Sangue e Alma escrita por FireboltVioleta


Capítulo 17
Transfusão




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HERMIONE

Tudo parecia tão irreal após acontecer que eu comecei a gostar de fingir que tudo não passara de um pesadelo. A semana da vampirização, milha luta para conservar um tanto de humanidade, os momentos passados na Sala Precisa... nada disso me fez imaginar que eu seria capaz de fazer algo como o que fiz no dormitório da Torre de Grifinória.

Só sei que, no momento que me vi a sós com a assassina do irmão de Rony, a mulher que havia feito todos os Weasleys sofrerem além do imaginável, me entreguei completamente a um instinto que superou facilmente o de vampirizada. Sede, ódio e agonia se misturaram num turbilhão que me jogou para frente.

Tudo passou como num frenesi; eu quase não prestei atenção ao que estava fazendo... não me lembrava de nada.

A única prova do que eu fiz, quando terminei, eram um corpo estraçalhado e o líquido escarlate que cobria minha boca e minhas mãos.

Tão rápido como veio, o turbilhão desapareceu, deixando um vazio imenso em mim.

Eu fiquei sem reação por alguns segundos. Meus olhos ardiam enquanto eu encarava minhas mãos ensanguentadas.

Antes que eu sequer notasse, um soluço se formou em minha garganta.

A sensação de ter matado alguém me dominou por completo. Era esmagador e angustiante.

Mas havia sido justo... havia um motivo para ser feito...

Tinha que ter sido justo...

Balancei a cabeça. Justificado ou não, tinha sido horrível.

"Parabéns", minha consciência me puniu, amargurada. "Agora você é realmente um monstro".

A vampirização nunca foi um dos motivos. Vampirizada ou não, eu teria feito a mesma coisa. Eu teria vingado Fred. Teria vingado o sofrimento da família Weasley.

Mas o sangue que agora estava dentro de mim não era meu.

Me deitei no chão, abraçando meu corpo. Imaginei que a única sensação pior do que a que eu sentia naquele momento era morrer.

A porta do dormitório se abriu de novo. Levantei do chão quando Rony e um dos aurores da guarda entraram.

O auror não se demorou muito; apenas olhou pasmo para o corpo ao canto da cama de Harry, foi até ele, segurou-o e o levou para fora.

Rony trazia uma tigela com água e um pano nas mãos, que colocou no criado-mudo ao lado da cama mais próxima.

Abaixei a cabeça. Não queria que ele me visse. Não queria nem que chegasse perto de mim.

Mas não podia ter ficado mais aliviada quando ele abarcou meu corpo em seus braços.

– Hermione... - a voz dele estava angustiada.

Solucei de novo, indiferente ao que ocorria ao meu redor. Quando percebi, já estava sentada na beira de uma das camas. Rony tentava virar meu rosto para que eu o olhasse. Eu sacudi a cabeça.

– Hermione... por favor... olhe para mim.

Virei para ele, olhando em seus olhos. O que vi ali era uma angústia que eu definitivamente não esperava.

– Eu disse para você não fazer isso - sua voz quebrou na última palavra - falei que não precisava...

As lágrimas estúpidas que lutavam para sair de meus olhos finalmente escorreram.

Ele secou-as com as mãos antes que caíssem.

– Ah, Hermione...

Parecendo alheio ao fato de eu ser uma completa besta assassina coberta de sangue, ele me abraçou. Um abraço apertado, carinhoso, que quase me arrancou mais lágrimas.

Ele não fazia ideia do como eu precisava daquilo.

Quando me soltou, ele pegou o pano que havia trazido e encharcou-o na tigela. Antes que eu pudesse impedi-lo, Rony já estava limpando meu rosto.

"Pare", tentei lhe dizer. "Me limpar fisicamente não vai fazer o mesmo na minha consciência".

Rony levantou meu queixo para limpar meu pescoço - ou para olhar nos meus olhos, já que também fez isso.

– Você não é um monstro, Hermione - ele falou com firmeza - podia ter feito isso mais mil vezes, que ainda não seria um monstro. Você defendeu o castelo com apenas vinte e nove pessoas para te ajudar. Salvou praticamente duzentas vidas. Fez justiça a todas as famílias aqui. Vingou meu irmão.

Ele tinha razão. Se eu não tivesse feito aquilo, quem mais faria? Os feridos na Ala Hospitalar? Ou aqueles que estavam ali apenas para chorar seus mortos e visitar seus entes queridos?

Eu estava convicta de que tinha feito o que era certo.

Só que aquilo doía.

Rony agora estava limpando minhas mãos, sem tirar os olhos de mim nem um segundo.

– Está com sede?

Arregalei os olhos. Percebi que ele evitou perguntar "ainda está com sede?". Tinha certeza que Rony sabia que eu não havia simplesmente matado Alecto.

Neguei com a cabeça. Como eu podia sentir alguma coisa depois daquilo?

Assim que terminou de me limpar, Rony puxou meu corpo para seu colo. Fiquei tão chocada com aquela intimidade toda que, pelo menos por um momento, aquela angústia que me dominava sumiu por completo.

Minha expressão surpresa pareceu diverti-lo, pois ele sorriu levemente.

– Você foi nada menos no que fantástica, Hermione. Não podia me sentir mais grato pelo que fez por mim... por todos nós.

Ele riu um pouco quando olhei para baixo com uma expressão indagativa.

– O que foi? Só queria agradar um pouco minha namorada...

Agradar? Pombas, o que será que Rony estava tramando?

Minha pergunta foi respondida quando ele jogou meu corpo delicadamente na cama, segurando meus pulsos, como havia feito na Sala Precisa.

Não pude me livrar do beijo apaixonado que ele despejou em minha boca. Nem quis me livrar, no fim das contas.

Não me importei quando seus braços enlaçaram minha cintura, nem quando seu corpo prensou o meu contra o colchão. Minhas pernas pareciam ter vontade própria, pois se amarraram nas de Rony antes mesmo que eu percebesse. As sensações em meu corpo dividido me deixavam completamente perdida dentro de mim mesma. Os sibilos que passavam por meus lábios já não eram mais de uma vampirizada. Mas o beijo que eu retribuía nos lábios de Rony não era nem um pouco humano.

Nós percebemos o limite ao mesmo tempo. Rony recuou até cair no travesseiro, arfando. Eu me encolhi, sentindo meu corpo trêmulo e constrangedoramente quente.

– Caramba... - ele gemeu, parecendo envergonhado - desculpa, Hermione, eu... eu não quis... você sabe, eu não quis... perdi o controle.

Sua expressão arrependida e constrangida era tão linda e engraçada que não pude refrear uma risada insana em meio àquela situação bizarra.

Rony fez coro aos meus risos, pousando a cabeça no braço.

"Eu também perdi completamente o controle, seu bobão", pensei, Olhando para meu namorado.

Só Rony era capaz de ter me tirado no fundo do poço que eu me encontrava á minutos atrás. Só ele podia ter acalmado o sofrimento que me consumia e ter limpado um pouco minha mente.

Sim, valera a pena sacrificar um pouco da minha consciência e bom senso para honrar a memória de Fred. Valera a pena diminuir a dor de Rony, mesmo que isso tenha significado fazer nascer uma nova dor em mim.

Deitei na cama, me aninhando em seu corpo. Rony arregalou os olhos, mas não disse nada. Apenas abraçou meu corpo, me observando atentamente.

Senti uma moleza gostosa tomar conta de mim, e, antes que me desse conta, adormeci nos braços dele, pensando que o dia seguinte talvez traria uma nova alvorada em minha vida.


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