Capítulo 14 – A ira de Zeus

A menina olhou com curiosidade para sua mãe, ela parecia em dúvida sobre contar ou não, fosse o que fosse.

– Querida... Eu não devia dizer isso a você agora, mas... Um dia acabaria descobrindo e depois do que houve...

– Diz logo! – Ela pediu ansiosa – O que foi isso que aconteceu? Eu sei que nós também temos poder, mas nunca vi nada assim em nós.

– Porque você não tem só o poder das ninfas, mas dos deuses também – Tháyma falou depressa antes que pudesse se arrepender e viu as duas amazonas arregalarem os olhos quando entenderam.

– O que?! Como assim?!

– Você está dizendo que esta Celeste é filha de... – Shaina começou.

– É verdade, Tháyma?

– Sim. Querida – falou de frente para a filha – Eu não sei como você vai reagir a isso, mas tem o direito de saber. Seu pai é Zeus.

A criança arregalou os olhos e um pequeno choque a tomou. Não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. Não sabia o que sentir. Zeus era muito bom para elas duas e adorava Aimi, mas fazia as outras ninfas lutarem e queria matar Saori.

– Celeste? – Tháyma a chamou quando a menina ficou vários segundos em silêncio – Está... Zangada?

A garota a encarou com uma expressão confusa e após mais um tempo em silêncio negou com a cebaça.

– Eu não sei o que dizer, mamãe. Eu nunca senti muita falta de um pai apesar de te perguntar de vez em quando. Por que nunca me disse?

– Às vezes as pessoas se apaixonam, as coisas acontecem... É muito complicado.

– As outras sabiam? Todas mentiram pra mim?

– Meu amor, nós não quisemos mentir pra você. Quando você nasceu, eu, seu pai e as outras ninfas ficamos todos muito felizes. Mas Zeus queria criar você ao lado dele. Você sabe muito bem como ficaram aqueles criados por ele. Saori se salvou por viver longe. Por isso eu implorei que ele me deixasse cuidar eu mesma de você. Ele concordou depois de certa relutância, mas com a condição de que eu nunca te contaria isso, ao menos não por alguns bons anos. E apesar de tudo sempre cuidou bem de nós. Ele gosta de você como gosta de Aimi, mas no fundo ele tem medo também. Por isso está causando tudo isso, por que tem medo.

– Por que ele tem medo de pessoas boas como Saori e Aimi?

– Ele conhecer o amor, querida, mas não o compreende e não confia nas pessoas, ainda mais se forem humanos. Ele está enlouquecido.

– Se Zeus é meu pai... Saori, Ignis e Astrapih são meus irmãos?

– Sim querida. Apesar de muitos outros serem também... Mas até mesmo Aimi tem uma ligação com você. Mesmo sendo tão pequena você já tem uma sobrinha.

A expressão no rosto da pequena ninfa suavizou um pouco ao ouvir isso e mais nenhuma palavra foi dita até que chegassem ao local de tratamento das ninfas, onde uma Celeste mergulhada em pensamentos se ocupou em ajudar as outras enquanto Aimi a seguia por toda parte.

– Ainda confia em Zeus depois de tudo? – Marin perguntou à Tháyma.

– Eu não sei mais em quem acreditar, mas eu não acredito que ele seja inteiramente mau, só está cego. Se fosse mesmo tão perverso como tantos anos atrás, Celeste nem estaria aqui, e ele cuida muito bem de nós. Ele está mais preocupado em castigar Atena por causa de seus cavaleiros. E depois quer encontrar uma forma de manter Aimi e Celeste como aliadas.

– Mãe!!

– O que foi?!

– Há algo errado com o bebê de Atena – Káfsi observou.

Todas olharam para Aimi quando a menina fez uma careta de choro e novamente foi envolvida por uma luz extremamente forte, até desaparecer.

– Aimi!!! – Marin e Shaina chamaram juntas em pânico.

Não havia sinal dela e deduziram o pior.

– Zeus... – Arashi murmurou abrindo os olhos – Zeus a tomou de volta.

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– Eu sabia que você me causaria problemas, mas nunca pensei que fosse chegar tão longe. Mesmo depois de eu matar sua mãe grávida você ainda conseguiu nascer e aparecer no santuário, onde aquele tolo cavaleiro de ouro a salvou! Seu poder incitou a ira de todos os seus parentes, mas todos sempre falharam em mata-la! Por causa daquele mísero humano que dizem ser um cavaleiro de bronze capaz de superar os deuses. E pra piorar ainda mais as coisas você várias vezes nos impediu de purificar a Terra das trevas dos humanos! Você sempre nos venceu em nossas guerras. Nem mesmo Ares foi capaz de derrota-la! – Zeus gritou para sua primogênita.

‘Nem todos os humanos são maus! Muitos deles têm grandes corações. Eles têm algo chamado amor, e por esse amor são capazes de se tornar infinitamente gentis e superar tudo. Ainda existem pessoas que desejam cuidar da Terra e umas das outras, pessoas que lutam por um mundo de paz. Os humanos podem ser descuidados e nem sempre tratar a Terra como deveriam, podem não conseguir viver sem arrancar uma única flor do chão ou matar um inseto, mas os humanos não são deuses. Eles são muito fortes e sofrem quando aqueles que eles amam também sofrem. São capazes de sacrificar suas vidas sem hesitação para proteger aqueles que amam! Viver e amar na dor, na angústia, na tristeza... Às vezes disso nasce algo maior que os seres perfeitos. É nisso que eu acredito. Eu acredito na grandeza da humanidade!’ Ela disse mentalmente a seu pai as mesmas palavras que dissera para si mesma quando tinha Seiya desfalecido em seus braços no reino de Artemis.

– Você não tem correção! Mesmo morrendo me desafia por telepatia! Além de nos desonrar e adotar tais palavras ridículas diante de seu pai, Atena, ainda ousou se corromper se unindo a um humano. Mal acreditei quando sua irmã Artemis me disse que minha filha legítima mais velha se entregou aos caprichos de um humano, ainda mais sendo um cavaleiro da classe mais baixa. Atena, que devia ser a deusa virgem! Agora tem até mesmo uma filha meio mortal. Mas apesar disso ainda valorizo bastante minha neta a ensinarei como se portar desde cedo. Assim não precisarei castiga-la também.

‘Castigar...? Estávamos em paz na Terra sem nada fazer para afrontar os deuses. Vocês chegaram de repente e causaram todo esse tumulto. Nós apenas nos defendemos. E em todas as vezes foi assim. Como pode desejar castigar alguém que simplesmente deseja se defender e proteger aquilo que ama e acredita?’

– Oras! Pare com essas suposições ridículas. Apolo perdoou vocês e os castigou apagando a memória de todos, menos a sua. Se ele não tivesse sido tão bondoso, já poderíamos ter esclarecidos esses assuntos.

Saori sentiu o coração acelerar ao ouvir Aimi chorando de repente. De onde ela tinha vindo? Zeus a transportara para ele também?

– Esse bebê... Ela é igualzinha a você. Seu poder só crescerá com os anos até que ela se torne indestrutível. Eu a trouxe quando percebi, na esperança de educa-la como uma de nós e não deixa-la nos causar problemas. Esse olhar... Sempre observei as batalhas e eu já o vi antes, nos olhos daquele cavaleiro de bronze. Ela nunca será uma deusa como nós se não for ensinada desde bem pequena. Não devia ter dado ouvidos a Apolo quando ele e sua gêmea Artemis me disseram ter lhe dado uma segunda chance, Atena, mesmo com o preço de você jamais revelar isso aos outros. Eu tentei eliminar você antes de seu nascimento para evitar tudo isso, mas falhei. Porém, apesar de seu pecado, eu gostei desta menina, e apesar de ser uma ameaça tão grande quanto você, eu lhe darei uma chance. Ela ainda é muito pequena e pode ser posta nos eixos desde já – Zeus pegou a menina e a ergueu a sua frente, ela começou a chorar mais alto.

‘Solte ela!’ Saori gritou mentalmente por instinto.

– Os humanos não merecem a Terra! Você não merece, Atena! Você preferiu proteger os humanos a honrar os deuses! Você deveria ser a eterna deusa pura e virgem! Você se entregou a um humano e teve uma filha com ele! – Zeus gritou irritado, colocando Aimi no chão.

A menina correu para perto da mãe, se assustando ao perceber que havia algo errado e o quanto ela estava quente. Saori podia ouvir a garotinha chorar e seu coração se contorcia por não poder consolá-la. De repente sentiu um calor diferente, não era de sua febre, nem de Zeus... Era algo parecido com seu próprio poder e também com o cosmo reconfortante de Seiya. Por dois segundos pode perceber que havia mais luz a sua volta e ouviu Zeus reclamar de alguma coisa com Aimi. Não entendeu como a princípio, mas encontrou forças para abrir os olhos e devagar olhou para o lado, encontrando o olhar triste de Aimi e puxou a menina para um abraço. Aimi a agarrou com força, deitando-se sobre a mãe.

– Não é disso que depende a pureza de um coração, meu pai! – Respondeu finalmente a Zeus – E a minha mãe também era humana! Muitas de suas esposas eram e uma delas agora é uma ninfa, não é?

– Esta menina tem mesmo muito poder, pode curar ferimentos mortais como você... Mas nenhum de meus filhos ousou se rebelar de tal forma e causar tremendo estardalhaço entre os deuses como você, Atena. Eu sabia que você seria assim, eu mesmo devia ter ido acabar com você quando aquele cavaleiro dourado de Gêmeos falhou. Minha filha legítima mais velha sempre se rebelou contra os deuses, mas não vou permitir que minha neta faça o mesmo. Até porque mesmo sendo minha neta... É filha daquele que ousou superar os deuses! Se eu deixa-la crescer com consciência de tudo isso, mesmo que a entregue sob os cuidados e educação de Apolo e Artemis, ela ainda será como você e aquele cavaleiro, um dia ela se voltará contra nós do mesmo jeito!

– Por que tanto orgulho?! Isso é patético! Há um motivo para os deuses serem tão poderosos! Esse poder não foi feito para destruir ou tirar a vida de pessoas e sim para protegê-las! O grande poder dos deuses não é para eles, é para a humanidade! Você não tem o direito de castigar os outros se não conhece o amor. Por esse amor, os humanos são sim capazes de superar o poder dos deuses! Por que tanto medo de alguém que proteja os humanos e confie neles?! Por acaso tem medo dos humanos? – Saori falou, levantando-se e deixando Aimi atrás de si.

– Chega de perder tempo nessa conversa que não nos levará a lugar algum! Se ela esquecer de tudo agora, o futuro será muito mais fácil e melhor!

O cosmo monstruoso de Zeus começou a brilhar a sua volta, transportando Aimi para suas mãos novamente, e a criança começou a chorar mais alto, parecia estar sofrendo.

– AIMI!!

– Se ela esquecer de todas as lembranças inúteis que tem sobre a Terra e os humanos... Dessa vez vai dar tudo certo!

A deusa concentrou seu cosmo dourado e correu para perto de Zeus, mas ainda estava ferida, dolorida e fraca e foi atirada longe, ganhando mais um machucado para adicionar aos que já tinha. Ignorou a dor e levantou-se para fazer uma nova tentativa, mas o momento foi interrompido com uma explosão. As grandes portas douradas do aposento desabaram e Zeus recolheu seu cosmo e olhou espantado na direção da porta.

– SOLTA A MINHA FILHA!!