Estações escrita por Emma


Capítulo 29
Uma Especial Manhã de Setembro em Paris


Notas iniciais do capítulo

Perdão pelas quase 11 mil palavras, se eu cortasse não ia ficar legal '.'



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“Eu me arriscaria de novo, cairia, levaria um tiro por você,
Eu preciso de você como um coração precisa bater, mas isso não é novidade.
Eu amei você como um flama acesa, que agora está se tornando fraca
E você diz: "Sinto muito" feito um anjo, os céus me fizeram acreditar que era você,
Mas eu temo que... Seja tarde demais para pedir desculpas,
Seja tarde demais” Apologize – Timbaland

 

2 meses depois, Paris...

— Mamãe! – Cristal chamou ao vê-la entrar na sala onde deixara a menina praticando violino – papai acabou de ligar dizendo que vem nos buscar esse fim de semana.

— Tudo bem ma chéri— ela se inclinou e beijou a cabeça da menina – Como está a prática?

— Estou fazendo conforme meu professor novo me ensinou, mas sinto saudade do Sr. Pratt, ele era divertido e ensinava a gente a tocar com o coração.

— Então faça assim mon amour, você tem um talento incrível, que vem de dentro, toque com seu coração, aprenda a técnica que Sr. Lamartine lhe oferece e deixe fluir a melodia daqui – a modelo tocou o coração da filha com o indicador direito afagando seu nariz em seguida.

— A senhora conseguiu descobrir dessa vez o que é o meu irmãozinho ou ele fechou as perninhas de novo?

— A Dra. Valloy disse que não deixaria o bebê enganá-la novamente...

— Então é o que mamãe?

— Hum... – Sonia fez mistério enquanto a ansiedade era visível no rosto de sua primogênita – É um menino – ela sorriu e piscou com apenas um olho – o time está empatado agora.

— Que legal! Como vamos chamá-lo? Posso escolher? – enlaçando a cintura da mãe, a menina beijou a barriga ondulada e sorriu lembrando-se de algo – Posso contar ao papai quando ele chegar?!

— Não querida! – Sonia soou mais rápida e aflita do que gostaria.

— Porque não podemos dizer a ele mamãe? – Cristal perguntou confusa.

— Porque ainda não é o momento baby, eu e seu pai estamos passando por uma situação delicada, até resolvermos isso não vamos falar sobre o seu irmão, ok?! Você pode guardar esse segredo para mim? E me ajudar a não deixar seus irmãos falarem?

Mesmo sem entender a razão, porém absorvendo o raciocínio de sua mãe, ela acenou com a cabeça enquanto concordava.

— Tudo bem mamãe, não vou contar e vou tentar ajudar com os gêmeos... Eu só não entendo porque meu pai não está mais morando com a gente, eu achei que vocês se amassem, sinto saudades de como era... – a garota respondeu nostálgica.

— Filha, você é muito criança para entender a complexidade das coisas de adulto, quando for mais velha prometo sentar contigo e lhe explicar direito o que aconteceu. O importante é você saber que seu pai ama vocês três.

— tudo bem mamãe, eu sei disso.

— Vamos contar aos seus irmãos? – pegando na mão de Cristal, mãe e filha foram até o quintal encontrar Charlotte e César e colocá-los a par das novidades.

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Cidade do México...

Deitada em sua cama, Laura digitava a senha de sua conta na Netflix no televisor, Louise dormia tranquila, era noite e finalmente tinha conseguido um recurso para prorrogar por mais um prazo o divórcio do Dr. Del Rio. Sonia se quisesse mesmo o divórcio teria que vim pessoalmente para uma tentativa de mediação. Ela torceu o canto de sua boca, ele era um bom homem com uma triste história, realmente amava sua mulher e valia a pena o esforço.

Fazia semanas que ela não parava para ver uma de suas séries, hoje ela faria isso, uma pequena maratona, precisava descobrir que tipo de artimanha Annalise Keating estaria usando para vencer seus casos e mascarar as pistas dos homicídios que a rodeavam... Pelos menos era o que ela pensava. Seu celular tocou e a foto de Alice apareceu na tela, sorrindo Laura aceitou a vídeo chamada.

— Boa noite ruivinha.

— Boa noite Ally.

— Cadê minha sobrinha?

— Dormindo – a advogada direcionou a tela do aparelho para o lado e sua amiga sorriu quando viu a menina deitada ao lado da mãe – ela me deu bastante trabalho para dormir hoje Ally, como amanhã é sábado deixei-a ficar por aqui.

— Louise é incrível, eu a amo muito – o telefone mostrava outra vez o rosto da ruiva – Mas agora me fale sobre Orlando, como andam as coisas?

— Vamos sair amanhã para um almoço, ele vai conhecer Louise oficialmente.

— Diga para ele poupar energia, porque essa menina vai dar uma canseira nele – as duas riram e Laura acenou – E quanto a vocês?

— Ah – Alice viu um sorriso doce aparecer nos lábios da amiga – nós nos damos bem, ele é gentil e atencioso, eu sei que ele não quer conhecer Louise apenas por obrigação e damnit, ele é sexy! Tem um sorriso que me tira o fôlego e um beijo que me deixa de pernas bambas.

— É definitivamente você está apaixonada! Preciso concordar que pelas fotos ele parece bastante atraente... E vocês já...?!

My Gosh Ally! Você só pensa nisso?!

— Não, mas vamos lá, o cara é bonitão e você está em uma seca GRAN-DE minha amiga, então é claro que eu quero saber se vocês já foram para cama.

— Alice – ela bufou revirando os olhos – estamos indo com calma... Você disse que estou apaixonada, quando na verdade apaixonando seria a palavra certa... Nós já tivemos alguns amassos intensos, mas ainda não fomos além.

— Você está perdendo tempo, eu não teria o controle que você tem com tamanha beleza latina na minha frente!

— Eu ouvi isso Alice Jacobs! – uma voz masculina foi ouvida de longe por Laura que hasteou uma sobrancelha em curiosidade.

— Não me diga que você e Patrick estão de rolo novamente?! – a ruiva afirmou mais que perguntou. Alice acenou com a cabeça e o tórax do homem apareceu logo atrás, inclinando-se ele acenou para ela – Por favor, parem com isso e se casem logo! Há quantos anos vocês estão nessa?

O casal se olhou e Laura estranhou a quantidade de seriedade naquele olhar.

— Não me diga que vocês serão pais, porque pelas caras que fizeram eu pos...

— Não é nada disso... Aliás, agora só falta isso... – ainda sem entender ela fitava os dois rostos cismada.

— Então o que é?

— Ontem, depois de conseguirmos uma conciliação quase impossível com uns clientes rivais há anos, fomos comemorar no Bellagio, por conta deles, estávamos a mais de um ano sem nos vermos, eu morando em Las Vegas, Patrick em Washington... Ficamos bêbados e acordamos com isso – erguendo ambas as mãos esquerdas, eles estavam com uma aliança singela em torno dos dedos anelares. Surpresa, Laura arregalou os olhos e sorriu.

— Vocês estão falando sério? Ficaram noivos?

— Ai Laura – Alice bufou – Você é idiota ou o que? – saindo da frente do celular por alguns segundos, o rosto bonito e estampado com um sorriso de Patrick permaneceu na tela – Nós nos casamos na madrugada, em um daquelas capelas cafonas – ela mostrou-lhe a certidão “comemorativa” que eles receberam ao saírem do local.

— OMG – ela sorriu surpresa – não sei o que dizer...

— Nem nós – Patrick se expressou.

— Passamos o dia olhando para esse bendito papel e tentando decidir o que faríamos...

— E... – Laura os incitou a continuar.

— E – ele respirou olhando para sua “esposa” – queremos tornar legal! Nos conhecemos há tantos anos, sempre estivemos juntos de certa forma, nos separamos esse tempo, porém... acabamos encontrando o caminho um para o outro.

— Acho que nos amamos – eles quebraram o olhar, ainda sorridentes e Laura do outro lado da tela lhes devolveu um sorriso repleto de sinceridade.

— Vocês se amam, tenho certeza disso. De uma maneira estranha, mas amam... Bem, sejam felizes!

— Nós vamos oficializar com um jantar ou uma festa pequena, ainda estamos decidindo, queremos Lou Lou como daminha e você como madrinha.

— Claro! Ela vai adorar e eu também.

— Vou deixar vocês a sós...

— Não sem antes ouvir o que tenho para falar diretamente com você meu senhor... Se você magoá-la, se trair a confiança dela, juro que vou xeretar sua vida até achar algo que possa usar contra você e destrui-lo.

Assustado ele coçou a nuca.

— Okay, prometo fazer meu melhor.

— Acho bom – ela sorriu satisfeita.

— Te conheci mais boazinha darling.

— A vida ensina a gente ‘darling’! – ela debochou.

—______________________________________

Heitor tinha acordado cedo, na verdade, ele não havia nem dormido direito. Deitado sobre a cama auxiliar do quarto de Catarina, ele percebeu que adormecera ali e a mocinha já estava acordada, chupando as mãozinhas. Se Henrique não lhes deu trabalho à noite, Gabriela e os gêmeos compensaram. Otávio acordava a cada duas horas para mamar, Catarina era mais calminha e preguiçosa, sempre dormia mais, porém o menino despertava pontualmente e aos berros. A dinâmica estava sendo de difícil articulação. A primeira semana em casa tinha sido uma loucura, com sua mulher se recuperando de uma cirurgia complicada e dois recém nascidos exigentes, sempre solicitando-a.

O engenheiro fazia tudo ao seu alcance para poupá-la, ele lhe devia isso por tê-la negligenciado durante a gravidez. Nove dias após o nascimento retornou ao Egito e não tinha sido nada bom, mesmo tendo deixado os melhores de sua equipe lá, o governo não gostou e o ameaçou com uma multa caso ele não voltasse para tomar a frente do projeto, mas Heitor foi inflexível e disse que precisava estar no México, não poderia abandonar sua mulher de novo. Depois de conversas acaloradas, uma multa “razoável” e um acordo de visitas regulares até o final da obra, ele acertou sua condição sem muito pesar.

 Foram os dois meses mais complicados de todos, felizmente, mesmo com todo alvoroço, a família Herrera vencia mais um obstáculo. Sentando-se sobre a cama ele suspirou e esfregou os olhos, sorriu olhando a filha, tão diferente da irmã, os cabelos começaram a aparecer, fios dourados ralos. Não seria dessa vez que eles teriam uma menina com os cabelos escuros de Helena e provavelmente mais nenhuma. Para a triste surpresa do casal, a rotura tinha danificado parte do útero da amazona e ela não poderia ter mais filhos. Ambos ficaram abalados ao receber a notícia de Bárbara, mas satisfizeram-se pela família que construíram. Quem sabe eles não adotassem daqui mais uns anos?!

Heitor pegou a garotinha do berço e beijou sua cabecinha.

— Bom dia docinho, vejo que você está com fome não é?! Cadê o sorrisinho que você só abre para o papai, vamos lá bonequinha, mostre essa boquinha sem dente para mim – assim como solicitado, a menina abriu um sorriso para o pai enquanto ele se encaminhava para o quarto e brincava dando singelos beijos no rostinho do bebê.

***

Helena dormia e Otávio também, Heitor sentiu uma pena em acordá-la, mas infelizmente as mamadeiras de leite que eles guardavam tinham acabado.

— Meu amor – ele se inclinou e beijou a têmpora dela. A amazona abriu os olhos, ainda sonolenta – Nossa mocinha está com fome.

— Bom dia amore, tudo bem, me dê ela aqui. Logo o guloso do seu filho acorda também... ele já está ficando uma bolinha – ela sorriu e ambos olharam para o menino com dobrinhas começando a se formar pelo corpo, remexendo-se lentamente sobre a cama.

Heitor sentou-se e colocou a menina ao lado do irmão, os dois sorriram felizes uma para o outro. Helena tinha algo nos olhos que o enfeitiçava e mesmo desgrenhada, com olheiras e rosto amassado de sono como estava, ela conseguia fazer seu coração perder o compasso, o frio preenchendo sua barriga. O sorriso ainda que enevoado pelo cansaço continuava sendo o melhor dos entorpecentes.

— Deus! Eu não sei o que eu fiz para merecer você linda – Heitor enfiou a mão pela lateral do rosto, chegando aos seus cabelos – mas eu agradeço por ter feito seja lá o que tenha sido... Você é tão perfeita querida – Helena adorava a paixão e devoção presente nos olhos do marido, era o único que podia deixá-la sem jeito.

— Heitor, estou tão horrível, como você pode dizer isso? – ele se inclinou, tomando cuidado com os bebês entre eles, beijando-a.

— Porque você é maravilhosa de todas as maneiras, principalmente quando está cuidando das nossas crianças, adoro tudo em você, exatamente tudo, cada pequeno detalhe.

— Eu te amo bonitão, amo cada parte sua também – ela segurou o rosto dele novamente, bebendo do amor que transbordava de seu olhar.

— E eu amo você bonitona – eles se beijaram mais uma vez, lenta e apaixonadamente, apreciando o momento, até Otávio reclamar por atenção – E você estava certa, nosso menino acordou – sorrindo separam-se e foram atender os filhos.

***

— Você viaja hoje?

— O jato sai à noite, prometo que no mais tardar segunda de noite estarei de volta, pois preciso passar em uma reunião do Conselho na parte da manhã em New York.

— Tudo bem, mas vou sentir sua falta.

— E eu a sua, minha linda – ele envolveu a cintura dela e se inclinou para beijá-la.

— E a minha papai? O senhor vai sentir minha falta? – sorrindo, pensou que com a quantidade de crianças na casa, eles precisariam ser mais rápidos se queriam pelo menos terminar um beijo.

Desviando a atenção de Helena, ele se abaixou e pegou a menina no colo, jogando-a para o alto.

— Mas é claro que vou Gabi, como eu não ia sentir falta da minha princesa de cachinhos dourados?!

— Mais alto papai – a menina gargalhava.

— Heitor cuidado!

— Não seja chata Helena! – ele sorriu e continuou jogando uma vibrante Gabriela para cima – Que horas é sua consulta?

— A minha às 10h e a dos gêmeos às 11h – Heitor colocou a filha no chão e ela foi até a mãe, ganhando um beijo na bochecha – Bom dia lindinha.

— Bom dia mamãe – a loirinha lhe devolveu o beijo e o cumprimento, descendo do colo e indo em direção a cama dos pais onde seus irmãos estavam – Bom dia Catarina e Otávio – se inclinou beijando a cabeça dos bebês.

— Precisa que eu os acompanhe? – o casal manteve a conversa, enternecidos em ver Gabriela interagindo com os irmãozinhos.

— Se você puder ir eu ficaria feliz, se não, eu peço para uma das babás nos acompanharem.

— Vou dar um pulo na empresa agora e organizar algumas pendências para a viagem, farei de tudo para chegar a tempo – se inclinando ele bicou os lábios macios de sua esposa, entrando no closet, pegando o paletó do terno, vestindo e beijando as crianças sobre a cama ao sair – Estou levando Henrique para a escola. Até mais tarde lovely.

— Até mais querido.

— Tchau papai – Gabriela falou baixinho.

***

— Bárbara, eu me sinto muito mais viva nesse último mês, a rotina com os gêmeos não está sendo fácil, porém eu e Heitor estamos administrando bem, você sabe o quanto eu odeio ter um monte de babás pela casa, fazendo o trabalho por mim, apesar de que tenho apelado para a ajuda de algumas porque tenho Gabriela também... Henrique sempre foi tranquilo, você sabe – a mulher sorriu simpática e acenou.

— Ele é um príncipe não é mesmo?! Encantador como o pai, os sorrisos e olhos são idênticos, mas o temperamento eu não sei de quem ele herdou, pois também não é seu...

— Ele é 95% meu sogro e os outros 5% ele puxou do meu papá, a parte boa – com uma risada, Bárbara organizou os papéis sobre a mesa e os colocou na pasta de Helena outra vez.

— Bom, segundo seus exames está tudo em perfeita ordem, você sente algum incômodo ou dor?

— Não mais.

— Nem mesmo durante as relações sexuais? Afinal, você nunca tinha passado por uma cesariana antes.

— Na verdade – Helena abaixou a cabeça, desconcertada, empurrando uma mexa de cabelo atrás da orelha – eu ia mesmo lhe perguntar a respeito, eu e Heitor ainda não tivemos relações...

— Oh, isso é novo, eu sempre preciso repreendê-los para esperar o tempo certo, e depois do tempo que passaram separados, achei que... bem, você me entendeu... Está com vergonha de mim Lê? – ela perguntou ao ver as bochechas da amazona corarem.

— Não é isso, falar sobre sexo contigo nunca foi um problema... Acredite, eu já tentei, mas ele recuou, tenho certeza que está com medo de me prejudicar de alguma forma, ou talvez, o fato de não estar na minha melhor forma.

— Sério Helena? – a médica perguntou serenamente com uma sobrancelha hasteada – E desde quando isso foi um problema para Heitor? Ou mesmo quando você se importou com isso? Minha querida, você estava grávida de dois bebês e mesmo assim está ótima, não são todas que conseguem essa proeza... Vocês já conversaram a respeito? – Helena indicou que não com um movimento de sua cabeça – Seu marido quase a viu morta, eu presenciei o quanto ele ficou apavorado, dê um tempo para ele assimilar tudo, talvez a cabeça dele esteja uma bagunça.

— Se ele não fizesse questão de demonstrar todo dia o quanto ainda é apaixonado por mim, eu suspeitaria a possibilidade de uma amante, mas sei que não.

— Eu atendo muitas pacientes querida, e nunca vi um marido tão apaixonado quanto o seu. E se posso te dar um conselho seria, use as armas que sempre usou para mantê-lo assim, seduza-o, ele não resistirá.

— Você está certa – ela sorriu, tomando suas coisas nas mãos e levantando-se – Obrigada Bárbara – as duas mulheres estavam paradas em frente a porta aberta do consultório – Preciso me apressar porque tenho horário marcado com o pediatra para os gêmeos, mas vou aproveitar os minutos livres para amamentá-los, daqui a pouco Otávio vai começar a “chamar” por mim.

— Fico feliz de vê-los crescendo saudavelmente. E claro, você também.

— Não sei se poderei agradecer o suficiente por tudo, obrigada – Helena se inclinou e beijou a bochecha da médica, fitando uma figura conhecida passando pelo corredor.

— Apenas continue cumprindo as ordens médicas e sendo feliz, Heitor me manda flores toda semana, se meu marido não os conhecesse acharia que estou tendo um caso – Bárbara sorriu, Helena também, porém sua atenção estava na mulher de cabelos dourados, tentando não perdê-la de vista.

— Eu prometo que farei meu melhor, desculpe meu marido, ele só está agradecido que não vai ter que se virar sozinho com 4 crianças – Bárbara sorriu se despedindo e retornando para sua sala.

Helena foi de encontro à babá, Heitor havia mandado uma mensagem em seu celular dizendo que estava preso no trânsito e talvez se atrasasse. Pedindo para a jovem esperá-la ali, se apressou corredor a dentro. Lendo o nome escrito na placa fixada na lateral da parede, ela sorriu, a sorte estava ao seu favor. A cadelinha sonsa aprenderia uma lição hoje!

A amazona abriu a porta e entrou silenciosamente na copa. Só ela e Melissa estavam no local, a médica lia algo em seu celular sem desviar os olhos do mesmo para saber quem entrara.

Nada gentilmente Helena arrancou o aparelho de suas mãos e com o baque forte o pôs sobre a mesa. Quando Melissa abriu a boca para reclamar ficou muda ao ver quem estava diante dela. Levantando-se as duas mulheres se encaram, Helena era poucos centímetros mais baixa que ela, quase irrelevante, porém possuía muito mais presença e massa corporal. Tentando não mostrar o quanto a amazona a intimidara, Melissa perguntou:

— O que a senhora deseja?

— O que eu realmente desejo fazer contigo me levaria para a cadeira, mas no momento isso já é o bastante – antes que Melissa pudesse responder ou mesmo pensar foi atingida por uma bofetada forte no rosto magro, sentindo a ardência ela pressionou a bochecha e encarou a mulher horrorizada.

— Você é louca ou o que? – Helena avançou e espalmou com tanta força quanto antes o outro lado do rosto da mulher, que sem saber como reagir apenas se afastou.

— Louca ficou você quando achou que podia fazer o que fez! Escute aqui menina – Helena avançou novamente e as duas ficaram cara a cara, ela segurou o cabelo e a prensou contra parede – Eu cresci numa fazenda, sei como lidar com bichos, uma cobra, por exemplo, tens que imobilizá-la pela cabeça e preferencialmente matá-la em seguida, pois são muito astutas. Como não posso fazer isso, apenas vou alertá-la que se continuar a destilar seu veneno em minha amiga, eu vou acabar contigo, machuque-a outra vez da menor maneira e isso será só o começo do que farei com você – ela a soltou e Melissa ofegava de medo, cheia de tensão e raiva tentou revidar com um tapa, todavia a amazona foi mais rápida e a segurou contra a parede novamente, só que dessa vez de frente e lhe deu outro tapa –  Não ouse levantar a mão para mim sua vadia! Sou uma Soriano e você não é ninguém para tocar em mim! Este é por ter destruído o casamento de meus amigos – outra bofetada – este por ter sido a responsável por minha melhor amiga ir embora – e este – reunindo toda força que conseguiu em uma mão ela esbofeteou o rosto já ardido e incrivelmente vermelho da médica – por ser uma vagabunda! – o anel de ouro com uma saliente pedra de rubi que Helena usava, atingiu o canto da boca de Melissa provocando um corte – Você pode até ter conseguido enganar Alexandre e ter ficado com ele – soltando-a ela caiu no chão, um fio do líquido vermelho viscoso escorreu pelo canto esquerdo dos lábios – Mas você nunca vai conseguir ser como Sonia, nunca! E ele muito menos te amará um terço do que a amou. Adeus! – Helena passou a mão pelo rosto limpando o suor, arrumou sua roupa e virou-se saindo da sala, deixando uma Melissa chorosa e com muita dor, escorregando até o chão com as costas rentes a parede.

***

— Bom dia Mariza, onde está minha mulher? – Heitor perguntou se inclinando a altura do carrinho e brincando com Catarina, Otávio se agitava no colo da jovem.

— Senhor, ela saiu rapidamente assim que deixou o consultório, acredito que tenha ido ao banheiro.

— Ok, falta muito para a consulta? Pensei que não ia conseguir sair daquele trânsito, eles demoraram para liberar a pista após o acidente.

Helena apareceu no campo de visão do marido com um sorriso sem igual no rosto, porém os cabelos emaranhados indicavam claramente que ela não vinha do banheiro.

— Querida, onde você estava? – perguntou confuso.

— Estava dando uma lição em alguém! – ela ergueu as duas sobrancelhas e lhe mostrou um sorriso vitorioso. Ainda perdido ele a encarava, quando de repente um estalo lhe despertou.

— Você não fez o que eu acho que fez...

— Depende do que você acha que eu fiz.

— Meu Deus Helena! Isso é sangue saindo do seu peito? – Heitor perguntou apavorado, tocando no local onde o líquido manchou sua roupa – Que diabos você fez mulher?

— Respondendo sua pergunta, sim é sangue. E não. Não é meu – a amazona sorriu desdenhosa – Eu estava tendo uma conversa com Melissa.

— Você bateu nela?

— Sim, dei alguns bons tapas na cara daquela vagabunda – ela continuava exibindo um sorriso eufórico e Heitor passou a mão pelos cabelos tentando se acalmar.

Suspirando ele falou:

— Você deve ser louca! Não pode estar fazendo esse tipo de coisa, e se teus pontos abrissem? Esse estresse também não te faz bem.

— Estresse, eu? Meu amor, quem apanhou foi ela, aquela sonsa não conseguiu nem encostar a mão em mim...

— Ainda sim, ela é traiçoeira, podia ter lhe machucado, você foi irresponsável! – exclamou resignado.

— Ah Heitor, per favore.

— Chega disso, vamos para a consulta, já estamos chamando atenção das outras pessoas. Em casa conversaremos! – sem dar-lhe a oportunidade de falar mais nada, ele empurrou o carrinho corredor a frente, deixando-a sem reação. Enquanto ela festejava sua atitude certamente o belo homem de olhos azuis não.

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Paris, França.

O sol já tinha se posto, a quinta feira chegava ao fim na capital das luzes, Pietro tinha saído para jantar com uma garota, Viviene voltara para NY há algumas semanas, tinha assuntos que precisava resolver, retornaria próximo a data do nascimento, Alexandre levara as crianças por volta das 13h e só os traria novamente no domingo à tarde. Se não fosse por Victor, que havia abandonado sua vida para passar o último mês com ela, estaria sozinha na mansão agora.

Suas mãos descansaram na grade de proteção da sacada, as estrelas começavam a brilhar, o vento soprava com mais intensidade, esfriara rapidamente. A modelo apertou o xale envolta do corpo, esfregando a barriga no embalo e recebendo um chute do seu bebê. Começou a sorrir com os movimentos da pequena vida dentro dela, “um garotinho” suspirou feliz, distraída ela se pôs a imaginar como ele seria.

— Olá meu menino, como você está se sentindo hoje? Te achei tão quieto, algo te incomodou? Você deve estar sentindo falta dos seus irmãos não é?

— Acredito que sim, todos nós estamos – Victor a surpreendera, aparecendo sutilmente em sua sacada e caminhando até poder tocar sua barriga – Não é garotão? Quero que saiba que terás como mãe uma das mulheres mais linda que já vi, as revistas já lhe deram esse título tantas vezes.

Sonia sorriu para o gesto, apreciando o carinho. Desde que ele tinha vindo lhe fazer companhia, na verdade, desde a estranha conversa que tiveram meses antes nesse mesmo local, as coisas entre eles haviam mudado um pouco, não sabia se para melhor ou pior, existia um pequeno constrangimento, os olhares se tornaram mais demorados, os toques não eram mais considerados banais, os elogios aumentaram...

— Vic – ela sorriu timidamente.

— Só estou dizendo a verdade ao garoto – sua mão subiu do abdômen para a bochecha da amiga – você é linda e está maravilhosa grávida.

— Obrigada.

Eles se olharam e as palavras fugiram dos lábios dela, os olhos azuis a encaravam intensamente, mas Sonia sentiu falta da fagulha de paixão e adoração que ela encontrava nos olhos de Alexandre. “Era mentira Sonia. Damnit! Esqueça-o!” Victor poderia estar interessado, entretanto, seu coração não a desejava, talvez seu corpo ou sua razão obcecada por esquecer seu amor de outro tempo, tal qual ela.

O par continuava com os olhos cravados um no outro, porém suas mentes viajavam anos luz, o desejo de seguir em frente, o anseio em esquecer o amor magoado e transformar os sentimentos fraternais tão antigos e doces em uma paixão tão arrebatadora quanto a que seus corações sentiam pelos amantes do passado, passado que nunca ficava para trás e se tornava presente dia após dia, e incansavelmente era futuro. Futuro que Sonia e Victor desejavam mudar.

A linha tênue não fora ultrapassada, nem um deles tivera coragem, ou vontade o suficiente. Se perguntavam constantemente por que era tão difícil cruzar a maldita linha?! Por que não conseguiam simplesmente cair no amor um pelo outro quando o afeto entre eles era tão latente?! Tantos porquês sem resposta. Tantas dúvidas e medos sem alívio. 

Não sabiam ao certo quem fora o autor do passo que os deixou polegadas distantes um do outro, a mão dele permanecia pousada na bochecha, agora mais cheia pelo final da gestação, o polegar movia-se em padrões suaves, todavia, não a enfeitiçavam como uma mão em especial tinha o poder.

O advogado esticou-se milímetros e o que viria a seguir era iminente. Quase na verdade. Se não fosse por ambos sorrirem imediatamente ao sentirem o menor vestígio de contato entre seus lábios. O riso fora tão espontâneo que ambos buscaram o apoio da chaise tamanho os risos.

— Somos um fracasso mesmo? – ele perguntou ainda envolvido pela vibração das risadas – Não vamos nunca seguir em frente?

— Pelo visto não... Eu não consigo nem beijar outro homem!

— Me desculpe por isso.

— Não há o que desculpar chéri. Você não me pressionou a nada.

— A primeira vez que tentamos fazer isso deu mais certo.

— Você ainda se lembra?! – o sorriso doce que aparecera nos lábios dela iluminou a noite muito mais que as estrelas – Nós não tínhamos os corações partidos naquela vez.

— Verdade. Mas eu ainda continuo te achando tão linda quanto achava naquela época. Eu tinha 13 anos e você 15. Ia ficar meses na Europa pela primeira vez por causa dos desfiles, precisava te beijar antes... Valeu a pena?

Sonia pensou por alguns segundos. Sorrindo ela encostou a cabeça no ombro dele.

— Foi um bom primeiro beijo, eu gostei.

— Eu também, bastante desajeitado, mas eu dei meu melhor.

— No que você deu seu melhor? – Pietro entrou no quarto e os encontrou no estofado da sacada.

— Vou começar a trancar essa porta – Sonia brincou, levantando a cabeça do ombro do amigo.

— Por que?

— Nós poderíamos estar ocupados aqui! – Victor brincou.

— Vocês dois? – o homem loiro ergueu a sobrancelha inquisidoramente para eles – Guys, quem vocês querem enganar? Se fosse para rolar algo entre vocês, teria acontecido no passado, antes dos amores que destroçaram seus corações, agora, eu duvido! Victor depois daquela ruivinha meu amigo, você foi quase um celibatário.

— Talvez... – ela tentou, porém seu irmão continuou,

— Sinto decepcioná-los, mas Laura e Alexandre fizeram um bom trabalho, quem sabe daqui a anos, eu acredito que talvez com outras pessoas seja possível, porém, entre vocês, muito improvável, invistam em serem amigos mesmo.

Pietro, você deveria nos incentivar. Que tipo de amigo e irmão diz uma coisa dessa? – eles se fizeram de ofendidos.

— Aquele que ama muito cada um e não quer vê-los sofrerem ainda mais. Entretanto, não serei radical, tentem, se veem uma possibilidade.

— É o que estávamos tentando fazer antes de você entrar... – Sonia bufou.

— Sorrindo como duas crianças?!

— Lembrávamo-nos de um momento em especial – Victor e a modelo se olharam mais uma vez, sorrindo – mas nos diga, como foi seu encontro?

 - Bom, excêntrico... A garota é excelente companhia e essa cidade tem ar especial, ajuda muito.

 - Preciso concordar – Victor acenou.

 - Eu a levei para um jantar a luz de velas em um barco no Sena.

— Uau Pi, adoro essas embarcações, já fiz esse passeio algumas vezes.

— Demos uma volta e depois de um tempo ela me disse que estava com frio, então eu a levei no Shangri-La para aquecê-la um pouco.

— Ai está ele, nosso Pietro! – Victor ironizou – Não ia oferecer todos esses mimos sem algo em troca, não é garotão?! – ele revirou os olhos.

— Pietro tenho certeza que você daria um ótimo namorado, é tão atencioso e bem humorado... Deveria começar a pensar em encontrar alguém e se estabelecer com essa pessoa.

— Posso ser tudo isso, porém não ofereço o que a maioria das mulheres esperam em um relacionamento sério...

— Estabilidade – os dois falaram juntos.

— A monogamia não é para mim Céci.

— Diz isso porque nunca se apaixonou por alguém que vire seu mundo de ponta cabeça, alguém que lhe roube os pensamentos e as batidas do coração... Vai chegar sua vez, acontece com todos... Não é Vic? Essa garota é a mesma da outra noite... Já os vi juntos outras vezes. Poderia ela estar roubando seu coração boêmio?

— Bonita, inteligente e somos compatíveis de muitas formas, principalmente na cama, as franceses realmente são boas no sexo, porém...

— Porém...? – Victor lhe indagou já sabendo a resposta.

— Não é mais que isso sabe?! Pelo pouco que vi e lembro de nossos pais, amor vai além disso não?! Victor, eu vi você e a ruiva bonita, eu presenciei você se tornar alguém melhor por ela, mas ninguém nunca me impulsionou a isso.

— Entendo Pi, amor é muito mais que isso – respondeu nostálgica, sentindo a boca secar um pouco – só tome cuidado para não iludir a moça e acabar partindo seu coração quando você resolver que não a quer mais.

— Sua irmã tem razão!

— Ela está bem ciente das minhas intenções, nunca lhe prometi nada.

— Ah Pietro, vejo que você ainda precisa amadurecer muito mesmo... Nós não fazemos promessas apenas com palavras seu bobinho, as vezes, beijos, toques, olhares são declarações ou juramentos muito mais eloquentes e intensos, portanto, tome bastante cuidado. Não queira o fardo de partir o coração de alguém... Eu – ela tomou seu queixo na mão e fitou seus olhos, azul alinhado com azul – desejo que você encontre uma mulher que faça seu mundo inteiro parar quando você a olhar pela primeira vez, alguém cujo os olhos você saiba que nasceu para admirar.

— Enquanto isso eu me esforço para encontrá-la...

— Você é impossível menino!

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Helena abriu a porta de casa e Heitor passou calado com os dois bebês confortos em seus braços, subindo as escadas com a expressão séria e irredutível. Ela revirou os olhos e soprou o ar.

— Sra. Herrera vai precisar da minha ajuda com os gêmeos agora?

— Não Mariza, por favor, apenas dê uma olhada em Gabriela para mim.

— Ok senhora.

Quando a amazona chegou ao quarto dos bebês, Heitor já havia tirado Otávio e o colocado no berço, ele dormira durante o trajeto para casa. Catarina estava deitada sobre a cama auxiliar, ainda acordada e balançando as mãozinhas para o alto. Heitor estava parado de frente para o bebê, observando-a, os trapézios tensos.

— Você não vai falar comigo mesmo?

A resposta veio longos segundos depois. Com uma puxada profunda de respiração, a cabeça inclinada para o teto e o os olhos fechados. Lentamente ele se virou, encarando-a com um semblante nada agradável.

— O que você quer que eu diga Helena? Que lhe aplauda porque fostes valente o suficiente para dar uma surra na vagabunda?! Se estiver esperando que eu a parabenize por agir feito uma criança inconsequente, esqueça! Mesmo que ela tenha merecido!

— Eu apenas ensinei uma lição aquela garota, tudo o que ela fez não podia sair barato Heitor! – a amazona cruzou os braços na altura do peito.

— Você não mede as consequências dos seus atos mulher? Se ela quiser pode lhe acusar por agressão, e você seria presa! Você tirou sangue dela... Isso no menor dos males que ela poderia causar, esse tipo de gente age à surdina, não te passou pela cabeça que agora Melissa pode estar tramando uma retaliação que atinja nossos filhos? – Os olhos escuros de Helena encheram-se de espanto, um estalo de medo à fez sentir um calafrio subindo por toda sua coluna.

— Ela não seria capaz... – a voz foi mortificada pela conscientização do que sua atitude poderia desencadear.

— Você acha mesmo isso?! Essas pessoas não têm escrúpulos Helena!

O casal se encarou mudo por um tempo, os olhos da amazona pela primeira vez exibiram pesar pela ação de mais cedo e os dele, eram uma mistura de frustração e indignação.

— Eu... – ela tentou, mas as palavras morreram em sua boca.

— Percebe agora?! – o tom de voz do engenheiro indicava o quanto ele ainda estava irritado – Eu estou indo para a construtora – inclinando-se beijou a testa da filha – volto mais tarde.

— Você não vai nem almoçar? – Helena tentou quando ele chegara à porta.

— Eu perdi o apetite – sem esperar por qualquer resposta ele saiu.

Engolindo o nó que se formara em sua garganta e respirando pausadamente para conter as lágrimas, ela sentou-se na cama onde Catarina ainda agitava as mãos e brincava com o tecido da fralda que havia sido deixada próxima, um sorriso fraco apareceu em seus lábios.

— Desculpe por isso principessa, sua mãe faz as coisas sem pensar – pegando a menina no colo, ela a embalou suavemente, indo para a varanda do quarto e vendo carro de Heitor dar uma arrancada brusca pelo portão, um fio de lágrima escorreu pelo seu rosto, Helena o limpou e continuou ninando o bebê.

—______________________________

“Eu te desapontei ou te decepcionei? Eu devo me sentir culpado ou deixar os juízes decidirem? (...) Você tocou meu coração, tocou minha alma, você mudou minha vida e meus objetivos. O amor é cego e eu só soube disso quando meu coração ficou cego por você. Beijei seus lábios e segurei sua cabeça, compartilhei seus sonhos e a sua cama. Eu te conheço bem, eu conheço seu cheiro, eu estive viciado em você.

Adeus, meu amor, adeus, minha amiga. Você foi a única, você foi a única para mim (...) Quando você seguir em frente, lembre-se de mim, lembre-se de nós e tudo que costumávamos ser (...) Eu te amo, eu juro que é verdade, eu não posso viver sem você” Goodbye my lover – James Blunt

 

Alexandre estava sentado na beirada da cama da suíte que alugara no Le Bistrol, a mesma que costumava ir com Sonia, masoquismo ou não, o lugar era cheio de lembranças e ainda que torturantes, aqueciam seu coração. Exaustas, as crianças dormiam logo além da parede divisória. Pai e filhos passaram à tarde na Disneyland divertindo-se de todas as formas possíveis. O doutor contava os dias para poder ver o sorriso estampado no rosto deles, o som revigorante das risadas e os abraços de urso, os beijos cheios de amor, ultimamente eram as únicas coisas que desmembrava o véu negro que o envolvia.

Mesmo com todo entretenimento do dia ele não tirava da mente o fato de Victor estar morando em sua casa! Aquele era um lugar especial para eles, literalmente um refúgio de amor e saber que Sonia permitia outro homem compartilhá-lo era pungente. “Como ela tinha conseguido seguir em frente tão rápido?” repetia-se em sua mente. “Como ela aceitava tão facilmente outro homem em sua vida se ele mal podia imaginar outra mulher ao seu lado?”. Ou Sonia queria acabar com ele (e estava conseguindo) ou não o amava na mesma proporção dos seus sentimentos por ela.

Shit!— bufou frustrado. Ultimamente era assim que se sentia. Sem saída, sem solução, de mãos atadas e caminhando para um precipício que findaria na loucura. Imaginar que nesse exato momento eles podiam estar se perdendo nos braços um dos outro, na cama onde ele e ela faziam amor e... “Pare com isso homem!”. Afundando na cama, o cheiro de lavanda dos lençóis despertou-lhe uma memória.

Um caminhar macio e já conhecido despertou-lhe um sorriso, Alexandre apareceu em seu camarim com um buquê enorme de tulipas para felicitá-la, o último desfile da Fashion Week Paris tinha sido um sucesso. Puxou-lhe para um beijo e roubou-a pelo térreo em um helicóptero antes que alguém a levasse para a festa de encerramento, não demorou muito e eles desceram no Le Bistrol. A suíte já conhecida estava do jeito que Sonia adorava, uma mesa servida com o jantar, a iluminação substituídas por velas aromáticas, suspirando ela se voltou para ele.

— Posso saber o motivo de tudo isso?

— Você foi eleita pela quinta vez a mulher mais bonita do mundo, eu preciso comemorar minha sorte grande – ela sorriu e o beijou.

— Temos uma criança nos esperando não muito longe daqui...

— Eu sei, mas antes, preciso mostrar a sua mãe o quanto eu sou apaixonado por ela – terminando a frase, ele beijou seus lábios mais uma vez e os encaminhou para a cama – Senti sua falta linda!

— Eu também, adorei a surpresa.

Quando sua cabeça encostou-se ao travesseiro abaixo dela, eles se separaram rapidamente, puxando o ar com respirações profundas. O cheiro de lavanda atingiu o olfato dela que logo falou:

— Eu amo esse aroma.

— Eu também – Alexandre respondeu com o rosto enfiado na curva do pescoço de sua mulher, um cheiro muito mais adocicado enfeitiçando-o. Sim, ele adorava o cheiro dos lençóis caros de milhares de fios do Le Bistrol, porém, nem se comparava ao quanto amava o odor suave e sedutor que exalava de Sonia...

Daddy?

— Oi honey— rapidamente ele se levantou e foi de encontro a sua filha mais velha, tomando-a no colo – O que aconteceu Cacau?

— Eu tive um sonho ruim, queria ter certeza que o senhor estava bem – a menina fungou.

— Como foi seu sonho amor?

— Tinha um monstro feio que atirava flechas, o senhor era um super herói e podia voar, tinha uma moça, esse monstro tentou levar uma caixinha que ela tinha nas mãos, então você apareceu e conseguiu ajudar a mulher, só que antes de você voar papai, o monstro pegava o arco dele e atirava uma flecha bem aqui no seu peito – Cristal passou a mão na região mais de uma vez, só para verificar se realmente seu pai estava bem, chorando com a cabeça inclinada sobre ele.

— Cristal filha, foi apenas um sonho, estou bem, você deve ter visto algo no parque hoje que te impressionou, vamos lá – ele beijou a cabeça dela – acalme-se, ok?!

— Você promete que nenhum monstro vai te levar para longe de mim?

— Eu prometo meu amor, nunca, ninguém vai me afastar de você e dos seus irmãos, ainda que tentem. Eu sempre vou estar aqui. Sempre baby.

— Posso dormir na cama com você pai?

— Pode sim, mas quando seus irmãos acordarem eles vão ficar com ciúmes – ele sorriu e ambos deitaram na cama. Um de frente para o outro. O médico alisou os cabelos da filha, delineando os contornos do rosto dela com os dedos. A semelhança com a mãe era impressionante e ao mesmo tempo em que o coração se enchia de alegria, também apertava fortemente em seu peito.

 - Você é tão linda filha, assim como...

— Assim como a mamãe?! – Cristal completou – Você sempre me dizia isso.

— Sim, tal qual ela – ele sorriu – Como está sua mãe?

— Bem. O senhor sente saudades dela? Porque eu acho que ela sente sua falta.

— Por que você acha isso Cacau?

— Porque as vezes ela entra no escritório e fica olhando aquela foto grande de nós cinco, ela finge que está lendo, mas eu sei que na verdade ela está é olhando a foto.

— Eu sinto muito a falta de sua mãe, tanto que nem sei dizer o quanto sweet.

— E o senhor já disse isso para ela? – ele negou com um aceno – Talvez ela esteja magoada por não saber.

— Não é por isso amor, é complicado – Alexandre olhou alguns segundos para baixo antes de encará-la novamente – E o tio Victor? Como ele é com vocês?

— Eu gosto dele, ele é gentil e sempre brinca conosco, ultimamente ele tem passado muito tempo com a mamãe.

— Eu sei – ele torceu o canto da boca.

— Não fique assim papai, acho que vocês poderiam ser amigos, ele se importa conosco.

— Quem sabe um dia princesa, vamos dormir agora? – Cristal se aconchegou ao pai, descansando sua mão delicada sobre o coração dele. O que ela não sabia é que, naquele momento, embalava o sono dele muito mais do que ele o dela.

—__________________________________

O final de semana passara vagarosamente, Heitor tinha saído àquela noite de casa dando um beijo em cada uma das crianças e um olhar seguido de um frio “fique bem e me ligue qualquer coisa”. A amazona ainda tentara lhe beijar os lábios, mas ele recuou e beijou sua testa.

Helena se sentiu ferida com a recusa, os dois orgulhosos seguiram o resto dos dias sem se falarem direito. Todavia, os sentimentos responderam mais alto, a saudade apertou em ambos e mesmo não tendo confessado um para o outro, Heitor e Helena não viam a hora de se encontrar, como recompensa do destino, o reencontro demorou o quanto pode para acontecer.

No entanto, o sol adormecia na capital mexicana, a noite da segunda feira crescia e o relógio enfim marcou 21 horas e alguns minutos. Heitor desceu do carro, tirando com todo cuidado a embalagem de presente em dois tons de listras rosa com as iniciais VS estampando-a. A casa estava tão silenciosa que ele estranhara. Subindo as escadas, ele checou o quarto dos filhos. Gabriela dormia agarrada ao seu cavalinho de pelúcia, entrou no ambiente silenciosamente e beijou sua testa.  Henrique estava deitado com um livro nas mãos, apenas com a cabeça para dentro do quarto ele falou:

— Olá campeão! – o menino pulou da cama e foi abraçá-lo.

— Pai, senti sua falta! – Heitor o colocou no chão.

— E eu a sua.

— O que é essa sacola?

— Um presente para sua mãe – ele sorriu e beijou a cabeça do menino mais uma vez – agora volte para cama, não demore muito a ir dormir ok?! Boa noite.

— Ok pai, boa noite.

***

Heitor abriu a porta do quarto lentamente. Ele tinha passado pelo dormitório dos gêmeos e milagrosamente os dois dormiam. Helena estava deitada sobre a cama, deslizando o dedo pelo celular e não tinha visto o marido parado observando-a. Ele deu um assobio, chamando a atenção dela. A amazona sorriu sem mostrar os dentes, ainda sim uma luz brilhou a redor dela, incerta sobre onde eles estavam depois da briga.

— Oi – ela timidamente iniciou e Heitor adorou o leve rubor estampado em suas bochechas. Ele indicou a sacola sorrindo, enquanto caminhava até a cama.

— Oi – o engenheiro sentou-se ao lado da esposa entregando-lhe o presente.

— O que é isso? – Helena recebeu o pacote, agradavelmente surpresa.

— Acho que é um pedido de desculpas – coçou a nuca desconcertado – Eu exagerei, fui um idiota aquele dia lovely.

— Eu lhe devo desculpas também vita mia, apesar da sua hostilidade, tinhas razão. Eu fui imprudente...

— Eu devia ter esperado, conheço a mulher com quem me casei... Me perdoe por ter sido tão rude?!

— Só se você me perdoar por eu ter sido uma inconsequente como sempre – Helena o olhou suplicante, como se precisasse. Heitor a perdoaria até mesmo se ela assinasse sua sentença de morte.

— Claro que sim linda – sorrindo, eles se abraçaram e Helena o puxou para um beijo quente e saudoso.

Heitor sentiu-se entrando em combustão, mas afastou gentilmente a esposa. Sorrindo, pediu:

— Abra o presente bonitona – a amazona suspirou estabilizando a respiração.

Ela puxou a caixa de dentro do embrulho e destampou-a.

Amore, são lindas! – erguendo as peças, ela apreciou-as.

— Elas vão realmente ficar lindas quando estiverem no seu corpo... Eram lançamento exclusivo, quando bati meus olhos sabia que tinham que ser suas, vai cair perfeitamente em você. Esse tom de bordô é perfeito para sua pele.

— Obrigada bonitão – bicando seus lábios outra vez, uma ideia passou pela sua cabeça – Por que você não vai tomar um banho hum?! – perguntou passando a mãos pelos cabelos dele, beijando a lateral do rosto – Vou te esperar aqui para conversarmos um pouco... Você quer jantar?

— Não querida, só preciso de um banho mesmo, eu comi no avião.

— Ok, vá tomar seu banho, vou dar um pulo no quarto dos bebês.

— Vim de lá agora pouco, eles estão dormindo.

— Ainda bem – ela suspirou com um sorriso.

Quando Heitor levantou-se e caminhou para o banheiro, Helena correu para o closet com o presente que ganhara.

***

“Quer saber qual seria o meu pesadelo, sem nenhuma dúvida seria o medo, seria acordar e não estar com você.”

Heitor saiu do Box e enrolou a toalha envolta da cintura, pegou uma toalha menor e estava enxugando o rosto quando percebeu sua mulher sentada na bancada do banheiro. O tecido escorregou de suas mãos que ele nem sentiu, estático e boquiaberto admirou-a. Um sorriso apareceu nos lábios (agora pintados de vermelho) dela, o conjunto de lingerie e camisola devem ter realmente lhe caído muito bem dada a reação dele.

Os cabelos estavam soltos, ondas caindo pelo generoso decote em V da camisola de seda, que chegava até o final da curva dos seios, as alças eram de renda preta, ladeando o decote. A peça que terminava mal cobrindo a curva de sua bunda, era finalizada por uma barra da mesma renda preta. Deslumbrante! Heitor percebeu o quanto estava afetado e o quanto a desejava. Helena era provocante de todas as formas possíveis, e quando ela o chamou com um movimento do dedo indicador, ainda calada, apenas mordendo o lábio inferior, ele sentiu-se como um pobre marinheiro seduzido pelo canto das sereias, sem força para quebrar o encanto.

Chega a dar tremedeira, um nó na barriga, quem ama demais não suporta uma briga, ciúmes demais faz a gente sofrer.”

— Você definitivamente quer acabar comigo! – Heitor sorriu, colocando as mãos sobre as coxas despidas, fazendo movimentos de vai e vem, as respirações misturando-se.

— Gostou? – a amazona soprou no ouvido dele, mordendo o lóbulo.

—Perfeito, melhor do que imaginei! – o toque provocou sensações instantâneas. Talvez fossem os 9 meses sem contato, o pesar da briga de alguns dias, eles não sabiam dizer, mas a eletricidade da paixão entre eles fervilhou, expandindo-se sobre cada célula. Heitor evitara a combustão mais cedo, agora, era impossível.

— Desfrute então amore... – descendo as mãos pelo corpo despido e úmido, ela soltou a toalha, enlaçando-o com suas pernas e o beijou. Nesse exato momento Heitor tinha certeza que ela poderia o matar com apenas um beijo, a intensidade da chama e do calor pareciam demais para seu coração aguentar.

— Você é uma diaba, Helena! – ele suspirou, enfiando as mãos pelos cabelos dela, puxando-a para trás e ela sorriu sedutoramente – Nós podemos?

— O que? Sexo?! Claro que sim bonitão, eu não sou de papel.

— Mas você... – ele beijou seu pescoço agora exposto.

— Quase morri, sei disso. Entretanto, não estou morta, pelo contrário, estou bem viva.

— Posso sentir sua vida fluindo por seus poros, o calor que você emana não nega – sorrindo ele alcançou sua boca em um beijo languido, as línguas começaram uma dança vagarosa, porém intensa. E quanto mais ele mergulhava no mar adocicado da boca dela, mais ele a queria.

“Mudando de assunto, cê tá tão bonita, que cheiro gostoso que vem de você e se eu te contar você nem acredita. Se eu tava brigando e eu nem lembro por que.”

 - Linda – os lábios dele deixaram a boca para descer pela garganta, desenhando mais uma vez a linha do pescoço delgado – linda – ele continuou descendo até seu colo, saboreando a pele por onde passava – linda – Heitor afastou o cabelo e fitou a cicatriz, Helena instantaneamente cobriu-a de novo.

— Querida – ele buscou seus olhos – qual o problema?

— Bem... É, é... Agora eu tenho duas marcas de cortes no meu corpo, a outra é quase imperceptível, já essa é maior e mais aparente, pensei que... – Helena fugiu do olhar dele.

— Que eu ia apreciá-la menos por isso?

A resposta dela veio com um movimento de sua cabeça para cima e para baixo. Heitor levantou o queixo e beijou o canto dos lábios dela, segurando seu olhar.

— Será que você nunca vai entender? EU A AMO! – falou pausadamente e com ênfase nas palavras – Ninguém nunca capturou meu coração assim Helena, quando você me olha eu sinto como se fosse derreter por inteiro, quando me toca pareço um prédio cujos fundamentos não estão sólidos e fico a ponto de desmoronar, quando me beija levemente posso sentir minúsculas bombas de prazer se espalhando pelo meu corpo, que vão se aprofundando a medida que me rendo aos seus encantos... Veja como me afeta – eles deslizaram o olhar pelo corpo dele e um sorriso dissimulado apareceu no rosto dela – Amo tudo sobre você bonitona, suas belas curvas, porque não sou de ferro, e principalmente seu coração, todas as suas imperfeições que aos meus olhos são perfeitas – Heitor acariciou com o polegar a linha da cicatriz. A amazona suspirou, prendendo-o mais perto de seu corpo ao envolver seu pescoço com os braços.    

Helena permaneceu admirando-o por alguns segundos, os olhos marejados, o sorriso que não deixou seus lábios desde que ele chegara. Ela era tão apaixonada pelo homem de olhos azuis a sua frente, sentir a reciprocidade disso com certeza era a melhor sensação de todas.

“Pra que brigar se o amor é isso, é uma espécie de um vício, mil maneiras de querer. Pra que brigar, chorar, embora eu bem sei que nessa hora, vai me dar vontade de você.”

— Me leve para nossa cama e faça amor comigo meu bonitão.

Após o pedido, Heitor tomou os lábios dela e a beijou com ardor. Retirando-a da bancada e a levando até a cama deles, deitando sua mulher sobre o lençol caro. Ele ficou em pé na frente dela, apreciando como os cabelos negros esparramavam-se graciosamente sobre o travesseiro, vendo como as estrelas perdiam o brilho perto dos olhos de chocolate da sua amazona.

Helena se firmou sobre o cotovelo, também o admirando, seu marido era um espetáculo, tinha que admitir. Esticando a perna direita, deixou o dedão do pé trilhar os músculos de seu abdômen. Sorrindo ele pressionou um joelho no colchão, pairando sobre ela.

— Eu queria que você pudesse se ver como eu a vejo. Tão linda, que feitiço jogou em mim em?

“Mudando de assunto, cê tá tão bonita, que cheiro gostoso que vem de você e se eu te contar você nem acredita. Se eu tava brigando e eu nem lembro por que.”

— Eu acho que é o meu sotaque, sempre desconfiei. Estou certa – ela sussurrou sobre a curva do pescoço dele – amore? – a amazona inverteu suas posições.

— Sim, sim... – arfando Heitor continuou – quando você começa a sussurrar assim sobre a minha pele, me enlouquece lovely! Eu só acho que você está muito vestida enquanto eu não estou usando nada desde que sai do banheiro – eles sorriram.

— Muito vestida? Seu presente, apesar de eu ter certeza que custou uma nota, não tem nem um metro de tecido.

— Eu resolvo isso – ele subiu as mãos pelas coxas dela até encontrar a barra da camisola e foi puxando-a para cima, fazendo questão de pressionar as mãos por todo o percurso que fazia.

O par continuou se beijando até suas respirações perderem o compasso, Heitor novamente os trocou de lugar e enquanto tirava a calcinha dela, beijou a outra cicatriz que ela ganhara. Removendo a peça, ele beijou a parte interna da sua coxa e a amazona gemeu quando percebeu sua intenção.

Babe— Helena suspirou, mordendo o lábio inferior, enfiando a mão pelo cabelo dele.

“Pra que brigar se o amor é isso, é uma espécie de um vício, mil maneiras de querer. Pra que brigar, chorar, embora eu bem sei que nessa hora, vai me dar vontade de você.”

***

Os dois estavam sentados no meio da cama, os corpos tão entrelaçados quanto raízes, a cabeça de Helena descansava sobre o ombro dele, a respiração causando leves cócegas contra seu pescoço. Eles estavam desgastados, porém, totalmente satisfeitos. Não tinham noção de quanto tempo havia passado e nem queriam.

— Amor... – ele chamou.

— Hum...

— Quando eu pensei que ia perdê-la, fiquei desesperado – Helena levantou a cabeça e o encarou – pensava no quanto tínhamos para viver e nos amar – Heitor segurou sua bochecha e deslizou o polegar, descendo os lábios para sua omoplata – pensei em tudo o que vivemos e não conseguia me conformar que era o suficiente, eu tenho tanto amor por ti no peito que era insano ser o fim.

— Não era o fim meu amor, estamos aqui e é real – inclinando-se Helena beijou-o de leve. Empurrando-o, eles caíram sobre a cama, Heitor de costas e a amazona sobre ele, os lábios se encontraram mais uma vez, as coisas estavam aquecendo novamente quando um choro vindo da babá eletrônica os distraiu.

Sorrindo, Helena levantou os ombros.

— Eu devia ter imaginado, meus seios já estão pesados de leite. – ela espreguiçou-se.

— Deixa que eu vou bonitona – num pulo rápido ele saiu da cama, pegou um roupão e foi atender os bebês.  

—_________________________________

O dia tinha amanhecido lindo, o ar estava fresco e o céu constantemente nublado, havia cedido lugar ao sol. O outono se aproximava do fim, algumas árvores sinalizavam o inverno, exibindo sua nudez. As crianças diferentes dela tinham acordado bem dispostas e Victor se oferecera para brincar com elas no jardim.

Quando Sonia finalmente se sentiu melhor já passava das 9:30h da manhã, ela desceu, passou pela cozinha e levou uma pequena bandeja de comida consigo. Sentou-se em uma das cadeiras de vime da varanda, sorrindo ao ver seus filhos e Victor correndo pelo jardim, o rosto corado e sorridente deles encheu seu coração de ternura.  Pegando a Vogue sobre o revisteiro ela começou a folheá-la, apreciando o croissant recém tirado do forno. Não demorou o suficiente para ela terminar seu desjejum e uma dor aguda a atingiu. Levantando-se sentiu um líquido escorreu por suas pernas, anunciando o que ela imaginava. Chegara a hora do seu menino vim ao mundo.

Pietro tinha acabado sua corrida matinal pela propriedade, ele acenou para ela, tirando o fone do ouvido, como sua irmã não devolveu a saudação, logo percebeu que algo não estava certo veio em sua direção.

Darling? Você está bem?

— Minha bolsa acabou de romper...

My godness! O que eu faço?

— Chame nossa mãe por favor – ele a sentou outra vez e saiu correndo atrás de Viviene.

— Sua bolsa estourou? – a mulher loira perguntou quando apareceu na frente dela. Sonia gemeu, acenando – Mas o parto estava marcado só para a próxima semana...

— Eu sei mother, porém, acho que o bebê está ansioso para nos conhecer – ela sorriu quando a contração passou – Pietro, cuide das crianças para mim, ok?!

— Claro sis.

— Mamãe chame o Victor por favor, ligue para minha médica, avise que tivemos um imprevisto e preciso dela, o hospital é um pouco afastado da cidade, portanto é melhor irmos logo, não quero que meu filho nasça no carro.

***

Eram 4 horas da manhã quando Alexandre acordou incomodado. Não sabia dizer o que, todavia algo não estava certo. Olhou a hora no celular, procurou por alguma mensagem importante e nada. Rolou pela cama, agora muito mais espaçosa sem Sonia, tentando conter a agitação interior.  Levantando-se pegou um copo com água e tomou alguns goles. Devia ou não ligar para Sonia e saber se tudo estava bem? E se tivesse acontecido algo com seus filhos?!

Voltou até a mesa de cabeceira e pegou seu telefone, discando o número de sua mulher, a ligação chamou até cair. A sensação de que algo estava errado começou a florescer dentro dele. Tentou outra vez e a resposta foi a mesma, caixa de mensagem. Precisando obter algum alívio ele chamou o número residencial do Refúgio e depois de alguns segundos a voz de Cristal foi ouvida.

Allo. Qui est à l'appareil?

— Seu francês está ótimo amorzinho.

— Papai! – a menina exclamou feliz.

— Olá Cacau.

— Você está aqui? Vai vim buscar a gente? Foi por isso que ligou? – perguntou eufórica.

— Infelizmente não amor.

— Ah – os lábios dela desfizeram o sorriso.

— Mas me diga como vocês estão?

— Estamos bem pai, César e Char estão lá em cima com tio Pi.

— E sua mãe?

— Ela saiu para o hospital mais cedo.

— Hospital? – “damnit!”

— É...

— O que aconteceu Cacau? Porque sua mãe foi para o hospital? – Cristal demorou tempo suficiente para alarmá-lo, certamente a demora simbolizava que algo ruim estava acontecendo.

— Cristal com quem você está falando? – Pietro perguntou tomando gentilmente o aparelho de suas mãos – Você sabe que não deve atender o telefone sem permissão de um adulto.

— Mas tio Pi...

— Sem mas... Sua mãe me mata se souber disso. Quem fala por favor?

— Sou eu Pietro, Alexandre.

— Ah bom...

— Era isso que ia dizer tio, eu só fiquei falando porque era o meu papai.

— Pietro... Cristal me disse que Sonia está no hospital, algo aconteceu? – “Shit! Crianças e suas bocas grandes”. 

— Sonia foi fazer um pequeno procedimento cirúrgico, porém, isso não lhe diz respeito... Porque está telefonando uma hora dessas? Ai no México ainda é madrugada...

— Primeiro Pietro, Sonia ainda é minha mulher, e também é a mãe dos meus filhos, tenho todo direito de estar preocupado. Eu só acordei com um mau pressentimento e liguei para ter certeza de que todos estavam bem.

— Obrigado pela preocupação, todos estamos bem – o médico suspirou, era metade frustração e metade alívio.

— Ok, até mais.

— Até.

***

— No fim, ele acabou sendo um bebê de outono mesmo – Viviene disse sentada ao lado de Sonia. O pequeno menino descansava no colo da filha, os olhos e cabelos castanhos contrastavam com a pele branca avermelhada suave.

— Chegamos madames – Victor parou o carro, esperando o portão da casa ser aberto. As duas mulheres sorriram, encarando-o pelo retrovisor.

— Sim mãe, pegou o finalzinho do outono, não é dear?! – elevando o bebê um pouco, ela beijou sua testa.

Já haviam passado 3 dias desde o nascimento do menino, Sonia fora liberada do hospital e voltava para casa. O parto ocorrera sem contratempos, na primeira meia hora do início da cesariana o bebê veio ao mundo pesando três quilos e setecentos gramas. “Um garotão” como Dra. Valloy tinha chamado. Fora paixão a primeira vista, uma criança linda e saudável, e talvez como um recado, incrivelmente parecido com o pai. Viviene insistia que na verdade parecia com o avô, todavia, ela reconheceria aquele tom de castanho em qualquer lugar.

O nome, algo que eles sempre pensavam juntos durante a gravidez, foi escolhido assim que ela soube o sexo, porém manteve como um segredo. Quando ela revelou a sua mãe, as lágrimas de emoção foram inevitáveis. Arthur Colucci. E Sonia esperava que ele fosse tão generoso quanto seu antecessor.

Descendo do carro, Victor ajudou a amiga, tirando o bebê conforto e as malas, Viviene vinha logo em seguida, Pietro apareceu com Charlotte montando suas costas juntamente com César e Cristal correndo atrás deles, ao verem a mãe os 3 se apressaram em sua direção, abandonando Pietro que também os seguiu.

— Mamãe é o bebê? – Cristal parou na frente dela, Victor tinha entrado na casa para deixar as bagagens. Os gêmeos ansiosos para conhecer o pequeno pacote no colo da mãe.

— Sim, é o irmãozinho de vocês... Digam olá para Arthur – a mãe abaixou o menino em seus braços e os irmãos sorriram felizes, Cristal se enterneceu, os outros dois, ainda muito pequenos para entender a profundidade de se ganhar um irmão, apenas se deixaram envolver pela graciosidade do momento.

Como resposta a todos os olhares sobre ele Arthur bocejou, reclamando a distância do aconchego dos braços de sua mãe.

— Ele é tão pequeno mamãe – Char afirmou estudando as mãozinhas do menino – Quando ele vai poder sair para brincar conosco?

— Acho que ainda vai demorar um pouquinho querida.

— Era ele quem estava na sua barriga? – César se manifestou.

— Sim amor, era ele.

— Eu vou ensiná-lo o atalho para subir na casa da árvore assim como fiz com Cesinha – Cristal afirmou.

— Eu tenho certeza que ele vai adorar aprender tudo o que vocês ensinarem a ele, mas por enquanto ele ainda é muito preguiçoso e só pensa em dormir. Então vou levá-lo lá para cima, tudo bem?

Os três acenaram com a cabeça, voltando-se para o tio e puxando-o pelo jardim.

***

“e eu sussurrarei bem baixinho, e não lhe direi nada mais que a verdade. Se você não está mais dentro de mim, então meu futuro está em você. Oh, você é o meu e único, você pode segurar meu dedo com seus dedinhos e apertar bem forte, pois você ficará bem...” Small bump – Ed Sheeran

 

Uma semana se passou, a rotina de mamadas madrugada a fora se repetia outra vez, Arthur tinha um temperamento diferente dos outros filhos e já fazia questão de mostrar isso. Sorrindo ela o envolveu mais em seus braços, a manhã estava bonita e a noite não tinha sido muito fácil, ele tinha chorado bastante e ela não sabia o que o estava incomodando. Para tentar dar um pouco de sossego aos outros moradores da casa, assim que Sonia viu os primeiros raios de sol aparecerem e sentiu que o clima estava favorável para se aventurar fora da casa, ela os agasalhou e enrolou o bebê numa manta grossa.

— O que está acontecendo filho? Por que você está tão irritado? – o menino apenas se espremeu em seu colo, agitando-se e soltando burburinhos. Chegando a porta de correr da entrada lateral, ela puxou-a e saiu, o frio não estava tão incômodo quanto pensara.

— Não meu amor, não chore, veja como esse lugar é lindo – a modelo girou com o bebê, tentando dar-lhe uma vista panorâmica do jardim – Você vê aquela casinha ali, foi seu avô quem a fez... Você me lembra ele, não tanto quanto lembra seu pai – Arthur pareceu se acalmar, o choro diminuindo um pouco, estaria ele finalmente cedendo ao sono?! Ela sorriu – queria que ele estivesse aqui para me ajudar a te fazer se sentir melhor, ele sempre sabia como aliviar qualquer incômodo que seus irmãos tivessem – Sonia beijou a cabeça do bebê, balançando-o suavemente, descansando seus lábios ali – e eu me sinto tão tola por achar que ele sempre estaria... – a última sentença foi apenas um mero sussurro.


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Notas finais do capítulo

Agora é sério, só depois do TCC huahauha Eu só consegui postar esse porque tinha muita coisa escrita de antes, dessa vez não sobrou pro próximo rs



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