A Herança escrita por Helgawood


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Divirtam-se!



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Quando Susie foi levada para a cozinha ficou boquiaberta pela bagunça e a falta de higiene do local. As paredes eram de pedras escuras, e nelas estavam perdurados panelas velhas e amaçadas e carnes de caça preservada. No lugar de um fogão tinha uma fogueira com proteção de pedras onde as panelas eram perduradas por uma corda velha que faltava pouco para se soltar. Havia toneis de vinho, cerveja, frutas e legumes espalhados pela cozinha sem nenhuma proteção.

Olhando pela pequena portinhola via que era meio-dia pela forma que o sol batia intensamente nas pessoas marcadas pela expressão de cansaço e tristeza. Provavelmente ganham pouco, pensou Susie, o castelo é grande demais para se pensar nas pessoas que trabalham nele.

De repente uma mulher baixa, redonda e sarnenta entrou pela portinhola carregando nos braços uma galinha que foi morta por ela mesma. Jogou-a em um bloco de pedra, depenando-a. Foi então que Susie percebeu que Tabor era o único homem ali da cozinha, e a mulher redonda era a mais velha. O restante deveria se um pouquinho mais nova que Susie, mas que, obrigatoriamente, teve de "crescer" para ajudarem a família.

— Algum problema Tabor? - perguntou a mulher redonda olhando-o pelo canto dos olhos. - Quem é essa daí?

Tabor responde:

— Apenas uma garota que terá de cuidar, Sra. Zerdali. Convidada de honra do rei.

A mulher redonda parou o que estava fazendo para olhar Susie, avaliando-a. Quando reparou no vestido sujo e inadequado para aquele mundo, riu com desdém.

— Convidada de honra? Me poupe, Tabor.

— Está desafiando a ordem do rei, senhora? Achei que não repetiria isso novamente depois do que aconteceu.

Com um barulho alto e inesperado, a Sra. Zerdali jogou uma panela fervente no chão, assustando todos e os afastando do local. O rosto dela estava vermelho e inchado como uma bolha.

Tabor sorriu maliciosamente.

— Bem, eu já terminei por aqui.

Ele sutilmente saiu da cozinha.

A Sra. Zerdali respirou e com a ajuda das outras cozinheiras levantou a panela e limpou a gororoba de legumes do chão. Susie se manteu no mesmo lugar, não sabia se seria bom em ajuda ou não.

— Então, quem é você? - perguntou a Sra. Zerdali depois de terem limpado tudo.

— Eu chamo Susie. - respondeu.

Sra.Zerdali se aproximou de Susie vendo a situação do cabelo e da pele suja da garota.

— É melhor toma um banho, garota. - disse. - Venha comigo.

Zerdali arrastou-a pelo corredores estreitos onde a luz vinha das pequenas janelas e lamparinas. Depois de mais corredores e escadas perigosas chegarem em um aposento grande onde, de agora e diante, seria o quarto de Susie. Todo o castelo era de pedra e quando menos esperasse ficaria frio no meio da noite, então alegrou-se em ver uma lareira. A cama era de casal coberta por dossel com lençóis macios e quentes, um espelho com moldura dourado estava perdura na parede e um baú.

O que Susie mais gostou foi de um quarto pequeno que serviria como banheiro e uma tina já estava posta lá.

— Espere um pouco aqui, sim. Vou pega água e um vestido que caiba em você.

Susie assentiu. Sentou-se na cama e aproveitou para deitar e fecha os olhos por alguns instantes. A cama tinha o cheiro de aroeira que a fez lembra detalhadamente seu quarto e nos bichos de pelúcias,dos vizinhos que ficavam em frente da casa conversando, rindo e só entravam as seis horas da noite. E dos garotos que havia gostado, que eram muitos pra variar.

Infelizmente foi tirada de seus devaneio com a voz irritante da Sra.Zerdali.

— Vamos, garota! Quem já viu dormi suja!

Sra. Zerdali jogou na cama um vestido verde escuro, uma anágua e sapatilhas pretas desgastadas. Entrou na pequena sala carregado um balde de água quente e, ignorando os protesto de Susie, tirou lhe a roupa e jogou no canto dizendo que depois jogaria fora.

— Mas é meu vestido favorito! - disse alarmada.

— Agora não é mais. Entre na água, por favor.

Susie não se sentiu nem um pouco confortável ao entra na água fervente, e com uma esponja, que mais parecia uma vassoura para Susie, Zerdali esfregou suas costas com força a ponto de deixa-la com vermelhidão. Penteou os cabelos loiros da garota com a mesma força até desembaraça-los.

Quando terminou o banho, Zerdali vestiu Susie mesmo com a garota dizendo que podia fazer aquilo sozinha. Quando terminou levou-a ao espelho, mostrando o resultado com satisfação.

— Está muito melhor agora, garota.

Na cabelo da garota fez uma trança e amarrou na ponta com uma fita azul.

Rodopiou em frente ao espelho olhando-se admirada. O vestido verde combinava e destacava tanto o loiro do cabelo e os olhos claros de Susie. Não se importou com a sapatilha desgastada e até gostou.

— Espere aqui que vou trazer alguma coisa para você comer. - disse Zerdali.

Susie assentiu. Havia esquecido de como estava com tanta fome. Caminhou até a janela e observou o pátio lá embaixo; o portão estava aberto e um pequeno grupo de soldados chegava chamando atenção de todos. Susie não conseguia enxerga direito dali de cima, mas havia algo grande e marrom sobre o dorso de um dos cavalos.

A Sra. Zerdali voltou com uma bandeja com mingau de aveia, bolo, pão e um copo de leite, e colocou sobre a cama. Comeu o bolo e o pão, mas recusou o mingau de aveia que tinha cheiro e aparência estranha.

Zerdali saiu deixando-a sozinha no quarto, dizendo que estaria muito ocupada na cozinha até de noite para um evento especial. Quando terminou decidiu levar a bandeja de volta cozinha, mas o problema era que não se lembrava do caminho. Subiu e desceu escadas, entrou em quartos vazios e outros com estatuas e quadros antigos.

— Está perdida? - ouviu alguém dizer.

Virou-se para trás e um homem velho, baixo e gordo, de cabelos e barba prateadas, e pequenos óculos a olhava. Tinha os olhos brilhantes e a aparência de um velho sábio que já vira de tudo.

— Onde fica a cozinha? - Susie perguntou.

Ele segurou um riso.

— Minha filha, você está tão longe da cozinha quanto da saída do castelo.

Susie suspirou.

— Poderia minha ajuda? Sou nova por aqui.

— Verdade? - perguntou interessado. - Você por acaso seria a garota que acharam na floresta?

— Isso não lhe interessa.

— Desculpe-me. Desculpe-me. - dizia ele. - Mas, minha jovem, você por acaso teria vindo da Inglaterra?

Susie deu de ombros.

— Você provavelmente me acha louca como os outros.

— Claro que não! Eu acredito plenamente em você, minha jovem. - ele se inclinou, sussurrando. - Você não é a única que veio de lá.

Susie arregalou os olhos surpresa.

— Você me acompanharia até a biblioteca? - perguntou o velho.

— Mas quem é você? - questionou Susie, colocando a bandeja no chão.

— Oh, não me apresentei. - estendeu a mão para Susie. - Sou doutor Cornelius.

— Muito prazer doutor Cornelius. - apertou a mão dele. - Eu chamo Susie.

Dr. Cornelius conduziu-a até a biblioteca que era um aposento grande, pouco decorado, com prateleiras cheias de livros empoeirados, pergaminhos velhos e objetos ligados a geografia e a astronomia.

— Por favor, sente-se. - disse velho, puxando uma cadeira. - Gostaria de alguma coisa?

Negaceou com a cabeça.

Doutor Cornelius amontava em seus braços livros e pergaminhos, mas depois colocou-os no lugar e escolhia outros. Na mesa em sua frente estava pequenos textos com uma letra refinada e delicada, era quase impossível de pensa que fosse de um idoso.

— Oh, por favor, não leia. - disse ele. - São simples poemas terríveis.

Ele pegou as pequenas folhas e no lugar delas colocou os pergaminhos e livros. Os títulos dos livros estavam apagados o que mostrava que eram muito antigos e esquecidos. Doutor Cornelius guardou as folhas no bolso de sua vestimenta e manteve os olhos fixo nos livros.

— Faz tanto tempo que não os leio. - comentou ele.

— Parecem bem antigos

— E são! Cada um tem mil e trezentos anos.

Ele arrastou uma cadeira e sentou-se de frente a Susie.

— Então, por onde vamos começar? - inclinou-se interessado.

— Bem, acho que o senhor iria conta sobre outras pessoas que vieram para cá.

— Claro! Todos sabem essas histórias, mas todos são proibidos de conta-las.

Susie perguntou.

— Proibidas? São aquelas sobre os tais de narnianos?

— Sim, sim. - abriu um dos pergaminhos. - O que a senhorita ver aqui?

O pergaminho tinha a ilustração de quatros pessoas montadas em seus respectivos cavalos. Eram casais de reis, mas uma das mulheres tinha uma trompa na boca.

— Quatro pessoas. - respondeu entediada.

Ele revirou os olhos.

— Sim, está certa. Mas essas quatros pessoas vieram da Inglaterra!

—Eles ainda estou aqui? - indagou.

Doutor Cornelius passou a andar pela biblioteca, com a cabeça baixa e as mãos para trás.

— Infelizmente não. - lamentou. - Sumiram há mil e trezentos anos.

— Mil e trezentos anos! - bradou.

O velho abanou a mão.

— Acalma-se, Susie. Olhe bem para uma das rainhas de Narnia. - disse, pousando o dedo em uma delas. - A rainha Susana, antes do fim da Idade de Ouro, deixou a trompa para trás, e com ela, se as histórias estiverem certas, pode ser que traga ajuda ou até mesmo os reis e rainhas de Narnia! - disse animado, com esperança.

Mas Susie indagou.

— E onde está essa trompa?

Doutor Cornelius assentiu sentando-se. Olhou para a porta e sussurrou:

— Eu a entreguei ao nobre príncipe Caspian. - respondeu em um sussurro quase inaudível. - Eu a achei depois de anos de pesquisa e mistérios. Ajudei príncipe Caspian a fugir quando o herdeiro de Miraz nasceu, e recomendei para que ele usasse. - ele inclinou-se e sorriu prazerosamente. - Mas provavelmente ele deve ter a usando.

Susie não entendeu, e com uma careta pensativa perguntou:

— Como? Se esses tais de reis e rainhas não estão aqui?

Doutor Cornelius gargalhou, mas vendo que Susie não entendia e o olhava curioso, disse:

— Mas você está aqui, Susie. Você apareceu depois que Caspian fugiu com a trompa. - dizia veemente. - Aslam a enviou para nosso alivio.

Susie piscou uma, duas, três vezes para compreender alguma coisa, mas nada parecia viável. Esta naquele mundo e receber a notícia de que fora enviada para um motivo parecia mais um sonho, ou um conto de fadas. Doutor Cornelius estava sorridente, confiante de que Susie fosse a heroína que iria acabar com todo mal. Mas, na verdade, Susie havia gostado de pensa assim; não gostava de Miraz, muito menos de seus conselheiros e soldados, e vê-los longe dali seria tão bom para aquelas pessoas quanto para ela.

— Está se sentido bem, Susie? - perguntou dr. Cornelius.

— Sim! Eu só estava pensando no que o senhor disse.

Ele a olhou preocupado.

— Você não acredita?

— Bem... Er... Acho que não. - disse. - Eu estou presa aqui, não tem como eu ajudar.

Ele suspirou aliviado como se não fosse nada de preocupe.

— Todos os que vieram da Inglaterra também passaram por dificuldades, mas tiveram ajudas de Narnianos e do próprio Aslam. Você também terá, Susie.

Eis que, na forma de flash, lembrou-se do leão que lhe apareceu no sonho, mas o estranho era que parecia que o próprio estava em sua mente, como uma visão, e ele falava alguma coisa. Então sumiu.

— O leão! - gritou.

Doutor Cornelius tampou a boca de Susie, assustando-a. Fitou a porta preocupado, torcendo para que ninguém tivesse do outro lado e ouvido a garota.

— Fale mais baixo na próxima vez. - recomendou. - Não é permitido fala de Aslam ou dos Narnianos aqui.

— Desculpa. - disse Susie. – Mas onde estão esses narnianos?

— Essa é uma boa pergunta Susie – respondeu com o olhar distante.

Susie olhou para janela vendo que já era tarde e que logo a Sra. Zerdali estaria atrás dela.

— tenho que ir.

Doutor Cornelius assentiu, levantando-se.

— Vamos, eu a levo. - disse ele. - Também preciso pega alguns pergaminhos.

Passou a mão sobre os ombros da garota e, educado como era, a acompanhou até o quarto.

Doutor Cornelius, para Susie, lhe lembrava o antigo professor de história que ficava empolgado com livros antigos e de universos alternativos. Talvez como doutor Cornelius havia ajudado Caspian, ele poderia ajudá-la a fugir.

De repente, a porta se abriu e no lugar da Sra. Zerdali entrou um garoto magricela e pálido que mantinha a cabeça erguida enquanto carregava uma bandeja com comida e bebida.

— O que isso? - Susie perguntou.

Ele colocou a bandeja em uma pequena mesa, fez uma mesura e disse:

— Rei Miraz pediu para trazer comida para você, senhorita. - dizia ele. - Está acontecendo uma festividade no salão e, infelizmente, a senhorita não foi convidada.

Susie assentiu. Achava melhor fica no quarto do que encara o rei e seus aliados.

— Onde está a senhora Zerdali? - beliscou um pouco da carne de javali.

— Ela está ocupada servindo comida. - respondeu.

Ele olhava para vários cantos do quarto menos para Susie. Provavelmente deveria ter medo dela.

— Então pode ir.

— Receio que não, senhorita. - disse. - Não a nenhum guarda por perto para vigia-la.

Susie fechou as mãos com força e suspirou, mantendo a calma... Bem, se doutor Cornelius estiver certo sobre ter sido enviada para ajuda os Narnianos, teria que suporta tudo.

— Não preciso de guarda. - respondeu calmamente. - Se quiser pode sair.

— Tenho ordem de vigia-la, então, por favor, coma e não fale comigo.

Reprimiu um riso e comeu, ignorando o garoto.

Aproveitou a sopa de legumes, mas mesmo tendo gostado da carne de javali preferiu não come-lo todo. O garoto, que até mesmo tinha medo dizer seu nome para Susie, suspirou aliviado quando a mesma terminou o jantar.

— Não vai mesmo me dizer seu nome? - perguntou Susie rindo. – Se pensa que vou enfeitiça-lo já teria feito isso a muito tempo. – Levou a mão a boca com uma expressão teatral. – Ou será que já fiz? Eu sempre esqueço.

Pegou a bandeja da mesa e, com medo de Susie e de seus supostos “poderes”, saiu correndo pelos corredores e escadas do castelo. Susie gargalhou até sua barriga doer e seus olhos lacrimejarem.

Ouvindo a música que ecoava pelo castelo, Susie quis sair do quarto e conversa com doutor Cornelius mas, infelizmente, três guardas foram posto para vigia-la e só permitiria a saída dela quando amanhecesse.

Susie estava deitada na cama lamentando por fica presa no quarto quando a porta se abriu e doutor Cornelius entrou sorridente, carregando alguns livros debaixo do braço.

— Você dorme muito cedo, Susie. – comentou ele, colocando os livros sobre a mesa. – Seu mundo é muito diferente.

— Está enganado, doutor. – sentou na beirada da cama. – Eu costumo dormi muito tarde, mas o senhor sabe, estou presa aqui.

Ele sentou-se na beira da cama bagunçando os cabelos da garota.

— Não se preocupe com isso.

— Sei que vou ter que acostuma com isso se eu quiser sair daqui.

Ele assentiu. Na mesa pegou um dos livros e colocou no colo de Susie.

— Espero que o leia, Susie, é o meu favorito. – doutor Cornelius disse. – Pode ficar com ele.

Susie o olhou a capa e contra-capa e não achou título apenas o cheiro de coisa antiga. Susie se lembrava de todos os livros que Cornelius mostrara na biblioteca, menos aquele. A capa era vermelha e ao passa o dedo no centro da capa sentia alguma coisa que antes o decorava.

— Esse livros é sobre o que? – perguntou curiosa.

— Descobrirá quando o lê-lo.

— Não agora! – gritou Cornelius fechando o livros. – Amanhã, pois ler no escuro faz mal.

Susie colocou o livro ao lado do criado mudo.

— Eu não acredito nisso.

— Deveria acredita. – disse ele. – Ah, e além de tudo deve esconder esse livros de todos.

— Ele sabe sobre os Narnianos né.

— Para sua surpresa, não. Na verdade, esses livros falam de todos que reinaram em Narnia. Sei que vai gosta.

Susie sorriu.

— Obrigado Doutor Cornelius.

Ele levantou pegando o restante dos livros na mesa.

— Eu que agradeço, senhorita, sei que a trompa a enviou para ajudar a nós, os narnianos.

— Você é um narniano? – perguntou surpresa.

O velho não respondeu e saiu do quarto com um sorriso no rosto, aumentando a curiosidade de Susie. Teve que se contenta com aquilo até que amanhecesse e fosse a biblioteca pergunta. Então pensou que se ficasse próxima do doutor Cornelius iriam acha-la inocente.

Desistindo de procura algum lugar seguro para guarda o livro, colocou-o debaixo do travesseiro onde ninguém mexeria.

Quando começou a ventar fechou a janela e acendeu a lareira, foi difícil mas conseguiu, com uns dos archotes que iluminava o quarto. Guardou o vestido e colocou uma camisola, e de dentro do baú tirou um coberto de pele de lobo e deitou, pois dormir pareceu impossível quando começaram a cantar.


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Notas finais do capítulo

Mil beijos para as pessoas que estão acompanhando e fazendo uma autora feliz.=)

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