Uma novata, diziam que ela era bonita e que nadava bem, uma garota do penúltimo ano, assim como ela. Não procurara saber muito sobre a tal garota, sabia apenas que fazia duas semanas que estudava em Rosewood High, e que nunca a havia visto nem sequer de longe, nem na escola, muito menos na cidade.

Talvez houvesse se interessado em saber mais sobre ela, mas não gostava de fofoca e não se sentia ameaçada por ela.

Ficara sabendo por Lucy que os pais da garota haviam comprado a antiga casa dos DiLaurentis, mas como não freqüentava aquela região da cidade, não poderia afirmar se a informação tinha fundamento.

Pela movimentação que havia no ginásio antes de entrar no vestiário duvidava muito que fosse aparecer alguém para aquilo. Paige sabia, e todos os anos era a mesma história, testes no inverno e no verão, devido à temporada das competições regionais e estaduais.

No verão os adolescentes faziam fila e lotavam o ginásio na esperança de bater os tempos que a treinadora Fulton estipulava e assim entrar para a equipe. Alguns até conseguiam bater os tempos, mas a treinadora logo arranjava outra dúzia de testes e eles desistiam na metade. Não agüentavam a pressão.

A Srta. Fulton sabia ser má quando queria e Paige se divertia vendo-os tentar, porque sabia que não iriam dar conta. Não eram bons o bastante para suportar, a pressão e a treinadora.

Já no inverno, que era o caso em questão, nunca aparecia ninguém, e pelo encaminhar das coisas Paige tinha quase certeza de que naquele ano não iria ser diferente.

O frio era latente e a não ser que alguém fosse muito bom e quisesse muito mesmo entrar para a equipe iria abrir mão dos casacos, cachecóis e todo o mais para vestir uma roupa de banho e entrar na água.

A água era aquecida, mas nem isso tornava a idéia mais digerível.

Paige só o fizera porque não tinha muitas escolhas já que detinha a posição de melhor da equipe, e com a eleição para capitã se aproximando não podia dar motivos para seus colegas não votarem nela e para a Sra. Fulton não apoiá-la.

Já escutara tantos rumores em torno da tal garota nova que começara a duvidar se ela era realmente tudo o que diziam. Uns diziam que ela vinha de Houston, no Texas, e que era campeã Estadual em cinco categorias diferentes pela liga Estudantil lá. Cinco categorias. Era muita coisa.

Paige sabia disso porque já conseguira vencer, duas vezes. As duas vezes que se classificara. Era uma competição a nível nacional. E se a tal garota realmente vencera cinco vezes e pelo Texas como todos diziam, isso significava que ela deveria ser boa.

Escutara até que a antiga escola dela havia oferecido aos pais da garota um contrato milionário para que não mudassem de cidade. O futuro dela parecia promissor e não queriam perdê-la. Aquilo seria verdade? Talvez ela nem fosse tudo aquilo. Paige tentou convencer a si mesma. Afinal os pais dela não haviam aceitado a oferta e até já tinham se mudado para Rosewood. Talvez não achassem que a filha era tão boa assim, senão teriam ficado com o dinheiro, e no Texas. Porque tinham que se mudar justo para Rosewood, com tantas cidades no país e no mundo porque aquela garota tinha que se mudar justo para lá. Para sua escola e para atrapalhar sua vida.

Paige balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos. Porque ficar trabalhando conjecturas se nem conhecera a garota ainda. As pessoas daquela escola gostavam de inventar histórias mirabolantes. Fazia a vida lá parecer menos chata, e como era chata. A garota deveria ser uma dessas histórias muito bem elaboradas e se existisse talvez se Paige desejasse baixinho ela nem aparecesse, e se nadasse alguma coisa, talvez nem fosse assim tão boa.

A garota nova ainda teria que convencer a Sra. Fulton que merecia um lugar em sua equipe. Isso com certeza não aconteceria. Dobrá-la era uma tarefa constante para Paige que só o conseguira depois de algum tempo. A garota não deveria ser tão espetacular assim. Com certeza não era. Ninguém o era.

Já havia passado da hora de se despedir de suas colegas e ir para casa. Paige ajeitava o zíper da jaqueta do agasalho e entrou em estado de choque ao levantar a cabeça e olhar para a piscina. Suas preces aparentemente não haviam sido atendidas. A tal garota pelo jeito já estava lá, e nadava despreocupadamente.

Paige ficou surpresa com a quantidade de pessoas que havia em volta da piscina. Vinte minutos haviam se passado. e parecia que todos haviam voltado ao ginásio só para olhá-la.

Uma garota da equipe, Susan, uma loira magricela e fofoqueira que de sua amiga não tinha nada correu em sua direção antes que ela tivesse tempo de fechar o zíper e até mesmo mentalizar o que realmente se passava.

– Acho melhor você tomar cuidado Paige. A garota nova é boa. – Proferiu Susan com um tom de superioridade que fazia parecer que era ela que estava nadando divinamente naquele momento.

– Paige McCullers não tem medo de concorrência. – Respondeu Paige secamente como que voltando ao normal, saindo daquele estado em que entrara ao se deparar com aquela situação desagradável. As coisas seriam mais difíceis do que esperava.

– Pois deveria começar a ter, ela vai bater seus tempos, em um piscar de olhos. – Zombou Susan, voltando a se reunir com as outras garotas que estavam próximas a piscina.

Paige ficou tão chateada com aquela intimidação da loira que não se abalar foi a reação totalmente contrária que surtiu em seu interior. Não tinha medo de concorrência, mentalizou, e que momento melhor que aquele para conhecer e colocar as cartas na mesa para avaliar se a tal garota realmente era um motivo para se preocupar.

Paige subiu no alto da arquibancada e sentou-se bem no canto, era longe o suficiente. Duvidava que alguém fosse prestar atenção nela com a garota nova se exibindo. Ela se acomodou e ficou observando a tal garota nadar. Tinha que acabar de uma vez com aquela sensação de ameaça que ela lhe despertara.

Paige assistiu em silêncio o borrão rosa atravessar a piscina, pelo que contara a quarta vez. Ela realmente era boa. Haviam se passado alguns minutos e algumas outras voltas dela pela piscina quando a multidão de curiosos começou a dispersar. A oportunidade perfeita para ela também sumir dali. Antes que chamasse a atenção.

Já vira o suficiente. Não precisava de mais ninguém zombando de sua capacidade e falando maravilhas da tal garota nova. Infelizmente tinha que parar de se enganar achando que era melhor que ela, Paige admitiu. Não era. Não tinha como ganhar dela, não quando ela começasse a cumprir a rotina de treinos. Ela era realmente boa e Paige teria que treinar muito para conseguir manter os tempos.

Teria que chegar o mais rápido possível ao nível dela, de preferência antes da garota entrar no ritmo dos treinos, dava para ver que ela estava se poupando e que tinha muito potencial. Seria difícil, manter-se no topo sem que ela lhe ofuscasse, não algo impossível.

Nada era impossível para Paige McCullers