ter você, pela nossa filha.

— Oh Arthur querido – emocionada ela tocou seu nariz com o dele, em uma doce carícia – eu já disse que a sortuda fui eu, você é maravilhoso e eu certamente não era tão digna de alguém como você.

— Como não Vivi?! Se você é a criatura mais linda que meus olhos já viram – ela balançou a cabeça contrariada, enquanto um leve rubor tomou conta de suas bochechas – Não negue meu amor, todas as revistas afirmaram isso pela terceira vez consecutiva, foi difícil burlar todos os meus oponentes, não sou tão bonito quanto aqueles modelos e artistas com todo glamour ou mesmo quanto aqueles filhinhos de papai que não fazem outra coisa a não ser malhar... Eu sempre pensava no que tinha a mais para lhe oferecer e atrair sua atenção.    

— Eu vou lhe dizer... O que lhe destacou entre todos os outros foi justamente o fato de que você queria um futuro comigo, nunca esteve interessado apenas no meu corpo ou na fama que viria junto com o status de namorado de Viviene Dolce, foi a doçura que encontrei nos seus olhos e também por ter descoberto e se apaixonado por coisas em mim que nem eu mesma percebia... Quando dei por mim já estava envolvida demais por esse teu jeito tão especial de amar as pessoas, tanto que eu precisava e queria com todo meu coração me entregar a esse sentimento – desviando um pouco os olhos dos do marido, Viviene desenhava com os dedos padrões em seu peito, um pouco envergonhada – E eu preciso lhe pedir perdão por uma coisa...

— Pelo que Vivi? – perguntou um pouco surpreso.

— Por ter demorado tanto em aceitar ser sua esposa e finalmente lhe conceder o que eu sempre soube que você quis, uma família.

— Vivi – ele tentou, mas ela o cortou continuando.

— Não Arth, é a verdade e eu preciso muito lhe pedir perdão por isso, por todos aqueles homens me assediando, mesmo que não os quisesse e que você não falasse, eu sabia que lhe magoava, pelo tempo que protelei e fiz com que esperasse, dando mais importância a minha carreira do que aos seus sentimentos... Eu sinto muito meu amor, se eu soubesse o quão realizada me sentiria com você e com nossa Sonia, jamais teria retardado tanto, porém, eu estava tão assustada que não enxergava o que estava diante dos meus olhos.

— O que?

— Que você era tudo o que eu precisava, meu porto seguro, meu mundo inteiro – extremamente feliz com a resposta ele a puxou para mais perto, ela continuava acariciando sua face e logo eles uniram seus lábios em um beijo poderoso. Viviene desceu a mão do marido que estava em sua cintura para um local específico em sua barriga, fazendo pressão, quando sentiu o pontapé Arthur se afastou do beijo extasiado.

Oh my godness, é a primeira vez?

— Sim dear... – Viviene emocionada também sorria para os movimentos de sua filha – Na verdade eu já tinha sentido pequenas vibrações, mas nunca dessa maneira – Arthur se inclinou sobre o estômago, levantando a blusa de sua esposa e começou a conversar com o bebê.

— Olá minha princesa, aqui é o seu papai outra vez, esse chute foi um sinal de que estás tão ansiosa para nos conhecer quanto nós? – a criança se movimentou novamente e Viviene jurou que de todos os anos com Arthur, aquele com certeza era o mais puro sorriso que ele já dera – Vamos perguntar se ela gosta do nome que escolhemos – ela apenas concordou, enternecida pelo momento – Bem pequena, já que você decidiu conversar conosco essa manhã, o que acha do nome Sonia? – sem uma aparente resposta ele prosseguiu – nós o escolhemos por causa da sua avó, ela era linda, bondosa e gentil com todos, adorava o mar e era uma mulher a frente do seu tempo, tudo o que eu desejo que você seja sweetheart... Já sua mãe escolheu Cécile, porque diz que você será uma modelo ainda melhor que ela... Então bonequinha, o que achas de Sonia Cécile Dolce Colucci? – o bebê se mexeu novamente, deixando seus pais satisfeitos.

***

2 anos e meio mais tarde...

 

Daddy! Você chegou a tempo! – Sonia correu e se lançou nos braços de Arthur, que instantaneamente largou a mala que carregava erguendo a menina do chão e a rodopiando.

— Como prometido princesa!

— Eu achei que não ia dar tempo de você chegar papai... – beijando seu rosto ele pediu.

— Meu amorzinho, lembre-se disso para sempre, o papai nunca vai deixar de cumprir o que promete a você, até porque Céci, um homem que faz promessas a uma dama e não as cumpre, de maneira alguma merece o amor dela – sorrindo ela enlaçou seu pescoço e beijou sua bochecha.

— Quem chegou querida? – Viviene caminhava graciosa para o hall de entrada, em um lindo vestido vermelho, marcando suas curvas em todos os lugares certos, inclusive na barriga de 7 meses.

— Eu linda – com a menina ainda em seu colo, ele puxou sua bela esposa para seus braços e deu-lhe um beijo saudoso. Descendo Sonia, Arthur se ajoelhou, tocando a volta bastante arredondada do estômago de Viviene – E você rapaz, tomou conta das nossas meninas enquanto estive fora?

— Pietro não consegue tomar conta de nós de dentro da barriga da mamãe papai! – a menina exclamou e seus pais sorriram.

— Céci querida, deixe seu pai ir tomar um banho e se preparar para a ceia, logo mais seu pai, sua madrasta e Guilhermino chegam.

Meia hora depois ele descia as escadas com três embalagens de presentes nas mãos, parou na sala de estar e as colocou junto com os outros presentes sob a árvore de natal ornada elegantemente, ele sorriu observando o restante da decoração espalhada pela casa, podia sentir o toque sofisticado de Vivi em cada pequeno detalhe. A campainha tocou e logo ele ouviu o som das vozes de seus outros familiares, não demorou muito eles chegaram ao cômodo onde estava, Sonia nos braços de seu pai, atenta a algum conto deste, sua madrasta elogiava sua esposa acariciando sua barriga, Guilhermino apareceu logo atrás tentando equilibrar as enormes sacolas de presente... Suspirou sentindo seu peito encher-se de amor e todos os outros bons sentimentos, ele estava feliz no mais abrangente sentido da palavra e aquele com certeza seria um excelente natal.

—________________________________

Presente...

— Mamãe! Veja o que tio Orlie trouxe para mim... – Louise correu até a cozinha com uma embalagem nas mãos.

— Lou Lou o que eu lhe disse sobre abrir a porta quando eu não estiver por perto? – Laura repreendeu a menina.

— Desculpe mamãe, eu só queria ajudar, sei que não devo, mas eu ouvi a voz do tio Orlie e por isso abri.

— Tudo bem, mas da próxima vez me avise pelo menos.

— Algum problema? – o homem entrara sorridente na cozinha.

— Não, só estava repreendendo Louise por abrir a porta sem minha permissão – Laura se inclinou abrindo o forno e puxando o refratário com uma lasanha que deixou Orlando com água na boca, quando ela colocou o recipiente sobre o mármore ele a envolveu por trás e beijou seu ombro.

— Não brigue com a menina Laura, ela reconheceu minha voz após a batida e por isso abriu – ele continuou distribuindo beijos pela região e a ruiva relaxou com o toque.

— Mamãe você nem deu atenção ao meu presente – Louise bufou, puxando a barra de sua saia midi rodada.

— Desculpe querida, o que você ganhou? – ela sorriu virando-se, mas sem sair dos braços do namorado. Desembalando o pacote, os olhos azuis de Louise brilharam em extrema alegria quando ela viu a caixinha com uma maçã mordida.

— Tio Orlie... – empolgada, ela continuava abrindo a caixa.

— Orlando – Laura repreendeu – eu não acredito que isso é o que eu estou pensando...

— Meu Deus! – Louise vibrou quando o último lançamento do Ipod touch apareceu em seu campo de visão acompanhado por um headphone— e ainda é azul!

— Claro, eu sei que você não é uma garota muito de “rosa” – Louise correu e abraçou as pernas dele.

— Obrigada tio, muito, muito, muito, muito obrigada! – ele a ergueu do chão e beijou sua bochecha.

— Espere só até você ver quais são os álbuns que eu me atrevi a baixar – devolvendo-a para o chão, ela ligou o aparelho e começou a mexer entretida.

— Orlando você não deveria ter lhe dado isso! Ela só tem cinco anos.

— Laura, por favor, eu sabia que ela queria, vi ela lhe pedindo várias vezes, vamos lá, veja a alegria no rosto de sua filha.

— Como se já não bastasse Alice, agora tenho você também para estragar minha filha – bufando um sorriso ela o abraçou – foi muito gentil de sua parte, mas este é um presente caro e eu não quero incomodá-lo, crianças são assim, pedem o tempo todo e nós precisamos aprender a dizer não.

— Digamos que foi um presente de natal então.

— O natal é daqui um mês!

— Parece que o Papai Noel se antecipou esse ano então – ela bateu de leve no seu peito e bicou seus lábios no exato momento em que Lou lou encontrou os álbuns.

— Ma – ela pausou – Mãe! Tem todos, você ouviu?! TO-DOS os álbuns do Coldplay – ela saltitou de um lado para o outro – Tio Orlie obrigada de novo, você é o melhor! Eu queria que você fosse o meu pai – Orlando sentiu o corpo de sua namorada tensionar ao seu lado – Será que eu posso ligar para tia Ally e dizer que ela não precisa mais me dar ele de presente de natal? – ela apenas acenou e a ruiva menor saiu correndo pela porta da cozinha com seu presente nas mãos.

— Me desculpe por isso Orlando, eu... – ele pegou suas mãos e a puxou para um abraço, beijando sua testa.

— Tudo bem, quem não adoraria ser o pai de uma garotinha tão linda?! Ainda mais com a bela mãe que ela tem. Ela é só uma criança e sente falta de um pai.

Suspirando ela o encarou.

— Eu sei, obrigada por ser tão gentil e atencioso, Louise só tinha isso do meu pai e agora você apareceu em nossas vidas, agindo tão carinhosamente conosco e ela vê você me beijando, sendo inteligente como é eu devia imaginar que ela associaria, vou conversar com Lou Lou depois.

— Laura eu não me importo que a menina me veja como uma figura paterna, eu estou nisso a longo prazo – as batidas do coração da ruiva aceleram tanto que ela jurava que ele podia ouvir – mas eu gostaria muito de saber quem é o pai de Louise e porque ela não tem contato com ele... Não quero me apaixonar pela ideia de ter uma filha para depois tê-la arrancada de mim.

— Eu lhe devo isso, entretanto peço que espere acabarmos o jantar e eu colocar Louise na cama, essa não é uma história que eu goste muito de lembrar...

            - Claro linda, tudo bem.

—____________________________

 

Era por volta de dez horas da noite quando Alexandre olhava pela janela de seu escritório, estava a semana toda acompanhando uma paciente que havia passado por uma cirurgia complicada e só deixava o hospital quando o outro médico da equipe de neurologia chegava para substituí-lo, ela precisava ser monitorada constantemente durante a primeira semana, qualquer alteração do quadro identificada pelas máquinas era computada e essencial para a reabilitação futura da jovem senhora.

Exausto da rotina e grato por ser o último dia de vigília ele trocara de turno há uma hora, tomara um banho e se preparava para voltar para a solidão de sua casa. A cidade começava a se encher de luzes natalinas, era final de novembro e o clima festivo da época se alastrava pela cidade. Seu coração começou a pesar, era o período do ano que as crianças mais curtiam, Sonia adorava ir para o Refúgio e decorar a casa inteira, fazer uma bela ceia e convidar todos os amigos. Alexandre bufou frustrado, esse ano eles estariam lá, mas não com ele.

Olhando seu celular ele viu inúmeras notificações, Heitor o marcava em qualquer besteira que visse nas redes sociais e mesmo não querendo, ele ria de todas. Sophie tinha lhe mandado um vídeo, ele baixou, assistindo logo em seguida.

“Shalom big bro— o sorriso que sua irmã herdara de sua mãe embelezou a tela – tentei te ligar, mas você não atendeu, imaginei que estivesse ocupado, então resolvi gravar esse vídeo. Como você está? Estou com saudades de você e das crianças, até da malvada da Sonia estou com saudade – a jovem entortou o canto da boca docemente – Meus hormônios estão um loucura, quando não estou extremamente alegre, choro por qualquer coisa, sua sobrinha é muito espoleta e não tem me deixado dormir desde que aprendeu a chutar como um jogador profissional – Alexandre sorriu sentindo o peito apertar de saudade de sua irmãzinha, as vezes ele nem conseguia acreditar que ela tinha se casado e que seria mãe – Ultimamente Elijah tem conversado bastante com ela e isso a acalma graças ao Eterno. Quem não se acalmaria com aquela voz suave, não é mesmo docinho?! – ela passou a mão pela modesta saliência de 6 meses.

A voz que Soph havia citado ecoou pelos ouvidos de Alexandre em um cumprimento enquanto seu cunhado aparecia diante da tela – Shalom Alexandre! – o judeu fez um aceno com a mão direita, sentando-se ao lado de sua esposa e beijando sua bochecha – Soph já lhe fez o convite? – ela negou com um movimento de sua cabeça – Sabemos que você comemora o natal, todavia queríamos chamá-lo para passar estes dias aqui em casa, venha comemorar Hannukah conosco, ficaríamos muito felizes em tê-lo aqui.

— É verdade irmão, seria muito bom tê-lo aqui, poderíamos fazer como na última vez e pegar as crianças por alguns dias se Sonia permitisse... Bom o convite está feito, mamãe e papai vem esse ano também, fique com Yaveh, um grande beijo, amamos você!” – e logo em seguia a tela congelou a imagem do casal feliz.

Alexandre ponderou o pedido e gravou outro vídeo agradecendo o convite, declarando seu amor por eles e prometendo pensar a respeito do assunto, aquele não tinha sido um bom ano e ele não sabia se era uma boa companhia também. Pegando o casaco sobre o cabideiro na entrada, guardou seu celular no bolso interno e o pôs sobre o antebraço, o médico saiu passando pelo espaço vazio de Clarice e tomando o elevador.

* * *

“Não sei se mudou a estação, sei que não é mais verão, estou deixando o nosso ninho, decidi voar sozinho, vou em busca de outro amor, não tem mais doce a nossa flor, eu preciso de carinho, nem que seja um pouquinho...”. Mudou a Estação – Marília Mendonça

 

Laura desceu as escadas após colocar Louise na cama, Orlando a esperava sentado no sofá da sala, ela sentou ao lado dele e o homem se inclinou beijando sua têmpora.

— Acho que lhe devo uma conversa não é?! – a ruiva o olhou e deu um sorriso sem emoção, percebendo seu namorado respondeu.

— Apenas se você quiser, não quero chateá-la. Nossa noite foi tão agradável – ele bicou os lábios dela.

— Preciso concordar – Laura se inclinou contra ele e relaxou em seus braços – Lou lou dormiu emocionada com o presente, só pude tirar o headphone quando ela já estava bem adormecida – o casal sorriu se lembrando das reações da menina.

Orlando decidiu começar por uma zona calma, sua namorada havia recostado em seu peito, ambos subiram as pernas para o assento do sofá e ela seguiu brincando com os dedos deles quando o moreno iniciou:

— Porque Louise gosta tanto de Coldplay? Tem haver com o pai dela? – ela suspirou, mas percebeu que era uma ótima forma de contar sua história e sorriu quando boas memórias vieram a sua mente.

— Talvez eu seja a maior culpada – ela riu novamente – sempre amei a banda e por coincidência ou não, o pai dela também... Acho que conhecíamos todos os álbuns, podíamos ouvi-los por horas sem enjoar, passei minha gravidez inteira escutando e depois que ela nasceu, era só eu por uma música que Louise se acalmava, os anos foram passando e ela só foi ficando mais apaixonada, como você pode comprovar.

— Sim – os lábios dele se esticaram em um riso enquanto se lembrava da reação da menina ao perceber as músicas no Ipod – E como você conheceu o pai dela?

— Apesar de ser sexta-feira, eu era um pouco CDF, ia ficar em casa estudando, tinha feito um intercâmbio em Paris por algum tempo e tranquei a faculdade por um semestre. Com conteúdo de sobra para por em dia somados as provas e seminários eu não pensava em outra coisa, mas minha colega de quarto insistia em me arrastar para uma festa – ele gentilmente a interrompeu.

— Deixe-me adivinhar... Essa amiga era Alice? – Laura sorriu confirmando.

— Sim Orlie, ela mesma. A festa era na irmandade onde o pai de Lou Lou morava, ele já era um veterano do último ano de direito, adorava dar festas e curtir a vida, tinha dinheiro e esbanjava como podia.

— Não acredito que minha garota esperta foi se apaixonar logo pelo playboy?! – Orlando brincou.

— Eu achei que ele era mais que isso sabe? Porém eu vi o quanto estava enganada – um sorriso aguado apareceu tão rápido quanto sumiu de sua face – Assim que chegamos a festa Alice sumiu com Patrick e eu fiquei me sentindo deslocada, fui para fora e sentei numa escada pequena que ligava a varanda a calçada, curti a música que pelo menos era boa. O tempo passou e eu não tinha tido mis notícia de Ally, estava apreciando o céu como costumo fazer quando alguém me ofereceu uma bebida. Nós nos apresentamos, eu aceitei o drink, ele era divertido e muito bonito, me chamou para sair e eu lhe dei meu número de telefone, trocamos mensagens durante a semana e no sábado da outra semana fomos ao nosso primeiro encontro.

— O nome dele era Victor e as coisas entre nós aconteceram muito rápido, eu nunca tinha me apaixonado daquela maneira antes. Não era uma garota boba, mas era uma garota cheia de sonhos, nós dois na verdade. Éramos muito novos e não pensávamos nas consequências, eu não era experiente, Victor foi meu primeiro e único homem, não podia nunca imaginar que uma coisa como aquela – ela apontou na direção do quarto da filha e sorriu – pudesse acontecer comigo, quando de repente, “BUM”, eu me descobri grávida... Nós tivemos momentos incríveis, fomos felizes – ela fechou os olhos, grata por ele não poder ver a expressão em seu rosto ao reviver algumas das doces lembranças que tinha com Victor, uma corrente elétrica passou por seu corpo, a traindo e revelando o quanto tudo ainda era muito forte para ela – Entretanto, como tudo tem um porém, a mãe dele me odiava, tinha certeza eu era uma golpista... Isso já era para me ter feito desconfiar que não daria certo...

— Então ele descobriu e achou que você era mesmo uma golpista e por isso não assumiu a menina?

— Não Orlie, a confusão é bem maior... A família dele queria que ele se casasse com Amelie, uma patricinha, aliás, como chamam hoje em dia? – ela pensou e continuou com ironia – ah sim, socialite. Havia sido prometidos desde crianças.

— Isso é sério? – Orlando perguntou divertido.

— Sim, patético e arcaico, seria até bonitinho se eles realmente sentissem algo um pelo outro, mas Victor não suportava a menina e ela no máximo tinha atração por ele, dizia que o amava, mas para mim ela nunca conheceu o real significado de amar. No dia da formatura dele eu ainda não havia contado sobre o bebê, a mãe não queria minha presença e fez questão de deixar claro, eu comecei a passar mal e foi minha deixa para ir embora. Ficamos sem nos ver alguns dias, estava ocupada com obrigações do final do semestre e ele, bem, eu não sabia direito com o que estava ocupado na época, depois soube que era culpa, ele estava cheia de remorso porque após minha saída da festa ele bebeu até ficar fora de si e levou a patricinha para cama.

— Minha nossa Laura! – exclamou surpreso.

— Eu fiquei arrasada quando ele me contou, me senti a pessoa mais sem chão, vi todos os sonhos que havia construído com ele irem pelo ralo, tinha planejado contar sobre o bebê aquele dia... Contei para você que estávamos noivos quando tudo isso aconteceu?

— Não linda – Orlando curvou-se até alcançar a cabeça dela e beijar seus cabelos, acariciando seus braços.

— Eu o mandei embora do meu quarto e da minha vida, só que Ally me fez ver que ele havia errado sim, porém merecia uma segunda chance ou ao menos saber sobre nosso filho. Eu ponderei e no fim concordei, afinal tínhamos que decidir como faríamos. Marquei uma conversa e adivinha quem ele mandou no lugar? A mãe e a “noiva”. Elas foram lá para mandar um recado dele, de que nosso compromisso terminava ali porque ele seria pai, mas do filho de Amelie.

— Oh baby, eu sinto muito – ele a abraçou mais forte, virando-a para poder encará-la e ouvir o final da história.

— Eu nem contei sobre o meu bebê... para que?! Depois de alguns dias a mãe apareceu no meu quarto, eu havia deixado meu exame cair no dia da nossa conversa, me falou coisas horríveis, disse que Victor nunca poderia saber sobre “o problema que eu arrumei” e perguntou quanto eu queria para me livrar disso. Acredite ou não, aquele monstro em forma de gente chamou minha filha, neta dela, meu minúsculo bebê na época, de tudo isso. Estava tão perplexa e arruinada que não tive forças para respondê-la a altura, graças aos céus Ally fez por mim...

— O mais cômico é que eu ainda tinha aquela pequena chama de esperança de que Victor faria algo, eu o amava e não podia acreditar que ele havia brincando comigo daquela maneira. Tudo finalmente acabou quando vi o anúncio do noivado deles na coluna social. Ele havia desistido de mim, de nós e do futuro que planejávamos pelo conforto que a família lhe oferecia, ficar comigo o deserdaria e ele escolheu o caminho mais fácil.

— Contei aos meus pais que não ficaram felizes com a ideia da filha de 19 anos ser mãe solteira naquelas circunstâncias, mas me apoiaram em tudo. Sou muito grata a eles Orlie, eles foram minha luz no fim do túnel. Fizemos um acordo, eles me ajudariam, porém eu não poderia procurar Victor, manter nenhum tipo de contado com ele e muito menos contar sobre o bebê.

— Foi assim que vocês chegaram aqui no México?

— Sim, meus pais eram amigos do reitor da universidade em que me formei, explicaram a situação e vendo minhas boas notas me aceitaram. Eu vim antes de minha gravidez ficar aparente, só Alice sabia de tudo e guardou meu segredo até hoje. Eu nunca mais o vi desde então.

— Uau! Você parece ter me contado o script de uma novela Laura. Eu realmente sinto muito por tudo o que ele fez você passar linda, ele foi um covarde e não merecia nenhuma das duas – encarando-a, ele segurou as laterais do seu rosto e trancou seus olhares – O que eu falei mais cedo está valendo, estou nisso a longo prazo e para valer, quero um futuro com você.

— Você sabe que um futuro comigo inclui uma garota de 5 anos de gostos caros não é?! – ela descontraiu.

— Vale a pena, vocês duas valem qualquer esforço. Eu tenho 33 anos Laura e a ideia de ser pai não é mais algo distante nesse estágio.

— É muito bom saber disso – ela envolveu os braços pelo pescoço dele e o beijou rapidamente – mas eu peço para irmos devagar e ver aonde chegaremos, ok?

— Se é assim que você quer tudo bem – ele pegou uma de suas mãos e beijou o dorso, fazendo carinho com o polegar em seguida – todavia eu sei exatamente para onde desejo ir – a veracidade das palavras dele a atingiram e ela suspirou, a proximidade entre seus corpos trabalhando rapidamente como magnetismo que parecia os puxar para ainda mais perto.

— E para onde seria – ela provocou, o encarando enquanto mordia um pedaço do lábio inferior.

— Qualquer lugar onde você esteja, ao contrário desse imbecil, eu abriria mão de qualquer coisa por ti, se você quiser ir para o outro lado do mundo eu a seguirei e se quiser ficar bem aqui nesse sofá eu a acompanho... Eu só desejo estar contigo ruivinha.

— É muito cedo para você dizer essas coisas e me fazer promessas Orlie, temos só alguns meses juntos...

— Eu acho que você não me entendeu – sorrindo ele continuou olhando nos olhos cor de âmbar dela – Eu a amo Laura, realmente a amo, desde quando coloquei meus olhos em você eu fiquei encantado, não me importo que te amar me traga uma garotinha linda de olhos azuis, seria um presente e não um fardo.

— Eu... eu não sei o que dizer. – ainda chocada com a declaração, Laura se questionava a respeito do que sentia. Era amor mesmo?! Ela estava se apaixonando, atraída pelo charme latino com certeza, mas já tinha evoluído para amor? “Oh céus!”.

— Você não precisa dizer que sente o mesmo se não sente. Eu entendo – ele entendia, porém, agora que sabia que talvez ela não correspondesse à profundidade do sentimento dele pelo que sentia por outro cara, não podia negar que o ferira um pouco. Se afastando ele beijou a cabeça dela – É melhor eu ir, já está ficando bem tarde. – Orlando conseguiu sorrir e levantou-se do sofá, Laura continuava atordoada em seus pensamentos, tentando reagir de alguma maneira – Tchau linda – o homem caminhava em direção à porta da sala quando a ouviu chamar seu nome.

— Orlie – a ruiva estava de pé em frente ao sofá, os olhos dela estavam vidrados e ele internamente se amaldiçoou por talvez ser o culpado das lágrimas dela. Parado ele a esperou falar alguma coisa – Me desculpe, eu lhe disse que essa história bagunçava minhas emoções, Victor me fez tantas promessas e o não cumprimento delas me magoaram muito, eu aprendi a me blindar. Não é como se eu não sentisse o mesmo por você, mas estou aprendendo a amar de novo, seja paciente comigo.

Quebrando os passos que os distanciavam ele mais uma vez segurou o rosto dela entre suas mãos, os polegares limparam duas lágrimas que desceram pelas bochechas, os olhos dele sorriam tanto que afastou o medo que ela sentiu de quase o perder.

— Eu esperarei o tempo necessário, como eu disse, eu entendo – ele deu um beijo na testa dela e se despediu novamente – até amanhã linda. – Descendo as mãos do rosto dela, ele se afastou, mas pode sentir quando ela segurou seu punho e buscou seu olhar.

— Eu não quero que você vá, fique comigo está noite – ela nem percebeu, mas quando viu já tinha falado. Fazia tanto tempo e ela realmente o queria. Orlando estava tão surpreso que suas sobrancelhas quase tocaram em seus cabelos. Ele demorou alguns segundos para responder.

— Você tem certeza? Não precisa fazer isso para me confirmar nada.

— Você tem razão, eu não preciso. Mas eu quero! – ela o puxou para um beijo e ele respondeu, segurou sua cintura e a tocou mais intensamente que as outras vezes. Laura lhe dera permissão e ele iria mostrar que realmente a amava e se importava com ela – Vamos lá pra cima – ela disse quebrando o beijo com um suspiro.

  - E Lou Lou?

 - Para sua sorte ela já não acorda mais durante a noite.

 

—_____________________________

— Boa noite doutor – o vigilante do estacionamento se despediu.

— Boa noite Carlos, até amanhã – assim que chegou à guarita o portão automático foi aberto e ele passou.

Poucos metros à frente, próximo ao ponto de ônibus ele notou uma de suas funcionárias, o jaleco da enfermeira descansava no antebraço da mulher, sendo abordada por dois homens, não demorou muito para ele perceber que um deles estava armado, um adolescente. Ele parou o carro e correu até ela, o assaltante com a arma mirou nele.

— Calma rapaz – o médico pediu – deixem a senhora ir, eu já chamei a polícia.

— Merda cara, você está louco?! O que tu fez? Eu vou estourar teus miolos!

— Atira nele – o parceiro gritou.

— Vamos lá, deixem a mulher ir e vão embora antes que a polícia chegue! – os homens largaram a mulher, que juntou seus pertences e correu até Alexandre.

 - Vá para o hospital Marta, agora!

 - Mas e o senhor doutor?!

— Marta vá logo!

Quando Alexandre voltou sua atenção para os bandidos o homem mais velho tinha pego a arma e ele viu na hora em que dois tiros foram disparados, a próxima coisa que ele sentiu foi a dor lancinante das balas perfurando seu corpo enquanto tudo ia ficando distante e ele se chocava contra o chão.

* * *

 

Era por volta de 5 horas da manhã na capital francesa, estava bastante frio, Sonia tinha acabado de se deitar contra seus confortáveis travesseiros de penas de ganso cobertos por fronhas de milhares de fio egípcios. Arthur dormira há poucos minutos enquanto mamava, ela estava tão sonolenta que o deixou ficar na cama, andava tão cansada ultimamente sem ninguém para dividir a jornada noturna. Victor lhe ajudava muitas vezes, entretanto ela não poderia abusar da sua boa vontade, ele não era o pai do menino para ter tanto trabalho com ele.  Estava apavorada com a perspectiva de contratar uma babá, mas teria que conversar com Marie e pedir que lhe ajudasse a encontrar alguém discreta. Até porque tudo o que ela menos queria era que as pessoas, principalmente Alexandre, soubesse do pequeno assim.

Quando seu celular começou a vibrar alto sobre o criado mudo, a ex modelo amaldiçoou quem quer que fosse, se a pessoa tivesse acordado seu filho ia se ver com ela. Olhou para o bebê e deu graças a tudo o que fosse mais sagrado por ele permanecer dormindo como um anjo. Levantou-se da cama com cuidado e verificou quem ligava. A foto de Helena causou-lhe um temor instantâneo. Tinha algo errado, sua amiga não lhe telefonaria esse horário para lhe contar qualquer novidade que fosse.

— Sonia querida, aconteceu algo e eu acho que você precisa vim aqui – a aflição na voz da amazona só confirmou suas suspeitas.

— O que foi Lê? – ela fechou os olhos aguardando a resposta.

— Alexandre acabou de levar dois tiros em um assalto e está sendo preparado para entrar na sala de cirurgia.


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Notas finais do capítulo

Eeeeeitaaaa... Será que assim Sonia volta pro Alê?! Veremos hauhauaha Conhecemos um pouquinho do homem maravilhoso que Arthur foi, uma pena só tê-lo em flashback ://
Capítulo pequeno, pois como eu disse lá em cima, estou tirando o ferrugem e pegando o jeito... Já tenho bastante coisa do próximo capítulo escrita, talvez saia esse mês ainda. Segurem os ânimos e esperem pq: The winter... is coming!