Paily: Winter and Pool escrita por tat maslays


Capítulo 3
Emily, a garota do Texas




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Sentir a água morna fluir por seu corpo.

Essa era a única coisa que podia afirmar que ainda conseguia sentir depois de tudo. Era como se a água, mesmo morna e em sua forma mais comum, exibindo sua limpidez e fragilidade, tivesse em sua simples fórmula o poder de acender algo em seu interior e finalmente lhe acordar daquele pesadelo.

Um pesadelo no qual estivera imersa tempo suficiente para lhe fazer entender que, viver num mundo de pesadelos te priva da realidade, mas que pesadelos não são nada quando comparados a realidade se ela não lhe aceita como você é.

A realidade seria a coisa mais cruel que lhe passaria dali para frente, e não adiantava mais fugir.

Emily Fields nadava porque não sabia mais o que fazer.

Estava uma tarde fria, mas não se incomodou, já que não tinha escolha, a não ser fazer aquele estúpido teste para mostrar a aqueles tolos da equipe de natação de Rosewood como se nadava de verdade.

Era boa e por isso deu o melhor que pode, mesmo estando há quase seis semanas sem entrar em uma piscina, não viu nenhuma dificuldade em bater os tempos que a treinadora da equipe estipulara.

Não seria certo se gabar falando que parecera piada aquele teste em comparação aos testes que fazia na equipe de ponta em Houston, por isso não o fez.

Em Houston era a atleta profissional que escolheria a Universidade em que entraria, porque para qualquer um deles seria uma honra ter uma atleta como ela representando o nome da equipe da Universidade, sem contar com os contratos que provavelmente fecharia.

Já naquele fim de mundo ela era a novata, provavelmente a intrometida, a única desmiolada que aparecera para aquele estúpido teste no inverno. Quem fazia testes no inverno?

Porque não se surpreendia com aquele tipo de coisa mesmo. Claro, estava num fim de mundo chamado Rosewood. E o nível lá era totalmente diferente, para não dizer baixo, por isso não deixaria que ninguém ali zombasse dela. Ninguém.

Iria mostrar que podia ser a melhor independente da equipe que estivesse representando.

Não precisaria fazer muito esforço pelo que vira, estava até pensando em relaxar, e se divertir.

Nadar o essencial, sem se preocupar com tempo, ou a pressão. Já que de nada adiantara sua total dedicação em Houston.

Seus pais não haviam pensado duas vezes antes de recusar todas as propostas, para que não se mudassem. Então não havia porque se manter no topo.

Teria que analisar se havia alguém ali que pudesse lhe representar perigo.

Poderia chorar e se lamentar fingindo mais uma vez que nada daquilo lhe afetava, mas não podia mais fugir. Não podia simplesmente fechar os olhos e querer viver um pesadelo, que comparado com aquela realidade não lhe afetaria em nada.

Não podia se enganar de novo achando que aquilo era algo que seria simplesmente ignorado, como o brócolis no seu almoço que era empurrado com o garfo para o canto ou como aquela música na playlist que às vezes mesmo você gostando, não tinha clima para escutar e simplesmente a pulava.

Quem dera as coisas dali para frente fossem simples de serem ignoradas como aquilo.

A verdade é que elas não seriam e sabia disso, então não tinha porque agir como se, se importasse porque já não se importava mais.

Já havia perdido tudo mesmo. Porque continuar fugindo então?

Aquela mudança já a fizera fugir o suficiente, e se sua mãe achava que mudar de Estado faria com que as coisas voltassem a sua “normalidade” já estava na hora de lhe mostrar que não faria.

Já havia passado da hora de mostrar a Pam Fields que se ela quisesse sua filha meiga e submissa de novo ela teria que mudar de atitude. Porque Em não iria ignorar o que acontecera e muito menos continuar fugindo daquilo que sentia.

Afinal ignorar as coisas e agir como se elas não existissem não tornava mais fácil de lidar com elas, só fazia com que se tornasse mais difícil, muito mais difícil.

Talvez da próxima vez sua mãe devesse mudar de país, ou melhor, continente, embora não fosse mudar nada.

Porque a mágoa que sentia por tudo o que ela fizera, não seria tapada com presentes caros e bajulações sem fundamento, como ela vinha fazendo.

Era só uma questão de tempo, e então mostraria a ela que aquilo não adiantaria e que se quisesse que as coisas mudassem, ela teria que começar mudando de atitude. A aceitando como ela era, independente de suas escolhas.

Aquele teste na equipe de natação de Rosewood lhe viera a calhar. Até a enrolara três vezes para fugir daquela estupidez que chamavam de teste, mas enrolar Pam Fields não era fácil, por isso tinha que ser cautelosa e paciente em sua empreitada.

Viu que não teria escolha quando ela praticamente lhe obrigou a entrar no carro e lhe acompanhou até o ginásio para conversar com a treinadora da equipe, a Sra. Fulton.

Não estava mais no Jardim de Infância, não precisava que sua mãe ficasse monitorando sua vida.

Além de novata, também seria conhecida como a garota que a mãe levava aos treinos. Constrangedor.

Depois que sua mãe lhe fizera abandonar a vida em Houston ficara sem rumo, sem vida, sem Maya.

Maya. Como sentia falta dela.

Já se passara quatro semanas e pensar nela ainda lhe deixava triste.

Triste por saber que tudo aquilo estava acontecendo porque fora estúpida e covarde, e por que sua mãe era a pessoa mais preconceituosa da face da terra.

Como duas pessoas tão diferentes como seus pais conseguiam manter um casamento tão perfeito e feliz por dezenove anos era um dos mistérios indecifráveis de seu universo adolescente.

Seu pai, Wayne Fields era perfeito, alegre, amável, compreensivo, tudo o que uma garota poderia pedir de bom em um pai, ele tinha. Seu único defeito, se é que era um defeito era sua carreira militar.

Devido a isso Em quase nunca o via. Suas missões e treinamentos o deixavam fora da convivência por bastante tempo. Tempo mais do que suficiente para sua mãe ser a total responsável por sua educação e sua vida, e ser filha única nesse caso definitivamente não era uma coisa boa.

Haviam vivido quase dois anos no Texas por causa da carreira dele.

Como sargento, ele fora encarregado do treinamento de uma nova tropa que seria mandada ao Oriente Médio. O treinamento durara um ano e dez meses e após os preparativos para a “batalha”, ele fora enviado com a tropa para uma missão que duraria quase oito meses.

Os próximos meses naquele fim de mundo sem seu pai seria horrível, ainda mais sem ele para distrair a mente de sua mãe.

Pam Fields, não era a pior mãe do mundo. Estaria mentindo se dissesse que o era, e mentindo feio.

Ela sempre fora uma boa mãe, sempre prestativa, amorosa e presente, mas tudo isso fora antes de descobrir seu relacionamento com Maya St. Germain.


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