Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 3
Desacelere || Katniss


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Eu sei, demorei. Eu sei, ainda não respondi os reviews. Eu sei, sou feia charta horrível! mas me perdoem, contratempos atrasaram esse capítulo e falta de tempo me fez não poder responder os comentários ainda. Vocês tem sido incríveis comigo e eu aqui toda irresponsável...

Ah, mas devo agradecer muito pela aceitação de vocês à fic. Quando vi o número de pessoas que já estão acompanhando, fiquei maravilhada. Espero ver mais e mais!

Enfim, ao capítulo, na narração da nossa Katniss maluquinha... Essa vai dar trabalho!! Aproveitem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556919/chapter/3

Fechei a porta e encostei minhas costas nela com meu sorriso maior que achava que um dia poderia ficar. Finalmente as coisas poderiam dar certo pra mim.

Não que minha vida toda eu não tenha tido sorte, pelo contrário, nunca pude reclamar de como o destino encaminhava os rumos dela. Eu tinha meus pais a apenas duas horas de distância, tinha meus amigos que sempre estavam lá para me xingar ou me consolar, tinha minha faculdade e meu estágio, que apesar de às vezes tentar me matar de cansaço, me faziam sentir útil e realizada. E ainda tinha nossa pequena Prim, minha linda e esperta afilhada alegrando meus dias. O único aspecto que não estava lá muito bem era o amoroso, mas graças a Peeta logo eu daria um jeito.

— Desembucha, como conheceu o Mellark? — Jo voltou da cozinha com a braço dentro da caixa de cereal e comendo como se fosse algum tipo de pipoca de cinema.

— Saí com um amigo do Gale ontem. — comecei ansiosa por falar da minha aventura hospitalar. — O cara me deu um fora, e a louca aqui resolveu chamar a atenção gritando pra ele de cima do balcão do bar. As coisas começaram a dar errado quando eu caí de cima da coisa em cima do meu copo!

— Espera, caiu ou se jogou pra ele te segurar, como naquele filme que assistimos semana passada?

— Claro que caí Johanna, que pergunta... — não contive uma risada ao lembrar que talvez a queda não tenha sido tão acidental como eu fiz parecer. Sempre fui uma ótima ginasta no colégio, estava acostumada com quedas, e obviamente eu não contava que meu copo de vidro cairia embaixo do meu braço. — Mas então... O Peeta também estava lá e ele meio que prestou os primeiros socorros e me levou pro hospital que ele trabalha.

— Ainda não acredito que o mesmo Peeta que eu conheci há uns anos virou médico.

— Bem lembrado, pode ir contando direitinho essa história de conhecer um gato daqueles e nunca ter me apresentado. A menos que você e ele. Ele e Prim...

— Não! Claro que não! — ela virou o rosto tentando esconder um discreto rubor que chegou à sua face. — E tipo, vocês dois... Rolou alguma coisa?

— Se dependesse de mim, claro que sim, mas além do fato dele me achar meio louca, claramente sem razão, ele parece muito responsável e meio reprimido.

— Responsável e reprimido? Peeta Mellark? Nem fodendo... — ela gargalhou.

— A Prim! — briguei com ela por conta do palavrão solto na conversa. — E como assim, quando vocês saíam juntos ele não era certinho daquele jeito?

— Certinho? — ela desdenhou com uma gargalhada me fazendo a olhar confusa. — E não saíamos juntos, apenas dividimos uns copos de cerveja e uns baseados. Ah, e umas noites muito loucas!

— Vou perguntar isso pra ele, o Professor vai ter que me explicar direitinho que fase negra foi essa. Mas terminando a história, ele costurou meu corte, fez exame, me deixou de castigo no hospital a noite toda e me trouxe pra casa.

— Gentileza sempre foi o forte dele, mesmo na “fase negra”. — Johanna fez sinal de aspas, como sempre não fazendo grande caso dos meus termos considerados por ela um pouco exagerados.

— Pois é... E a melhor parte de tudo: ele concordou em me ajudar a arrumar e conservar um namorado com dicas super secretas da mente masculina. Ai, estou tão animada, acho que vou sair e fazer umas comprinhas. — bati palmas de agitação. — Quer vir?

— Eu jurei que ouvi o doutor te mandar ficar em repouso.

— Nada de repouso. Ele disse “tome seus remédios, cuide dos pontos e não se jogue de balcões”. — tentei sem sucesso imitar a voz rouca e sexy demais para alguém tão engomadinho como Peeta. — Ah, e ele me disse também pra não contar nada disso pras minhas amigas, o que estou fazendo agora com você. Foi mal Professor! — gritei pra porta. — Mas você quer vir comigo?

— Vou levar a Prim pra passear, tinha prometido isso a ela.

— Vou checar o Gale então. — falei já pescando meu telefone na bolsa.

— Boa sorte com isso. Ele tá todo estressadinho porque ontem eu pedi que ele ficasse com a neném em cima da hora pra que eu pudesse sair.

— Saiu pra onde e com quem posso saber? — estreitei os olhos com malícia.

— Segredo. — ela piscou pra mim, voltando pra cozinha. Eu dividia apartamento há três anos com Johanna e já a conhecia há quase cinco, e se eu fosse parar pra pensar, não sabia nem um terço da vida dela.

— Gale, amor da minha vida? — tentei usar minha voz charmosa quando ele finalmente atendeu. — Como vai o cara mais lindão do mundo?

Nem vem Catnip, não vou fazer o que quer que você queira que eu faça!

— “Que quer que você queira.” — repeti destacando bem os Qs repetidos na frase e o fazendo bufar do outro lado da linha. — Qual é querido?

Suas piadinhas e trocadilhos perdem a graça quando a pessoa passa a noite brincando com uma criança de cinco anos. Nem vem!

— Ah Gale, alguém precisa carregar minhas sacolas de compras! Estou com meu braço cortado! — E a isca da doença e fragilidade foi jogada...

E pra fazer compras ainda? Você sabe como detesto isso! Ei, espera... Braço cortado? — E o peixão mordeu!

— Passei a noite no hospital, você nem sabe... O encontro que você me arrumou foi um total fracasso.

Desculpa Katniss, eu achei mesmo que ele era um cara legal. — ele falou com pesar. O fazer se sentir culpado, sempre funcionava.

— Relaxa, nada que um vestido novo e um par de sapatos não resolva. Te encontro às 15 horas, pode ser? Naquela loja perto da minha sorveteria preferida, estou morrendo de vontade de um daqueles gigantes de flocos que você sempre me paga. — falei em um único fôlego.

Mas eu nem disse se...

— Beijo, tchau. — desliguei antes que qualquer argumentação fosse feita.

~

— Atrasado! — o acusei terminando a casquinha. — O próximo é por sua conta.

— Você marcou comigo na loja, não aqui. — Gale falou sentando-se ao meu lado.

— Esperar me deu fome. — dei de ombros. — Vem, vamos comprar um sorvete pra você e outro pra mim. — fiz sinal pra a garçonete.

— Eu não quero sorvete, quero saber como você conseguiu esse buraco no seu braço. — só então desviei a atenção do cardápio e vi que ele olhava curioso e um pouco preocupado para o local do corte.

— Nada de mais, vou tirar esses pontos em dez dias e tudo volta ao normal.

— Meu Deus Katniss, como isso foi acontecer? — ele acariciou meu braço próximo ao ferimento, quando ouvimos um suspiro da adolescente loira de cabelos encaracolados em pé ao nosso lado.

— Isso é tão fofo, seu namorado é tão cuidadoso.

— Eu não...

— Ele não é incrível?! — cortei a fala de Gale passando o braço por sua cintura, entrando na brincadeira e me divertindo a vê-lo avermelhar. — A gente tá tão feliz, ele me pediu em casamento ontem, acredita? — mostrei o anel que ganhei do meu pai quando entrei na universidade.

— Mentira? Ai, vocês são tão lindos juntos!

— Eu sei! — comecei a movimentar minhas mãos perto do meu rosto, mordendo o lábio, as lágrimas quase nos meus olhos. E o Oscar vai para...

— É amorzinho, mas é melhor você não comer outro sorvete, ou não vai entrar no vestido de noiva. — Gale me arrastou para fora da sorveteria pela mão, dando um aceno rápido para a jovem. — Já mandei parar com isso! — ele falou sem humor quando chegamos fora.

— Foi engraçado Gale, fala sério!

— O que não é engraçado é você se machucando assim. Como foi isso? — ele analisou mais de perto meu machucado.

— Eu caí, me cortei e acabei passando a noite no hospital, mas essa nem foi a melhor parte.

— Ainda bem que não. — ele riu.

— Ontem conheci um cara.

— O Cato, eu sei.

— Não, o que me salvou quando me machuquei. Ele é tão docemente adorável e sexy que me deu vontade de lamber ele todinho. — passei a língua pelos dentes enquanto Gale fazia uma careta de nojo.

— Catnip, me poupe dos detalhes dos seus pensamentos depravados, por favor.

— O fato é que consegui convencer ele a se encontrar de novo comigo pra me dar “dicas de relacionamento”. — fiz sinal de aspas com os dedos.

— E o coitado caiu nessa? — meu amigo gargalhou.

— Sei ser convincente. — dei um riso malicioso. — E essa é a versão da história que contei pra Johanna também, então tenta manter a boca fechada!

— Mas deixa eu adivinhar... Você vai se jogar nele na próxima vez que o ver?

— É, basicamente isso. Agora me diz se não sou genial...

— Katniss... Katniss... O que faço pra fazer te convencer a ir com mais calma?

— Nada, agora fica quieto que vou ligar pra ele.

Bati meu pé impaciente quando a ligação caiu na caixa postal. Mas eu não queria deixar recado, se eu fizesse isso, Peeta provavelmente retornaria com uma desculpa pronta e bem elaborada e isso não seria nada bom.

Alô? Quem fala? — Peeta atendeu com a voz sonolenta depois na terceira chamada.

— Professor? Te acordei?

Desculpe, acho que você ligou pro número errado, não sou professor.

— É sim, o meu professor particular. Aqui é a...

Katniss? Como conseguiu esse número? — ele lembrava até meu nome. Ponto!

— Peguei seu telefone ontem à noite enquanto você dormia. Não deixe seu celular sem senha Professor!

Você devia ter me dito isso antes de pegá-lo.

— Não tinha nada de interessante nele mesmo. Quase nenhuma foto ou vídeo. Histórico de ligações, mensagens de texto e WhatsApp devidamente apagados. O que você esconde Peeta Mellark? — minha última frase fez Gale me lançar um olhar preocupado, mas apenas fiz sinal com a mão para que ele deixasse para lá.

Faço isso no caso de pacientes xeretas pegarem meu telefone sem permissão.

— HA HA HA. E não sou xereta, sou curiosa e estava sem sono. — Gale gesticulou um “você é sim” com os lábios pra mim, o que me fez rolar olhos.

Vai me dizer o que quer ou posso voltar a dormir?

— Marcar nossa primeira aula. E nossa, você dorme demais! Já tentou cafeína?

Eu não tomo... Deixa pra lá, não posso nesse fim de semana.

— Será durante a semana então...

Não posso, tenho residência.

— Que merda Professor, você me prometeu! Pode ir arrumando uma vaga pra mim nessa sua agenda monótona. — exigi, mas logo que vi Gale fazer sinal para que eu fosse com calma, respirei fundo. — Por favor...

Ok! Você vem no meu apartamento que eu arrumo o jantar. — dei um soco no ar quando Peeta finalmente se rendeu. Mentira, dei um soco do braço do Gale mesmo!

— Ai!

Isso foi um gemido? Tem alguém aí com você?

— Tem, mas é só o Gale. Qual o seu endereço? Me manda por mensagem agora. Ah, e eu devo levar alguma coisa? Um caderno, sei lá... Ah, e que tipo de comida você vai fazer, tenho que ver se bate com meu regime, mas acho que isso não vai ser problema, já que meu regime me diz pra comer de tudo. — gargalhei. — Ai, estou tão ansiosa, e...

Katniss?

— Fala Professor!

Desacelere, ok?! Até amanhã. — ele desligou. Olhei para meu amigo, ansiosa por contar cada detalhe do que eu tinha em mente, mas Gale me olhava com tédio e cansado.

— Eu posso ir pra casa agora?

— Nada disso, eu vou entrar em várias lojas e vou experimentar vários vestidos, até achar um que você olhe e diga “preciso fazer sexo com essa mulher agora”. — uma senhora empurrando um carrinho de bebê nos olhou feio ao passar do nosso lado. — Somos noivos. — lhe dei um sorriso cínico e mostrei o anel.

— Para de falar isso para as pessoas Kat!

— Você vai me ajudar?

— Tenho escolha?

— Tem a escolha de me ver ficar uma solteirona chata cheia de gatos que vai te atormentar pro resto da sua vida e provavelmente morrer de alergia, já que não posso sentir pelo de gato. Isso ou me ajudar agora. Qual vai ser?

— Vamos logo procurar o maldito vestido!

Levantei de um pulo já quase correndo em direção à primeira loja, e praticamente o arrastando depois de mim.

~

Contemplei minha imagem maquiada no pequeno espelho do meu pó compacto, enquanto retocava o batom vermelho e dava uma volta nervosa em busca de ar no corredor. Peeta precisava mesmo se mudar para um prédio com elevador. Os três andares mais meus saltos de quinze centímetros quase conseguiram destruir a cuidadosa maquiagem que eu havia feito.

Ajustei o decote do meu tubinho turquesa, antes de contemplar a porta fechada à minha frente. Respira fundo e arrasa Katniss! Dei duas batidas leves com o punho fechado na madeira, e dei um passo atrás, formando meu melhor sorriso.

Estou indo. — ouvi a voz de Peeta gritar do interior. — Oi Katn...

Não dei tempo para ele sequer terminar meu nome, já que mal a porta foi aberta, espalmei minhas duas mãos no peito dele e o empurrei contra uma parede que ficava em frente à entrada, já buscando encontrar a boca dele com a minha.

— O que você está fazendo? — Peeta perguntou sobressaltado, me afastando com suas mãos fortes segurando meus ombros.

— O que parece? — me desvencilhei dele, descendo suas mãos para minha cintura e o empurrando em direção ao sofá da sala, fazendo ele cair de costas no móvel.

— Não foi pra isso que você veio aqui, eu não... Nós não... Katniss! — ele continuava desviando o rosto evitando meus beijos. — Para com isso garota! — me afastei um pouco para olhá-lo e não imaginei que encontraria traços de desconforto em seu rosto. A maioria dos caras se aproveitaria da situação.

— Dá pra parar de falar e de se esquivar Professor, eu estou tentando me concentrar aqui, mas tá difícil...

— Peeta, meu filho, estou indo, amanhã eu passo... Quem é essa?

Em um movimento rápido, Peeta me tirou de cima dele e sentou-se, coçando a nuca e bagunçando os próprios cabelos num gesto de nervosismo.

Confesso que por essa eu não esperava. Ele mora com a mãe? Ou avó?

Uma senhora quase chegando aos seus sessenta anos de idade, se aproximava encaixando uma bolsa enorme no braço.

— Finalmente vou conhecer alguma namorada sua Peeta? — a senhora falou com o riso malicioso brincando nos lábios e me fez rir.

— Ela não é... A Katniss é só... A Katniss... Katniss, se apresenta, faz favor. — Peeta gaguejou, cobrindo o rubor que chegou a sua face. Fofo!

— Oi, eu meu nome é Katniss Everdeen, Peeta é meu médico. — levantei arrumando o vestido pra baixo e estendendo a mão para a senhora.

— Hm, médico, sei... — ela apertou minha mão. — Sou Grease Sae.

— É a mãe dele? Porque, tipo, ele não é muito grandinho pra viver com a mãe? Eu estive pensando e calculando pelo que a Johanna me contou e ela já deve ter uns, sei lá, 25 anos? 24, no mínimo. Pela cara séria, eu diria uns 60 anos. — gargalhei.

— Faladeira essa sua “paciente”, não é Peeta?

— Sou curiosa, é diferente.

— Ela é intrometida. Obrigado por vir hoje me ajudar tia Grease. — ele levantou-se e abraçou a senhora, dando um beijo no topo de sua cabeça. Ah, então ela é a tia...

— Não foi nada meu anjo, você precisa comer melhor. E descansar mais.

— E eu iludida aqui pensando que o Professor ia cozinhar... — falei pensativa pra mim mesma.

— Gostei de você Katniss. A gente se vê. — depois de um aceno rápido, ela saiu, Peeta fechando a porta e mal tendo tempo de respirar quando envolvi meus braços em seu pescoço.

— Mais algum empregado ou parente escondido no apartamento? No quarto talvez? — sussurrei ao seu ouvido.

— Nada disso. — ele me afastou me colocando sentada no sofá, sentando-se ao meu lado. — Você não veio aqui pra isso, e eu não pretendo mesmo transar com você hoje!

— Vamos esperar dar meia noite Professor? Aí já será amanhã.

— Katniss, é o seguinte: ao contrário de você, não estou mesmo procurando um relacionamento. Minha vida já é cheia o bastante, e não me leve a mal, você não é meu tipo.

— Você também não é o meu, mas eu abro uma exceção. — consegui atacá-lo a tempo de dar um beijo em seu pescoço, mas novamente fui afastada.

— Se você ainda quiser fazer a coisa dos conselhos, eu estou disposto, porque não costumo voltar atrás das minhas promessas. Mas se continuar com isso, vou ter que pedir que cortemos nosso contato agora. Você deve se focar em alguém que possa ser um futuro de verdade, não apenas o caso de uma noite, como seria comigo. — a forma séria como ele falou, me disse que Peeta não mentia.

— Ok, aceito seus termos! — me encostei de braços cruzados no sofá e o vi soltar um suspiro aliviado.

— Ótimo. Agora se me dá licença, vou pegar um copo de água pra você e um banho bem frio pra mim. — ele foi em direção à cozinha com um riso nos lábios, me fazendo rir, mesmo meu nível de frustração estar malditamente alto.

Peeta Mellark com certeza era intrigante. Ele geralmente se comportava de modo sério e constrangido, então do nada soltava uma piada ou um sorriso. Juntando isso com a história que Johanna me contou, comecei a ter fortes suspeitas que esse modo mais introvertido dele não era o real Peeta.

Mas ele ter me rejeitado ainda martelava em minha mente. Ninguém nunca tinha feito isso, nunca! Os homens até nem poderiam querer nada sério, mas sexo, nunca rejeitaram.

— Pega. — ele sentou-se e me estendeu um copo de água, e depois de ter passado tanto tempo fora, quando achei realmente que ele tinha ido tomar um banho. Aceitei a gentileza e tomei um gole enorme, pra logo em seguida notar que estava doce. Água com açúcar? Involuntariamente, cuspi tudo à minha frente, molhando parte do tapete e a mesinha de centro que tinha alguns papeis.

— Mas que merda? Tem açúcar!

— E você acabou de destruir meu artigo científico recém impresso! O que tem na sua cabeça Katniss? — ele brigou comigo como se aquilo realmente fosse culpa minha.

— Você colocou açúcar na água! — rebati apontando para o copo na minha mão.

— Eu não vou consegui fazer isso... — ele levantou-se passando as mãos pelos cabelos. — Você é impossível de lidar!

— Me desculpa! Prometo ser boazinha, mas me ensina... — o alcancei segurando suas mãos. — Prometo que não vou mais te chatear, nem tentar te agarrar, nem cuspir nos seus trabalhos. Prometo também...

— Ok Katniss, não precisa prometer mais nada. É que você precisa mesmo ir mais devagar com tudo que você faz.

— Como assim? Eu não sou acelerada. Pelo contrário, teve uma vez que eu estava dirigindo que as pessoas até buzinavam para que eu me apressasse, na verdade, isso era por causa da namorada do meu ex que estava me xingando no WhatsApp só porque uma amiga dela que estudava comigo foi dizer que eu tava falando com o traste e nem era verdade, foi só uma vez que...

— Viu? — ele até tentou se manter sério, mas estava rindo descaradamente de mim. — Você falou em uma frase sobre uns cinco assuntos. Homens não acompanham tudo isso. Por exemplo, a maioria dos caras se perderia na parte das pessoas buzinando pra você! Por isso te dei água com açúcar... Pra começar, você precisa desacelerar.

— A culpa não é minha se vocês são retardados.

— Não somos retardados, somos homens. Assimilamos uma coisa de cada vez. Vocês mulheres vêm com um milhão de assuntos. No início até tentamos acompanhar, mas depois que perdemos o fio da meada, apenas nos desinteressamos. E vocês ficam falando para um zumbi.

— E o que eu faço? Eu não consigo ir mais devagar, quer dizer, falar rápido, pensar rápido, agir rápido, essa sou eu!

— Não quero te mudar, apenas te melhorar. Vem, vamos treinar. — ele me levou até o sofá. — Imagine que nos encontramos por acaso em um bar qualquer e eu puxei assunto com você. Perguntei sobre sua faculdade, por exemplo. O que você me diria?

— Fácil. Curso psicologia, último ano. Eu amo minha profissão e os estágios são a melhor parte. Eu e Clove, minha melhor amiga do curso, somos uma dupla desde, o segundo período, quando o professor nos obrigou a compartilhar a bancada de neuroanatomia. Esse professor inclusive tinha maior fama de cafageste, e soubemos de uma história que ele e uma aluna...

— Katniss.

— Por favor, não me interrompa Professor... Como eu estava dizendo...

— O que eu perguntei no início?

— Sobre a faculdade, estou chegando lá.

— Não, você novamente está divagando entre assuntos aleatórios.

— Você vai ficar só me corrigindo e me interrompendo? — ele voltou a rir e sinceramente eu não entendi qual a graça. Quando eu fazia piadas ele ficava sério, e quando falava sério ele ria.

— E não é isso que os professores fazem? Imperrompem e corrigem? Respira fundo que vou te ensinar o que dizer.

Passamos a hora seguinte sentados no sofá com ele me mandando ir com calma e falar um assunto de cada vez. Nunca tinha travado uma luta contra a velocidade do meu pensamento, mas ele mesmo teve que admitir que eu estava me esforçando. Fizemos uma pausa para comer o risoto delicioso que Grease tinha preparado. Descobri que a gentil senhora não era tia, mas uma empregada bem querida dele. Fora isso, não descobri mais nada sobre ele, nem com minhas indiretas sutis (ou nem tanto!) para desvendar o passado misterioso do jovem médico. Eu sei que deveria estar assustada ou pelo menos cautelosa em estar me aproximando assim de alguém tão emblemático, mas ele de alguma forma de passava confiança.

— Estou cansada professor, podemos fazer uma pausa, ou continuar depois? — falei quase uma hora após o jantar, depois que ele já tinha me feito contar mil e uma histórias resumidas e eu estava precisando mesmo da minha cama e de um banho.

— Espera, você pode falar de novo? — ele pegou o celular de cima da mesinha e direcionou a câmera pra mim.

— O que é isso Professor?

— Conquistei meu primeiro grande feito e tenho que registrar em vídeo. — como o olhei confusa, ele explicou rindo. — Fiz uma das pessoas do universo mais ligadas no 220 se cansar. Ganhei meu dia!

— Olha quem sabe fazer piadinhas. — desdenhei. — Mas é sério, tenho aula amanhã cedo, tenho que ir.

— Você tem razão, acabei me empolgando em consertar seu caso sem jeito. Vem, eu te deixo em casa. — ele apressou-se em se direcionar à porta e pegar as chaves do carro.

— Não precisa, estou de carro.

— Pensei que não tivesse transporte próprio, já que sexta na boate...

— Eu queria que o cara me levasse pra casa, algum problema nisso?

— Eu citaria uma lista de problemas, mas não daria tempo, então fica pra próxima aula. A gente se vê Katniss.

— Você não pretende fazer desse nosso último encontro, não é Professor? — perguntei cuatelosa, temendo um pouco a resposta.

— Como eu já te disse, cumpro minhas promessas. Até mais. — ele me deu outro beijo no rosto antes de fechar a porta.

Confesso que o beijo não foi tão bom como o de ontem, afinal, foi bem mais rápido, mas parecia que ele fazia aquilo para me provocar. Foco Katniss, foco!

De todas as lições ensinadas naquela noite, a mais importante para mim foi a seguinte: eu tinha a incrível capacidade de foder com todos meus relacionamentos na vida, mas com esse eu não poderia. Mesmo a noite começando meio torta, eu acreditava mesmo que Peeta me ajudaria a encontrar o amor da minha vida e ferrar com essa chance era algo que eu não poderia nem sonhar em fazer.

Logo, Peeta Mellark, está fora dos limites pra você Katniss Everdeen!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, garotas, aprendendo um pouco com Peeta Mellark?
E o que estão achando, quero saber!!!

E se tiverem dúvidas, já podem recomendar... Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Está sendo um prazer e uma fofura escrever esses dois, prometo que não demoro tanto a postar!!

Até os reviews babys... Bjs*