Pov Malina

Mais uma manhã! Mais um dia para jogar futebol com os meus amigos! Se bem que o meu humor e manhã, não estão a correr da melhor forma.

Para além quase não ter dormido a pensar no próximo jogo do time, do entusiasmo que estava a sentir pelo regresso do meu pai e por não conseguir deixar de pensar no… Gouenji… E no porquê dele não querer jogar com todos nós! Se ele nos ajudou no jogo contra a Teikoku, porque não nos ajuda também agora? Acredito que os rapazes do time não o queiram lá e muito menos a ajudar-nos mas eu quero-o e a minha opinião também conta para algo, certo?!

Enquanto caminhava, novamente sozinha, em direção à escola, acabei por ver, do outro lado da rua, a pessoa que não me saia da cabeça e que me atormentava os pensamentos todos os dias.

–É o Gouenji.- murmurei para mim mesma.

Nesse mesmo momento, corri até à passadeira mais próxima para poder atravessar para o outro lado e ir ter com ele, que nem notou a minha presença ou se o fez, ignorou-me já que da última vez que falamos ele disse-me para o deixar em paz e nunca mais lhe dirigir a palavra. Mas eu sou teimosa, e sei disso, por tanto, não o vou deixar em paz sem antes me dar uma explicação!

Quando o sinal ficou azul, atravessei a estrada a correr e ainda continuei a fazê-lo durante uns segundo até perceber que ele estava a ir para…

–O Hospital Inazuma?

Sem pensar duas vezes, e a temer o pior, entrei no prédio hospitalar dirigindo-me logo ao primeiro andar, pensando ter sido para lá que ele foi.

“Será que ele está doente?”, “Será que lhe aconteceu algo de muito grave?”, este tipo de pensamentos eram os únicos que me invidiam a mente quase a ponto de me fazer chorar.

Continuei a percorrer o corredor, procurando pelo nome “Goenji Shuya” em alguma das placas junto às portas, mas nada.

–Tenho a certeza que ele veio por aqui.- avancei mais um pouco- Ou talvez foi para outro andar.- murmurei antes de seguir um pouco mais em frente.

De repente, quando me virei para uma das várias portas brancas daquele espaço, ela foi aberta deixando-me ver quem eu mais procurava, que pareceu surpreendido, como eu, devido à minha presença.

–Mas és tu.- mencionou, fixando-me, o que me fez sentir a face enrubescer.

–Bem eu… Eu…- só conseguia abanar os braços e desviar os olhos para tudo o que era direção menos para ele já que o momento não era o melhor.

E enquanto o fazia, os meus grandes olhos verdes encontrar numa cama do hospital, uma pequena menina de entrançados cabelos castanhos que parecia dormir mas não a pude ver por muito tempo já que a minha visão foi tapada pelo próprio Gouenji que fechou a porta atrás de si, fazendo-me encara-lo novamente.

–O que vieste aqui fazer?

–B-Bem…- voltei a olhar para o chão na tentativa de não me atrapalhar ainda mais- Vi-te a entrar no hospital e estava preocupada porque pensei que estivesses lesionado ou que estivesse a acontecer alguma coisa e esse foi o motivo que te levou a deixar o futebol.- só então, me lembrei do que ele disse no parque da torre- Ah! Mas não te preocupes! Porque eu sei que o do outro dia foi uma vez sem conta e obviamente não te vim convidar para o time de futebol mas é que… Bem…- antes das minhas palavras conseguirem sair, o meu coração disparou que nem louco- É que preocupei-me ao pensar que te tinha acontecido alguma coisa má.- só então me lembrei de rir para deixar o ambiente menos pesado já que ele não deixava de me fixar- Foi uma parvoíce, não é?- mas o meu sorriso não serviu de nada, desfazendo-se tão rápido como apareceu. E então, curvei-me- Perdoa-me.- mas ele, nada disse, o que me fez logo levantar a cabeça, fixando o olhar nele e depois na placa um pouco a cima da sua cabeça que tinha escrito “Gouenji Yuuka”, o que me fez levantar- A que está neste quarto é…

–A minha irmã mais nova.- completou, desta vez desviando ele o seu olhar do meu.

–A tua irmã?- sentia-me tão mal por o ter seguido e o ter feito dizer-me quem era aquela menina pequena. Talvez ele não quisesse que ninguém soubesse- Lamento.

–Vá lá, rapariga. Não faças essa cara.- pediu para depois voltar a abrir a porta- Vá, entra.

–Está bem.- e obedeci, adentrando o quarto, parando logo a seguir ao ver a pequena irmã do Gouenji ali deitada, parecendo tão frágil com todos aqueles fios ligados ao seu pequeno corpo.

–Chama-se Yuuka.- informou-me já ao meu lado- Está em coma e ainda não acordou.- nem sabia o que dizer, limitando-me a ficar a olhar para a pequena criança- Terei que contar o que aconteceu ou se não nunca mais te irás embora, não é verdade?- só quando ele fez essa observação, é por me despertei do meu transe, fitando-o e dando-lhe um sorriso doloroso que logo de desvaneceu- A Yuuka está assim desde o dia do jogo do ano passado do Football Frontier.

–Já sei. O Mamoru falou sobre o jogo da Teikoku contra a Kidokawa. É esse?

–Sim. A Yuuka estava muito contente. Dizia que ia ver o jogo e que me animaria com todas as suas forças para poder ganhar.

O silêncio instalou-se na sala e quase pode ouvir o meu coração apertar com a dor que sentia ao ouvir a história que o Gouenji me contava.

As mãos dele, fecharam em punho como se sentisse raiva de algo, mas também é normal. Afinal ele nunca quis que a sua irmã estivesse naquele estado.

–Esse dia, foi a última vez que a vi sorrir, justo antes de ir a correr para o estádio.- nem sabia o que dizer, limitando-me a ficar perplexa- Soube do acidente antes do jogo…

–E então tu…- nem conseguia acabar a frase.

–Saí a correr para a ir ver. Trouxeram-na para este hospital porque o meu pai trabalha aqui e eu mudei de escola.- e sentou-me, fixando o olhar na sua irmã- Se eu não jogasse futebol nada disto tinha acontecido com a Yuuka. E sabendo como ela estava fui incapaz de continuar a jogar futebol como se não fosse nada.- senti a raiva da sua voz percorrer-me a espinha, principalmente quando o vi a apertar a das calças do joelho e senti as lágrimas querem sair- Por isso mesmo, jurei que nunca mais voltaria a jogar futebol até que ela despertasse mas…- antes de terminar a sua frase, ele fitou-me com um pequeno sorriso- Nesse momento… Não sei. Não sei bem porque o fiz. Foi como se o meu corpo se movesse sozinho.- percebi bem como ele se sentia. Isso só queria dizer que ele amava o futebol incondicionalmente e que por muito que ele queira, o futebol já está nele e não consegue evitar jogar e eu sei o que isso é.

–Isso é… Tão triste.- foram as únicas palavras que saíram da minha boca- E eu que estava tão empenhada em querer que tu entrasses para o time sem ter ideia do que se estava a passar.- mas ele nem me respondeu e eu, sorri- Não te preocupes. Não contarei nada a ninguém.- voltei-lhe as costas pronta para ir embora- Adeus.

–O que aconteceu com a equipe depois do jogo?- voltei-me para ele, sorrindo.

–Já temos organizado o próximo jogo!- anunciei- E graças ao teu incrível remate estão todos a treinar com mais empenho, por isso, muito obrigado!- abri a porta rapidamente e voltei a fecha-la da mesma maneira.

Sem conseguir mais, deixei as lágrimas começarem a cair pela face a baixo depois de tudo o que ele me contou, enquanto apertava a maçaneta da porta evitando soluçar. Mas logo, escorreguei pela porta a baixo, tapando a boca, já que os soluços teimavam em sair.

Sentia-me tão mal. Nunca o devia ter pressionado a nada que ele não queria, como jogar, mas mesmo assim, fi-lo, sem o deixar em paz, tudo porque queria jogar futebol.

Como pude ser tão chata? Como pude aborrecer tanto a única pessoa que alguma vez amei?

De joelhos no chão e maus a tapar a face mergulhada em lágrimas, consegui evitar dizer:

–Perdoa-me... Perdoa-me Gouenji.