Paily: Winter and Pool escrita por tat maslays


Capítulo 1
Doce água de inverno




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Já havia se passado quinze minutos das quatro horas da tarde.

Por ser uma sexta-feira, e pelo o que tinha por vir, era o momento mais que perfeito para ir para casa.

Lá teria tempo suficiente para decidir o que faria à noite, planejar algum programa, de preferência algum que incluísse diversão e curtição.

Esperava que sua vida social ficasse um pouco mais agitada.

Esperava, pois já era sexta-feira, e mais parada do que estava seria algo impossível.

Sua semana havia sido cheia de treinos como sempre. Essa era sua vida ultimamente, treinos, e mais treinos.

Estava exausta e embora custasse admitir, sabia que precisava daquela distração, para ser sincera, precisava naquela noite se distrair.

O estresse causado pela sobrecarga nos treinos estava além do normal. Ela mesma já não agüentava mais a pressão. Estava a um passo de enlouquecer, e como se isso não fosse suficiente, ainda havia a eleição para capitã da equipe se aproximando.

Paige não se conteve e mesmo já vestida para ir para casa, resolveu fazer uma última rotina.

Sim estava exausta, mas aquilo definitivamente era mais forte do que ela, ter aquela certeza, de que seus tempos realmente estavam impecáveis. Aquela necessidade de mostrar para todos, principalmente para a treinadora que podia contar com ela.

A nadadora começou a tirar novamente o agasalho para entrar na piscina.

Paige fazia parte da equipe de natação de Rosewood High, os “Sharks”, desde que havia entrado para a High School. Sua vida, no entanto sempre fora nadar, antes mesmo de estar em Rosewood High, antes mesmo de saber o que era a vida, a natação já era sua vida.

Seu pai até mesmo mandara construir uma piscina semi-olímpica nos fundos da residência dos McCullers, que se localizava no bairro mais nobre de Rosewood, para que ela não ficasse sem treinar por falta de um local.

Alguns poderiam dizer que aquela atitude poderia ser algo exagerado da parte do seu pai, mas Paige não esperaria menos, não dele.

Nicholas McCullers não era o tipo de pessoa que se contentava com pouco, na verdade, não era o tipo de pessoa que se contentava com algo que não fosse vencer.

Paige sabia que era competitiva daquela maneira por causa dele, estava no seu sangue ser a melhor, e o mais importante, treinava duro porque sabia o pai que tinha, e o que não ser a melhor acarretaria na relação que tinha com Nick.

Tinha um ótimo pai, estaria sendo injusta e mentirosa se dissesse o contrário, mas também sabia como a primogênita dele o peso que o sobrenome McCullers carregava.

Paige estava entorpecida, pois ainda não acreditava que havia conseguido bater seu próprio tempo nos 100m. Ela precisava de uma comemoração, algo além daquela última rotina.

Sua amiga Lucy a havia chamado para ir ao Rosewood Grill, que se localizava no centro de Rosewood e que tinha a noite do karaokê nas sextas. Elas iriam com alguns colegas da natação e David, o namorado de Lucy que também fazia parte da equipe.

Ainda estava processando a idéia.

Gostava muito de cantar, principalmente em karaokê, já que em casa não podia, e não que quisesse se gabar. Sabia que arrasava.

Se havia um dom que Paige McCullers possuía além de nadar, esse com certeza era cantar. Um dom desenvolvido durante dez anos de aulas de canto, que nunca fora usado para nada além de massagear seu ego, já que seu pai sempre dissera que ser artista era algo que não a levaria a lugar algum.

Sua mãe após muito tentar conseguira fazê-lo mudar de idéia quanto a pagar as aulas, mesmo ele durante todo o tempo dizendo que era perca de tempo, e de dinheiro.

Sarah McCullers sempre acreditara no seu dom para cantar e sempre a apoiara, mas havia algumas coisas que não mudavam, e por mais que a mãe a apoiasse sabia que seu pai era um homem difícil de lidar, e que o apoio dela ia até o ponto onde o que Nick queria para as filhas começava.

Depois de Paige mostrar para ele que as aulas não atrapalhariam nos treinos de natação e muita conversa por parte de sua mãe, ele concordara. Mas Nick jamais aparecera em nenhum dos recitais e a proibira de ficar cantarolando pela casa.

Gostava de cantar, muito mais do que nadar, muito mais do que qualquer outra coisa em sua vida.

Que seu pai não escutasse aquilo.

Para ele o único critério para reconhecimento de algo era que, envolvesse esforço físico ao extremo, e que não fosse artístico. Pelo menos para ela, a filha mais velha, porque com Jasmine sua irmã de oito anos ele era totalmente diferente.

Aquela satisfação, e aquele refúgio que cantar lhe proporcionava talvez a ajudasse a aceitar o convite da amiga, por que pensar na maneira como Lucy mesmo se dizendo sua amiga tentava empurrar todos os amigos de David para cima dela, não ajudava, nem um pouco.

Paige tirou a enorme jaqueta do agasalho da equipe de natação e a arrumou na bolsa que deixara à beira da piscina, junto com a calça que também havia acabado de tirar.

Já fizera tantas vezes aquilo naquela tarde que já nem se mostrava alterada com a mudança brusca da temperatura, que invadia seu corpo toda vez que ficava somente de maiô.

Ela arrumou os curtos cabelos castanhos na touca de látex e logo em seguida colocou os pequenos óculos de acrílico. Por último ajeitou as laterais do maiô para que não expusesse mais de suas coxas e sua bunda, pois sabia que os garotos olhavam.

Apesar de pouco bronzeadas suas pernas eram trabalhadas, e faziam inveja para muitas garotas daquela escola. Que tivessem inveja, pois elas eram fruto de um treinamento de físico árduo e uma hora de corrida matinal todos os dias, e se a perfeição delas servia para algo, além de é claro mantê-la em seu condicionamento físico ideal, que fosse para serem invejadas.

Paige posicionou-se na raia central. Adorava nadar no meio da piscina, porque lhe dava aquela maravilhosa sensação de controle. Controle que já não podia se dar ao luxo de perder, não com o que estava por vir.

Naquela altura seus colegas de equipe já haviam saído da piscina, Paige pode avistar o pequeno grupo do outro lado da piscina, eles conversavam com a treinadora Fulton e a assistente dela.

Não havia mais ninguém para atrapalhá-la na água. Paige se animou com a idéia de extrapolar um pouco, sem ter que se preocupar com os outros nadadores se sentindo, como sempre, inferiores.

Ela subiu no apoio, alongando os braços, ombros e pulsos com movimentos circulares e laterais repetitivos.

Aqueles movimentos eram essenciais para que seus músculos não atrofiassem, e como já havia nadado a tarde inteira os movimentos não precisavam ser tão rigorosos, só precisos o suficiente para aplacar o choque térmico da fria temperatura ambiente com a água morna da piscina. O que aconteceu logo em seguida. Paige por fim pulou na piscina para suas últimas voltas daquela tarde.

Aquela tarde estava extremamente fria e não precisava analisar muito para perceber que aquilo não iria mudar. Karaokê talvez não fosse a melhor opção de divertimento para aquela noite. Não com aquele frio. Fondue de chocolate com morangos e um filme de terror começava a lhe parecer uma opção muito mais tentadora. Adorava morangos.

Paige se viu obrigada a aumentar o ritmo das braçadas ao pensar nos garotos que Lucy provavelmente tentaria lhe arrumar, de novo. Já implorara milhares de vezes para ela parar com aquilo, mas de nada adiantava seus pedidos. Lucy além de teimosa, também achava que só porque tinha um namorado, ela também deveria ter.

Não se animava com a idéia de se envolver romanticamente com garotos que não tinham nada em comum com ela, que pareciam ter uma azeitona no lugar do cérebro. Não querendo ofender as azeitonas, mas todos eles pareciam imaturos e animados demais em entrar em suas calças. Ela não tinha tempo e muito menos paciência para aquele tipo de comprometimento.

Aquela situação realmente lhe aborrecia, não era nenhuma puritana nem nada, já até ficara com a maioria deles, por que Lucy o suplicara, não porque quisesse ou desejasse.

Paige se aborrecia porque sabia que fingia cada resposta, cada gesto.

Não se sentia confortável tendo que fazer de conta que se sentia atraída por eles, mesmo admitindo que eles fossem bonitos, porque não era cega, não conseguia sentir aquela paixão queimar em seu interior ao ficar com qualquer um deles.

Aqueles garotos simplesmente não faziam seu corpo reagir de uma forma arrebatadora, voraz e inesquecível, e já estava cheia de tentar, e talvez a maneira fácil com que os tinha aos seus pés houvesse feito tudo aquilo, tomar o rumo que havia tomado.

Paige buscava e ansiava experimentar algo forte o suficiente, algo que a completasse em todos os sentidos como mulher e começava a duvidar que algum daqueles garotos de Rosewood fosse capaz de lhe fazer sentir aquele torpor. Não sabia como, mas apenas sabia que não conseguiria sentir-se daquele jeito por nenhum deles.

Na verdade havia um garoto que Paige conhecia naquela cidade e que estudava em Rosewood High, por sinal até fazia algumas aulas com ele, que ela acreditava que seria capaz de despertar aquilo nela, seu nome, Sean Ackard.

Era mais curiosidade que Paige tinha por ele, do que qualquer outro sentimento. Ele era o garoto perfeito, além de bonito e atlético, ele também era capitão do time de futebol e todas adolescentes de Rosewood se derretiam por ele.

Paige tentava convencer-se que era uma delas, e que também se sentia atraída por ele, com aquele cabelo loiro escuro com algumas mechas queimadas pelo sol e seu sorriso extremamente envolvente, em conjunto com aqueles lindos olhos azuis.

Não tinha muita certeza do que sentia por Sean, mesmo com aquele corpo atlético e bem definido, talvez fosse só curiosidade.

A verdade é que poderia definir como qualquer coisa menos atração, mas tinha que ter certeza, tentar algo com ele era seu objetivo, naquele momento, porque se Sean não fosse capaz de despertar aquilo dentro dela. Nenhum outro garoto o seria.

Sean Ackard era o garoto perfeito. Seria demais pedir que ele tivesse aquele efeito sobre ela.

Rosewood High ficava localizada no centro da pequena cidade de Rosewood, no sul da Pensilvânia, e sua equipe de natação era referência regional devido as suas conquistas.

Naquela tarde a treinadora Fulton faria os testes de novos atletas para a equipe principal.

Os “Sharks” como eram conhecidos tinham alguns atletas e já tinham ganhado alguns campeonatos. Graças a ela, e isso nem precisava ser ressaltado.

Para entrar naquela equipe, a principal, tinha que ser mais do que bom, tinha que ser excelente. Ser aluno de Rosewood High era só uns dos requisitos para que isso acontecesse e não era de nenhuma forma uma garantia.

A treinadora, a Sra. Fulton como era conhecida, não deixava que qualquer aspirante a nadador entrasse para sua equipe. Paige sabia disso porque impressionar a Sra. Fulton era algo muito difícil, para não dizer impossível de acontecer. Ela não entendia muito bem quais critérios a pequena mulher, de pele escura e cabelos despenteados, usava para recrutar os novos membros que vez ou outra entravam para a equipe principal, mas eram métodos bons, e inquestionáveis.

Na maioria das vezes os atletas eram transferidos da equipe de base para a principal, e era a treinadora que decidia quem era bom o bastante, para fazer essa mudança. Vez ou outra isso acontecia, mas nadadores que não faziam parte da equipe entrarem assim, já de cara para a equipe principal, era algo muito raro de acontecer, pelo menos ela nunca vira alguém capaz de tal proeza.

Paige era a melhor nadadora da equipe, sabia e se orgulhava disso. Não se orgulhava mais que seu pai, mas também se orgulhava. Treinara duro por cada medalha de ouro que tinha pendurada na parede no escritório do pai e pelos troféus também. Ela era a melhor, sempre fora, e que mal havia em se orgulhar disso.

Alguns até poderiam dizer que seu espírito competitivo era um pouco exagerado e que ela não ligava para nada que não incluísse vencer. Ela não negava, já até dissera a todos que era a mais pura verdade. Não ligava mesmo. Vencer era tudo para ela, por diversos motivos, mas principalmente porque sabia o pai que tinha.

Se não vencesse seu pai com certeza tiraria o Volvo que havia lhe dado de presente de aniversário no começo do ano quando completara dezesseis e talvez até tirasse o seu cartão de crédito que ele mantinha. Era melhor nem pensar em perder regalias como aquelas. Não se quisesse ter uma vida social, ou o que restava da que tinha.

Paige saiu da piscina e não se importou em ir para o vestiário toda molhada, ela apenas se enrolou no roupão azul da equipe e pegando a mochila se dirigiu para o vestiário. Por um instante se sentiu bem por sentir aquilo, aquela sensação do choque térmico que passou por seu corpo ao sair da água morna, de encontro com o frio ambiente.

Paige carregava os óculos e a touca de natação na outra mão e jogou-os no pequeno banco no canto junto com o roupão e a mochila, antes de fechar a porta do Box.

Tinha que ir embora o quanto antes. Já fizera sua parte naquela tarde, na verdade fizera até mais, mais por teimosia do que por qualquer outra coisa. Suas três horas diárias já estavam cumpridas e seus tempos haviam sido excepcionais como sempre.

Às vezes Paige até achava injusto ser boa demais em comparação aos outros, mas seu ego não tinha do que reclamar e como isso acontecia, só às vezes, poderia se acostumar. Até porque estava treinando duro, justamente para isso, ser a melhor.

Paige abriu o chuveiro e deixou que a água molhasse seus curtos cabelos castanhos. Optara por deixá-los na altura do queixo por praticidade. Não gostava de ficar ajeitando-os na touca de natação toda hora e muito menos de deixá-los úmidos por muito tempo. Naquele cumprimento era mais fácil mantê-los lisos, perfeitamente tratados e arrumados. Adorava o tom quase ruivo que eles adquiriam quando estavam secos, ou ao natural ou devido à ajuda secador.

Quando saiu da breve ducha algo que procurara não dar importância naquela tarde lhe veio à mente, de novo. Mais forte do que todas as outras vezes, e exatamente por aquilo tinha que sair daquela escola o mais rápido possível.

Os testes da treinadora seriam naquela tarde, na verdade começariam às quatro e meia e como já era cinco para as cinco provavelmente já haviam começado.

Não que estivesse preocupada com aqueles testes idiotas, mas estavam circulando alguns rumores, já fazia alguns dias, a respeito de uma nova garota que faria aqueles testes. Uma nova aluna.


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