RONY

Fiquei com raiva de mim mesmo por ter ouvido Harry e ter ficado no dormitório. Me senti completamente inútil e covarde por ficar fora do que estivesse acontecendo no saguão principal. E se Hermione precisasse de mim?

"Idiota", minha consciência ralhou. "Você está falando de Hermione Granger. Ela nunca precisaria da sua ajuda. Você é que sempre precisou dela".

Era verdade. Se não fosse Hermione, eu teria morrido á muito tempo, antes mesmo do segundo ano de Hogwarts. Provavelmente ela e os outros vampirizados deviam estar bem se virando sozinhos.

A porta do dormitório abriu-se com um estrondo. Saltei da cama, com a varinha em punho, mas estaquei quando algo pesado caiu no chão, afrente de Harry e Gina, que vinham logo atrás.

Recuei vários passos ao distinguir o rosto cortado de Alecto Carrow.

Um sibilo violento veio da porta, sendo seguido pela silhueta arisca de Hermione.

Olhei da expressão enfurecida de minha namorada para a Comensal jogada aos meus pés. Por que eles haviam trazido Alecto até mim?

Harry se adiantou, enquanto dava um tapinha no ombro de Hermione para alerta-la - mas alerta-la do quê?

– Hermione achou que você iria querer fazer algo com ela antes de... você sabe.

Hermione parecia constrangida e ao mesmo tempo enojada.

Harry tinha razão. Eu realmente queria ter uma chance de olhar nos olhos da assassina do meu irmão antes dela voltar para o inferno de onde veio.

Harry gesticulou com a varinha em direção a Alecto.

– Enervate!

A Comensal acordou, parecendo desorientada. Quando pousou os olhos nas pessoas presentes na sala, porém, ela abriu um sorriso de desdém.

– Ideia genial, crianças - ela cuspiu; Hermione recuou como se Alecto estivesse jorrando veneno ao nosso redor - vocês conseguiram derrotar um grupinho de Comensais com um bando de pessoas sujas e doentes. Até nós temos mais honra do que isso.

Não pude impedir Hermione de desferir um golpe com as unhas no rosto da mulher. Nem quis impedir.

Gina respirava fundo atrás de Alecto, parecendo tentada a fazer o mesmo que Hermione.

Alecto ainda sorria de um jeito demente.

– Isso foi só o começo - ela continuou - você quer saber por que matei seu irmão? É por isso que ainda estou viva?

O sangue fervia em minhas veias. Eu queria tortura-la, mata-la ali mesmo... e mesmo assim não seria suficiente para apagar aquela dor que começou a me consumir novamente.

Hermione estava sibilando mais alto do que antes; parecia enlouquecida para atacar. Pela primeira vez, vi a sombra de uma fera violenta por trás de seu rosto.

Alecto pareceu ver a resposta em minha expressão.

– Tive que fazer isso, Weasley - Alecto riu - eu tive, por que o objetivo do Lorde das Trevas vale qualquer sacrifício. Ele pode ter partido, mas nós, seus seguidores ainda leais, vamos continuar a nobre tarefa que ele nos destinou. Ainda há centenas de Comensais por aí, apenas aguardando um novo líder ou uma nova oportunidade para atacar. E quando isso acontecer, todos os traidores do sangue e todos os sangues-ruins terão o destino que merecem.

Eu tinha milhares de perguntas que teria gostado de jogar nela. Mas de todas elas, preferi fazer apenas uma.

– E valeu a pena matar e morrer por ele?

Hermione veio ao meu lado, encarando a Comensal com um ódio que me surpreendeu.

Alecto se virou para Hermione; seus olhos transmitiam nada além de desprezo.

– Faria tudo outra vez, Weasley, pode ter certeza. Mas os outros vão fazer por mim, já que não irei sair daqui sem ser amaldiçoada.

Hermione me olhou, sibilando cava vez mais perigosamente, e eu finalmente entendi o por que ela estava tão ansiosa.

Ela queria vingar Fred.

Ao mesmo tempo que isso me provocou gratidão e satisfação, também me fez sentir náuseas. Seria um ato hediondo deixar Hermione provocar uma morte apenas por vingança... mas ela parecia completamente segura do que decidira.

– Não precisa fazer isso - murmurei para que só ela ouvisse - não por mim.

Hermione me encarou, e vi a resposta ao meu comentário em seus olhos.

"Não é por você... é por Fred".

Olhei novamente para Alecto, e , desta vez, sabia o que dizer.

– Não, você vai sair daqui sem ser amaldiçoada. Mas tenho certeza que você vai ter querido morrer assim.

Alecto só observou eu me afastar em direção á porta. Não parecia nem um pouco amedrontada ou arrependida. Assim como qualquer Comensal da Morte, morreria com o orgulho podre de ser uma Comensal.

Gina olhou para nós dois, pasma, entendendo o que eu quis dizer. Ela recuou e saiu do dormitório, seguida por Harry.

Hermione arqueou o corpo como um gato acuando a presa. Senti medo ao perceber a ferocidade e a violência de seu olhar.

Nunca havia visto Hermione assim. Nunca.

Me senti mal ao deixa-la fazer aquilo. Mas ela parecia ter certeza de que queria aquilo.

– Estarei lá fora - falei, olhando para ela.

Ela me retribuiu o olhar. Um olhar quase triste e resignado.

Decidi deixa-la fazer o que achasse melhor. Não senti arrependimento algum no momento que virei as costas.

E não senti pena alguma quando os gritos começaram.