Stay escrita por With


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Mais um capítulo, agora mostrando um pouquinho da nova fase da vida de House.
Espero que gostem.
Boa leitura!



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Stay

Capítulo 6

— Vai, rebate! — Evan gritou para o jogador, eufórico, como se diante todo o alvoroço ele pudesse lhe ouvir.

E House apenas observava a atitude do filho, debochado. O garoto havia crescido nesses últimos meses, porém vê-lo na ponta dos pés para visualizar a partida de beisebol tinha sua gratificação.

— Papai, eu não consigo ver direito!

— Cresça mais rápido, então. — House sabia muito bem aonde Evan queria chegar, por isso tratava de desconversar.

— Isso não é justo! Me deixe subir nos seus ombros. — O garoto encarou firmemente o pai, mostrando que aquele pedido era de suma importância. Seu time estava jogando e ele perdia cada movimento.

— Não, a sua mãe anda te mimando demais.

Então, vários minutos se passaram até finalmente os intervalos. Evan tinha a expressão fechada, recusando todos os lanches. Custava o pai ter lhe dado apoio para ver a partida? Ele ainda não se acostumara com House, com o jeito indiferente dele, então aquilo tudo o chateava. Se fosse Bárbara, ela teria o colocado nos ombros e ainda torceria com ele, nos lábios um belo e largo sorriso.

Há seis meses que House se juntara a rotina de Bárbara e Evan e ele ainda se pegava desconfortável quando o filho o chamava de pai. Antes disso ele não precisava se preocupar com passeios, dia da carreira ou simplesmente passar o dia fora de casa, e talvez House tivesse sido dominado por outra pessoa quando disse sim àquela vida. Não que namorasse Barbara, eles não comentaram sobre isso, entretanto a situação atingira proporções tão grandes que era comum se acordasse num dos quartos da casa dela ou tivesse Evan e sua perna teimosa transpassando sua cintura. Não, ele não se via perante aquela convivência. Era forçá-lo demais.

Ao final da partida os dois se encaminhavam ao estacionamento e apesar de House segurar a mão de Evan, o calor do menino estava diferente. O aperto era frouxo, como se a qualquer momento fosse o largar e sair correndo e perdê-lo de vista. Só de imaginar tal suposição ele se sentiu nervoso, apertando mais o contato.

Evan olhava para o chão, chateado. No segundo tempo ele já não estava mais interessado no jogo de beisebol e passava pela sua cabeça que talvez aquele final de semana devesse passar com a mãe. Teve ímpetos de sugerir, contudo House foi mais ágil:

— Você quer voltar para casa?

— Eu acho que sim. — O garoto mais murmurou do que disse claramente. — Papai parece cansado, então eu posso ficar com a mamãe.

E como crianças poderiam ser persuasivas quando queriam, eram quase demônios disfarçados! Muitos motivos para House nunca ter se imaginado como pai fora justamente por não saber o ser, por saber que carinhas tristes jamais o afetariam, por saber que ser flexível não contava com sua personalidade. E, mais uma vez, estava incomodado.

— Então você quer me deixar sozinho? É, se eu estivesse em seu lugar não ficaria feliz tendo a mim como companhia.

— Isso não é bom, ? — Evan elevou o olhar, deparando-se com a mesma expressão de House: Nunca voltada para ele. — Desculpa, pode me levar para casa?

— Tudo bem.

E dirigir perante a aura pesada fora uma tarefa um tanto difícil, afinal assim que estacionou em frente a casa Evan abrira a porta do carro e correu como se alguém o estivesse perseguindo. Ele tinha certeza que aquilo não daria certo. Logo Bárbara veio ter com ele, não entendendo o que acontecia.

— É mimo de criança, vai passar. — House disse assim que os olhos acastanhados da mulher recaíram sobre ele.

— Não me parece mimo, eu conheço meu filho. Alguma coisa o deixou muito magoado. Eu vou ter que apelar ou vai me dizer? — Bárbara encostou-se ao carro, os braços cruzados em sinal de que não sairia até que ele lhe contasse.

— É tão importante assim assistir um jogo nos ombros de alguém? — O medico rebateu, realmente achando aquele motivo absurdo. — Crianças são estranhas...

— Evan só quer ficar perto de você, Greg. Quer sentir que está com ele, que gosta dele. — Bárbara olhou para a janela no segundo andar, vendo a cortina balançar. — Ele disse que quer ficar.

— Não faz mal, eu já estou cansado de brincar. — House fez menção em se afastar, porém ela segurou-lhe o casaco.

— Então por que disse que estaria por perto? — O tom que ela usava impressionou House: Certeiro e incriminativo, protegendo o ser que era importante para ela. — Ele acreditou que você seria um pai como todos os outros.

— Evan não tem mais idade para fantasias. — Ele se desvencilhou, começando a se irritar.

— Evan tem cinco anos e te adora, ele está errado em querer o pai dele? — Bárbara suspirou derrotada. — Tudo bem, eu entendo. Mas se for mesmo cair fora diga de uma vez, Greg. Não o iluda.

O médico nada replicou, apenas devolveu a mochila do menino a Bárbara, entrou no carro e deu a partida.

Frustrada, Bárbara adentrou a casa e deixou o ar sair devagar. Justo quando faltavam apenas dois dias para o aniversario de Evan, House se mandava? Assim, sem explicar nada? Ela deveria ter sabido que seria complicado e talvez devessem voltar a ser apenas os dois, como sempre fora. Todavia Bárbara não conseguia aceitar aquela atitude covarde de House, ela precisava de uma resposta concreta e mais ainda definitiva. Não queria ver aquela expressão triste no rosto do filho, e muito menos saber que o culpado fora House.

— Ele já foi? — A voz de Evan a despertou, e o garoto se aproximava sorrateiramente como se a qualquer momento pudesse ver o pai. Evan o adorava, fato incontestável, mas também sentia que a sua presença o desagradava. Ele poderia ser muito jovem, porém reconhecia quando não era bem vindo.

— Já sim, amor. — Bárbara afagou os cabelos dele. — Tudo bem?

— O papai não gosta de mim. — Os olhos azuis marejaram e o aperto no coração de Bárbara a desconfortou. — Eu fiz algo de errado?

Comovida, ela sentou-se com Evan no sofá, limpando as lágrimas que caíam tristes. Os braços infantis a abraçaram fortes, buscando refúgio.

— Eu pensei que seria divertido, mamãe, mas é bem melhor só a gente. Pelo menos eu sei que você me ama.

E o que dizer diante daquela confissão? Nada, por que Bárbara não fazia à mínima ideia do que Evan gostaria de ouvir. Na verdade, a pessoa que ele desejava que estivesse ali havia o abandonado sem ao menos lhe dizer o motivo. Ela sentia que os braços que a apertavam naquele momento queriam se envolver em House. E, por Deus, como os soluços pesados lhe tiravam o ar.

Não fora difícil colocá-lo na cama, após o banho Evan se sentia tão cansado que dormiu rapidamente. E o semblante carregado ainda imperava nas feições dele. Cuidadosamente Bárbara fechou a porta do quarto e rumou para sala. Não importava onde House estivesse, ele iria atendê-la.

(...)

Seus pés a levaram muito mais rápido do que Bárbara poderia aguentar. Antes de sair ligara para a casa de House, não obtendo qualquer resposta. Então, teimosa como era, ela dirigira-se para a casa de James Wilson. E a satisfazia conhecê-lo, encontrá-lo nunca foi uma tarefa difícil para ela, afinal tivera muito tempo para aprender sobre o médico. Com urgência bateu na porta e, como a demora se mostrava insuportável, ela também usou a voz.

— Ou você sai para me atender ou derrubo essa maldita porta! Eu sei que você esta aí, infeliz!

Então Wilson apareceu altamente constrangido, o olhar clamando piedade. Entretanto Bárbara não gastou tempo com palavras e adentrou ao apartamento, deparando-se com House sentado despojado no sofá. E como ela estava irritada naquele momento.

— Sua mãe não te deu educação? — House importunou e sua surpresa foi grande quando a mão de Bárbara estapeou-lhe o rosto.

— Você é um maldito, eu deveria matá-lo agora! E você também! — Ela apontou para o oncologista. — Como pode ser tão cruel? Ah, mas é muito chato mesmo fingir se importar, não é? Chute o balde, ninguém se incomoda! Errado! E justo agora, meu Deus, eu não deveria estar surpresa. Mas você é o culpado por meu filho ter chorado, você não merece, House. Vai pedir desculpas a ele e esquecer que ele existe, combinado?

Agora ela se sentia muito melhor, enquanto House ainda processava cada palavra embaralhada que ela dissera. Wilson apenas observava, achando melhor não se envolver e refugiou apartamento no quarto antes que fosse notado.

— Eu não pedi por nada disso. — House proferiu pondo-se de pé. — Eu não tenho culpa se nada saiu como os planos. Sempre disse que não daria certo e, se quer saber, nada disso importa.

— Importa sim. Você o fez pensar que não o ama, o fez preferir ficar o final de semana comigo do que com você, o fez se sentir mal. Até que ponto chega a sua frieza? Ele simplesmente está te evitando agora.

— O que quer de mim? — House elevou o tom de voz, nervoso. — Que eu me ajoelhe e peça perdão? Se não pode conviver comigo não tem motivos para tentar. Acha que vai me mudar só com isso? Cresça, Bárbara, e deixe o garoto longe de mim. É melhor para todos nós.

— Não... Quer dizer que esse é o caminho mais fácil para você. — Bárbara não conseguia digerir tudo que House havia jogado sobre ela. Em como ele poderia ser insensível ao ponto do próprio filho querer distância. — Você tem medo de se envolver e gostar, tem medo de se sentir parte de alguma coisa, tem medo de descobrir que pode amar alguém além de você. Mas esse é Gregory House, certo? — Ela sorriu triste, pensando em como Evan iria se sentir. — Evan pode ser apenas uma criança, mas ele não vai te esperar para sempre. O aniversário dele será em dois dias, demonstre a sua resposta.

Então, como o esperado, a casa de Bárbara estava enfeitada por balões, músicas infantis e muitas crianças que ela mal conseguia contar enquanto as servia com pipoca e algodão doce. Evan aparentava se divertir, sempre alegre e sorrindo, porém ela percebeu que os olhos azuis e incansáveis buscavam aquele que faltava: Gregory House. E como doía em Bárbara ter a confirmação do que propora ao médico. Em um dado momento, Evan a olhou e deu de ombros, como se já esperasse que o pai não viesse e ela, por sua vez, apenas sorriu acompanhada de um leve levantar de sobrancelhas. Talvez o filho não chorasse mais tarde pela falta do pai, entretanto ela tratou de se preparar caso isso acontecesse.

— Ele não veio, mamãe. — A voz de Evan invadiu seus ouvidos, e por mais que o menino se esforçasse para não deixar uma lágrima cair, Bárbara sabia que ele não aguentaria muito. — Então, é só a gente de novo?

— Eu sinto muito, querido. — Ela se ajoelhou na frente do filho, igualando-se a sua altura, e afagou-lhe os cabelos. — Sei que queria que seu pai estivesse aqui, mas ele não é o tipo de pessoa sociável. — E olhe só para Bárbara, defendendo Greg quando na verdade deveria ressaltar o quão falho ele era, contudo lhe pareceu errado contar os fatos como eles realmente eram. Evan era uma criança e merecia o direito de continuar buscando o carinho do pai sem que sua imagem fosse manchada. — Seus amigos estão esperando por você.

Evan apenas assentiu, indo ter com os colegas da escola. E como era irritante vê-los perguntar por seu pai e ter que mudar de assunto. No final, ele acabou se distanciando e sentou-se atrás dos balões, a grama verde e bem aparada servindo-lhe de apoio. Onde foi que errara? Por que House não viera ou simplesmente ligara para lhe desejar feliz aniversário? Será que ele valia tão pouco assim para o médico? Realmente deprimente sua situação. Questionou-se se deveria ter aceitado o pai. Estava tão feliz por conhecê-lo, satisfeito em ver como se parecia com House... Agora tais semelhanças não importavam mais.

O menino fungou, limpando com as costas das mãos as lágrimas que escorriam livres por seu rosto, agora vermelho. Mesmo aparentando estar tudo bem, não se sentia exatamente assim, afinal a mágoa crescia dentro dele a cada minuto e Evan não queria preocupar a mãe logo agora. Logo hoje que ela tivera tanto trabalho para organizar a sua festa de aniversário.

Quando a festa se engatinhou para o fim, Evan agradeceu os presentes e presenças sempre educado e, invés de fechar a porta quando o último convidado saíra, permaneceu com os olhos voltados para a rua, esperando ver a silhueta alta. Entretanto, a rua lhe respondeu vazia. Convencido da verdade, Evan adentrou a casa e sentou-se no sofá. Bárbara estava no segundo andar preparando a cama, portanto ele poderia abater aquela tristeza sozinho.

— Evan? — Bárbara o chamou no alto da escada, vendo que o menino não lhe correspondeu. As pernas infantis se agitavam com certa impaciência e ela só teve ciência do que acontecia quando se aproximou o bastante para ver os olhos vermelhos e inchados.

— Obrigado pela festa, mamãe. Eu adorei. — A voz rouca pelo choro, incapaz de se manter impassível. — Posso dormir com você hoje?

Bárbara fez menção em responder, porém a campainha limitou sua ação ecoando pela casa. Ela caminhou devagar até a porta e a abriu, surpresa o bastante por se deparar com House ali. Nas mãos ele trazia uma caixa grande, embrulhada em papel azul-claro e uma fita amarela, dando o toque final.

Evan foi o segundo a se surpreender, contudo ele não queria falar com o pai agora, por isso se levantou e seguiu escada a cima, rejeitando-o. Não lhe interessava a desculpa que ele daria daquela vez.

— Eu acho que você chegou um pouco atrasado, Greg. — Bárbara proferiu, um leve tom de raiva impregnando cada palavra. — Péssima hora.

— Só vim trazer isso. — Ele estendeu o presente, indeciso.

— Não se espante se vê-lo na lata do lixo, Evan está muito chateado com você. Uma simples ligação mudaria o dia dele.

— Eu sei.

— Sabe mesmo?

— É por isso que estou aqui. — House apoiou o peso do corpo na outra perna. — Eu disse que ser pai não é tarefa para mim, pode não parecer, mas estou tentando.

— Está pedindo desculpas com a pessoa errada. — Bárbara deu-lhe as costas, levando o presente consigo. Antes de sumir pelo corredor, ela disse: — Segunda porta a direita.

Após todas as verdades que Bárbara jogara em sua cara dois dias atrás, Gregory House tivera um dia repleto de pensamentos de automutilação, o que não era de seu feitio comparado a sua personalidade naturalmente rude. Entretanto, se agisse como vinha fazendo, distanciando-se do filho, não estaria sendo como o homem que ele mais detestava na vida? James Wilson também tinha uma parcela de culpa por ele estar ali, agora subindo as escadas com um pouco de dificuldade, porém House esperava que valesse a pena.

Abrindo a porta indicada com cautela, seus olhos captaram a imagem do filho. Imóvel e pensativo, Evan não fez a menor questão de saber quem invadia seu espaço. O colchão cedeu com o peso de House, que a princípio não falou nada, apenas avaliou o menino. Dependia da reação dele para decidir por onde começaria primeiro.

— Sei que eu não sou o pai que você sempre sonhou, mas me dê outra chance. — O médico disse com tamanha sinceridade que se surpreendeu. — Não prometo passeios divertidos logo de cara, até porque eu não sou tão legal, ou sorrisos e abraços porque eu não sei como fazer isso, mas você pode me ensinar.

— Por quê? — Na penumbra do quarto, Evan virou o rosto para encarar House, que mantinha a atenção nos movimentos ritmados que fazia com a bengala. Será que o pai nunca o olharia diretamente?

House pensou alguns segundos antes de responder:

— Porque, de alguma forma, você é um pirralho importante para mim. — E em toda sua vida, essa foi a primeira vez que o médico aprovou sua sinceridade.

— Meu nome é Evan. — O semblante do menino se contorceu em uma careta. Mesmo irritado, Evan colocou-se de joelhos sobre o colchão e diminuiu a distância entre ele e o pai, logo enlaçando confortavelmente o pescoço de House e o apertou, como se dissesse que o aceitava novamente. — Isso foi um abraço. Viu, não é tão difícil. Agora é a sua vez. — Ele se pôs na frente de House, esperando que ele o retribuísse o afeto.

O corpo pequeno encaixou-se perfeitamente em seus braços e House não precisava olhar para saber que o menino sorria. A cabeça do filho deitada em seu ombro enquanto os braços novamente o apertavam com carinho. Ainda tinha um longo caminho a percorrer antes que aquele gesto se tornasse algo natural, entretanto ao menos o primeiro passo ele dera.

— Feliz aniversário, Evan.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenham gostado.
Dúvidas, sugestões, críticas construtivas... Tudo será bem vindo.
Beijos!