O amor de Atena escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 12
Capítulo 12 - Sacrifício




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Capítulo 12 - Sacrifício

O coração de Saori disparou dentro do peito. Não duvidava que Seiya encontrasse um meio de sobreviver, mas os dois estavam muito fortes. O que via parecia garantir que nenhum sairia vivo. Talvez ninguém ali saísse.

– O que está acontecendo?!

Saori e Ignis se viraram ao ouvirem a voz de Celeste.

– O que faz aqui? Estamos numa situação arriscada. Zeus não deseja que você se fira, se afaste – Ignis lhe disse.

A menina correu para as costas de Saori, segurando seu vestido branco pela cintura.

– Ignis, por favor – pediu, ao entregar Aimi para ela, a pequena não fez objeções.

A deusa de cabelos lilás abaixou-se na altura de Celeste e pousou as mãos nos ombros da menina.

– Ela tem razão, você deve ir...

– Saori – Shun a chamou, estava acompanhado por Marin, Shaina e os demais – É melhor você se afastar.

– E nem pense em nos impedir – Ikki falou para Ignis, estranhando a falta de resposta, golpe ou ameaça, mas se mantendo vigilante – Como pode confiar em deixa-la cuidar de Aimi? – O cavaleiro perguntou ao se aproximar.

– Acredite, Ikki. Nós podemos confiar nela.

– Como?!

Todos arregalaram os olhos diante da afirmação.

– Mas é nossa inimiga – Shiryu lhe disse.

– Isso é o que ela também pensa.

Todos olharam para a direção de Aimi, ela não parecia incomodada, o que tornava a situação ainda mais estranha.

– Nós precisamos dar um jeito nisso – Saori falou, olhando pra para Seiya e Astrapih.

Estava ficando tarde e o céu começava a tomar um tom alaranjado. Aimi agitou-se nos braços de Ignis. Não estava entendendo bem o que acontecia, mas sentia que não era algo bom.

– ASTRAPIH!! Não seja tolo!!! Quer matar todo mundo?!!! – Ignis chamou de repente, mas pareceu inútil.

– Seiya! SEIYA!!! – Gritou, tentando conseguir a atenção do marido.

Era inútil Saori chamar. Ele não parecia ouvi-la também. Os dois mediam forças já há vários minutos, com as mãos unidas concentrando todo o cosmo em seus golpes. A luz dourada de Astrapih confrontava de igual para igual com a azul de Seiya e não parecia que apenas um dos dois se sairia bem ou mal naquela disputa. O que para todos parecia provável de acontecer era que toda aquela energia se elevasse tanto em igual tamanho que explodiria.

– É VOCÊ QUE VAI MORRER, PEGASU!!!

– EU VOU VIVER E VOU PROTEGER SAORI E AIMI!!!

– Saori, é melhor você se afastar com Aimi. Nós cuidaremos disso – Hyoga lhe disse com certa dificuldade, devido a todos os ruídos emitidos da luta de Seiya e Astrapih.

– Não.

Saori e os demais cavaleiros de bronze se voltaram para Ignis ao ouvir sua voz, e viram a deusa caminhar até eles e se abaixar com Aimi no colo, entregando-a a Saori. Olhou com tristeza para a menina e fez algo inesperado para qualquer um deles, embora Saori já não se surpreendesse tanto. A deusa gêmea deslizou com suavidade a mão pelo rosto de Aimi.

– Me desculpe... Aimi – disse com certo pesar na voz – Me desculpe, Atena... Saori. Você também, Celeste – disse olhando para a menina ao lado de Saori – Todos vocês, eu não sei porque estou fazendo isso, mas... Nos perdoem por bagunçar suas vidas – ela disse se levantando e olhando na direção do combate.

– Ignis... – Shiryu tentava dizer algo, mas não tinha a mínima ideia do que falar.

– Você está prestes a trair Zeus por nossa causa? – Shun lhe perguntou.

– O que você pretende com isso? – Ikki a questionou, sempre desconfiado.

– Vai desperdiçar sua vida, Ignis. Não faça o que estamos pensando! – Hyoga pediu.

– Nós estamos aqui pra dar um jeito nisso – Marin tentou.

– Sim, você não precisa fazer isso sozinha – Shaina lhe disse.

– Não vou, Cisne – olhou novamente para eles e deteve seus olhos em Saori e Aimi – Desde pouco tempo depois que chegou aqui, essa menina me fez sentir coisas muito estranhas. Tão estranhas e incomuns que tive boas dores de cabeça tentando compreender. Até briguei com Astrapih por causa disso. A princípio achei que se tratasse de seu grande poder, mas... Acho que o tempo todo você estava certa – disse a Saori – Zeus nos disse que nós não precisamos de uma coisa chamada coração, que atrapalha os humanos e os deixa fracos. Será mesmo que nós deuses não temos um? Será que somos tão diferentes assim dos humanos? Todas as palavras de nosso pai agora me parecem muito vagas e vazias. E eu estou disposta a pagar com minha vida pra conhecer esse amor do qual você fala, Saori. Eu estou cansada de tudo isso, eu não quero ver o único ser que eu já amei de verdade, antes de conhecer vocês, se destruindo por algo em que eu já não acredito. Agradeçam a Pegasu por mim – falou, olhando para o irmão e Seiya – Minha refração cintilante consiste em absorver toda a força do oponente, acumulá-la e devolvê-la com muito mais força. Mas se eu apenas acumular... Talvez eu possa extinguir o golpe de ao menos um deles.

– Ignis! – Saori se desesperou ao perceber o que ela queria fazer – Você não precisa fazer isso! Nada disso é culpa sua, nem nossa!

– Eu sei – ela respondeu com um sorriso – Estou fazendo por mim. Talvez por um segundo eu possa ter vivido de verdade, livre de qualquer ordem dos deuses, fazendo algo em que eu realmente acredito.

Aimi emitiu murmúrios de choro ao ver Ignis se afastar e estendeu as mãozinhas na direção dela. A tristeza cruzou novamente os olhos azuis da gêmea e ela se abaixou na frente de Aimi, segurando seu rostinho com as mãos e beijando sua testa.

– Obrigada por me curar daquela vez. Me desculpe por ter te tirado do seu pai, por ter causado tanto sofrimento. E muito obrigada por me dar uma vida, mesmo que por tão pouco tempo, Aimi – falou encarando aqueles olhos da mesma cor que os seus e se voltou para Celeste – Cuide bem de Atena, ela é nossa hóspede. Aliás, esse santuário é dela – pediu ao afagar os cabelos claros da ninfa, que assentiu – Muito obrigada, Saori – por fim levantou-se – Adeus, Atena. Minha irmã.

Ignis virou-se e caminhou na direção de seu irmão mais velho e de Seiya, deixando os outros sem ação, até então duvidavam que ela fosse mesmo fazer aquilo. Pedaços das armaduras de ambos já voavam por toda parte. Vários arranhões se distribuíam por seus rostos. Os dois pareciam em transe. A luz que vinha dali era tanta que quase não se podia vê-los. Ignis observou o combate por mais alguns segundos, sentindo algo estranho correr por seu rosto. Tocou sua pele com a ponta dos dedos e fechou os olhos.

– Deuses podem chorar – disse sorrindo – A sensação disso é maravilhosa. É isso que os humanos chamam de liberdade?

Ela ergueu as suas mãos na direção do ponto onde as energias se encontravam e concentrou todo o seu cosmo. Deveria conseguir repelir ao menos um deles e extinguir aquela bomba de cosmo.

– REFRAÇÃO CINTILANTE!!

Aproximou-se com dificuldade, até praticamente fazer parte de tudo aquilo, mas tentando reprimir os cosmos dos dois, sendo observada pelos demais ali.

– Nós não podemos deixa-la fazer isso sozinha! – Shun correu na direção da batalha.

– Vamos! – Ikki os chamou.

– Eu também vou! – Shiryu o seguiu.

– Eu também – Hyoga correu atrás do amigo.

Shaina e Marin se olharam com um aceno positivo e foram adiante com os outros.

– Celeste... - a deusa entregou Aimi à menina.

A ninfa olhou para Saori e arregalou os olhos quando viu para onde ela estava olhando com uma imensa determinação.

– NÃO! Não vai fazer isso...

– Você nem imagina o quanto fiquei feliz por conhecer você e nem o quanto você nos ajudou. Sua mãe deve estar preocupada. Quando isso acabar, entregue Aimi a Seiya e volte pra ela.

– Não! Você não pode fazer isso! – Ela reclamou com os olhos claros cheios de lágrimas.

– Há coisas que se precisa fazer às vezes e nem sempre você tem com fugir. Eu não posso deixar meus cavaleiros que sempre fizeram o impossível pra me proteger se sacrificarem sozinhos. Muito obrigada por tudo, Celeste – falou abraçando a menina.

Aimi começou a chorar junto com a ninfa quando sentiu que a mãe se afastaria, já estava muito assustada com tudo aquilo.

– Me desculpe, meu amor.

Abraçou a filha uma última vez. Enterrando o rosto em seus cabelos. Aimi fechou os braços com força em volta de seu pescoço e Saori chorou. Não aguentava vê-la sofrer por nada no mundo, ainda mais por sua culpa.

– Mamãe te ama! Te ama muito! Vai ser assim pra sempre – disse com a voz um pouco alterada – Mas eu preciso fazer isso, pela Terra e por todos vocês. Aconteça o que acontecer, continuarei vivendo em você, Aimi. Volte pra Terra com o papai e os outros. Se você lembrar, diga que eu o amo.

Engolindo sua dor, fez a bebê lhe soltar e beijou seu rosto, levantando-se e caminhando na direção dos demais. Os cavaleiros arregalaram os olhos ao verem a deusa aparecer entre eles.

– Não, Saori!! – Gritaram juntos.

– Não faça isso! – Ouviu Ignis gritar.

Apesar dos protestos, ela continuou seguindo e repetiu o gesto de Ignis, erguendo as mãos na direção dos dois combatentes. Em segundos a luz aumentou tanto que todos ali precisaram fechar os olhos e tiveram a impressão de sofrer os efeitos de uma explosão e de uma calmaria ao mesmo tempo. Quando abriram seus olhos novamente puderam ver um céu azul cheios de estrelas, iluminado pela luz forte da lua, e se descobriram jogados entre as várias flores coloridas do santuário, agora sem nenhuma névoa.

– O que aconteceu? – Ikki foi o primeiro a se levantar.

Pequenos pontos de luz dourada pairavam no ar e se extinguiam aos poucos. Eram quentes, como o sangue e o coração de Atena. Os cavaleiros tinham vários machucados novos agora, alguns doloridos e um tanto piores, mas deixaram tudo de lado quando viram o restante do grupo a certa distância.

– Mas... O que houve?! – Seiya ergueu-se confuso, também ferido, mas ignorou a dor completamente e olhou em volta – Eu estava preso naquele combate que parecia sem fim contra Astrapih!

– NÃO!!

Todos viraram-se e viram o deus gêmeo com sua irmã nos braços. Pela primeira vez ele parecia arrasado e sem toda aquela arrogância. O elmo da armadura de Ignis já nem existia mais, e apesar de estar desfalecida, ou pior, ela se mostrava ainda mais bonita com os longos cabelos dourados soltos. Um filete de sangue escorreu do canto esquerdo de sua boca e finalmente os cavaleiros de bronze se atentaram aos demais estragos na armadura. Mesmo sendo feita da kamui de Zeus, era claro que não resistiria ao impacto recebido de outra armadura de mesmo porte e ainda a de pegasu. Os pedaços restantes presos à Ignis estavam manchados de sangue.

– Não... Ignis! – ele repetia desesperado para si mesmo, limpando o sangue do rosto da irmã – Minha irmã é o único ser que eu tenho! A única mais importante!

– Astrapih... – ela falou baixinho, abriu os olhos lentamente e olhou para o irmão – Você não estará sozinho. Tudo parecia estar errado, então decidi pagar o preço pra ver o outro lado. E ele é bem melhor.

– Não! São nossos inimigos! Você está morrendo por causa deles!

– Nunca esteve tão enganado, irmão... Acabei de começar a viver de verdade. Há outro caminho. Siga-o. Não tema trair nosso pai, ele não sabe o que está fazendo. Atena estava certa – falava devagar – Agora eu entendo o amor do qual ela fala e o quanto ele pode tornar os humanos fortes. Meu último desejo é que você a proteja junto com sua filha. Muito obrigada por tudo, irmão. E sabe... Deuses podem chorar. É uma sensação muito agradável.

Ela fechou os olhos com o sorriso mais belo que Astrapih já vira em seu rosto e uma luz dourada envolveu todo o seu corpo. A deusa parecia se dissolver no ar, aos poucos Astrapih parou de sentir o peso da irmã em seus braços, até ela desaparecer inteiramente.

– NÃO! Como isso pode ter acontecido?! Por que você trouxe Atena, pai?! O final sempre foi o mesmo!

Ele se abaixou, apoiando as mãos no chão e baixando a cabeça. Sentia dor, uma revolta que nunca havia sentido antes e repentinamente uma sensação totalmente inédita o tomou. Estava mesmo chorando? Podia chorar? Ignis dissera ser algo bom, então porque sentia tanta dor?

Os cavaleiros o observavam. Sentiam-se mal por ele, mas no estado em que todos se encontravam não era prudente se aproximarem no momento e deixaram Astrapih chorando sozinho. A mente de Seiya começou a raciocinar com mais clareza e finalmente se deu conta do que havia a sua volta após se desligar de Astrapih.

– SAORI!!!

Ele correu para a silhueta da deusa, destacada entre as flores. Estava acordada e bem machucada. O vestido branco exibia danos e estava manchado com sangue. Seiya sentiu a culpa rasgar seu coração. Nem sequer tivera uma oportunidade de lhe entregar sua armadura.

– Saori!! – Tocou-a com cuidado e sentiu o calor do sangue da deusa.

– Seiya... – seus olhos marejaram – Estou tão feliz em te ver de novo...

– Eu também! Você vai ficar bem!

– Eu devo colocar um fim em tudo isso. Leve Aimi pra casa.

– Não! Saori, eu não posso voltar só com ela – disse, sendo vencido pelas lágrimas.

– Pode sim. Pare com isso. Não foi culpa sua – ela tentou se mexer, incomodada pelas dores, e levou a mão ao rosto de Seiya, enxugando suas lágrimas – Não esqueça que eu te amo. Que eu amo Aimi. Diga isso a ela todos os dias.

– Não! Saori...

Fechou os olhos ao encostar sua testa na dela e segurar seu rosto com as duas mãos. Se aproximou com cautela e a beijou profundamente, sentindo-a suspirar sob seus lábios e corresponder, mesmo enfraquecida. Separou-se dela com relutância e beijou seu rosto.

– Você mesma vai dizer a ela. Eu te amo... Saori – queria tirá-la do chão, mas preferiu evitar e a abraçou como pode, fazendo-a fechar os olhos, e ficaram um bom tempo assim.

– Muito obrigada, Seiya - ela sussurrou com um sorriso.

Uma luz dourada envolveu a deusa, seu corpo esquentou, fazendo Seiya afastar-se e entrar em pânico ao ver a imagem de sua amada desaparecer diante dele.

– Não! Não! NÃO!!! SAORIIIII!! – Acabou caindo, fazendo sua testa encontrar o chão florido onde ela estava segundos antes.

– Seiya!

Shun finalmente ousou se aproximou, pousando a mão no ombro do amigo, sem saber o que fazer. Estava acontecendo igual àquela vez, como no sonho de Seiya.

– Eu deixei acontecer de novo!! – Ele socou o chão e chorou mais.

Podia ouvir o choro distante de Aimi junto com o de outra criança. Shun e os outros tentavam consolá-lo, também estando arrasados, mas não conseguiam dizer nada. Seu coração se contorcia com a dor de perdê-la de novo.


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