Off with her Head escrita por Ghost Writer


Capítulo 2
Convidado de Honra


Notas iniciais do capítulo

Ano 1 - 1783



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Corri de encontro a minha mãe que aguardava no outro lado da ponte qual passara mais cedo. Assim que cheguei, começou a desamarrotar meu casaco e arrumar meu cabelo.

–Mãe?

–Ajeite-se depressa, fomos convidados para um chá com a Família Real!- disse exaltada ajeitando seu vestido.

–Espero que tenham bolinhos- disse com a cabeça erguida enquanto minha mãe ajeitava meu colarinho.

–Não seja tolo!- exclamou chicoteando-me com seu lenço preto- Eles são a realeza, não me envergonhe, pensando bem, não faça coisa alguma!

–Tenho permissão para respirar?- perguntei sarcasticamente. Levei outra chicoteada do lenço.

–Apenas não estrague tudo meu filho... Se ocorrer tudo certo, você pode até se tornar pretendente de uma das princesas!- disse minha mãe sorrindo e atravessando a ponte.

Comecei a pensar em Edmontine. Em seu sorriso sugestivo, seus olhos azuis, temor a autoridades de sua família. Tornar-se um pretendente seria inacreditavelmente... incrível! Quando estava começando a pensar nesta possibilidade, meu pensamento é interrompido por um puxão no braço vindo de minha mãe, que me puxava insistentemente para andarmos rapidamente.

–Aprece-se James, não gostaria de perder nossa carona!- exclama minha mãe que andava em direção a uma carruagem inteiramente banhada a ouro.

Arregalei os olhos de perplexidade e segui em sua direção (eu realmente achava desnecessário o uso de carruagem, pois estávamos bem próximos do Palácio Real, mas não poderia contestar). Minha mãe acariciava o veludo dos assentos com os olhos brilhantes de uma criança ao ganhar uma boneca ou coisa do tipo.

Achei sua reação um tanto engraçada até chegarmos aos portões principais. Tanto eu quanto minha mãe estávamos boquiabertos com tanto luxo que apenas um corredor continha enquanto andávamos em direção ao Salão de Visitas Oeste(só pelo tamanho do corredor, se imagina que exista uma bússola inteira apenas para nomear os salões de visitas daquele palácio).

Ao entrarmos, via-se alguns sofás revestidos de veludo azul dispostos debaixo das gigantescas janelas que ocupavam uma parede inteira, no centro, um conjunto de mesa e cadeiras estava arrumado para nos receber juntamente com a Família Real. O mordomo que nos guiara fez um gesto para que esperássemos a vinda da mesma.

Minha mãe apreciava desde os estofados dos sofás, monogramas nos guardanapos e borda das janelas até o piso de mármore italiano qual revestia toda a sala amarela, seus olhos famintos por luxo não paravam de admirar todos os detalhes nem por um segundo. Até que entram dois homens com trompetes em mãos e o mordomo qual já vimos. Os trompetes explodiram seu som ensurdecedor anunciando a chegada do Rei, Rainha e, para meu deleite, de Edmontine.

Nos levantamos e reverenciamos devidamente cada um deles. A princesa me encarava com um sorriso de dentes à mostra, qual também me arrancara um. Ela estava linda, porém mais magra (suponho que Maria Antonieta tenha encontrado seu espartilho) e ofegante (isto comprova a primeira teoria). Minha mãe parecia dizer algo, mas não consegui prestar atenção, toda minha mente estava focada em apenas uma coisa naquele momento, Edmontine.

Nos sentamos e logo puseram a mesa, que em segundos era farta de diversos doces e salgados refinados. Criadas iam e vinham trazendo pastas, chá, entre outros. E como era esperado, em seguida veio Beth, com uma cesta de seus deliciosos bolinhos, quais fizeram Edmontine sorrir feito uma criança.

Seus grandes olhos azuis brilhavam ao ver a cesta. Estava prestes a erguer sua mão e pegar um bolinho, mas, ao notar o olhar gélido de sua mãe, Edmontine se apagou. Tudo que havia nela havia sido fuzilado com um simples olhar de rejeição de Maria Antonieta, o que me deixou de certo modo, perplexo.

Nós dois fomos liberados assim que chegara Abigail (irmã mais velha). Seguimos para uma varanda que havia no salão ao lado que dava vista para o extenso Jardim do Palácio.

–O que houve lá dentro?!- ousei perguntar.

–Maria Antonieta foi o que houve- respondeu com falta de ar- Eu não consigo respirar, ela apertou este espartilho até minha alma!

Seus olhos começaram a tremular e uma lágrima desliza sobre seu rosto. Vai caindo aos poucos até sentar-se no chão e por as mãos repletas de anéis no rosto; sentei-me ao seu lado, mas hesitei a colocar o braço em seu ombro em sinal de contentamento. Eu olho incansavelmente para seu rosto coberto. Ela interrompe o choro com palavras soluçadas.

–Eu não aguento mais esta vida falsa. Tudo complexamente planejado, frio, sem emoção... Você não pode nascer de um jeito que não seja aceito na corte. É tudo uma farsa, uma mentira... Somos todos atores de uma peça de "conto de fadas"...- enxugou suas lágrimas com a manga de seu vestido- Só gostaria de fugir de tudo isto...

–Podemos fugir agora!- eu disse com um sorriso bobo no rosto.

Edmontine olhou-me confusa mas depois sorriu. Botei a mão por dentro de meu casaco e tirei uma trocha feita com um dos guardanapos repleta de, nada mais nada menos, bolinhos. Extasiada, a princesa sorri mas logo hesita a pegar um, olhando com desdém para a pilha de doces.

–Por qual motivo você acha que eu uso espartilho- disse com a cabeça baixa-Estou gorda James...

–Não está!-me impus -Talvez você se veja no espelho de maneira diferente da realidade,como se você distorce-se sua própria forma.

–Por mais surreal que pareça, é uma teoria aceitável- disse Edmontine sorrindo e pegando um bolinho.

Sua expressão ao comer o doce era hilária, parecia uma criança provando um chocolate pela primeira vez. Vê-la era cativante, poderia estar com ela todas as horas do dia sem me cansar de observá-la,mas não naquele momento. Um grito irritantemente agudo deixou Edmontine em alerta. Ela levanta rapidamente, limpa as migalhas do vestido e endireita a postura. Ao ouvir os passos firmes de um salto no piso de mármore fico em alerta, e guardo imediatamente a minha trocha contrabandista de bolinhos de volta no casaco.

A rainha parou na porta de entrada da varanda e fui obrigado à cortejá-la(comecei a não suportar formalidades assim que conheci Edmontine) e vossa alteza fez o mesmo. Com olhar irrelevante, Maria Antonieta me analisa da cabeça aos pés.

–Vejo que se tornaram amigos rapidamente. James, meus pêsames por Geovann- disse a rainha friamente.

–Obrigada Vossa Alteza- respondi.

–Edmontine!- exclamou a Rainha com olhar assassino- Prenda a respiração! Está tão gorda quanto uma porca! Ah, como posso eu ter problemas deste tipo com você, nunca tive problemas com Abigail.

A princesa apagou-se novamente. Me senti arrasado ao vê-la naquele estado de submissão. Tinha de fazer algo então, interrompi a bronca.

–Com todo respeito Majestade mas acho Edmontine uma das damas mais formosas, além de jovem e esbelta- falei sem hesitar.

A mesma ficou paralisada, boquiaberta e de bochechas coradas, me encarava com olhar incrédulo, enquanto sua mãe sorria(ainda sim com olhar de desprezo).

–Pois bem monsieur Buttenbender, se está tão interessado assim em Edmontine, sugiro que entre na fila do dote ou vá ao Baile de Máscaras no sábado que vem para impressionar a mim e ao Rei.

–Estarei lá milady– respondi confiante, oferecendo o braço para Edmontine que calada, aceitou meu gesto de cavalheirismo.

Maria Antonieta avaliou-me novamente e mandou sua filha acompanhar-me até a porta e me mostrar o Jardim do Palácio. Saiu pelo corredor principal com passos firmes e barulhentos. Edmontine seguiu calada até a porta, ainda com seu braço junto ao meu. Sinto que estava envergonhada e com temor da mãe, mas sua expressão muda ao sairmos, de pavor para um sorriso de dentes à mostra, radiando felicidade. Pulou e derrubou-me na grama em um abraço apertado.

–Eu simplesmente não acredito que você a confrontou!- disse Edmontine sorrindo.

–Por você minha cara, eu enfrentaria todos a guarda francesa! Os mosqueteiros!- falei fechando a mão em punho e colocando em meu peito.

–Tolinho- disse a princesa rindo incansavelmente e de bochechas coradas-Anda,levante.

Levantei-me e a ajudei. Caminhamos durante horas, conversando até o sol se pôr em descanso, até sermos chamados para o Salão Principal da ala Oeste pelo mordomo do Rei.

Fomos guiados até o tal Salão, onde estava o Rei sentado em um trono e ao seu lado estava minha mãe(o que era muito incomum, mas decidi ignorar até que o Rei anunciasse logo alguma coisa); logo Vossa Majestade levanta a voz.

–James, gostaria de anunciar que você e mademoiselle Elizabeth Buttenbender estão isentos de todos e quaisquer impostos ou dívidas que possuam e formalizar o convite a se tornar membros da nobreza. Seus aposentos já estão sendo devidamente preparados- disse o Rei, que logo em seguida fez um movimento com a mão para nos dispensar.

Minha mãe estava radiante e com um sorriso de dentes à mostra,enquanto eu estava paralisado de olhos arregalados (assim como Edmontine após minha conversa com sua mãe), antes de me virar e seguir novamente para fora do Palácio,engoli em seco. Sentei na escada que havia na frente da porta e levei minhas mãos à testa. Edmontine sentou-se ao meu lado, incrédula e calada, ela também percebeu o que acontecera.

–Ela...Transou com o Rei da França...MINHA MÃE DEU PARA O REI DA FRANÇA!- exclamei.

–Não se culpe James... O luxo e a riqueza podem corroer até o coração mais são...

–Menos o seu- completei- Como não é afetada por toda esta loucura?

–Eu sempre sonhei em ser alguém com vida simples desde menina, e não uma princesa snob que enquanto se farta com um banquete não se preocupa com a falta de pão para o povo.

Eu a olho com desdém e depois sorrio levemente, e logo após ela debruça sua cabeça em meu ombro e suspira. Edmontine é uma criatura fascinante, complexa, é uma pessoa que grita calada e segue em público a mentira qual lhe impuseram, aquela que as crianças acreditam e sonham à noite. Estranho pensar que só bastou um dia para que começasse a me apaixonar por ela.


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Notas finais do capítulo

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