Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 4
Diga não || Peeta


Notas iniciais do capítulo

Aeew, olha eu aqui!!!

Estou postando mais rápido para compensar o odioso fato de que apesar de ler tudo, não tenho tido condições de responder aos reviews. Mas de já agradeço a todos os favoritos e aviso que começarei e responder todos os comentários nesse capítulo, então comentem bastante!!!

Aproveitem o capítulo, e devo dizer que esse é o meu preferido, por isso ele ficou tão enorme!!! Boa leitura!!!



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Atenção, código azul no quarto 321. Código azul.

Logo após o alarme estridente ter ecoado, vi pessoas passando correndo por mim. Olhei ao redor, foi quando percebi que a emergência era exatamente em um quarto no fim do corredor que eu estava, o que me fez me direcionar para lá por instinto, mesmo tendo acabado de receber um chamado da Dra. Coin de comparecer ao quarto do meu paciente diabético.

— O que está acontecendo aqui? — perguntei a enfermeira que tinha uns cinquenta anos e que entrava apressada.

— Uma PCR* doutor.

— Alguém chama um médico! — gritei para as pessoas do lado de fora.

— Você é um médico, agora faça alguma coisa, ou a menina morre!

Merda, é verdade!

Eu ainda estava me acostumando com essa nova função, e eu nunca tinha atendido uma Parada Cadio-Respiratória sozinho, apesar de já ter assistido em várias. Você consegue Mellark, lembre-se do protocolo, medicação, procedimentos, vai dar tudo certo.

— Preciso de um carrinho de parada e 5mg de... — parei instantaneamente quando percebi que o corpo pálido e inerte em cima da cama era Katniss. Katniss?

— Peeta, me ajuda aqui. — Madge passou correndo por mim já tirando o estetoscópio do pescoço, entrando no quarto. — Peeta, acorda! — ela gritou pra mim.

Quando dei o primeiro passo em direção à Katniss, senti que o chão me faltou e que eu caía. Meus batimentos cardíacos estavam acelerados quando me sentei num susto na minha cama, respirando rapidamente.

— Peeta! — ouvi a voz de Madge me chamando do corredor. — Abre isso aqui, estou congelando! — ela deu duas pancadas espalmadas na porta.

Uma rápida olhada no relógio do meu criado mudo indicou que eram 03:20 da madrugada. Sério Madge? Me forcei a levantar da minha cama e caminhei devagar apesar dos gritos quase histéricos da minha amiga lá fora.

— O quê? — abri a porta ainda coçando os olhos com os nós dos dedos. Madge usava um conjunto de short e camiseta minúsculos, estampado de pirulitos. Não me espanta ela estar com tanto frio.

— Que demora! — ela deu um esbarrão proposital em mim antes de fechar a porta atrás de si.

— Você sabe que horas são loirinha?

— Você sabe quantos minutos fiquei te gritando numa temperatura de 10 graus?

Foi apenas o que ela respondeu antes de rumar o meu quarto e se atirar na minha cama, se embolando com os lençóis e já fechando os olhos. Me encostei na entrada, ainda boquiaberto pra falar qualquer coisa. Madge folgada? Imagina...

— Ah, você não se importa de dormir no sofá da sala, não é?! — ela abriu os olhos, parecendo notar pela primeira vez que me devia alguma explicação para invadir meu apartamento e tomar minha cama àquela hora. — Meu aquecedor quebrou e tá impossível de dormir naquela Arendelle!

— Naquela onde? — perguntei confuso e até um pouco revoltado. — E você já pensou em usar um pijama mais quente?

— Deixa de reclamar Peet, você tem um sofá cama! Boa noite! — ela se agarrou ao me travesseiro antes de fechar os olhos novamente. Bufei frustrado antes de tirar o travesseiro dos braços dela e puxar o edredom pra mim. — Folgado!

— Vou nem te responder Madge.

Me joguei no sofá, ainda me perguntando em como e quando essas mulheres começaram a tomar o controle da minha vida. Dra. Coin, Grease, Madge, Katniss...

Minha mente voltou ao sonho que não sei como, nem porque Katniss acabou invadindo. Eu juro que tentava me lembrar constantemente em como acabei entrando nessa com aquela garota pirada, mas nenhum motivo realmente bom surgia, fora o fato de querer ajudar uma alma tão pura. Sim, pura... Apesar de todo o aparente desespero por namorado e o fato de ter tentando me agarrar uns dias atrás, eu a via como uma criança: divertida e espontânea.

Mas teoricamente, você deveria ficar longe de pessoas como a Kat, lembra? Esquece isso Peeta, agora o que você precisa é conseguir dormir o restante da noite que amanhã o dia vai ser cheio. Fechei os olhos e não demorei mais que alguns segundos para cair em sono profundo.

~

Acordei com a batida de uma música eletrônica e o cheiro de café tomando o local. Coloquei o travesseiro sobre a cabeça na intenção de diminuir o volume, mas foi inútil.

— Madge, desliga isso, são seis e meia da manhã! — ela nem pareceu ouvir, já que a voz dela acompanhava a letra e o ritmo da música.

Fui até a cozinha para vê-la dançando e cantando, enquanto virava uma panqueca que caiu toda torta no chão. Acabei rindo.

— Esse moletom é meu. — falei me referindo ao blusão cinza que ela usava por cima do próprio pijama e que acabou cobrindo todo ele.

— Peguei no seu guarda roupa, tava frio.

— E onde arrumou café?

— Pedi no apartamento da frente, pra uma senhora que me olhou feio. Sou sua melhor vizinha desse prédio todo Peeta, fato.

— Só me diz que não estava usando isso quando foi lá... — apontei pro seu traje. — Porque tá muito cara de “garota descabelada passando uma noite qualquer no apartamento de um cara qualquer”.

— Isso explica a cara feia dela. — ela entortou o rosto finalmente parecendo entender algo.

— Madge! — briguei.

— Relaxa Peeta, você é adulto e eu também, e quem deve estar precisando de sexo é aquela chata, não nós. Agora vai tomar seu banho, que eu termino o café da manhã e vamos juntos pro hospital, ok?! — ela me empurrou aos chutes e tapas na direção do meu quarto.

Como entraríamos no plantão apenas às oito da manhã e Madge sempre foi a garota mais prática e rápida pra se arrumar que eu conhecia, eu tinha muito tempo pra curtir meu banho, e foi o que eu fiz. Depois de alguns bons minutos, saí finalmente bem desperto e pronto pra o trabalho.

Coloquei meus jeans e tinha começado a abotoar a camisa, quando ouvi vozes vindas do lado de fora. Meus dedos ainda trabalhavam nos botões quando me deparei com minha visita surpresa matinal.

— Katniss? — perguntei no susto.

Ela estava sentada com a cara amarrada no sofá da sala, segurando uma caixa de muffins, enquanto Madge tinha uma expressão parecida enquanto debruçava-se no balcão da cozinha.

— Quem é essa Peet? — ela deu a volta para vir na minha direção com as mãos na cintura. — Estou fazendo seu café e do nada essa pessoa toca a campainha. A essa hora da manhã!

— Eu trouxe muffins, ok?! O Professor não toma café. — Katniss falou estreitando os olhos para minha amiga, depois virou-se pra mim. — E muito interessante, não é? Você me proíbe de dormir com qualquer cara e logo traz essas coisinhas pra sua casa? Deveria pelo menos ter pendurado uma gravata ou uma meia na porta!

— E você é muito alta Giselle Bundchen! Vai explicar quem é essa garota ou não Peet?!

Peet? — Katniss desdenhou. — Apelidinho ridículo...

— Ridículo é você trazer essas gordices pro Peeta.

— E você já é nutricionista?

— Sou médica! — as duas ficaram se encarando.

— Ok, parou as duas! Madge não é minha namorada e Katniss também não! — falei alternando meu olhar entre as duas.

— Com essa atitude, não mesmo. — Katniss falou já se encaminhando à porta.

— Como assim? — eu e Madge perguntamos ao mesmo tempo.

— Deixa pra lá... Tchau Professor, quando você estiver menos ocupado eu te ligo.

— Katniss, espera... — a detive pelo braço. Eu não poderia deixar que ela pensasse que eu tinha o hábito de dormir com várias garotas enquanto dizia para ela não fazer algo parecido.

— Eu te faço panquecas e você prefere esses muffins de padaria? Tchau Peeta.

— Espera Mad. — usei minha mão livre para impedi-la de sair também.

— Vocês homens são todos uns cafajestes mesmo!

— Nisso eu concordo com a garota-gordice. Nem você escapa Mellark!

— Vocês podem me explicar como fui tomar banho completamente solteiro e acabei no meio desse triângulo amoroso? — tentei fazer graça, mas elas continuaram sérias.

— Mas é muito simples de resolver. Escolhe Peeta: muffins ou panquecas? — Madge sugeriu.

— Isso mesmo Professor, escolhe! — Katniss exigiu.

— Isso é ridículo! — soltei as duas, levando as mãos aos cabelos.

— Peeta, escolhe!

As duas falaram juntas com as mãos nos quadris numa pose autoritária. Eu olhava de uma para a outra sem ter muito o que falar. Foi quando Katniss trocou um olhar cúmplice com Madge e deixou escapar um risinho, que ela até tentou segurar, mas logo se transformou numa gargalhada descontrolada.

— Kat! — Madge brigou, mas logo a acompanhou nos risos.

— Desculpa Mad, mas não aguentei a cara de desespero dele.

— O que diabos está acontecendo aqui? — perguntei confuso. Aquelas garotas eram loucas e estavam tentando me levar junto pro hospício! E medicina psiquiátrica não era mesmo minha praia.

— Você não achou mesmo que eu brigaria por você não é Peeta? Se enxerga garoto, nós duas somos muitos comprimidos pra essa sua farmacinha. — a loira deu uma piscadela pra morena. — Vou me arrumar pro hospital, passa lá depois pra me dar carona, estou economizando gasolina, salvando o meio ambiente, essas coisas. Tchau Kat, foi um prazer te conhecer.

— Igualmente Mad. — as duas se abraçaram.

— Ei, meu moletom!

— Perdeu vizinho! — ela bateu a porta com mais força que o necessário.

— Ai Professor, essa sua amiga é top, ela seria perfeita pro...

— Katniss! — a interrompi. — Me explica antes que droga foi essa de vocês duas! Depois me perguntam por que eu estou solteiro!

— Ah, foi engraçado Professor, deixa de ser mal humorado! E o bom é que a comida dobrou!

Katniss colocou os muffins no balcão, andando livremente por minha cozinha como se morasse lá há tempos, pegando um prato, uma caneca e servindo-se de mais comida do que eu mesmo seria capaz de conseguir comer.

— Vai ficar só aí parado Professor? Vem comer também! — ela gesticulou para que eu me sentasse no banco ao lado.

— O que você faz aqui mesmo? — me servi de um copo de suco e uma panqueca.

— Então... Ontem eu estava lendo umas revistas. — ela falou ainda engolindo um último bocado antes de saltar na direção da minha mesa de centro, onde a bolsa dela estava. — Essas aqui. — ela jogou uma pilha de umas dez revistas no meu colo, todas com capas bem coloridas e com uma coisa em comum: relacionamentos.

— Não Katniss, você não pode ler isso.

— Por que não, posso saber?

— Isso é lixo pra iludir mentes como a sua. Tá tudo errado! As mulheres que escrevem essas coisas e indicam sucesso sem fim no relacionamento, não passam de umas tias gordas com muito tempo livre e que não entendem nada da cabeça masculina.

— Me desculpe se preciso me virar sozinha! Você prometeu que me ajudaria, mas só tem muita teoria! Olha, até rimou... — o olhar de Katniss viajou, então estalei meus dedos na frente dela.

— Katniss, foca! Como assim?

— Estamos nisso há uns quinze dias. Nos vemos três vezes por semana, conversamos bastante, mas nada de prática! Como você vai me avaliar e ver se estou aprendendo?

— É, você tem um ponto. — pensei um pouco e conclui que a próxima aula poderia bem ser transformada em prática.

— Semana passada eu tinha uns quatro. — ela gargalhou me mostrando o local do já cicatrizado “corte do salto desesperado”, como costumo chamá-lo secretamente.

— Você gosta tanto de fazer piadas Katniss, por que não aprende?

— HA HA, mas não teve graça, a minha foi melhor. Mas me diz, qual a sua ideia, já estou ansiosa! — ela começou a bater no meu braço e o fato do humor dela passar de beijos a risos a tapas me fez rir.

— Vou marcar um encontro pra você, amanhã.

— Com um médico gostoso como você? Adoro! — a olhei com repreensão, mas ela apenas riu dando de ombros. — O quê? Você é gostoso, não posso fazer nada. — rolei olhos.

— Te ligo contando os detalhes. Ah, e passo na sua casa amanhã antes, tenho que te dar algumas instruções.

— Ok Professor, mas acho que já consigo me virar sozinha. — meu sorriso declarou como eu não acreditava nem por um segundo na frase dela.

— Tá bom que consegue...

— Confie em mim. — ela piscou antes de ir pegar a bolsa, agora jogada no sofá. — Posso levar essas comidinhas pra viagem? — Katniss falou como uma criança pidona e logo cedi com um sorriso.

— Pode Katniss, pode.

— Obrigada Professor chato e lindão! — ela começou a apertar minhas bochechas e beijar meu rosto todo.

— Ok, ok... — segurei seus ombros tentando afastá-la. — Ok Katniss, para!

— Como eu disse, chato e lindão! Até amanhã.

~

— Atrasado! — Katniss abriu bruscamente a porta do apartamento dela pra mim. — Você disse oito horas. — ela disse já arrumando os brincos.

— Ainda são 19:50h!

Olhei para a garota que caminhava apressada pela sala colocando várias coisas na bolsa. Katniss usava um vestido de um ombro só muito justo na cor vermelha. A cada passo que ela dava, o vestido subia um centímetro e já estava revelando mais do que deveria.

— E você não vai vestida assim, vá se trocar!

— Não mesmo. — ela deu uma risada.

— Vai sim! Vocês mulheres acham que mostrando demais vão conquistar um homem e não é assim. Até nos sentimos atraídos, porque obviamente, vocês estão quase nuas na nossa frente, mas não é esse tipo de garota que queremos quando vamos escolher a namorada. O maldito sentimento de posse que temos naturalmente faz com que não queiramos que todos os outros caras vejam o que é apenas “nosso”, entende? Já te expliquei isso uma vez Katniss.

— Ah Professor, mas esse vestido é tão lindo.

— Pois não troque, e se conforme apenas com casos de uma noite.

— Merda. — ela saiu praguejando em direção ao quarto.

— Ei Katniss, e a Johanna?

Na casa do Gale ou em alguma saída misteriosa. Típico. Professor, vem aqui um minuto, por favor. — ela gritou do quarto.

Segui na direção da voz, até encontrar a porta entreaberta de onde saía uma luz. Katniss estava distraída de costas para a porta com a cabeça enfiada dentro de um enorme guarda roupas, usando apenas um conjunto de lingerie vermelho. Me virei de costas instantaneamente.

— Qual dos dois? — ela falou. — Professor, olha pra cá!

— Você tá nua.

— Ok senhor virgem... — ela gargalhou. — É sério, qual dois?

Me virei para analisar os vestidos, que pra minha sorte cobriam parte da nudez dela. Um era branco justo nas coxas e um pouco largo no tórax, com um decote gigante e detalhe de pedras nas costas. O outro era azul marinho, com a saia rodada e com rendas no busto. Considerando que qualquer movimento faria o azul subir ou voar, acabei vendo que o branco era a melhor opção.

— Acho que o da esquerda. — Katniss entortou a boca numa careta.

— Então vou ter que trocar a lingerie. — ela ficou me encarando por alguns segundos então começou a rir. — Vai ficar pra ver o show Professor? — ela levou as mãos ao fecho do sutiã, foi então que percebi que estava parado na entrada.

— Te espero na sala. — saí dali antes de ela visse quão vermelho eu estava. Garota maluca!

Sentei no sofá da sala e esperei... Esperei... Esperei...

— Katniss, mais rápido!

Você me obrigou a me trocar, agora aguente.

— Trocar o vestido, não seus órgãos internos.

— Quando você troca o vestido, tem que repensar sapato, penteado, maquiagem, joias, acessórios. Ser mulher é difícil!

Ela chegou na sala carregando os sapatos e a bolsa na mão e terminando de passar um batom vermelho. Seus cabelos antes soltos em ondas, agora estavam presos meio que desarrumados, destacando a total ausência de tecido nas costas. Não estava vulgar e valorizava cada detalhe do seu corpo perfeito. Passo um completo!

— Podemos ir agora? — levantei impaciente indicando a saída.

— Podemos. — ela riu cinicamente terminando de colocar os sapatos.

A viagem no meu carro para o restaurante foi rápida e agradeço aos céus por isso, já que mais uma palavra da Katniss e meus ouvidos sangrariam. Ok, isso foi um puta exagero, mas eu nunca tinha conhecido alguém que falasse tanto e olha que Madge-faladeira, como ela era conhecida no hospital, era minha melhor amiga.

— ...e foi a partir desse dia que eu passei a evitar comidas pastosas! Aquilo gruda no céu da boca da pessoa e... argh!

— Katniss, chegamos. — estacionei quase em frente ao restaurante.

— Mas já? Você nem me deu as instruções que prometeu!

— É que você se autodiagnosticando com fobia de pasta de amendoim acabou demorando mais do que eu esperava.

— Isso é sério viu? Não desdenhe da minha doença psicológica!

— Se fosse só essa... — murmurei pra mim mesmo.

— O que você disse?

— Que te trouxe uma coisa. — vasculhei uma sacola no banco traseiro antes de tirar a pequena caixa de cor parda de dentro. — Coloque isso no seu ouvido e cubra com o cabelo. — entreguei a Katniss o pequeno aparelho.

— O que é isso?

— Um ponto eletrônico. Vou ouvir o que acontecer lá e te orientar.

— Não sei se é uma boa ideia ter você na minha cabeça Professor.

— Katniss, você disse que aceitaria meus termos.

— Estou começando a repensar isso. — ela falou sem humor.

— Você quer que isso dê certo ou não?

— Eu sei, mas não gosto de ser controlada.

— Vou falar somente o necessário, ok?! E a prática de hoje é: diga não.

— Como assim?

— Você precisa aprender a ser mais seletiva, escolher melhor. Então marquei um encontro com esse amigo meu e não importa quantas e vezes e nem como ele te cante, você vai negar.

— Também não estou gostando disso.

— Você queria uma aula prática, não queria? Então é isso!

— Tudo bem! — ela falou rendida e até um pouco chateada. — Mas é bom esse seu ser amigo ser bem feio! — Katniss saiu batendo a porta do carro com força.

Dei a ela dois minutos de vantagem antes de entregar as chaves ao manobrista e também entrar no restaurante, sentando no bar que ficava na entrada, que me dava visão da mesa dela, mas não permitia que me vissem. Katniss olhava para os lados apreensiva com o atraso do seu par, enquanto o garçom lhe servia um copo de água. Esperar pontualidade de Finnick Odair também era demais.

— Katniss, você está quase quebrando o copo entre os dedos. Não quero terminar essa noite também no hospital. — falei baixinho para evitar que as pessoas ao redor escutassem.

Culpe seu amigo irresponsável! Se ele não aparecer, eu juro que faço vir aqui e jantar comigo Peeta Mellark!

— Vá com calma. Desacelere, não esqueça...

Cala a boca!

— Não me manda calar a boca!

— Falando sozinho Peeta?

Finnick chegou bem do meu lado e pude ver o olhar da garota que atendia no bar se voltou pra ele, assim como de duas mulheres que passavam por ali. Sempre fora assim, desde a faculdade, e se você decidia ser amigo de Finnick Odair, tinha que aceitar esse ônus.

— Porra Finn, eu disse oito horas! — falei depois que desliguei o comunicador. — A garota já está te esperando.

— Foi mal cara, tive uma briga com o ferro de passar e a camisa social.

— Tá, que seja. Vai logo, Katniss é a de branco, bem ali. — apontei disfarçadamente em direção à mesa.

— Nossa Peeta, se tivesse me mostrado uma foto dela antes, eu juro que estaria aqui às oito da manhã! Pelo jeito que você falava da menina, pensei que fosse um dragão! — olhei incrédulo pra ele. Isso lá é hora de fazer piada?

— Se comporta, vai?! E não esquece, mesmo que ela te dê o fora, continue insistindo, mas sem falta de respeito, por favor.

— Você está falando com um lorde inglês Mellark. — ele arrumou o terno antes de caminhar até lá.

Eu não tinha outra pessoa para quem pedir esse favor, Finnick era meu melhor amigo desde a faculdade. Tínhamos uma ficante em comum, mas logo que a garota cobrou demais de mim e depois dele, juntamos nossa aversão por relacionamentos sérios e duradouros e formamos nossa amizade. Ficamos exultantes quando o resultado da seleção para residente do Exempla Saint Joseph saiu e fomos aprovados.

Mas ao contrário de mim, que não me envolvia por mais de uma noite com ninguém, ele preferia começar inúmeros casos de uma semana, ou no máximo um mês, terminando logo em seguida pelos mais estúpidos motivos. Eu não queria aquilo pra Katniss, mas como eu disse a ela, era apenas um teste prático.

Você é Katniss? — Finnick perguntou jogando charme antes de sentar-se. — Peeta obviamente subestimou sua beleza.

Você é o amigo do Profes... Do Peeta?

Eu mesmo, Finnick Odair, ao seu dispor. — ele estendeu a mão por cima da mesa pegar a dela e dar um beijo.

Ai, isso vai ser difícil. — Katniss olhou para cima, quase que pedindo uma ajuda divina para cumprir a missão que eu tinha lhe dado.

O quê? — ele perguntou.

— Foco Katniss. — avisei.

Nada de mais. Então Finnick, de onde você conhece o Peeta?

Nos formamos juntos e fazemos residência no mesmo hospital.

Ah, já conheci o tal hospital numa outra noite. Peeta teve que costurar meu braço por causa de um acidente.

— Pare de falar de mim! — alertei.

Vamos parar de falar do Mellark, pode ser? Temos tantos assuntos interessantes. — Finnick pediu e de repente a vontade de socá-lo apareceu. Uma coisa é eu pedir isso a ela, outra bem diferente é quando ele fazia isso.

Vocês tem razão.

Vocês? — Finn questionou curioso e prendi a respiração.

É, vocês. Você e seus dentes brilhantes. — Katniss sorriu e me permiti sorrir também. Bela saída garota, bela saída!

Você é encantadoramente atrapalhada Kat. Posso te chamar de Kat?

— Negue!

Não acho que temos intimidade pra isso Finnick.

Podemos ter... Me dê dez minutos e duas taças de vinho.

— Diga não!

Com licença, vou arrumar meu sapato. Tá um incômodo aqui sabe? — Katniss se abaixou quase ficando debaixo do tecido que cobria a mesa.

— O que você está fazendo aí em baixo?

Para de me dizer o que fazer!

— Pois siga o plano.

Cala a boca!

Katniss, você tá bem aí em baixo? — Finn perguntou se inclinando para baixo da mesa.

Estou ótima. Do que a gente tava falando?

De nós dois uma garrafa de vinho.

Pensei que fossem duas taças.

Então você se lembra. O que me diz?

Vou ter que dizer não. — ela falou a contragosto mordendo o lábio.

E foi assim durante todo o jantar. Ele flertando e ela negando. Confesso que senti uma pontinha de orgulho da força que ela mostrava, mas Finnick mesmo não era o certo pra ela.

Acho melhor não Finnick, volto de taxi. — ela falou dando um soco na mesa.

Você está bem Katniss?

Maravilhosa. Você não tem noção. — ela respondeu ironicamente.

Nosso jantar foi muito bom, apesar de você ficar todo o tempo se esquivando de mim. Quando Peeta me disse que você era muito difícil, não pensei que fosse tanto. Mas ele me disse pra insistir, então não espere ver esse soldado aqui caído!

Espera, o que você disse?

Que eu não vou desistir...

Não isso, antes. Sobre Peeta.

Que ele me disse pra continuar insistindo, mesmo você me dando vários nãos. — agora fudeu! Que merda Odair, você fala demais!

Ah, ele disse isso?

Com essas palavras, por quê?

Por nada. — ela levou a mão ao ouvido.

— Katniss, não deslig... — foi tarde demais.

Eles ainda conversaram um algum tempo, ela dando risinhos demais e cobrindo a mão dele com a dela. Finnick parecia estar se divertindo mais do que nunca e aquele cara teria mesmo que arrumar outra pessoa pra trocar plantões, pois de mim ele não receberia favores tão cedo. Custava seguir a porra do plano?

Suspirei aliviado quando ela se levantou e repeti o movimento, quando vi que Katniss não se encaminhava à saída. Finnick chamou o garçom, pagou a conta e olhou para os lados antes de ir na mesma direção que ela. Eu estava com raiva e o fato de não estar vendo e escutando o que acontecia me deixava frustrado.

— Vai querer mais alguma coisa? — o barman me perguntou.

— Olhos verdes e cinzas com gelo, pode ser? — falei sem humor.

— Não sei se entendi.

— Deixa pra lá, obrigado. — paguei pelo único drink consumido antes de ir na direção que os dois tinham ido há uns dez minutos.

Ah, Finn... — um gemido de Katniss ecoou em minha cabeça. O aparelho deve ter ligado por acidente.

Nossa Katniss! — era ele. Agora sons de beijos. Que droga é essa agora?

Finnick, você é tão bom.

Você que é princesa! Gostosa!

Caminhei mais rápido para os fundos, onde ficava a cozinha. Antes que eu chegasse à porta dupla que dava acesso ao local, vi uma entrada mais estreita. Me aproximei e pude notar que os ruídos vinham de lá. Sexo em um depósito Katniss, depois de todo o tempo que perdi com você?

Mais um passo e a porta se abriu, revelando um Finnick morrendo de rir e uma Katniss com a cara amarrada, os dois totalmente vestidos e a uma distância considerável um do outro. Olhei para a cena sem entender, o choque estampado no meu rosto. Outro fingimento?

— Desculpa por isso cara, mas Katniss insistiu. — Finnick saiu do depósito dando dois tapinhas no meu ombro. — E boa sorte pra lidar com ela agora. — ele foi embora brincando com a chave do carro, a jogando para cima.

— Katniss... — ela cruzou os braços na frente do peito e passou direto por mim. a segui correndo para a saída, mas quando a alcancei, a garota já parava um táxi com um aceno exagerado. — Espera, eu te levo pra casa.

— Vou de táxi, obrigada.

— Não, você não vai. — a detive gentilmente pelo braço. — Obrigado. — agradeci dispensando o carro.

— Me deixa em paz Peeta, não estou a fim de falar com você hoje!

— O que eu fiz afinal? Pensei que estava te ajudando...

— Controlando minha vida? Manipulando meus movimentos, minhas roupas, minhas leituras? Me fazendo de idiota? Eu provavelmente teria uma oportunidade real com o Finnick e você nem deu chance pra isso, com essas suas teorias e a merda desse seu ponto eletrônico! — ela tirou o pequeno aparelho do ouvido com raiva e colocou na minha mão.

— Eu não entendo por que você tá com raiva. Estou te ajudando!

— Você tá brincando comigo, isso sim. Na sua cabeça sou sua marionete e você o barítono controlador.

— É ventríloquo!

— Que seja... Você queria que eu dissesse não, pois aí vai: NÃO toca em mim ou eu grito!

— Você já está gritando.

— Foda-se. — ela encheu os pulmões antes de começar. — Socorro! Socorr...

— Katniss, deixa de escândalo! Me desculpa, tudo bem? Não tive a intenção de ferir seus sentimentos, eu realmente achei que fazia algo legal pra você. Prometo não fazer mais isso, a menos que você peça.

— Não gosto que me digam o que fazer, nunca gostei. — ela cruzou os braços, agora falando com a voz mais baixa e controlada.

— Você é divergente, ninguém te controla, já entendi. — falei testando uma risada e lembrando do filme que Madge me fez ver duas vezes desde que ela se mudou pro meu prédio.

— Ahn? Diver... o quê? — Katniss me olhou confusa.

— Não é nada, só a Mad e a obcessão dela por sagas. Mas me diz: estou perdoado? — tentei um sorriso.

— Não sei.

— E se eu disser que você pode me abraçar, eu estou perdoado? — ela olhou para a rua movimentada, escondendo um sorriso. Nunca fui fã de abraços.

— Me paga um hambúrguer com refrigerante gigante, uma porção extra de fritas e um sundae de chocolate e eu penso no seu caso.

— Não sei se estamos vestidos apropriadamente pro McDonald’s Katniss.

— Quem se importa, estou faminta! Aquele restaurante serve um pingo de comida! — olhei com vergonha para o segurança e dois manobristas que estavam ali por perto.

— E como médico, tenho que dizer que essas coisas que você citou irão te matar antes dos sessenta.

— Você já me ensinou o “diga não” Professor, agora deixa eu te ensinar uma coisinha nova: “diga sim pra vida Peeta Mellark!”

*PCR (parada cardio-respiratória): interrupção da respiração e dos batimentos cardíacos.


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Notas finais do capítulo

MADGE!!! FINNICK!!! AMOOO ESSES DOIS!!! E vou parar de gritar agora!!!
E Katniss e Peeta deixem se der tão fofos!!! A primeira briga a gente nunca esquece...
Me digam o que estão achando, favoritem e recomendem muitão!!!

Bjs*

p.s.: Animados pra depois de amanhã? Premiere pípol, premiere!!!
The Mockingjay lives!!! If we burn, you burn with us!!! Revolution!!! Yellow Ficker Beat!!! Tudo em duas horas, tomara que nosso coração não tenha uma PCR, aí só o Dr. Mellark e o Dr. Odair pra dar um jeitinho!!!