A Herança escrita por Helgawood


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Neste capitulo haverá trechos em negritos referente ao livro Principe Caspian. Boa leitura.



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Susie se encontrava em seu quarto e passou a maior parte do tempo ali dentro dividida entre arrumar seus mantimentos e pensar em Wander. Deveria ter ficado com a boca fechada como doutor Cornelius recomendara, mas não, tinha que ter a boca grande. Deixara Wander com raiva, mas tinha a esperança que a noticia o deixaria feliz, mas por que ele não ficou?

O silêncio de seu quarto e o cansaço que de repente lhe abateu a fez caí no sono. Acordou mais tarde sobressaltada com o barulho da porta se abrindo e fechando num baque. Wander estava parado em frente a porta.

— O que faz aqui? — indagou Susie. — Sabe que tem que bater à porta, não?

— Eu bati mas você não atendeu. — ele caminhou até a cama e sentou ao lado de Susie. Ele deu um longo suspiro. — Por que tem que ir?

— Porque é necessário. Lembra do que Aslam me disse num sonho? Eu tenho uma missão aqui!

— É, mas não precisa fazê-la. Miraz é forte demais, Susie, nem você e nem uma tropa dos Nárnianos que restaram vão conseguir derrotá-lo. Eu me preocupo com você.

A garota deu de ombros.

— Eu preciso ir, Wander, preciso colocar um ponto final nisso. — disse Susie. — Por que não vem comigo? Seria tão legal.

Ele negaceou com a cabeça.

— Prefiro ficar aqui do que ver mortes. — disse sério, surpreendo Susie. — Se fica do lado dos Nárnianos, Susie, matara Telmarinos. E eu sou um telmarino! — espantou.

— Se eu ficar do lado dos Telmarianos matarei Narnianos. — retrucou séria. — Nenhum dos dois lados terá uma vitória sem que sangue seja derramado. Eu vou para o lado que acho certo.

— São suas escolhas, Plummer. — disse ele, levantou da cama e seguiu até a porta. — Espero que nada de ruim lhe aconteça.

— E nem a você. — disse ela.— Fica aqui será perigoso demais.

Ficou por uns instantes encarando a porta na esperança de que Wander entrasse novamente, mas nada aconteceu. A garota vestiu-se e colocou uma capa sobre seus ombros, pois logo anoiteceria e doutor Cornelius iria buscá-la, como combinado. O tempo pareceu engatinhar enquanto a ansiedade e a preocupação a dominava de tal modo que a fazia estremecer.

Fez um nó com os dois dedos e fechou os olhos com força. Vai dá tudo certo!

Depois que a lua já tinha subido ao céu, e os senhores daquele castelo jantavam, ouviu leves batidas na porta. Era Doutor Cornelius.

— Não temos tempo a perde, senhorita Susie. — disse ele agarrando a mão da garota. — Temos que nos apressar.

A menina assentiu. Pegou sua trouxa e seguiu Doutor Cornelius cautelosamente pelos corredores do castelo até a biblioteca, onde de alguma forma iam sair dali. Quando Susie entrou viu que o local estava uma bagunça com cadeiras deitadas no chão, livros jogados e pergaminhos despedaçados.

— O que aconteceu aqui? — perguntou ela. — Parece que um tufão passou por aqui.

Doutor Cornelius não respondeu, ficou quieto mexendo em suas coisas.

— Como vamos sair daqui? — perguntou, mas novamente o velho não lhe respondeu. — Ok, então. Vou sentar aqui. — levantou uma cadeira do chão e sentou.

O velho ficou abrindo e fechando livros e quando não achava o que queria os jogava no chão. Então, cansando de pegar pilhas de livros, puxou da prateleira uma bola de cristal e a pousou sobre a mesa.

— Venha, Susie, já está tudo pronto. — disse ele. — Fique aqui do meu lado e me dê a mão.

Susie segurou a mão de Doutor Cornelius com força, enquanto ele estava com a mão sobre bola de cristal. O cristal não tinha nenhum brilhou ou qualquer coisa que o fizesse parece mágico.

— Não tenha medo, minha menina. — disse ele. — Quando menos espera estaremos bem longe daqui.

— Não tenho medo, senhor Cornelius. — disse ela. —Só espero que nada de ruim aconteça.

O homem assentiu. O doutor também tinha receio sobre o que poderia acontecer com todos quando a tirania de Miraz saísse do controle.

— Iremos ao encontro do príncipe Caspian. — sorriu solidário para ela. — Só preciso me concentra um pouco.

Com a mão sobre a mão de Susie, doutor Cornelius fechou os olhos com força e murmurou dialetos. Por um tempo nada aconteceu, e Susie se perguntou se doutor Cornelius estava fazendo certo.

— Prepare-se. — disse ele.

Uma luz branca irradiou todo o local, cegando os dois e os aquecendo como uma miniatura do sol. Susie cerrou os olhos, pois esses ardiam com a força da luz. Sentiu seus pés formigarem e apertou a mão do doutor, aquilo a estava incomodando.

— Não!

Não? Algo havia dado de errado? Susie sentia a mão de doutor Cornelius sobre a sua, mas não parecia ter nenhum problema. Abriu os olhos contra aquela claridade e viu Wander parado em frente a porta da biblioteca. Aquilo foi uma punhalada nas costas. Ao lado dele estava um soldado com uma besta em mãos, apontando diretamente para ela.

Susie ficou boquiaberta e perplexa fitando Wander a expressão séria. Por que? Era o que perguntava. O soldado puxou a arma e a flecha voou em sua direção em câmera lenta. Susie ficou sem entender o que estava acontecendo, até que, por fim, sentiu a terra firme e o aroma agradável das árvores. O barulho estridente foi ouvido e Susie joelhou-se no chão, largando a mão de doutor Cornelius. Ela estava chorando.

— Senhorita Susie, por que o garoto Wander estava naquela sala? — perguntou Cornelius.

— Foi tudo minha culpa.— balbuciou ela.— Eu contei pra ele que íamos fugir hoje, mas ele ficou irritado. Não esperava isso dele.

Ele ajoelhou-se ao lado da garota, afagando seu cabelo.

— Agora temos que ir rápido, senão Miraz ira nos encontra e matar. Levanta-se, menina. — disse, ajudando-a a levantar. — Sei que Caspian está por perto.

A menina assentiu. Olhou para árvore ao lado e nela estava cravando a flecha disparada pela besta no objetivo de matá-la. Pegou sua trouxa e seguiu doutor Cornelius pela floresta. Cada ruido, cada estalo assustava os dois, principalmente Susie, que virava para trás esperando ver alguma coisa tenebrosa na escuridão. Por várias vezes quebrou galhos e escorregou em lugares molhados, sujando sua roupa, mãos e rosto. Doutor Cornelius parecia bem, andava calmamente desviando de pedregulhos, troncos e qualquer coisa que o atrapalha-se em prosseguir. Ele não estava nem um pouco cansado.

— Quer descansar, Susie? — perguntou doutor Cornelius. A menina ofegava enquanto se apoiava em seu joelho.

— Vamos continuar, doutor Cornelius, por favor. — disse ela. — Quando encontramos Caspian teremos tempo de sobra pra descansar.

Ele assentiu. — concordou com você.

Seguiram floresta adentro num ritmo veloz. Susie corria tentando acompanhar os passos largos de doutor Cornelius. Foi então que, chegando próximo a clareira iluminada, ouviram variadas vozes.

— Finalmente chegamos. — disse doutor Cornelius. Ele abaixou-se num arbusto, os observando. — Olhe o quanto de Narnianos ainda existe, Susie.

Os olhos da menina brilharam de surpresa e admiração. A clareira estava ocupada por centauros, ursos, anões vermelhos e negros, toupeiras, texugos, lebres, ouriços, ratos e tanto outros animais concentrando em um só lugar. Mas o que impressionou Susie não foi os animais, mas sim o gigante.

— Um gigante! — espantou Susie.

Doutor Cornelius assentiu e sorriu.

— Há décadas que não vejo um. Ó, olhe, Caspian está ali! — disse felizardo, apontando para o jovem no meio deles. —Estão o chamando de rei!

Assistiram Caspian levantar e gritar pela atenção de todos, mas logo foi interrompido por uma lebre.

— Alto! Tem duas pessoas escondido por aí!

Os animais ficaram alerta e olharam para direção onde a lebre apontara. Susie se encolheu mais sob o arbusto e cutucou o homem.

— O que vamos fazer agora? — sussurrou assustada.

Ele sorriu solidário para ela.

— Não precisa ter medo, Susie, eu estou com você. Venha, vamos nos apresentar.

Os dois levantaram e seguiram em direção a clareira enquanto ouvia os animais falarem em ir matá-los. Susie paralisou, não queria morrer ali. Doutor Cornelius segurou o braço de Susie ao verem três anões e dois texugos irem em direção a eles. Caspian havia os ordenando a capturá-los.

Os cinco animais pareciam temerosos e andavam com cautela.

— Alto! Quem vem lá? — disse um deles.

— Agora Susie. — doutor Cornelius andou até a clareira e disse em alto e bom som. — Pronto! Estamos desarmado. Se quiserem, podem algemar-nos, nobres texugos. Queremos falar com o rei.

Eles ficaram encarando os dois por um tempo. Susie ficava virando a cabeça de um animal para o outro, os fitando admirada.

— Doutor Cornelius! — exclamou Caspian. Ele olhou para o velho homem emocionado, não acreditando que ele estivesse na sua frente, e o abraçou com força. — Caro doutor, não calcula como estou feliz de vê-lo outra vez. Como conseguiu chegar aqui? — virou-se para Susie. — E quem seria ela.

Susie fez uma breve mesura.

— Sou Susie Plummer, majestade. — disse ela. — neta de lady Polly.

Caspian fez uma mesura levando a mão ao peito.

— É um prazer conhecê-la, Senhorita Plummer, já ouvi as histórias de sua avó. — disse ele. — Mas o certo não seria tetraneta? Já faz milênios que lady polly esteve aqui.

— Minha vó estava vivinha da silva, príncipe Caspian. É provável que o tempo daqui seja mais rápido do que a do meu mundo.

Caspian anuiu com a cabeça e voltou a atenção para doutor Cornelius.

— Então, me diga como conseguiram sair das garras de Miraz.

— Um truquezinho muito simples – respondeu o douto. – Mas agora não há tempo para explicações. Temos de fugir daqui. Alguém traiu o meu Real Senhor e Miraz está a caminho.

Amanhã, antes do meio-dia, estarão todos cercados.

— Traídos?! – exclamou Caspian. – Mas por quem?

Quando doutor Cornelius responderia um anão resmungou baixo, ofendendo doutor Cornelius, Susie fez vista grossa para o anão.

—Foi Destro, o seu cavalo – disse o doutor Cornelius. – O pobre animal, não sabendo o que fazer depois da queda, simplesmente voltou para a cavalariça do castelo. Fugi, para não ser interrogado na câmara de tortura de Miraz. Por meio de minha bola de cristal, sabia muito bem onde podia encontrá-lo. Mas durante o dia todo – isso foi há três dias – os homens de Miraz percorreram os bosques. Ontem soube que o exército está a caminho. Parece que alguns dos seus... dos seus anões de puro-sangue... não têm omenor sentido de orientação. Deixaram pegadas por toda a parte. Grave descuido. Seja como for, alguma coisa avisou Miraz de que a antiga Nárnia não está extinta, como ele julgava, e por isso ele entrou em ação.

— Wander também… nos traiu. – disse Susie tristonha.

— Wander, o cavalariço? – perguntou Caspian.

— Ele é que deve ter contado sobre Nárnia á Miraz. Contou tudo que disse a ele – dizia Susie. – Eu acreditava que ele fosse meu amigo, mas não.

Caspian pousou a mão sobre o ombro de Susie.

— Eu falava bastante com ele, não creio que ele iria me trair, Susie. Mas mesmo assim, em tempos de guerra, não temos em que confiar. Precisamos de um plano de ação.

— Oba! – ouviu-se uma vozinha muito estridente, junto dos pés do doutor. – Podem vir! Só peço que o rei me coloque, a mim e aos meus, na linha de frente.

Susie riu ao percebe que o dono da voz era um minúsculo rato com uma espada na cintura. Abaixou-se para vê-lo melhor.

— Que coisinha fofa! Em meu mundo os ratos não são tão fofos assim, muito menos falam.

— Por favor, milady, não me chame de “fofo”, prefiro cavalheiro. – ele fez uma mesura. – Me chamo Ripchip.

— Que negócio é esse? – perguntou o doutor. – Há gafanhotos... ou mosquitos incorporados ao exército? – Depois, inclinando-se e olhando atentamente através dos óculos, desatou a rir, exclamando: – Pela juba do Leão! É um rato. Senhor Rato, tenho grande prazer em conhecê-lo. É uma honra encontrar um bicho tão valente.

— É prazer conhecê-lo, sir Ripchip. – disse Susie.

— Podem contar com minha amizade, sábio doutor e jovem dama. – guinchou Ripchip. – Qualquer anão... ou gigante... que se atreva a falar-lhe sem respeito terá de enfrentar esta espada.

Susie sorriu.

— Me sinto protegida tendo você, nobre Ripchip, como defensor.

— Ah, parem de dessa baboseira! – espantou o anão Nokabrik. –Quais são, afinal, os seus planos? Fugir ou Lutar?

— Lutar, se for necessário – declarou Trumpkin. – Mas acho que não estamos preparados para uma guerra, e aqui temos pouca defesa.

— Não me agrada fugir – disse Caspian.

Susie olhou para doutor Cornelius e o velho sorriu.

— Tem alguma ideia, senhor? – perguntou Susie. – Precisamos ir para um lugar que possa ser seguro para todos.

— E eu tenho, minha menina. – doutor Cornelius pigarreou, chamando a atenção de todos. – Real Senhor – começou o doutor Cornelius – e todas vocês, criaturas, ouçam-me. Julgo que seria aconselhável fugir para oeste e, descendo o rio, penetrar na floresta. Os telmarinos odeiam aquela região. Sempre tiveram medo do mar e do que possa vir de além-mar. Por isso plantaram as florestas. Se a lenda é verdadeira, o velho castelo de CairParavel fica junto à foz do rio. Toda aquela zona nos é propícia; ao inimigo é fatídica. Vamos para o Monte de Aslam.

— Já ouvir falar! –sussurrou Susie.

— Narnianos construíram há muito tempo, num lugar de grande poder mágico, onde estava – e talvez esteja ainda – uma pedra de grande magia. O Monte foi todo escavado por dentro em galerias e cavernas, e a Mesa de Pedra está na caverna central. Lá temos lugar para guardar provisões e, além disso, todos os que precisam de um teto, ou os que estão habituados a viver debaixo da terra, podem ficar acomodados nas cavernas. Em caso de necessidade, todos nós (com exceção do nosso digno gigante) poderemos refugiar-nos no Monte, onde estaremos ao abrigo de todos os perigos,menos da fome.

Menos da fome, pensou Susie olhando para sua barriga, não havia jantado e a trouxa que havia trazido perderá em algum lugar pela floresta. Não estava com sorte. Na verdade, ninguém estava com sorte.

Boa maioria havia aceitado o plano de doutor Cornelius, porém outra resmungava do plano e olhava desconfiado para o doutor por ele ser mestiço. Mas, concordando ou não, a opinião que valia era de Caspian.

— Vamos amigos! Temos de ir para o Monte Aslam! – disse Caspian, indo na frente da multidão acompanhado por centauro e o gigante. Ele estava animado.

Doutor Cornelius mostrava-se bastante animado ali, como se estivesse na companhia de velhos amigos. Ele virou-se para Susie, pois sabia que a mesma estava cansada.

— Tudo bem em andar mais algumas milhas, Susie? – perguntou doutor Cornelius.

— Posso aguentar por mais um dia, senhor , mas estou com fome e sede. – respondeu ela. – perdi minha trouxa e nela havia colocado água e comida nela.

— Bem, estamos numa floresta, senhorita Susie, aqui achara frutinhas para comer e água terá em boa quantidade nos rios que iremos encontra a frente. – ele passou o braço pelo ombro da garota. – Vamos indo menina, estamos cada vez mais perto de um desfecho.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima.



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