Stay escrita por With


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, mais uma capítulo! Como a fanfic já está pronto, postarei dois capítulos na semana (segunda e quinta).
Espero que gostem.
Boa leitura!



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Stay

Capítulo 2

— Ele é meu? — House perguntou ao adentrar o quarto e seus olhos se detiveram no garoto ainda inconsciente. Tamanha semelhança o espantou e se existissem dúvidas não passavam de especulações perdidas.

— Greg, não precisamos falar sobre isso agora. — Bárbara desvencilhou-se da conversa, embora fosse inevitável. Ela sabia que logo teria que dar uma explicação ao médico. — Os exames mostraram alguma coisa?

— Está tudo bem com ele. — House não viu motivos para ser sarcástico. — Por que não me disse? Achou que eu nunca descobriria?

Bárbara soltou um longo suspiro. Cinco anos se passaram e Gregory continuava tão teimoso quanto antigamente. Ergueu-se, aproximando-se dele com cuidado, a atenção sendo exclusivamente sua.

— Você é muito complexo, Greg. — Ela começou, esperando que ele não a interrompesse. — Aquela noite não estava nos planos, Evan também não. Mas aconteceu. Além de temer sua reação, porque eu sei como você consegue fazer piada de tudo, eu não saberia como contar. Estávamos bêbados! Quer dizer, eu estava.

— Mas o motivo real não é esse. — O médico desmentiu, investigando-a criticamente.

— Não... — Ela sorriu nervosa. — Você deve ter doce ao invés de sangue nas veias. E eu devo ser uma formiga.

— Isso foi uma declaração? — A ironia carregou cada sílaba das palavras. — Seria mais fácil dizer que me ama, doeria bem menos. E sim, estou afirmando.

— Idiota! — Bárbara o empurrou, sem jeito. — A questão é: Está tudo bem para você?

— O quê? Deveria ter pensado nisso há cinco anos, aborto nessa idade é arriscado, se me entende... — House piscou divertido, notando que o sorriso dela não havia mudado. As pessoas não mudam, ele recitou em mente.

— Acho que entendi. — Bárbara procurou pela bolsa, achando-a na cômoda. — Pode ficar com Evan? Preciso de um café.

— Claro, vai ser moleza.

Bárbara sorriu, logo deixando pai e filho no quarto a sós. Pai e filho... Gregory House nunca imaginou que um dia seria responsável por alguém sem ser altamente profissional. Pela lei ele devia muitas coisas ao menino, desde proteção e zelo a carinho e lar. Todavia, ele perdera a capacidade de ser gentil, a empatia, a possibilidade de amar já não mais lhe cabia... A dor o destruíra por completo.

Entretanto, somente ele e Evan, seu filho, House sentiu uma sensação estranha tomá-lo aos poucos. Deveria ter se incomodado, mas cedeu momentaneamente e caminhou até o menino, fazendo menção em tocá-lo, porém os olhos azuis iguais aos seus se abriram de repente. E contemplá-lo era como ver a si mesmo quando criança.

— Cadê a mamãe? — A voz infantil saiu entrecortada. — Isso machuca, pode tirar?

Sem nada dizer, House sentou-se ao lado do menino e retirou a braçadeira do braço fino. Em todo movimento, Evan acompanhou curioso e logo sorriu.

— Qual a graça? — O médico perguntou com mau humor. — Não tenho nariz de palhaço.

— Eu vendo. — Evan franziu o cenho, malcriado. — Você acha que eu não sei quem é você, aí fica engraçado.

— Muito bem, sua mãe está te dando mais do que cereal no café da manhã. — House ralhou, desconfortável.

— Eu não gosto de cereal. — O menino fez careta, fazendo House notar o quão parecido ficava consigo. — Tem gosto de papel.

— Bom garoto.

O silêncio caiu entre os dois, instigando Evan a encarar o homem a sua frente com insistência. Tinha a mesma cor dos olhos que ele, o mesmo tom de pele, embora o cabelo fosse idêntico ao de Bárbara... Ainda assim, o que via não denegria a imagem da fotografia que a mãe lhe mostrara.

— Você é meu pai. — Evan disse de repente, cortando o clima pesado.

— Quem te disse isso? — House não conteve a ironia, observando a sobrancelha infantil se levantar em confusão.

— A mamãe.

— E você acredita? Sabia que sua mãe pode ter mentido? A pessoa que ela descreveu pode não existir.

— Minha mãe nunca mente! — Evan gritou, disparando o monitor cardíaco. Ouvir qualquer pessoa maldizendo Bárbara o ofendia.

— Por enquanto essa é a sua realidade. — House levantou-se, nada intimidado pela forma que o menino o olhava. Fora um erro pensar que ele seria uma criança dócil, afinal Evan era a junção de sarcasmo, ironia e metáforas. Ou, suavizando a expressão, possuía metade dos seus genes e de Bárbara. Uma mistura incomum. — Me conte sobre a queda de bicicleta.

— Não quero. — Evan cruzou os braços, emburrado. — Você não é nada legal.

— É uma das minhas qualidades. — House sorriu, debochado. — Escuta, ninguém gosta de ficar no hospital, a comida é ruim e as enfermeiras nada bonitas, então se me contar vai poder ir para casa.

O menino analisou House, cogitando a proposta.

— Eu perdi o controle e...

De repente as palavras de Evan estagnaram, a expressão e olhos vidrados em um ponto perdido. Involuntariamente o corpo infantil bateu contra o colchão com violência. O monitor disparou fazendo House largar a bengala e socorrer o menino, que se debatia em um ataque. Virou-o de lado, chamando uma enfermeira.

Após algum tempo, Evan dormia calmo e alheio ao que acontecera, todavia Bárbara enchia House de perguntas. Preocupada, despejou toda a culpa no médico, mesmo sabendo que ele não tinha nada a ver com o ataque de Evan, ela apenas precisava descontar em alguém. Sentia-se frustrada por não ter estado por perto quando os sintomas do filho começaram a piorar. Dando o nervosismo por encerrado, ela escutou tudo que House tinha para dizer e sentou-se ao lado de Evan, notando que o braço dele se mexia involuntariamente.

— São espasmos, significa que ele está perdendo o controle do membro. — O médico explicou, não obtendo qualquer resposta final. — Vou pedir para Cameron fazer o histórico dele.

E tinha tantas coisas que Bárbara gostaria de perguntar a Gregory, mas o momento nunca parecia ser oportuno. Sempre desejou voltar a Princeton para vê-lo, saber como ele estava, suavizar a saudade mesmo que de longe, contudo nunca o fez e agora que direitos ela tinha de questioná-lo? Se Cameron voltara a trabalhar para ele, significava que sua presença não tinha mais importância. House nunca lutava muito tempo por alguém, ela percebeu quando soube da desistência dele sobre a única mulher que ele amara. Então, não havia lugar para Evan e para ela na vida do médico.

— Está fugindo. — Ela acusou antes que ele saísse do quarto, a mágoa carregando o teor da voz. Porém, mesmo que sentisse os olhos de Gregory sobre ela, permaneceu irredutível.

— Como você fez? — House alfinetou, maldoso. — Não fui eu que me mudei de cidade, escondendo a verdade por tanto tempo. Você apenas voltou porque era conveniente. Se quiser respostas, não use o seu filho como desculpa.

Bárbara lutou contras as lágrimas que chegaram, nublando-lhe a visão. Sempre soube que House poderia ser mau quando lhe convinha, mas provar dessa maldade era mais doloroso do que aceitar que ele não nutria nenhum sentimento particular para com ela e consequentemente por Evan. Ele nem sequer o reconhecia!

— Não é uma desculpa... — Bárbara murmurou, ajeitando os cabelos bagunçados do filho. — Se fosse assim, eu já teria voltado antes de tudo acontecer. Você não entende, na verdade não se esforça para isso porque é irrelevante. Desgastante. Irritante.

— Você é a pessoa mais covarde que eu já conheci. — Dito isso, House optou por sair. Nada o agradaria prolongar a conversa, que pela forma que era conduzida não acabaria bem. Ele a magoaria. E não era desse jeito que planejou reagir.

Abraçada pelo silêncio frio do quarto, Bárbara deixou as lágrimas saírem. Apoiou a cabeça em Evan, sentindo a respiração calma e dosada dele, e todos os sentimentos negativos dentro dela afloraram. Evidente que merecia aquele tratamento, todavia não estava preparada para lidar com ele. O seu coração sofria pelo descaso, a sua mente se negava a deixá-la fingir não se importar. A quem ela enganaria mascarando suas emoções?

— Está chorando, mamãe? — Evan perguntou sonolento, acariciando os cabelos compridos de Bárbara.

E em meio ao carinho, Bárbara permitiu-se ficar.

(...)

Evidente que ele não queria tê-la ofendido, mas desde quando House pensava primeiro e falava depois? Ele era rude, anti-social e arrogante, o típico homem que todos temem e nada sabem. Mas se ele não mostrasse sua faceta incompreensível não seria ele mesmo. De fato, ele esquecera como ser amável com as pessoas, a como reagir quando alguém lhe agradecia ou demonstrava afeto por ele. E a sua frente esteve uma mulher que tivera uma parcela de constância em sua vida, que esteve sob seus cuidados e foi consolada por ele.

Observando-a descansar a carga sobre Evan, aquela sensação estranha voltou a importuná-lo. Estranha, pois ele não sabia identificá-la. House nunca perdeu para um quebra-cabeça e agora se encontrava em conflito com algo que sempre teve e nunca deu atenção: Sentimentos. Ele sempre se convenceu de que estar sozinho era a melhor opção, e talvez estivesse errado por um grande período de tempo. Apesar de ter amado uma única pessoa em seus quarenta anos, a súbita aparição do conceito família lhe assustava.

— Alguém morreu? — Wilson perguntou, tirando o médico dos devaneios. Ao juntar-se a ele, pôde visualizar o motivo da expressão fechada do amigo. — Nossa, o garoto é a sua cara! E parece que a mulher não está feliz. O que você fez?

— Nada.

Embora buscasse Wilson para conversar, aquele assunto em particular apenas lhe interessava. Ele podia imaginar tudo que o oncologista lhe falaria, aconselhando-o a se desculpar. O que não havia motivos, Bárbara superaria se ela possuísse aquela essência incrível de anos atrás. E ele esperava que sim.

Ignorando o amigo, House rumou para sua sala a fim de reavaliar os sintomas de Evan — ele ainda não estava pronto para chamá-lo de filho e talvez nunca estivesse. O menino apresentava espasmos e teve um ataque, o que significava que o fluxo de sangue para alguma parte do cérebro fora interrompido por um breve tempo. Faltava-lhe descobrir por quê.

— Então? — Robert Chase interrogou, esperando pelas teorias de Gregory.

— Precisamos fazer com que ele piore.

— Do que está falando, House? — O neurologista Eric Foreman ralhou, levantando-se da cadeira. — Isso é um absurdo!

— Ora, só assim iremos conseguir resultados. — E House quase gritou, ele estava irritadiço aquele dia. — Somos médicos, podemos fazer isso.

— E como quer que façamos isso? — Allison Cameron se pronunciou pela primeira vez, preocupada. Que House tinha ideias insanas todos já se acostumaram, mas daquela vez era diferente. E frustrava-a notar que a arrogância dele sobrepujava o senso ético.

— Não deem nenhum medicamento ao moleque, não tratem de nada. Dor, espasmos, febre... Preciso de uma base para trabalhar.

— Você não está dando à mínima, não é? — Cameron aproximou-se dele, autoritária.

— O quê? Vai querer me dizer como devo tratar meu paciente? — House sorriu desafiador, percebendo pelo brilho nos olhos azuis da médica que ela guardava alguns segredos. — Por que dessa vez seria diferente? A menos que... Wilson, seu filho da mãe!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Dúvidas, críticas construtivas, sugestões... Tudo será bem vindo.
Até o próximo!
Beijos.