O amor de Atena escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 18
Capítulo 18 – Um mundo cheio de luz


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos a Claudio Gama, por parte da comédia do capítulo e do encontro de Saori com as ninfas e Zeus.



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Capítulo 18 – Um mundo cheio de luz

Seiya estranhou ao encontrar o grande quarto dourado e salmão tão silencioso. Os seis entraram cautelosamente e Saori correu assustada até o berço de Aimi, sentindo o coração acelerar ao temer que a filha tivesse sumido de novo. Suspirou de alívio ao ver que ela havia apenas dormido, abraçada ao elmo de sua armadura. Lágrimas ainda escorriam de seu rosto, devia ter adormecido pelo cansaço de tanto chorar. Sentiu uma angústia lhe tomar e estendeu a mão para enxugar as lágrimas e afagar o rosto da bebê, que nem se mexeu. Afastou-se e se sentou na cama, enquanto via Seiya acarinhar Aimi e os demais andarem em volta.

– Saori, então este foi o lugar onde ficaram enquanto estávamos lá fora? – Ikki lhe perguntou.

– Sim... Assim que chegamos aqui, Astrapih me levou até Zeus. Minutos depois Ignis apareceu com Aimi. Depois de ser repreendida, alertada, ameaçada e receber uma proposta de meu pai, nós fomos trazidas até aqui. Não podíamos sair, mas as ninfas, especialmente Celeste, e Ignis vinham nos ver constantemente e não nos faltava nada. Dentro deste quarto nunca anoitece, então nunca sabíamos as horas , o que estava acontecendo lá fora ou quanto tempo havia se passado ao certo. Mesmo que tenha sido apenas alguns dias, me pareceu semanas. Eu passei meu tempo cuidando de Aimi e tentando pensar em alguma maneira de ao menos ela sair daqui. Mesmo depois que Celeste apareceu, não consegui encontrar muitos meios até Astrapih e Ignis me levarem lá pra fora com ela.

– Eu achei que você... – Seiya começou, se virando pra encará-la – Pensei que tivesse te perdido de novo.

– Zeus não me deixaria morrer tão facilmente. Desde o começo ele disse que se eu não seguisse para o lado dos deuses, teria que me sacrificar pela Terra e ele e os deuses educariam Aimi. Esse era meu único medo. Gastei cada segundo aqui pensando em como entrega-la a você, Seiya. Só me dói profundamente que não tenhamos saído todos vivos – ela falou com pesar e um silêncio incômodo se propagou no grande quarto.

– Está falando daqueles gêmeos? – Seiya lhe perguntou.

– Apesar de tudo... Eles também eram meus irmãos e tinham um enorme coração, só estavam perdidos, afogados no grande poder que haviam recebido de Zeus, especialmente o mais velho. O que vocês viram de Ignis... Aimi já vinha amolecendo o coração dela há bastante tempo. Ela gostava bastante de Ignis, apesar do que houve quando nos trouxeram pra cá. Uma vez Zeus me chamou e Ignis ficou aqui com ela. Quando eu voltei, notei que ela estava diferente. Parecia travar um enorme conflito interior consigo mesma, mas estava mais doce, e olhando pra Aimi com muito mais gentileza. Não se pode ouvir muito daqui de dentro nem lá de fora, mas acho que ela brigou com o irmão por causa disso quando saiu daqui.

– Astrapih tinha um coração duro como pedra. Parecia irredutível quanto a sentimentos humanos – Shiryu opinou.

– Tem razão – Shun começou – Mesmo depois de ficar tão abalado com a morte de sua irmã, me pareceu que ele teve muita dificuldade em nos dizer aquelas poucas palavras.

– Ao menos ele amava a irmã – Hyoga falou – Eu pensei o tempo todo que ele não tinha amor a nada nem ninguém no universo.

– No final das contas, esse amor o salvou – Saori disse – Quando Zeus me trouxe pra cá, eu estava tão fraca que não conseguia abrir os olhos, apesar de estar acordada, fiquei vários minutos sangrando no chão da sala dele, com um frio terrível e dores lancinantes. De repente Astrapih chegou e só conseguia chorar. Zeus brigou bastante com ele, depois tentou me matar com um pequeno raio que foi a vida de Ignis. Não se perguntaram por que Astrapih não está mais aqui?

– O que?! – Todos perguntaram, um tanto chocados ao perceberem o que ela queria dizer.

– Ele se atirou na minha frente para cumprir o último desejo de Ignis e buscar o mesmo caminho que ela desejou. Suas últimas palavras foram um pedido de que eu não me entregasse. Eu não pude ver o que aconteceu, pois só consegui abrir os olhos quando Aimi chegou e deu forças, mas imagino o que ele deve ter sofrido. Havia muito mais sangue do que eu esperava no chão quando pude olhar em volta.

– Não posso mentir dizendo que não sinto raiva dele – Seiya lhe disse – Mas do fundo do meu coração... Eu gostaria de agradecer. Aos dois.

Novamente o silêncio se abateu sobre o lugar por vários minutos. De repente ouviram um murmúrio infantil e todos se voltaram para a direção de Aimi. Seiya e Saori correram para o berço e viram a garota se mexer. Ela estava com o rosto escondido atrás do elmo, mas o empurrou para o lado e olhou para cima, surpreendendo-se ao ver os pais olhando para ela, levando alguns instantes para perceber que não estava sonhando e agitou-se, estendendo os bracinhos na direção de Saori com uma expressão um tanto assustada, principalmente ao notar os ferimentos nos rostos deles, o que não era normal. Saori abriu um sorriso imenso ao ver a filha, no mesmo instante em que quase chorou de felicidade, e a ergueu, acolhendo-a num doce abraço e beijando o topo de sua cabeça. Seiya envolveu as duas, beijando os cabelos de Saori, e permaneceram assim por um bom tempo, sendo observados pelos demais cavaleiros, que também tinham largos sorrisos em seus rostos.

– Nós vamos ficar bem, meu amor. Não se assuste – Saori lhe dizia.

– Vamos pra casa agora – Seiya sussurrou para a pequena.

De repente notaram algo estranho ao redor e o casal se separou do abraço, vendo o ambiente em volta se dissolver no ar e o elmo de Saori cair no chão quando o berço também desapareceu. Seiya recolheu o elmo, percebendo que em volta não havia nada além da paisagem normal do santuário. As pedras haviam perdido o brilho dourado para voltarem ao seu estado normal, flores e grama verde se estendiam pela paisagem, abaixo de um belíssimo céu noturno estrelado com lua cheia. Nenhum sinal de luta ou de Zeus.

Antes que alguém pudesse dizer qualquer coisa, vultos irreconhecíveis à distância se aproximaram e os cavaleiros se puseram em posição de combate, mas logo baixaram a guarda ao verem Marin, Shaina e as ninfas correndo em sua direção. As duas guerreiras apresentavam melhor aparência do que no último encontro, tinham machucados visíveis, mas todos já limpos e tratados, o que deduziram ser obra das ninfas.

– Seiya! – Marin e Shaina chamaram juntas, se aproximando do grupo.

– Atena! – As duas exclamaram, dessa vez, junto com as ninfas.

– Não se preocupem – Saori lhes disse ao ver os olhares recaírem sobre Aimi, encolhida em seu peito – Ela está bem, só assustada.

Sentiu uma mãozinha tocar a perna de sua armadura e viu Celeste a encarando. Abaixou-se à altura da menina e notou que o olhar dela, bem como o de Aimi, se tranquilizarem ao se cruzarem.

– Saori – Tháyma a chamou – Venham conosco. Zeus não irá mais incomodá-los. Seus soldados também deixaram o santuário.

As ninfas os guiaram de volta ao local de onde Aimi havia sumido anteriormente. Removeram suas armaduras, exceto Marin e Shaina, e Saori afastou-se durante algum tempo com Tháyma e Celeste para um local mais afastado e meio escondido do santuário, onde havia água corrente. A deusa pode se banhar enquanto Tháyma e Celeste davam banho em Aimi, que não fez objeções. Tháyma havia providenciado roupas para as duas e cobertores suficientes para todos. Poderiam passar a noite em uma das doze casas, mas as ninfas não gostavam da escuridão do lugar, ainda mais por os cavaleiros não estarem mais ali e devido às armadilhas deixadas lá dentro. O local onde dormiriam era bem protegido e aquecido por grandes paredes de pedra, quase como se fosse uma caverna, porém maior e bem arejada.

– Há algo que você queira me dizer? – Saori perguntou a Celeste ao notar que a menina a olhava – Seria o que eu estou pensando?

Estavam sentadas lado a lado na grama enquanto Tháyma fazia a gentileza de vestir Aimi para Saori.

– Mamãe me disse... – ela começou, sem ter ideia de como prosseguir.

– Você é como Aimi, não é? – Perguntou, deixando a garota um tanto perdida, mas feliz por a deusa já saber de sua condição – Eu estou feliz em ter você como irmã, Celeste. E tenho certeza que Aimi também.

A menina sorriu e abraçou Saori, sentindo os braços da deusa se fecharem firmemente ao seu redor e afagarem seu cabelo.

– Se os deuses não queriam que você tivesse filhos, por que Zeus pode?

– É mais uma daquelas coisas complicadas que você não entenderia agora. Mas na mitologia, desde sempre, Atena deveria fazer esse sacrifício, não os outros.

– Mamãe!

Aimi, já mais alegre e tranquila após muitos carinhos de Saori, Seiya e os outros cavaleiros, veio correndo e abraçou Saori pelo outro lado. Ela estendeu um dos braços para abraçar as duas crianças ao mesmo tempo, no mesmo instante em que uma luz dourada surgiu do contato, envolvendo as três, e todo e qualquer ferimento que Saori carregava em seu corpo desapareceu. Celeste arregalou os olhos em surpresa, nunca havia visto aquilo. Tháyma observou encantada por alguns segundos, mas logo lhes chamou a atenção.

– Vamos voltar, seus cavaleiros também precisam de cuidados. E acredito que queiram se limpar também.

Quando voltaram encontraram as ninfas em um canto, alimentando uma fogueira e os cinco cavaleiros conversando entre si. Marin estava sentada ao lado deles e Shaina encostada na parede, calada como quase sempre, mas todos pareciam enfim felizes e aliviados. Saori abaixou-se a frente de Seiya.

– Precisamos cuidar disso – falou deslizando os dedos suavemente pelos machucados em seu rosto e limpando o sangue seco com um pano molhado.

– Mas Saori... Você deve estar exausta... Ao menos você já se curou.

– Não fui eu.

Os cinco guerreiros a olharam confusos e ela olhou para Aimi e Celeste, que brincavam sentadas no chão junto com Tháyma e Marin.

– O que?! – Seiya arregalou os olhos – Elas duas? Sozinhas? Você não ajudou? – Perguntava, vendo Saori rir de seu espanto – Minha garotinha! Estou tão orgulhoso! De Celeste também! – Falou sorridente.

– Exatamente, mas elas já fizeram bastante. Deixem eu cuidar de vocês.

Sem deixar que Seiya dissesse mais nada, tomou seu rosto entre as mãos e emitiu a luz dourada e quente de seu cosmo, em pouco tempo curando completamente o cavaleiro. Depois fez o mesmo com todos eles, exceto Marin e Shaina, que haviam sido curadas em sua ausência por Celeste. As ninfas podiam curar-se rapidamente por si mesmas e estavam todas bem.

– Escutem... Há um lugar aqui perto. Bem escondido e com água corrente. Podem ir até lá tomar banho se quiserem.

Os cinco aceitaram a proposta, e foram guiados por Tháyma, que os deixou lá e voltou rapidamente, encontrando as demais ninfas, com exceção de Aeris, que aquecia as mãos perto da fogueira, já dormindo em volta. Shaina e Marin ajudavam Saori a arrumar um dos cobertores no chão, uma vez que a deusa tinha ambos os braços ocupados segurando Aimi enquanto a alimentava. Agradeceu às duas guerreiras e sentou-se apoiando as costas na parede de pedra. Tháyma caminhou até a filha, também adormecida, e deitou-se ao seu lado, puxando as cobertas e abraçando a criança.

– Não hesitem em chamar se precisarem de mim – ela falou às que ainda estavam acordadas – Boa noite.

– Boa noite – responderam juntas.

Saori olhou para Aimi, que a encarou de volta. Aqueles olhinhos azuis pareciam bem mais calmos agora, embora a bebê ainda parecesse um pouco nervosa.

– Você estava morrendo de fome... – Saori disse com um risinho – Vai ficar tudo bem agora, querida.

Acariciou de leve os cabelos da menina, notando Marin e Shaina a observarem sorridentes.

– Tenho medo de como ela vai ficar depois de tudo isso – desabafou para as duas.

– Essa criança é forte – ouviu uma voz diferente dizer e olhou para Aeris, encontrando seus olhos claros – Ela deve ficar bem assustada por um tempo, mas vai superar. Nos olhos dela vejo a mesma chama de teimosia e coragem que ardem nos olhos de Pegasu e o mesmo amor que podemos ver no seu... Atena... Por tudo isso... Nos perdoe.

– Você não tem que me dizer isso. Não foi culpa de ninguém. Até mesmo meu pai, não posso culpá-lo completamente. A tentação em ter um grande poder pode enganar uma pessoa boa e despertar em seu coração um grande mal, o que o faz seguir por um caminho errado. Tudo agora está bem e não há porque guardar ressentimentos. Eu só lamento que dessa vez tenhamos perdido dois amigos.

A ninfa olhou com tristeza para Saori, entendendo imediatamente o que ela queria dizer, e finalmente percebendo o quanto ela era parecida com Ignis e até um pouco com Celeste.

– Boa noite Marin, Shaina e... Saori – a ninfa falou, lembrando-se que Tháyma lhe dissera que a deusa preferia ser chamada daquela forma – Boa noite, pequena Aimi.

– Boa noite – responderam juntas vendo a ninfa se recolher para dormir.

– Ela está quase dormindo – Marin falou observando Aimi.

– Estava mesmo com fome – Shaina comentou.

Momentos depois as duas guerreiras também foram dormir e Saori já se sentia quase vencida pelo cansaço quando Aimi se sentiu satisfeita. Arrumou o vestido e deitou a bebê ao seu lado, lhe fazendo carinho até ela adormecer completamente.

– Saori... – Seiya apareceu falando baixo ao ver Saori já deitada e todas dormindo – Demoramos?

– Confesso que eu já estava preocupada, mas nem tanto.

Os outros cavaleiros entraram, a cumprimentando, e logo se deitaram para dormir também. Seiya deitou-se ao lado da esposa, apoiando o cotovelo no chão e estendendo a mão para afagar o rostinho de Aimi.

– Ela mamou?

– Sim, estava morrendo de fome.

– Acho que ela vai precisar muito de nós agora... Aimi não parece guardar lembranças ruins por muito tempo, mas deve estar assustada.

– Ela está. Enquanto estávamos aqui... Mesmo notando tudo bem, ela me olhou com medo.

– Eu vou fazer tudo pra que vocês duas possam ser felizes de novo, pra que tudo volte a ser como era antes, e nenhum sonho ruim nos atormente mais. Eu prometo, Saori – disse, olhando profundamente nos olhos azuis de sua deusa.

– Eu sei que vai... – respondeu, virando-se para cima e levando uma mão ao rosto de Seiya e outra a sua nuca, afagando os cabelos castanhos – Mas não vá suportar toda a dor sozinho. Lembre-se de que eu estou aqui pra você. E amanhã quando acordarmos, vamos voltar a um mundo cheio de luz.

O cavaleiro abaixou-se, unindo seus lábios aos da deusa por longos segundos e sentindo-se bem e feliz como não se sentia há dias.

– Eu te amo – sussurrou para apenas ela ouvir – Ainda bem que conseguimos trazer vocês duas de volta. Ou minha vida teria acabado aqui.

– Obrigada, Seiya – sussurrou de volta – Muito obrigada... Seu cavaleiro teimoso – ela riu – Ainda bem que você é assim. Eu te amo, meu querido cavaleiro.

Beijou-o novamente e suspirou, confortando-se quando se separaram e o marido a abraçou pelas costas, brincando com seu longo cabelo lilás até que ela adormecesse. Seiya olhou para a esposa, abraçando cuidadosamente a bebê, e sorriu. Tantas vezes quase havia perdido aquilo para sempre... Mas conseguira de novo, e estavam em segurança de novo, ao menos enquanto algum outro membro maluco da família divina de Saori não decidisse atormentá-los. Muitos já o haviam contestado por que escolhera tal caminho, onde poderia ser facilmente morto pelos deuses ou eternamente infeliz com Saori morta ou longe dele, mas jamais permitiria que as coisas acontecessem dessa forma e não poderia ter desejado nada melhor para sua vida. Deitou-se para dormir também quando ouviu risinhos dos quatro amigos e agradeceu interiormente por Saori estar em sono profundo.

– Do que estão rindo?! – Perguntou, ouvindo mais risos – Estavam nos espionando?! Oras! Mais respeito com nossa deusa! – Falou baixinho, fingindo estar zangado – Vão dormir, seus desocupados! – Dessa vez riram mais ainda.

– Silêncio! – Hyoga pediu – Querem acordar todo mundo?

Todos obedeceram, ouvindo apenas um murmúrio de choro de Aimi, que ainda dormia. Seiya olhou para a filha, vendo-a fazer uma careta em seu sono e acariciou sua barriga suavemente.

– Calma... Papai está aqui. Vai ficar tudo bem. Não tenha medo, amorzinho.

A expressão da menina se suavizou e ela agarrou o dedo de Seiya com a toda a pequena mão. Ele riu baixinho e levantou a cabeça para ver os amigos olhando para ele sorridentes.

– Estamos muitos felizes por você, Seiya – Shun lhe disse.

– Muito obrigado a todos vocês, amigos. O que seria da minha família agora se vocês todos, Shaina, Marin e as ninfas também, não estivessem aqui pra me ajudar? Obrigado. Eu nunca vou esquecer disso.

– Nós nunca deixaríamos você lutar sozinho, Seiya – Ikki lhe falou.

– Isso mesmo. Também não deixaríamos Saori se sacrificar sozinha e perder Aimi para os deuses – Shiryu lhe disse.

– Vamos dormir... – o cavaleiro de Pegasu disse por fim.

Todos se deitaram novamente, mergulhando em doces sonhos, com sorrisos satisfeitos no rosto.

******

Alguns dias haviam se passado após o final da guerra no santuário, e assim como Zeus, as ninfas haviam partido, mostrando tristeza por se separarem de Saori e dos demais. Celeste ficara profundamente triste, mas conseguira seguir em frente com a promessa de Saori que poderia aparecer sempre que se desejasse no mundo humano, mesmo que a própria deusa precisasse pedir a Zeus por isso, o que não seria necessário, pois Tháyma se comprometera a realizar essa tarefa. A menina abraçara fortemente cada um deles quando se despediram, demorando-se com Seiya, Saori e Aimi. Voltaram para a Terra, e puderam enfim descansar e ter dias tranquilos novamente. Aimi ainda parecia um tanto assustada, mas aquelas lembranças atordoantes pareciam aos poucos deixar sua mente.

A deusa aproveitava no momento um dos prazeres da vida simples de um ser humano, passear com a filha. Acabara de deixar o mercado junto com ela, e guardava as compras no carro, cuidando para que Aimi, segurando em sua saia com uma das mãozinhas, não se afastasse. Saori sentira-se estranhamente observada durante todo o tempo em que estivera fora de casa com Aimi. Cosmos familiares a seguiam bem de perto, embora ela não tivesse ideia de quem se tratasse, e só ficara tranquila porque de maneira alguma eram cosmos agressivos, mas sim calmos e gentis. Mesmo enquanto guardava as coisas no carro, permanecia a estranha sensação de que alguém as observava.

– O que você acha, querida? O papai vai adorar o almoço que vamos fazer pra ele.

Quando fechou a mala do veículo, assustou-se ao perceber dois vultos de pé ao lado. Aimi se escondeu atrás da mãe com medo, quase derrubando o pirulito que acabara de ganhar de Saori. A deusa suspirou aliviada ao reconhecer Tháyma e Arashi, vestidas como pessoas normais. Ambas olhavam as duas com um sorriso amigável. Saori sentiu Aimi tremer levemente, escondida atrás de si. A menina espiou, deixando um dos olhos azuis à vista, e Arashi acenou para ela com um sorriso.

– O que vocês duas estão fazendo aqui?

– Tenha calma – Arashi lhe pediu – Não viemos aqui para lhe afrontar, Saori, e sim como mensageiras.

– Mensageiras...? De meu pai, eu suponho.

– Sim. Ele deseja sua presença – Tháyma lhe disse.

– Diga-lhe que estou ocupada com meus afazeres humanos normais e não poderei atende-lo – respondeu apreensiva, confiava nas ninfas, mas desconfiava do que Zeus pudesse fazer, ainda que as obrigando a alguma coisa.

– É importante – Tháyma tornou a falar – Nem você nem sua família correrão perigo. Nós prometemos.

– Terei que levar Aimi junto?

– Por enquanto não será necessário. Arashi a levará até Zeus, e eu me encarregarei de levar Aimi em segurança para casa. Posso transportar até mesmo o carro junto.

– Saori!!

Celeste apareceu de repente de algum lugar, também vestida como uma criança normal, trajando um vestido rosa claro dessa vez, e pulou nos braços de Saori, que a acolheu num forte abraço, e riu junto com a menina, em seguida colocando-a no chão quando Aimi deu um leve puxão em sua saia, pedindo para também brincar com a pequena ninfa.

– Não fique com medo, querida. Você vai pra casa com Celeste. Eu vou depois – Saori falou, abaixando-se a frente de Aimi.

– Não tenho mais medo, mamãe.

– Me orgulho de você, Aimi – abraçou a bebê e a deixou com Celeste, que a segurou pela mão livre.

As duas ninfas adultas olharam em volta, certificando-se de que não havia nenhum humano por perto, e um feixe de luz branca surgiu, transportando Saori e Arashi para o Olimpo e Tháyma, Celeste e Aimi para a casa da família.

As três surgiram exatamente no corredor dos quartos da casa e Aimi imediatamente identificou a localização de Seiya, correndo para a porta entreaberta do quarto dos pais, onde ela mesma ainda dormia.

– Olá, querida! Onde está a mamãe? – Ouviram Seiya perguntar de dentro do quarto.

Quando as duas ninfas apareceram em frente à porta, Tháyma espiou cuidadosamente lá dentro e viu um Seiya recém saído do chuveiro, envolto em uma toalha, quase morrer de susto ao ver as visitas inesperadas e escorregar para o chão, causando uma imensa onda de risos em Aimi e Celeste, e um olhar de estranheza vindo de Tháyma.

– Como uma criatura tão atrapalhada conseguiu ferir o deus dos deuses?! Não dá pra acreditar! – Disse baixinho apenas para si mesma.

– Aimi! – Seiya disse levantando-se – O que ela está fazendo aqui com você?! – Perguntou assumindo posição de combate – Terei que lutar apenas de tolha? Se a Saori me pega assim, eu tô frito!!

Houve uma nova enxurrada de risos das duas crianças e viu Tháyma espalmar uma das mãos no rosto em desaprovação.

– Acalme-se, Pegasu! – Disse em tom autoritário – Não estou aqui para lutar, apenas fui encarregada de trazer Aimi em segurança até sua casa.

– Segurança?! – Perguntou de olhos arregalados – O que o pai da Saori ainda quer com a gente?! O que ele fez com ela?!

– Calma... Eu lhe explicarei tudo, mas antes, por favor... VÁ SE VESTIR!! É CONSTRANGEDOR FALAR DE ALGO SÉRIO COM ALGUÉM PRATICAMENTE DESPIDO!!!

Seiya tomou um susto, encolhendo-se um pouco diante da bronca.

– Nem minha esposa já brigou comigo assim – ele disse espantado.

Tháyma pensou em mil maneiras de responder o comentário, mas preferiu ignorar e chamou as duas meninas, que ainda riam do cavaleiro, para fora do quarto, fechando a porta atrás de si.

******

Arashi a deixou na grande sala dourada de Zeus e despediu-se, indo para algum outro lugar do Olimpo.

– Atena... Nos encontramos de novo.

– Sim, papai. E vejo que o senhor está mais calmo e propenso a conversar e não sair soltando raios para todos os lados.

– Não torne as coisas mais difíceis do que já estão para mim! – Ele falou, tentando não parecer tão irritado – Você deve imaginar que não é nada fácil para mim estar disposto a ter uma conversa de pai e filha com você... E creio que não tivemos muitas.

– Essa deve ser a primeira de que me lembro.

– Atena! Por favor!

– Tudo bem... – disse simplesmente, lutando para parecer séria e conter o riso.

– Eu sempre estive propensa ao diálogo, mas o senhor, por não querer entender minha relação com os humanos, especialmente Seiya, sempre me reprovou sem me dar qualquer chance de lhe explicar.

O deus dos deuses levantou-se de seu trono dourado e se aproximou, fazendo Saori combater interiormente sua grande vontade de se afastar. Após os últimos acontecimentos, por mais calmo que o pai estivesse, não conseguia evitar sentir não medo, mas repulsa a ele. Zeus estendeu a mão e a pousou na cabeça de Saori.

– Para qualquer pai, sendo um mortal ou um deus, é difícil aceitar que nossos filhos tomem caminhos diferentes daqueles que esperamos. Você saberá disso quando Aimi crescer.

– Quando ela crescer eu não serei mais dona da vida dela, papai. E não importa a decisão que ela tomar. Nós a estamos criando com muito amor e dedicação, isso a tornará uma boa pessoa.

– Eu... Gostaria de vê-la uma última vez. Nem tão cedo nos encontraremos de novo.

Saori ficou pensativa. Não achava que Aimi desejava o mesmo.

– Se você permitir, Tháyma a trará aqui.

– Tudo bem...

Passados alguns minutos Tháyma apareceu com Aimi e Celeste, caminhando até Saori.

– Pegasus está nervoso e muito preocupado com você. Nem imagina o que houve quando chegamos lá – falou, ouvindo um risinho de Celeste – Eu lhe expliquei tudo. Ele não queria deixar Aimi vir aqui, mas acabou cedendo.

Zeus encarou a bebê, que o olhava bastante apreensiva e procurou o olhar da mãe, que lhe transmitiu que estava tudo bem. O deus pegou a menina no colo e ela irritou-se, dando-lhe um bom chute bem onde os cavaleiros haviam lhe ferido e ainda puxando seu longo cabelo.

– Seu pai e seus tios me fizeram um bom estrago bem aí – ele tentava retomar sua expressão calma – E sua cara de zangada é igualzinha a de Pegasu.

– Aimi! Seja boazinha! – Saori repreendeu.

– Não a culpe... Eu esperava por isso. Mesmo assim, eu desejo que você seja feliz, minha neta – falou, entregando-a para Saori – Espero que se um dia ela lembrar do que aconteceu e deste momento... Possa me perdoar de alguma forma. Está na hora de nos separarmos. Há algo que você deseje, Atena?

– Apenas... Que nos deixem viver em paz, sem ameaçar nenhum humano ou qualquer um de meus cavaleiros. E que as ninfas possam nos visitar, simplesmente como amigas, sempre que for possível. E cuide muito bem de cada um delas, especialmente dessas duas.

Zeus ficou pensativo por uns instantes, mas logo tornou a falar.

– Eu farei tudo que me pediu. Começando agora mesmo. Tháyma e Celeste levarão vocês para casa. Tháyma... Deixe as duas brincarem até não aguentarem mais antes de voltarem para cá hoje.

– Sim, eu as levarei em segurança.

– Se apressem. Não vão deixar os visitantes esperando.

Antes que Saori pudesse perguntar do que ele estava falando, Tháyma levou as demais para fora da grande sala e um novo feixe de luz branca as levou de volta à Terra, onde pousaram exatamente à frente da casa, notando uma cena estranha. Seiya corria desesperado lá dentro. E podiam ver mais duas pessoas, que não eram estranhas. Quando finalmente viu Saori do lado de fora, Seiya correu como um louco até ela.

– Saori! Por favor, me diga que você também os vês e eu não estou enxergando fantasmas!

– Fantasmas?!

Um casal saiu de dentro da casa, caminhando calmamente até onde estavam. Ninguém poderia negar que eram gêmeos. Pele clara, olhos azuis, longos cabelos dourados. Roupas humanas normais substituíam as armaduras douradas. Saori arregalou os olhos.

– Vocês... Estão vivos!

A mulher sorriu e lhe respondeu.

– Eu não tenho a mínima ideia de como vocês conseguiram derrotar Zeus ou como mudaram tanto o coração dele em tão pouco tempo, mas uma das coisas que ele fez quando voltou à lucidez foi nos dar mais uma chance.

– Nós lhe imploramos que nos deixasse vir aqui – o mais velho falou.

– Tem nossa eterna gratidão, Saori – falaram juntos, curvando-se para a deusa.

– Por favor, isso não é necessário! Vocês dois nem imaginam o quanto estou feliz por vê-los vivos! – A deusa disse sinceramente, sentindo seus olhos marejarem de felicidade.

Aimi tentava pular de seu colo e estendeu os braços na direção de Ignis, que lhe deu um enorme sorriso e acolheu a bebê nos braços, beijando seus cabelos quando Aimi a abraçou pelo pescoço, morrendo de rir por estar tão feliz.

– Me desculpe... Por tudo que eu disse antes. Por tornar tudo mais difícil – Astrapih falou para a deusa, baixando a cabeça em pesar, sentindo Saori tocar seu rosto delicadamente, e sorrir para ele.

– Não foi culpa sua. Ambos sempre foram grandes guerreiros, e nós sabemos disso. No final das contas... Se não fosse pela ajuda de vocês, poderíamos ter encontrado um destino realmente ruim, mesmo que alguns escapassem. Muito obrigada, Astrapih.

– Eu não posso negar que ainda guardo um certo ressentimento pelo que aconteceu, mas muito obrigado por proteger a Saori quando eu não pude.

Pela primeira vez viram um sorriso no rosto do gêmeo.

– Meu pai permitiu que Tháyma e Celeste passassem o dia com a gente. Eu quero que vocês fiquem também. Creio que será divertido conhecer um pouco da simples e bela vida humana.

– Seiya!! – Celeste pulou em suas costas – Vem brincar com a gente!

– Claro que sim!! – Respondeu, ajeitando a menina em suas costas e correndo com ela até onde Tháyma e Ignis brincavam com Aimi.

A deusa riu e seguiu até eles, deixando Astrapih a observá-los. O gêmeo olhou em volta, finalmente percebendo o quanto aquele planeta era belo e pela primeira vez em sua vida, sentindo-se contagiado por uma onda de risadas.

“Ah, o céu do amanhã será azul! Me lembrar que essa luz me guiará, como o sonho.

Ah, em meu coração guardo esse céu azul, que eternamente brilhará!”*


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Notas finais do capítulo

* Blue Forever - Edu Falashi



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