Stay escrita por With


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá, mais um capítulo como prometido.
Obrigada pelos comentários e espero que gostem.
Boa leitura!



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Stay

Capítulo 3

A porta da sala do infectologista se abriu, revelando a imagem do menino de cinco anos vestindo um pijama hospitalar. Nos olhos azuis expiava uma raiva reprimida, direcionada exclusivamente ao seu pai. Aquilo que ele fizera era imperdoável, ele jamais aceitaria que House tratasse sua mãe daquele jeito. Caminhando quase na mesma proporção que House, no rosto uma expressão de dor que se acentuava a cada passo, Evan não desviava a atenção do pai sequer um segundo. As outras pessoas eram irrelevantes. Colocou-se de frente para House, desfiando-o a sua altura infantil.

— Você fez a minha mãe chorar! Não pode fazer isso.

House impressionou-se com o tom de voz do menino: Decidido e ciente, acusando-o de algo que testemunhara. Garoto esperto. Sorriu e, ao contrário de muitas vezes, não havia qualquer deboche no gesto. Parecia que a personalidade de Bárbara prevaleceu sobre Evan.

— Ela triste.

— Quem te trouxe aqui, garoto? — House quis saber, pois sozinho o menino não teria chegado até aquele andar.

— Eu... Um tio me ajudou. — Evan respondeu, constrangido.

— Claro, Wilson... — Fazendo sinal para sua equipe, que acompanhava tudo com o maior interesse, pediu que os deixasse sozinhos. — E você não acha que ela vai ficar preocupada por notar que sumiu?

Evan calou-se, pensativo. Ele não havia cogitado que poderia causar problemas para a mãe, apenas que precisava defendê-la de House. Por isso estava ali, descalço e de pijama, alegando seus direitos.

— Ela dormindo, o tio disse que cuidaria dela. — Falou simplesmente, pedindo com um gesto mudo para que House se abaixasse. Seu pescoço doía pela posição desconfortável. Contudo, o médico não cedeu. Seria interessante ver até onde ele aguentaria. — Não faça mais a minha mãe chorar, ou eu chuto sua canela.

— Que ameaça perigosa... — House teatrizou, zombando da coragem do filho. — Quer um pirulito?

— Não. — Evan negou convicto, mas aceitou o doce na segunda investida. — Por que você e a mamãe vivem separados?

Era uma boa pergunta e fácil de responder se House não tivesse que lidar com uma criança. Mesmo que fosse irônico ou mostrasse descaso, Evan não iria entender sua mensagem. Todavia, para cinco anos o menino compreendia até demais.

— Isso não é assunto para você, moleque.

— Meu nome é Evan.

— Sim, eu sei, sua mãe me disse. Mas moleque é mais fácil de lembrar, está sempre na ponta da língua. — O médico estendeu a mão para o menino, insistindo quando ele receou em tocá-lo. — Vou te levar para o quarto e vê se não aceita carona de gente estranha.

— O tio disse que era seu amigo, então não é estranho. — Evan rebateu, a frase saindo embolada por manter o pirulito na boca. — Estou com dor na perna.

— Culpa sua, ninguém mandou perambular por aí.

— É sério! — Evan afirmou a queixa, mostrando ao pai que não conseguia esticar a perna direita para andar. — andando que nem você, papai.

E o médico não prestava mais a devida atenção no que o menino falava, tendo a mente ligada no tratamento. Evan usara um teor suave e descontraído, como se fosse costume chamá-lo de pai o tempo todo. Já não se reconhecia. Não era um homem dado a se impressionar facilmente, sempre suspeitando das intenções das pessoas e observando suas ações, contudo naquele momento ele não conseguiu se manter impassível.

E, de repente, Evan estagnou, completamente paralisado. O menino encarou House, sem entender porque não conseguia mover as pernas, e logo caiu sentado. O semblante infantil contorcido em dor. Embora em sua situação, o menino não se arrependia de ter ido procurar o pai e tirar satisfações. Então, quando tentou se erguer e não obteve sucesso, notou os braços de House estendido para ele.

— Nesse ritmo vamos chegar lá semana que vem.

Evan sorriu, aprovando que o médico o tomasse nos braços e o ajeitasse. E estava sendo muito divertido ter uma visão alta, era completamente diferente visualizar pelo ângulo amplo do pai. Enlaçou o pescoço de House em um misto de conforto e confiança, aproveitando o privilégio que tinha. Adentraram o elevador e em menos tempo que Evan previra ambos já se encontravam a caminho do quarto.

Bárbara discutia com Wilson, que apenas ria da situação, até que seus olhos se prenderam nas figuras que se aproximavam. House trazia Evan, que parecia se divertir bastante estando a um metro e oitenta do chão. A preocupação e raiva esvaíram, fazendo-a sorrir. Era uma imagem bonita, mesmo que o médico não mudasse a expressão fechada e entediada. Contudo, ela não poderia se esquecer do susto que o filho lhe dera.

— O que está acontecendo com você, Evan? — Ela interrogou, contendo a entonação. Poucas foram às vezes em que Bárbara se irritara com o filho e naquele momento só desejava uma explicação pelo sumiço dele. Muito esperto, por sinal.

— Eu só fui buscar um pirulito. — O menino rebateu divertido, olhando de relance para House que acompanhava tudo de um canto do quarto.

— E você também! — Ela se virou para o médico, apontando o dedo para ele. — Armou tudo isso? Se queria ficar um tempo com ele era só me dizer. Qual é, eu não iria enfiar um machado na sua cabeça! — Calando-se, Bárbara suspirou. — Não faça mais isso.

Aquele dia revelava-se a cada minuto mais semelhante ao passado. House sempre seria o eterno insano, aquele que fazia tudo sem pensar nas consequências, que arrastavam todos ao redor para dentro de suas ideias. Nunca desejou sair daquele meio, esquecer da essência dele seria impossível. House a marcara para sempre, e ela não se referia somente a Evan. Agora, do lado de fora do quarto, ela esperava pelas palavras dele. Algo lhe dizia que o filho piorara.

— Ele está com ataxia. — Finalmente a grande base para desempenhar o seu papel. — Falta de coordenação, por isso o trouxe. Podemos tratar, mas sabe que vai demorar até que ele volte com as funções.

— Foi só uma queda de bicicleta, não pode ter causado isso. — Bárbara encarou House, disposta a não acreditar na teoria dele. — Tem que ser outra coisa.

— Você o traz para mim e duvida do meu diagnostico.

— Porque já se enganou antes, Greg. E, por favor, não estou duvidando de nada. Eu só... — Ela inspirou profundamente, soltando o ar devagar. — Tudo bem, faça o que achar melhor.

— Agora está o entregando em minhas mãos? — House soou incrédulo. — Por quê?

— Evan também é seu filho e se você acha que é ataxia, o que eu posso fazer? Só não piore a situação dele, Greg. — Bárbara ousou se aproximar. Era como se o médico tivesse um imã que sempre a atrairia. — Você estava certo. Sempre esteve.

— Sobre o quê? — Incrivelmente sua voz atingia tons diferenciados quando se dirigia a Bárbara. E tal reação acontecera somente uma vez, anos atrás. E agora voltava a se repetir com uma pessoa diferente. Ele estava mudando?

— Tudo. — Ela sorriu sem jeito, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, mas que logo voltara a cair. — Você é o cara.

(...)

Tudo estava bem, Bárbara já se acostumara com a ideia de ter ido para cama com Gregory House, o que a incomodava agora era a consequência daquela noite. Todos os sintomas batiam perfeitamente com uma gravidez inesperada, que retesou todo o seu corpo ao constar a confirmação no exame. Ela teria um filho do homem mais rude que já conhecera e que estranhamente começou a despertar em si um desejo primitivo. “Homens mais velhos tendem a chamar mais atenção”, ela lera em uma reportagem de uma revista feminina e a teoria se tornava válida a cada minuto.

E quando ela o viu após a notícia, não soube como reagir diante dele. Evidente que House era inteligente e logo perceberia sua súbita mudança, então antes que isso acontecesse Bárbara pediu demissão e mudou de cidade semanas depois, decidida a esconder a verdade até estar pronta para contar. E mesmo em cinco anos, ela permanecia adiando. Até o dia em que seu celular tocou, a voz da babá avisando que Evan sofrera um acidente de bicicleta e não respondia aos chamados.

Claro que existiam ótimos hospitais em Atlantic City, mas nenhum deles possuíam Gregory House. Embora percorresse cem quilômetros até Princeton, ela não se recriminava por escolhê-lo. Aquela poderia ser a oportunidade para que ela se abrisse com House, que o deixasse conhecer os seus motivos, mas o plano não ocorreu como deveria. Ela se deu conta que House sempre soube o motivo de sua demissão e vê-lo bem com a ideia de que tinha um filho acalentou seu nervosismo por um tempo.

Entretanto, o médico jamais perderia a oportunidade de atacá-la e o fizera de forma cruel, fazendo Bárbara se sentir péssima por sua volta. Embora se queixasse, um ato passado deveria ser esquecido. E foi o que ela preferiu a corroer aquela raiva, pois o homem que a julgara jamais mudaria. E ela também não esperava por isso. Ela o amava banalmente, sem exigir nada em troca porque não receberia.

— Esse é o papai, amor. — Ela esclareceu para Evan há três anos, que segurava a foto de House com curiosidade. — Não se esqueça do rosto dele.

E o rosto de Gregory jamais sairia da sua mente, pois Bárbara possuía uma cópia infantil ao seu lado. Para sempre.

Evan abriu os olhos, preguiçoso, a visão embaçada. O quarto estava frio e ele procurou pela mãe, encontrando-a dormindo na poltrona perto da cama. Tentou chamá-la, porém o máximo que conseguiu foi produzir um baixo ruído. O menino sentia frio e desesperou-se quando começou a enxergar dobrado, forçando o corpo a se mover mesmo com o cansaço repentino.

— Mamãe...

— O que foi, querido? — Bárbara levantou-se, aproximando-se do filho. Acariciou-lhe os cabelos, logo notando a temperatura elevada.

— Pode me trazer um pirulito? — Evan tinha a pálpebra do olho esquerdo levemente caída, como se o sono estivesse chegando novamente.

(...)

— Não é o que eu pensava. — House discordou frustrado. Há alguns minutos ele entregou um pirulito ao menino, que se esforçara para pegá-lo. — Está com visão dupla. Os olhos não conseguem se fixar em nenhum ponto. A doença está piorando.

— E não era isso que você queria? — Cameron acusou, irritada. — Já tem uma base no que trabalhar agora.

— Se for acusar se imponha mais, caso contrário não participe. — O médico anotou os sintomas no quadro: Ataxia, febre, dificuldade de fala e fadiga. — Vamos lá, pessoal, hora das ideias.

— Esclerose múltipla? — Eric sugeriu, os braços cruzados e o semblante pensativo. — Explica a ataxia, dificuldade de fala e a crise dos olhos.

— Legal, mas não explica a febre.

— Infecção? — Chase comentou.

— Façam exame físico, teste toxicológico e quero tomografias, para ontem. — Ele ordenou rápido, vendo sua equipe obedecê-lo prontamente.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Qualquer dúvida, crítica construtiva ou sugestões será muito bem vindo.
Beijos!