Tríplice escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 1
Intenções reais


Notas iniciais do capítulo

Lá vai o primeiro capítulo... =)



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Capítulo 1

Natalie

As três irmãs, sentadas lado a lado, se entreolharam preocupadas. A primeira, mais velha, Natalie, fingia ler um livro. Ora ou outra encarava a janela, onde conseguia ver o pôr do sol e boa parte do campo extenso, que perdia de vista. Tudo aquilo era propriedade de sua família. E boa parte servia para pagar seu dote e de suas irmãs. Era daquilo que se tratava a reunião a portas fechadas que o pai tinha nesse momento.

Natalie, por sua vez, cansou de esperar. Ficando de pé, encarou Anna, a irmã mais nova que se dedicava a um bordado delicado em uma grande toalha de mesa. Apesar de ter uma diferença drástica de cinco anos de idade, as duas eram grandes amigas. E se comunicavam pelo olhar. Era diferente com Agnes, a irmã do meio. Que sempre calada, olhava para um ponto indistinto no teto.

— Eles poderiam fingir que não é do nosso destino que tanto conversam... — Natalie disse, fazendo com que as irmãs lhe encarassem — Como vocês aguentam ficar sentadas aí, sem se quer ter curiosidade com a decisão final de nosso pai?

As meninas não a responderam, o que de inicio causou uma breve irritação a Natalie, depois ela percebeu o motivo. Atrás de si, estava sua madrasta, dois anos mais nova que ela. A mulher tinha seu sorriso cínico no rosto e se abanava com um leque. Arrastou seu vestido preto de cetim pela sala e sentou em frente para as duas irmãs. Natalie segurou o ar e encarou a jovem mulher a sua frente. Era magra demais, esguia e muito diferente da sua mãe. Tinha cabelos ruivos e a pele tão alva quanto à neve. Os olhos azuis profundos, de toda forma, era muito bela. Natalie imaginava como uma mulher tão jovem e cheia de vida aceitara se casar com um homem velho, a beira da morte. A única resposta que encontrava era: por dinheiro.

As irmãs tinham uma péssima convivência com a madrasta e desconfiavam que a mesma traísse seu pai. Era por isso que Mary não as queria por perto, dando a ideia para o marido de casar suas filhas. Sendo ela mesma anos mais novos que a mais velha, e tendo uma diferença de três anos da mais nova, julgou que não era adequado ter filhas na flor da idade em casa. Sebastian, o pai, não havia concordado no início, mas Mary estava ali, dia a dia, adiantando o que era inevitável: o casamento das filhas.

Era isso que o pai fazia agora. Estava tendo uma reunião com um dos ministros do Rei, o qual tinha a poucos anos atrás, proposto casamento para a sua filha mais velha, na época o pai, até então viúvo, ouviu o desejo da filha que não pensava em se casar. No auge dos seus dezessete anos, Natalie estava mais entusiasmada com as aulas de canto ao dividir a vida com um homem. Mas agora, mais velha e madura, sabia que não podia negar. Se for o que seu pai quer, um casamento arranjado e sem amor, nada podia fazer. Era como se estivesse sendo vendida. No fundo, lembrava-se das palavras da mãe: “querida, nenhum casamento é perfeito. O amor vem com o tempo”.

Interrompeu seus pensamentos quando os senhores deixaram o escritório do pai. As damas se colocaram de pé em automático, Natalie se viu dando a mão para as irmãs, que estavam aflitas por ela. Casar Natalie seria só o começo. Logo, sabendo que a mais velha dos Ratcliff estava casada, apareceriam pretendentes para desposar as mais jovens.

Anna encarou o homem sorridente ao lado do pai, o pretendente de Natalie era agradável aos olhos. Tinha os cabelos caídos pelo rosto, lisos e castanhos. A barba por fazer, olhos da cor de seus cabelos. Vestia-se como um nobre inglês, era atraente. Mas os olhos estavam vazios. Apesar de sorrir, no fundo, sua áurea era fria e sombria. As irmãs compartilharam um olhar cheio de significados. Ambas temeram uma pela outra.

— Esse é o Sr. Howard, ministro do Rei e duque de Norfolk — As meninas o cumprimentaram com um breve aceno com a cabeça e uma leve reverencia — Essas são minhas filhas. Como o senhor já conhece, e essa é minha bela Natalie.

Natalie sorriu para o pai, havia mais do que medo em sua expressão. O pai estendeu a mão para a filha mais velha, que mesmo temendo, deu alguns passos em direção ao homem mais velho, até que pudesse colocar a frágil mão em cima da grossa mão, cheia de calos. Ela estremeceu um pouco o sentir o olhar intimidador do jovem duque. Muito jovem, para muito poder. Primeiro ministro do Rei. Duque e dono de uma pequena fortuna invejável. Ele se julgava um homem de sorte, havia herdado título, dinheiro e respeito. Tudo que lhe faltara era uma esposa. Mas não qualquer esposa, deveria ser a mais bonita. Mais bonita que a própria rainha da Inglaterra – que até então, não tinha uma. Devida a recente morte do Rei Henrique I, e atual coroação do filho, que ainda não havia desposado uma mulher.

— A mais bela — Sr. Howard disse, em voz baixa, para que as outras não ouvissem. Natalie se arrepiou por inteiro, fazendo seu estomago embrulhar. Odiando a sensação de medo e pavor que os olhos do duque lhe causavam.

— Essas são Anna e Agnes... — Até o pai ignorou o comentário do duque, soltou a mão da filha e caminhou até a esposa, que parecia impaciente — E claro, minha esposa Mary.

O duque beijou as costas da mão de Natalie e sorriu, não era um sorriso doce. Era malicioso e pretensioso. A seguir, ele encarou as outras mulheres da sala, sorrindo genuinamente.

— É prazer conhece-las, senhoritas — Disse com uma voz de anjo, que na verdade não transparecia nenhuma segurança.

Natalie, desconfortável, caminhou de volta para perto das irmãs, deixando o duque sozinho. A expressão que ele fizera demonstrou que não gostou do ato, ela nem se quer percebeu. Não estava acostumada e ficar tão próxima de homens. Sabia que aquilo poderia arruinar sua reputação. E o pai, até então, não havia dito nada sobre o que conversaram a portas fechadas.

— Natalie, o duque gostaria de lhe fazer a corte — O pai fora direto, Natalie sentiu o rosto queimar automaticamente, ponderando seu olhar com o pai e o próprio homem que agora, havia se aproximado, estando quase ao seu lado.

— Se isso for do seu gosto... — Ele sussurrou como se realmente se importasse com o que ela pensava.

Natalie encarou seus próprios pés, quase fritando com o silêncio na sala. Encarou Mary quando levantou o rosto. A madrasta parecia estar furiosa, o que a quase a fez rir. Era inveja, seu rosto dizia isso. Havia um homem bonito na sala querendo desposar alguém e não era ela. Isso a matava.

— Natalie? — O pai a chamou, então ela percebeu que havia ficado tempo em silêncio.

— Ah... É claro, Sr. Howard.

Depois dessa frase, o mundo pareceu desabar lentamente sobre sua cabeça, o homem pareceu ganhar um prêmio muito importante. O pai explodiu em comemorações, aperto de mãos e as irmãs a abraçaram, não por felicidade, mas por algum tipo de compaixão. A família brindou com espumante, e Natalie fingiu que não estava indo para a guilhotina. Ouviu enquanto o pretendente protelava sobre sua família e a vida no palácio, onde ela viveria caso realmente se casasse com ele.

O duque de Norfolk deixou a casa da família Ratcliff após deixar o convite para o baile real. O baile de comemoração a coração do Rei, onde só as nobres famílias estariam... Essa seria a primeira aparição de sua família em um evento real e aquilo só estava acontecendo graças a ela. Seu pai praticamente estava beijando o chão que ela pisava.

Quando anoiteceu, Natalie e suas irmãs foram se deitar, na expectativa para os preparativos do baile. Precisaria ir à cidade, no ateliê de sua costureira favorita encomendar um novo vestido e certamente, procurar um novo colar. Poderia usar as joias deixadas pela mãe, mas essas gostaria que Anna usasse em seu casamento. Das três, Anna tinha os mesmos traços da mãe.

— Você está bem? — Agnes perguntou, após se trocar e encarar Natalie pentear os cabelos deliberadamente.

— Estou — Disse, sorrindo falsamente para a irmã — Não é um sacrifício muito grande. Ele é charmoso.

— Se você fosse qualquer outra pessoa, eu acreditaria nisso — Agnes respondeu, encarando a irmã pelo espelho da penteadeira — Ele é bonito sim. E prepotente, asqueroso, cínico. Capaz de qualquer coisa. E você... Um cordeirinho assustado.

— Agnes! — Anna ralhou, já deitada em sua cama. Natalie deixou sua escova de cerdas macias na penteadeira e se virou para a irmã — Eu sei que estou falando como a Mary.

— Sim — Natalie disse, a irmã soltou a respiração que prendia — Você conseguiu detectar tudo isso só com um olhar?

As três riram, Agnes assentiu. Natalie reparou a irmã, que parecia com seu pai. Ela era bem alta, a mais alta de todas. Com belas curvas, cabelos loiros e olhos cinza. Tinha um sorriso bonito, apesar de quase nunca usá-lo. Preferia tocar piano, em silêncio. Natalie tentou imaginar como seria a irmã casada. Não conseguia, Agnes já havia dito um monte de vezes que não tinha interesses em marido ou filhos. E agora, bom, agora as três precisavam desenvolver esses interesses ou seria bem pior.

— Quero pensar que você pode nos conseguir maridos melhores — Anna disse, chamando atenção das irmãs — Quer dizer, papai não vai nos obrigar a casar tão rápido assim, certo?

— Não se iluda — Natalie disse — Não é o papai que nos quer longe. Você sabe.

— Aquela cobra é capaz de casar todas nós no mesmo dia — Agnes disse, indo para sua cama. Natalie assentiu concordando, deitando-se na cama do meio.

— Nós vamos ao baile real! — Sonhou Anna, fechou seus olhos e deixou que eles a levassem a outra dimensão. Com príncipes lhe cortejando.

Depois disso, Natalie observou as irmãs caírem em seu sono, mas continuou acordada. Piscando lentamente, deixando sua mente descansar, tentando não pensar em nada. Mesmo que tudo a levasse ao duque... Quando ele deixou sua casa, descobriu que o nome era Edward. Que seus pais haviam morrido recentemente, e ele tinha uma irmã, que era amante do Rei falecido. A mulher só não fora expulsa da corte devida a sua família rica. Ao que o pai lhe contara, o duque Howard é um grande amigo do Rei Henry e por isso foi nomeado seu primeiro ministro. Homem de confiança do Rei.


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Notas finais do capítulo

Apesar de ser uma fic de época, não exagerei na linguagem. Uma: eu realmente não sei fazer isso (desculpem). Duas: acabo ficando cansada de tentar rebuscar tudo, sendo que algumas pessoas acham um saco. Enfim, eu espero que alguém goste e comente! Aguardarei, beeeijos doce.



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