Stay escrita por With


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Trago mais um capítulo, que particularmente é o meu preferido. Aqui desvendamos a doença de Evan, qualquer dúvida é só perguntar.
Espero que gostem.
Boa leitura!



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Stay

Capítulo 5

— Não vou assinar, Greg! — Bárbara travava uma disputa com o medico: A sensatez perdendo miseravelmente para o dever. — É crueldade, não posso induzi-lo ao coma para que vocês brinquem de caça ao tesouro nele. É demais até para você.

— Sabe que já fiz coisas piores, isso não é nada. E tecnicamente ele estaria apenas sedado. — E mais uma vez House indicou o papel e a caneta a ela. Tudo que ele queria era que Bárbara fosse racional e o deixasse trabalhar. — Assine, arriscar aqui é mais fácil do que escolher a cor do caixão.

— Como... — Os olhos castanhos marejaram em frustração ao notar que Evan não passava de mais um paciente, um quebra-cabeça a ser remontado. — Como pode dizer isso sem o mínimo de empatia? Se não sabe Evan também é seu filho, pelo menos finja se importar um pouco.

— Como posso me esquecer se me lembra a todo o momento? — House suspirou. Não havia sentido continuar com aquele cabo de guerra, afinal Bárbara não cederia. O que dificultaria sua liberdade. A preocupação cegava-a, disso ela sabia, então ele não poderia esperar que ela decidisse alguma coisa racionalmente. Ele iria tomar proveito da situação. — Muito bem. — Rápido e sem avisar, House assinou a autorização. — Como você disse, ele é meu filho, então também posso tomar decisões.

— Não! — Bárbara gritou, impedindo-o de sair antes que ela terminasse. — Você nem o reconhece, nunca o chamou pelo nome e agora acha que pode reivindicar seus direitos como pai? Não tem autonomia para isso, é insano, descabido!

— Não me importa o que você acha, Bárbara. — O medico ranzinza ralhou autoritário, instigando a curiosidade dos espectadores. — Eu sou o médico e decido o que é melhor para ele, contente-se com a ideia de que eu posso salvá-lo e que logo voltará para sua vidinha sem graça e amarga.

Bárbara encarou-o surpresa, as lágrimas percorrendo livremente o seu rosto. Ela já não reconhecia Gregory House, na verdade ela não tinha certeza se o conheceu algum dia. Os anos foram ainda mais amargos com ele, a dor dele tornara-se insuportável ao ponto de que ferir e magoar alguém o acalentava. Não relevando a quem fosse, contando que o fizesse se sentir bem. E ainda assim Bárbara não conseguia trancafiar o que sentia.

— Você é o único amargo aqui, House. — Ela substituiu o apelido que ele lhe dera à liberdade de usar. — Não faz ideia de como soa infeliz menosprezando alguém. Mas fique sabendo que não tocará em Evan.

— Acha que vai me impedir? — O medico sorriu, altivo. — Tudo bem, a escolha é sua. Mas não venha chorar depois dizendo que eu não avisei. — Ele virou para sua equipe. — Façam punção lombar e testem a medula para tudo.

Ignorada, Bárbara começou a perder a concentração. Ele não mudara em nada e tratava Evan com tanta indiferença que chegava a lhe causar dor e muita raiva. A única vez que o viu demonstrando alguma coisa foi há cinco anos, quando fizeram amor. E como desejava que aquele Greg lhe apresentasse uma solução mais fácil, porque mesmo não admitindo sabia que era necessário para salvar o filho. Secou as lágrimas, já se mostrara fraca o suficiente na frente de House.

— Desde a época da residência, é a primeira vez que você me chama de House.

— Eu pensava que era uma forma de afeto, mas me enganei. Nunca foi.

— Aquela noite, se me lembro bem, tivemos bastante afeto pelo outro. — Ele alfinetou, sabendo cutucar a ferida. — Não finja que está arrependida.

— Se não tivéssemos trocado afeto Evan não teria nascido e eu seria infeliz. Ele é a única coisa da qual não me arrependo.

— Ei, eu tenho sentimentos, sabia? — House fingiu mágoa, levando na brincadeira. — Podemos repetir a dose, assim você se redime por isso.

— Por quê? Eu não me sinto culpada. — Bárbara retribuiu o sorriso, porém com uma parcela maior de escárnio. — Você tem vinte e quatro horas para descobrir o que meu filho tem, House.

— Me chame de Greg. — Ele pediu antes que ela o deixasse no corredor sozinho. — Você diz meu sobrenome de forma agressiva, e agressividade não combina com você.

— O que está fazendo? — Ela virou para ele, tentando captar qualquer brilho diferente nos olhos dele.

House refreou as palavras, logo caminhando na direção oposta a dela. Ele não precisava responder aquilo, afinal seria perda de tempo. Aquela época em que ela era sua subordinada as coisas eram mais fáceis, naturais. Um sempre tirava sarro da cara do outro como bons amigos, almoçavam juntos e conversavam no mesmo nível porque Bárbara sabia rebater-lhe a acidez.

E agora aquela naturalidade havia sumido e ele não sabia como lidar com a nova Bárbara. Ela poderia ter acertado quando o chamara de infeliz, afinal ela o conhecia, contudo House sempre empregava motivos em suas ações por menores que fossem. Estava empenhado em descobrir a doença de Evan, não importassem os meios. Todavia ela achava que ele estava sendo indiferente e ele não tinha a mínima intenção de fazê-la mudar de ideia.

— Você provoca todo mundo, mas nunca te vi com essa cara, House. — O oncologista comentou, enquanto era obrigado a dar atenção aos seus relatórios. — Alguém está começando a atravessar a Muralha da China. Quer dizer, a sua muralha.

— É câncer? — House ignorou a piada, interrogando sobre os exames que mandara fazer em Evan. Os exames de sangue acusaram leves infecções, nada com que devesse se preocupar, porém ainda assim ele queria descartas suposições.

Wilson analisou as chapas com o auxílio da luz.

— Não. Não há nada de errado com o cérebro do seu filho. Como foi que tudo aconteceu? — Ele se rendeu a curiosidade, pois House nunca comentara sobre nada. Estava sendo um pouco complicado aceitar aquela realidade.

— Do jeito tradicional: Levei-a para jantar, a embebedei e me aproveitei do corpinho lindo. — O medico teatrizou, embora não fosse tudo inventado. — Você é um curioso, não me meto na sua vida.

— Ah, para! Você se mete na vida de todo mundo! — Wilson riu, a expressão do amigo se contorcendo em uma careta. — Isso explica porque estava avoado aquele dia. E agora?

— E agora o quê? — House já havia se sentado no sofa, extremamente confortável.

— Você tem um filho, e querendo ou não ele faz parte da sua família. É responsável por Evan.

— Tudo vai ser como era, ou achou que eu iria reivindicar os direitos? Além do mais, Bárbara é uma ótima mãe, o moleque não precisa de mim. — O medico olhou para sua bengala, relembrando as palavras de Bárbara. — Não quero ser como ele.

Wilson guardou silêncio, entendendo o que o amigo queria dizer. O relacionamento entre pai e filho sempre fora distante, contendo cobranças e a base da teoria que nunca deveria mentir. O oncologista conhecia parcialmente a história, porém não continuara o assunto. Ele respeitava o amigo.

— É aí que você se engana, House. Por mais longe que você esteve, Evan gosta de você e vai sentir a sua falta. E você não vai ser igual ao seu pai. São pessoas completamente diferentes. — James afirmou, olhando-o firme. — Ninguém é igual, House, tenha isso em mente. Então, se dê uma chance.

(...)

Bárbara velava o sono tranquilo de Evan, pensativa. Ela deveria ser racional e aceitar o tratamento que House aconselhara, mas seria impossível. Ela queria que o filho estivesse acordado, mesmo que ele alegasse sentir dores. Nenhum médico da equipe de House viera ter com ela após os exames, e isso fazia duas horas. Cogitou chamar House, o silêncio daquele quarto a assustava, contudo não foi preciso. Cameron adentrou o quarto e lhe sorriu minimamente em cumprimento. Reparou que a médica era mais jovem que ela, e que também carregava um brilho diferente nos olhos. Ciúmes? Mas do quê? A menos que... Bárbara compreendeu depois de algum tempo que ela não era a única a estimar Gregory House.

— O doutor House me pediu para passar a noite com vocês. — Allison explicou e anotou no prontuário a sua ronda.

— Os exames... Os resultados dos exames chegaram?

— Não... — Cameron mascarou a expressão, encarando o menino na cama. Evan sem dúvidas era filho de House, uma cópia mirim e muito adorável. — Mas tente não pensar negativamente, essas coisas demoram.

— Eu sei, mas não posso simplesmente ficar calma. — Bárbara passou as mãos no rosto, afastando o cansaço. — Nunca imaginei que um dia eu estaria em uma situação dessas.

— Compreendo que é difícil ver um ente querido hospitalizado, sempre é. Mas Evan é um menino forte, vai dar tudo certo.

— Obrigada.

Após a breve conversa, o silêncio pesou entre as duas. Cameron concentrava-se em uma revista enquanto Bárbara cochilava, apoiando a cabeça em uma das mãos. Até que foi despertada pelo monitor, alarmando-a do modo que ela mais temia.

— A pressão está caindo. — Cameron apertou um botão, solicitando uma enfermeira.

Bárbara estaria menos preocupada se Evan não buscasse ar desesperadamente, os olhos arregalados contendo lágrimas de desespero.

— Garganta fechada, vamos ter que entubar.

Bárbara acompanhou todo o procedimento, apreensiva, ela sabia que não poderia ajudar se desesperando. A única opção que tinha era aguardar pelo melhor.

— A pressão normalizou, mas o sistema respiratório deprimiu. Está respirando com ajuda de aparelhos. — Cameron comunicava aos colegas, enquanto via o chefe anotar mais uma complicação no quadro.

— O que causa ataxia, fadiga, dificuldade de fala e respiração e sangramentos retais? — O medico perguntou, analisando as palavras. — Não estou falando com as paredes.

Quando Chase fez menção em opinar, Eric Foreman adentrou a sala apressado. E pelo olhar dele indicava que finalmente os exames tiveram efeitos significativos.

(...)

House estava no quarto que Evan ocupava, ministrando corticóides para combater a mielite transversa, uma síndrome neurológica causada por uma inflamação na substância branca ou cinzenta na medula espinhal. A punção lombar que mandara fazer fora a grande chave e agora, embora fosse uma doença incomum, podiam respirar mais aliviados.

Com cuidado o infectologista retirou o tubo da garganta do menino, vedando o buraco com um curativo. E era engraçado notar que fizera questão de cuidar de um paciente, Evan estava começando a mexer com ele de uma forma irreversível. A aparência do menino estava muito melhor, embora tivesse sido medicado a menos de dez minutos.

— Já não mexo o braço à toa, mamãe. — Evan contou a novidade, o sorriso adornando os lábios.

— Isso é ótimo, querido. — Bárbara beijou-lhe a testa, extremamente aliviada. — Alguma dor?

— Não! — O menino virou-se para House, e o médico não precisou que ele dissesse o que queria.

Sacando do bolso um pirulito, ele o entregou a Evan que imediatamente livrou o doce do embrulho.

— Tomara que apodreça seus dentes. — Gregory lançou a praga, mas o menino apenas deu de ombros alheio. — Este será o ultimo.

— Eu posso vir aqui para você me dar mais, papai.

Bárbara acompanhava a interação dos dois, feliz. Ela sempre quisera que tivessem sido assim, como uma família. Será que se tivesse contato a House desde o inicio teria sido possível? Não, não teria. Pois Gregory House não amava ninguém além dele, infelizmente aprendera isso a duras penas. Suspirou frustrada, chamando a atenção dos dois.

— Sabe... - Evan aproximou-se de House e segredou: — Essa é a hora em que você beija a mamãe.

— Que tipo de coisas anda assistindo? — O medico riu da sugestão, observando a curiosidade estampada no rosto da mulher. — Não funciona assim, primeiro tem que levá-la para jantar, elogiar os sapatos e os brincos, pagar a conta e blá, blá, blá...

Evan não entendeu a pontuação do pai, mas sorriu mesmo assim. Terminando de comer o doce, ele ajeitou-se na cama e fechou os olhos. Talvez se dormisse as coisas melhorassem.

— O que foi que ele te disse? — Bárbara quis saber, interrogando logo após ele se aproximar.

— Que eu deveria te beijar. — E não havia sequer um senso de deboche na declaração. Ele encontrava-se perto dela, mais perto do que gostaria.

— Eu juro que a ideia não foi minha! — Ela ergueu as mãos em sinal de rendição, rindo sem jeito. — Ele gosta de você, mesmo nunca termos convivido.

— Eu notei. — E ela conseguira fugir completamente do assunto, justo quando pela primeira vez aceitaria um conselho dado por uma criança. Uma criança metade sua, ele admitia. — Devo fazer isso?

— Greg, não comece com seus... — A voz foi sumindo aos poucos ao notá-lo se abaixando em sua direção. Sentiu o hálito quente em sua direção e por impulso ergueu o rosto, permitindo que o beijo acontecesse. Durou apenas poucos minutos, o bastante para que ambos relembrassem o sabor e calor do outro. — Isso foi... Diferente.

— Podemos praticar, o que acha? — House piscou malicioso, tendo como resposta a palavra "idiota" acompanhada de um sorriso. O sorriso que ele esperou por ver durante cinco anos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, espero que tenham gostado.
Dúvidas, sugestões, críticas construtivas... Tudo é bem vindo.
Nos vemos na quinta!
Beijos!