Pov Malina

O que aconteceu no hospital, não deixava de me assombrar o pensamento.

Sentia-me tão mal por tudo o que estava a acontecer com o Goenji, mas o que me fazia sentir realmente pior, era pensar no quão egoísta eu tinha sido com ele. Pedi tanta vez que se junta-se a nós a pesar dele recusar cada vez que o fazia, não percebi porquê e sinceramente, havia vezes que nem queria saber, achava que se ele se junta-se ao time, seriamos melhores.

–Malina?- enquanto a minha mente vagueava por outros locais, ouvi o Mamoru chamar-me, fazendo-me acordar, encarando-o o meu primo que me fitava com os seus grandes olhos castanhos a observarem-me atentamente, enquanto continuávamos a andar em direção ao clube com todos os rapazes- Estás bem?- perguntou ao ver-me piscar várias vezes os olhos.

–Estava apenas a pensar nas minhas coisa, Mamoru!- e sorri, para que ao menos ele acreditasse. E ele sorriu também.

–Vou acreditar que sim.

Ia abrir a boca para dizer algo, mas assim que os rapazes abriram, a Aki estava dentro do clube com uma rapariga de curtos cabelos azulados, e todos entramos em silêncio. A Aki disse algo sobre “apresentação”, ganhando a minha atenção.

–Olá rapazes!- e fez continência- Chamo-me Otonashi Haruna! Aliás, Haruno, a Calada, do clube de jornalismo!- todos ficamos simplesmente a olhar para ele- E a partir de hoje serei mais uma ajudante da equipe de futebol!- e inclinou-se para a frente, da minha direção e do meu primo- Quando vos vi a jogar, soube que não era suficiente observar-vos!- e endireitou-se- Então pensei em unir-me a vocês! A minha habilidade para a recolha de dados pode ser útil para a equipe!- e curvou-se- Obrigada e encantada por vos conhecer!

–É isso.- terminou a Aki.

Todos nós ficamos boquiabertos, fitando a Otonashi que continuava com um sorriso nos lábios.

–Ah, sim. Estamos encantados por te conhecer.- respondeu o Endou, tentando sorrir. Ele também parecia um pouco espantado como todos nós.

–Haruna, a Calada?- comentou o Handa com o Max, ambos por trás de mim e do Mamoru.

–Ainda bem que não é Haruna, o Papagaio.- e com o que o Max dissera, só me deu vontade de rir, mas contive-me, colocando a mão à frente da boca.

–Oh rapazes!- exclamei, vendo que o sorriso nos lábios da nova ajudante não diminuía.

Depois de todos nos termos apresentado à Haruna, fomo-nos equipar para ir-mos até ao campo junto ao ri, treinar. Corri o mais depressa que conseguia até ao banheiro das raparigas onde me ia equipar. Não o podia fazer à frente dos rapazes, não é?

Assim que terminei, corri de volta para o clube onde já tinha os rapazes à espera. Deixei a mala dentro do barracão e assim que saí, todos nos apressamos para ir até ao nosso campo de treino.

Para aquecer um pouco antes do treino, corremos uma boa parte do caminho até ao campo, parando logo depois assim que vimos muitos dos rapazes cansados, continuando o restante caminho a andar.

O campo, como sempre estava vazio. Ou assim pensava eu, porque nele, estava o único membro do time que não tinha aparecido o dia todo no clube; o Someoka, que se encontrava cansado e ofegante, o que fez com que ele caísse de joelhos no chão. Apesar da nossa aproximação, ele nem dei por nós.

–Estás a esforçar-te muito, não é Someoka?- quando ouviu a voz do Mamoru, levantou-se e olhou para toda a equipe.

–Endou.- depois o seu olhar foi desviado para o chão. Ele parecia chateado com algo, mas ao mesmo tempo... Triste- Isto não serve para nada.- lamentou-se, encarando o gol- Por mais que tente, não sou capaz de marcar nem um só golo.- e quando voltou a fitar o chão, consegui ver com clareza um triste sorriso na sua face- Não sou mais que um desastre de atacante.

Sentia-me tão mal pelo Someoka. Ele estava realmente em baixo. Olhei para o Mamoru que me fitava de forma preocupada mas ao mesmo tempo de terminada em ajudar o amigo.

Ao percebe-lo, pedi a todos que começassem a treinar enquanto nós os dois íamos falar com o atacante deprimido, chamando-o para ir connosco até à relva, onde se descalçou e deitou, já o Mamoru tirou as suas luvas de goleiro, já eu, simplesmente me sentei.

–Não deves massacrar-te tanto, Someoka.- pedi.

–É verdade!- concordou o Mamoru- Ainda te vai lesionar jogando assim.

–E isso dizem-me as pessoas que treinam com rodas de carros, tem a sua piada.- eu ri-me do que ele dissera assim como o Mamoru que também se deitara ao seu lado. Eu permaneci sentada ao lado do Someoka, observando os dois rapazes.

–Mas a verdade é que estou bastante feliz de vos ver a treinar tão a sério.- e ele não era o único. Sabia bem ver a equipe crescer- Dá-me a impressão de que por fim somos uma equipe de futebol de verdade.- e eu estava completamente de acordo!

–E o que é que tu achas, Someoka?!- perguntei, fazendo-o abrir os olhos para encarar o imenso céu azul por cima de nós os três. Pelo menos até ao momento em que se sentou.

–O que eu sinto é pura inveja.

–Inveja? Do quê?- perguntei, curiosa com o que poderia ser.

–Do Goenji Shuya.

–Do... Goenji?- murmurei, espantada com a resposta do rosado.

–Antes mesmo de começar a jogar, já emitia uma aura completamente diferente como jogador.- é verdade. Mesmo fora do campo, a aura do Goenji é incrivelmente poderosa- Compreendo porque razão os rapazes do primeiro ano estão desejosos que vocês o chamem para a equipe.- isso era realmente verdade? Eu e o Mamoru fitamo-nos depois do que ele dissera. Mas logo voltamos a olhar para as costa do nosso companheiro- Quando o Goenji fez aquele incrível golo só pensei “Quem me dera que tivesse sido eu a fazê-lo.”- a verdade é que não cheguei a fazer diretamente o golo, apenas dei assistência, por isso, sinceramente, não podia dizer que compreendia a cem por cento o que ele sentiu naquele momento.

–Compreendo.- foi a única resposta que me saiu, fitando a relva por baixo de mim.

–Não quero ser menos que o Goenji. Por isso quero ser capaz de um remate tão impressionante como o dele.- voltei a olhar para ele, surpreendida com as suas palavras.

De repente, o Mamoru levantou-se, assustando-me.

–Está bem!- começou, entusiasmado- Então vamos começar a procurar o teu próprio remate e com ele derrotaremos o Colégio Sobrenatural!- sorri com as palavras dele e abanei a cabeça positivamente me sinal de concordância, enquanto me punha de pé.

–Isso é impossível.- respondeu o atacante- Quantos dias é que achas que faltam para o jogo? Não há tempo.- o Mamoru pôs-se de cocaras do seu lado, colocando uma mão sobre o seu ombro.

–Mais uma razão para tentarmos.

–Claro... Dize-lo é fácil.

–Vá lá, Someoka!- assim que falei, ganhei a atenção dos dois, aproximando-me deles- Não tens que te tornar no Goenji Shuya.- e coloquei as mãos nas ancas- Tu és único, Someoka Ryuugo!

–Porque não vemos que tipo de futebol tens dentro de ti?!- perguntou o Mamoru, ficando com a sua atenção.

–Tenta ter um pouco mais de confiança em ti mesmo.- ele continuava a fitar o nosso capitão, mas apesar de estar de costas para mim conseguia perceber o sorriso na sua face.

–Agora vocês verão o futebol que tenho dentro de mim.- e levantou-se- Está bem! Vamos descobri-lo!- ele parecia mais empenhado do que nunca, o que era ótimo- o meu próprio futebol! O meu próprio remate!- eu e o Mamoru não conseguimos conter um enorme sorriso ao vê-lo assim tão animado.

O Someoka, calçou-se rapidamente e foi o primeiro a descer para o campo, deixando-nos para trás.

Ri-me com a situação, feliz também por ela, antes de descer a correr e juntar-me ao treino, onde nos dividimos em duas equipes para começar a jogar uns contra os outros. Se bem que era mais os defesas contra os atacantes.

Quando a bola chegou a mim, passei-a para o Someoka que estava pronto a recebe-la. E quando ele chutou, pia jurar ter visto uma luz azul sair da bola, parada com alguma dificuldade pelo Mamoru.

–Quase que conseguias!- gritou o Mamoru antes de chutar a bola para o meio de nós e eu apanhei-a, continuando o jogo.

As coisas ultimamente têm corrido muito bem para nós! Ganhamos o nosso primeiro jogo, eu e o Mamoru temos técnicas de futebol, ganhamos uma nova ajudante no time o que é espetacular, e agora todos treinavam com imenso entusiasmo comparado a antes! Estávamos todos de olhos no futuro, mais precisamente no nosso próximo jogo, empenhados para ele e entusiasmados com a sua chegada!

O remate do Someoka estava a ficar cada vez mais forte e a potência era cada vez mais, empurrando cada vez mais o capitão para dentro do gol.

–Muito bem, Someoka! Volta a tentar!- pediu o goleiro.

–Sim!- o atacante parecia entusiasmado.

Todos voltamos a correr para trás assim que a bola foi chutada e preparamo-nos para continuar o jogo.

Durante algum tempo, consegui esquecer o Goenji e a sua irmã, mas desde que começara a treinar, sempre que olhava para a bola, as memórias do hospital teimavam em voltar.

Assim que a bola chegou até mim, senti uma frustração enorme ao pensar na Yuka, deitada naquela cama de hospital e no quanto o Goenji estava a sofrer, e acho que acabei por chutar a bola com demasiada força. Se bem que para o Someoka, aquilo não parecia ser nada e acompanho-a até ao fim... Até finalmente fazer a sua própria técnica!

Era azul tão como me parecera das vezes em que ele chutara contra o gol, só que desta vez, essa luz era acompanhada por um enorme dragão da mesma cor, que foi com toda a força em direção a um Mamoru petrificado, ficando apenas a olhar, de mãos erguidas, vendo a bola passar por ele e tocar nas redes brancas, marcando golo, deixando-nos a todos espantados e em silêncio, apesar de boquiabertos.

–Que legal!- começou o Kurimatsu.

–Foi diferente de qualquer outro remate.- acrescentou o Kazemaru.

–Serei o único que ouviu o rugido de um dragão?- o Handa não tinha sido o único, isso podia ter a certeza.

–Claro que não.- respondeu o Shourinji- Eu também o ouvi!

Corri até ao Someoka e vi o Mamoru fazer o mesmo.

–Aquilo foi incrível, Someoka!- felicitei-o.

–O remate que fizeste foi espantoso!- continuou o Mamoru, incrivelmente entusiasmado.

–Este sim...- murmurou, antes de cerrar os punhos e sorrir com a alegria de ter conseguido o seu objetivo- Este sim é o meu próprio remate!- e o Mamoru pôs-lhe o braços sobre os ombros.

–Conseguiste!

–Muitos parabéns, Someoka!- felicitei-o com um sorriso que foi retribuído. E de seguida, todos o felicitaram também- Bom, agora temos que dar um novo ao remate!- lembrei.

–Que acham de DRAGON CRASH?!- sugeriu o Max e todos acabamos por concordar, contentes pela conclusão definitiva da técnica.

Enquanto comemorava-mos, vi a última pessoa que esperava encontrar naquele local, aproximar-se de nós.

–Goenji.- assim que mencionei o nome do atacante de fogo, todos se calaram para o encarar, surpresos pelo facto dele ali estar e estar a aproximar-se de nós.

Senti as maças do rosto aquecer assim que o vi para frente a mim. Vi de esguelha que o Mamoru reparou, já que tentou encarar.

Ele continuava de olhos fechados, mas mesmo assim via-se que o que ele tinha para dizer era importante.

–Malina.- mencionou o meu nome pela primeira vez, o que fez o meu coração acelerar- Isto é... Bem...- não sabia se havia de ficar nervosa ou... Bom, nervosa! E assim que abriu os olhos e fitou os meus cor de esmeralda, percebi que o assunto era realmente importante e só me passava um pela cabeça- Posso jogar?

Não pude deixar de sorri com as suas palavras! Olhei para o Mamoru e também ele tinha um enorme sorriso nos lábios. E quando voltei a fitar o Goenji, tive de me conter para não chorar, gritar, correr para ele e abraça-lo.

–Claro que sim!- respondemos eu o Mamoru em uníssono.

Por trás de mim, alguns dos rapazes gritaram “Viva!”, pois finalmente o que eles tanto queriam, aconteceu de verdade!

Levei as mãos peito e fechei-as assim como os olhos, recordando as suas palavras e acreditando com todas as minhas forças, que aquilo não era um sonho.