Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 22
25 velinhas || Peeta


Notas iniciais do capítulo

Olá gente linda!!!
Adivinhem quem ficou em casa no feriado escrevendo capítulo novo? Eu!! o/
Esse capítulo marca a nova (e última!) fase da fic. Vocês verão pequenas mudanças em alguns comportamentos dos personagens e algumas pessoinhas que voltaram para ficar de vez. Muito treta vem por aí pípol!!!
Mas deixando meu agradecimento agora para a Elaine Chagas que me deixou uma linda recomendação esses dias. Muito obrigada querida!!
Agora... Boa leitura!! Bjs*



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― Então eu corri sabe? ― gesticulei excessivamente para tentar me fazer entender. ― Literalmente, eu corri pela metade da Universidade, logo depois de ter dirigido pela cidade pra comprar um celular novo por que o meu decidiu simplesmente morrer. Eu vou processar a Apple por me fazer perder a Katniss! ― Haymitch rolou olhos e começou a gargalhar. ― Do que você tá rindo? Não estou contando piada, estou com raiva!

Haymitch tem se mostrado um ótimo ouvido, pois ao contrário dos meus amigos, ele vai direto ao ponto com seus conselhos e algo nesse jeito lembrava meu pai. Se gostava ótimo, se não, ele dizia mesmo. E como ele tem passado bem mais tempo no hospital, somado ao fato de Madge estar sempre ocupada brigando com Gale pessoalmente ou por telefone, e Finn ainda estar chateado comigo, nosso vínculo de estreitou bastante.

― Raiva da Katniss? ― neguei com a cabeça e continuei meu relato. Se alguém merecia ser alvo de raiva aqui era meu celular e o senhor-sou-romântico-pra-caralho-com-minhas-rosas-vermelhas.

― E claro, eu ainda cheguei a tempo de ver a cena mais clichê do planeta. Rosas vermelhas, sério?

― Até porque as flores que você sempre dá pra Katniss são bem mais originais. ― Haymitch ironizou e estreitei meus olhos para ele.

― Como assim?

― Quantas flores você já deu a ela Peeta? Ela parece ser do tipo que gosta dessas bobagens.

― Isso não vem ao caso. ― desconversei. ― A questão é que...

― E o que você fez quando chegou lá? Deu os parabéns pela aprovação pelo trabalho que era tão importante para ela? ― na verdade eu saí de lá antes que ela me visse, mas não disse isso. Meu silêncio bastou como resposta para ele. ― Você precisa se posicionar direito, tomar uma atitude!

― Ela tá namorando aquele cara. Olha isso aqui. ― peguei meu celular e mostrei a tela para Haymitch. ― Mudaram status e tudo.

― E daí? Relacionamentos acabam o tempo todo!

― Eu não vou torcer pela infelicidade da Katniss, se é o que você está sugerindo.

― Você é exatamente como eu, garoto. Você acha que as coisas não darão certo pra você, e quando vê que é possível ser feliz, já é muito tarde e a oportunidade passou. Mas siga um conselho: você não precisa ser assim e acabar morrendo numa cama de hospital antes dos cinquenta anos de idade.

― Peraí... Conta essa história direito Haymitch, você já se apaixonou?

― Não está na hora de você ir pra casa garoto? Seu plantão acabou faz umas duas horas! E amanhã você volta cedo para cá, então precisa descansar.

― Tá preocupado comigo Haymitch? ― brinquei. Ele soltou uma risada.

― Eu não! Se estou morrendo, tenho mais o que pensar do que a vida do meu médico, que nem é mais meu médico por sinal.

― Tá bom, vou fingir que acredito. Mas amanhã passo aqui pra você me contar direito essa história de Haymitch apaixonado.

Me despedi com um aceno antes de sair do quarto.

À noite, o hospital adquiria um aspecto meio fantasmagórico. Com exceção do Pronto Socorro que sempre estava apinhado de pacientes e profissionais, as enfermarias dos andares superiores tinham o pessoal bem reduzido, e às nove e pouco da noite, a maioria dos pacientes e acompanhantes já tinha se recolhido.

Meu plantão acabou às sete e eu deveria voltar às sete da manhã do dia seguinte, mas acabei me distraindo falando com alguns pacientes e contando grande parte da minha história confusa com Katniss para Haymitch. Passei rapidamente na sala onde estavam os armários que guardavam minhas roupas e assim que as troquei, lembrei que tinha esquecido de assinar algumas prescrições para a noite de uma paciente.

Corri até o quarto de Annie, mas parei ao ver a o que se passava lá.

Finnick estava sentado na beira da cama, dando um casto e simples beijo no dorso da mão da garota, que tinha um brilho extra em seus olhos verdes e um sorriso apaixonado, sorriso este que era espelhado no rosto do meu amigo. Se ela não estivesse deitada em uma cama e ele vestido com nossas típicas roupas verdes e com o jaleco por cima, e a cena fosse em um parque ou restaurante, não haveria quem dissesse que haveria qualquer problema ou drama na vida deles. E em quase seis anos de amizade, eu nunca tinha visto aquilo em Finnick, mas via claramente quando meu pai olhava para minha mãe. Eu via em meu rosto de 17 anos no espelho quando pensava em Katherine.

Semanas atrás eu declararia para qualquer um que quisesse ouvir que seria impossível. Eles se conheciam há poucas semanas e não poderiam estar tão apaixonados, mas ao olhar para os dois não podia negar. Era amor.

Pigarreei me fazendo perceber na entrada. Ambos me olharam assustados.

― Eu posso... Er, Dr. Odair, pode nos dar licença? ― Finnick parecia convicto na decisão de permanecer, mas ao trocar um olhar com Annie, ela acenou com a cabeça que estava tudo bem ele sair.

― Algum problema Dr. Mellark?

― Annie... ― um sermão inteiro surgiu em minha mente, mas de repente eu não tinha vontade de soltá-lo. Eles tinham tanta certeza que queriam ficar juntos que me levou a refletir: “O que eu tenho a ver com isso? Deveria incentivar e não reprimir amor verdadeiro!” ― Preciso apenas assinar uma coisa em seu prontuário. ― peguei a prancheta no suporte em seu leito. ― O médico da noite já passou pra te ver?

― Não, mas a enfermeira disse daqui a pouco ele vem. Olha, sobre eu e Finnick...

― Não é da minha conta. ― percebi que podia ter parecido muito rude ao ver o modo retraído como ela me olhou. ― Eu quero dizer que você não precisa me dar explicações srta. Cresta, mas devo avisá-la para tomar mais cuidado. Se é alguém da sua família e não eu nessa porta, os dois estariam com problemas sérios. ― coloquei os papeis de volta no lugar. ― Boa noite, descanse. Você está melhor, talvez já receba alta amanhã. Boa noite.

― Eu o amo. ― voltei para olhar para olhá-la. ― Esperar tudo se alinhar e as coisas ficarem completamente perfeitas é burrice. Eu sei que você deve me achar uma garotinha idiota com problemas mentais que se apaixonou pelo primeiro médico lindo que lhe deu mais atenção, mas não é isso. Eu o amo de verdade. ― Annie reafirmou.

Todos pareciam saber identificar amor em si. Haymitch mais arisco que qualquer um quando o assunto era sentimentos sabia. Uma garota de vinte anos com transtorno bipolar sabia. Até o idiota do meu melhor amigo alérgico a compromisso sério sabia. E esse era o Universo me lembrando como eu era um idiota por esperar tanto tempo.

― Boa noite. ― lancei um sorriso e fechei a porta atrás de mim. Como previa, Finnick estava me esperando. ― Eu não vou contar nada. ― comecei a falar sem diminuir meu passo. ― Apesar de tudo, não quero que perca a licença para exercer a profissão.

― Ei. ― ele segurou meu braço no corredor vazio. Ele tinha uma discreta ruga de preocupação entre as sobrancelhas. Me soltei e continuei a andar.

― Boa noite Finn, já passou do meu horário.

― Ei!

― O quê? Está esperando uma ameaça, um sermão? Saiba que você merece isso, mas não vai ter. Tome mais cuidado da próxima vez. ― a expressão dele transformou-se em curiosidade.

― Por que tá me dizendo isso?

― Pelo mesmo motivo que alertei Annie. Vocês dois estariam bem mal se fosse outra pessoa que entrasse ali. E você é meu melhor amigo, cara, não quero que se encrenque.

― Eu amo aquela garota Peeta.

― Como você sabe? ― questionei, um pouco de frustração escapando da minha voz. ― Como você vê uma menina, e do dia para noite ambos estão jurando amor eterno?

― Sei lá, eu só sei. É diferente com ela e pronto. Eu sinto que... Não consigo mais imaginar outra pessoa comigo, a distância chegar a doer. Você me entende? ― Sim, eu entendia. Eu sentia essa dor a cada segundo distante de Katniss.

― Eu vou me arrepender disso. ― sussurrei quase que para mim mesmo. Finn me olhou curioso.

― O que você está dizendo?

― A gente vai quebrar um milhão de regras e códigos de ética, mas eu vou te ajudar. Se vocês estão tão certos disso, estou do seu lado nessa. ― segurei seu ombro. ― Conte comigo para lutar essa guerra por Annie. Você merece ser feliz e ela também.

― Ok, minha cabeça ainda está processando como você de repente virou esse Peeta rebelde, mas... É bom ter meu melhor amigo de volta. ― confirmei sorrindo. ― Ah, e mais uma coisa: você merece ser feliz também seu babaca! ― ele deu um tapa forte demais nas minhas costas, mas não pude fazer nada além de rir.

~

― Não Madge, sem chance. ― falei subindo o último lance de escadas para meu apartamento.

Qual é Peeta, deixa de ser chato. Ainda é cedo, vem para cá. O filme só vai começar em quinze minutos!

― O problema não é o horário. Eu não vou servir de vela para os dois casalzinhos felizes.

Você reclamou que Katniss não te atende, agora vem fazer cu doce para encontrar a menina? Eu estou fazendo uma cena aqui pra te chamar e você nada?

― Encontrar Katniss seria ótimo. Encontrá-la com a língua na garganta do Dan de novo é o problema, passo.

Sua resposta final?

― Definitivamente. ― quando me aproximei da porta, vi que ela estava levemente entreaberta. ― Eu tenho que ir Mad, até amanhã. ― desliguei o telefone, o guardando no bolso da calça.

Caminhei sorrateiramente até a entrada. Tudo lá dentro parecia escuro e silencioso, então, contrariando todos os avisos contra ladrões da minha mãe, entrei devagar já indo com a mão da direção do interruptor, quando senti alguém me abraçar, e eu sabia quem era. Merda, de novo não!

― Que porra você tá fazendo aqui Katherine? ― a afastei e acendi a luz, jogando minhas chaves raivosamente no sofá, enquanto a cara de pau da minha ex namorada exibia um sorriso descarado.

― Você não achou mesmo que passaria essa noite sozinho, achou? ― ela caminhou sedutoramente até mim. ― Amanhã é seu aniversário!

― Eu já deixei bem claro que não quero você em minha vida. Que a única coisa que pode haver entre a gente é distância, você é surda?

― Ai, Peeta, não precisa ser rude. ― Katherine fez sua voz manhosa. ― Apesar que estou adorando essa sua versão mais bruta. ― ela passou a língua lentamente pelos lábios. ― Aliás, estou amando tudo sobre esse novo Peeta. ― seu olhar percorreu meu corpo de cima a baixo. Isso provavelmente me deixaria constrangido, mas eu estava com raiva demais dela pra sentir algo como vergonha.

― Sai daqui. ― fui até a porta e abri para ela. ― E faz o favor de nunca mais aparecer na minha casa! Como você descobriu esse endereço afinal?

― Muito simples. ― ela sentou-se à vontade no sofá como sempre fazia na minha casa em Louisville. ― Aquela garota que você levou pra sua casa sabe? O meu clone? Ela falou “Exempla”. Pesquisei e descobri que era um hospital em Denver. Peguei um ônibus até lá, conheci uma enfermeira que fala um monte, Effie alguma coisa. Ela me disse tudo que precisava saber sobre você, seus amigos, rotina, endereço. ― fiz uma anotação mental de falar com Effie depois. Como ela sai falando assim de mim pra uma estranha? Mas Katherine com certeza tinha seus meios. Fotos, histórias antigas ou algo do tipo. ― Eu sempre consigo o que eu quero Peeta, você já devia estar acostumado.

― Por que isso Katherine? ― fechei a porta num baque. ― Você teve muitos anos pra me procurar e resolve fazer isso logo agora? ― ela ficou séria de repente.

― Eu procurei você Peeta. Por meses, mas você sumiu, fui até na Universidade de Denver e nada. Eu já disse, me arrependi de como agi na época que seus pais morreram, mas eu estava assustada.

― Ah, você estava assustada? ― ironizei. ― Eu fiquei sozinho na vida e só tinha minha namorada para me apoiar, enquanto isso ela estava fodendo por aí com qualquer um! ― minha irritação estava deixando meu rosto quente. Eu não era obrigado a ter que aguentar a pessoa que eu mais odiava com desculpinhas qualquer.

― Me desculpa. ― ela se aproximou, mas dei passos para trás me afastando.

― E eu... Eu nem tenho mais tanta raiva do que você fez naquela época. Mas você acabar com meu romance com a Katniss, isso eu não vou perdoar nunca! A cada vez que você aparece, minha vida é arruinada, então sai!

― Eu ainda amo você Peeta, e sei que mesmo com toda essa sua gritaria, você ainda tem sentimentos fortes por mim, do contrário não diria que tem um “romance” com outra Kat.

Eu negava com a cabeça e o olhar. Ela estava errada, errada sobre Katniss e sobre mim. A semelhança física das duas até me afastou de Katniss no início. Katherine sempre falava tudo com tanta convicção que conseguia convencer a todos das mentiras mais absurdas. Mas dessa vez não, não comigo.

Quando percebi, a morena já estava próxima demais. Suas mãos já alcançavam meu braço e minha camiseta, que ela segurava entre seus dedos.

― Sai daqui. ― segurei seus pulsos quase a arrastando até a porta, lutando contra o impulso de usar mais força.

― Ei Peeta, são umas dez da noite, não tem ônibus pra voltar.

― Você não deveria ter vindo aqui. ― bati a porta com força e tranquei.

Peeta! ― ela batia na porta. ― Peeta abre isso aqui! Eu vou dormir aqui na sua porta, Peeta!

Por mais que eu detestasse a Katherine, deixar mulheres andarem sozinhas pelas ruas à noite, ou dormirem dos corredores não era do meu feitio, então peguei minha carteira no bolso e deslizei por baixo da porta dinheiro o suficiente para o taxi. Ela ainda insistiu por alguns minutos, mas logo ouvi os passos se afastando.

Todo mundo tem uma lista de coisas que não precisa na vida, e se eu fosse fazer a minha, com certeza a volta Katherine estaria no topo dela.

Na manhã seguinte, acabei acordando atrasado e corri direto para o hospital sem nem tomar café da manhã. Eu tinha uma cirurgia marcada para as oito da manhã, e a Dra. Coin não tolerava atrasos. Se ela dava advertências se alguém chegasse atrasado em uma enfermaria, retardar uma sala preparada com vários profissionais e medicações renderia uma suspensão e anotações em nosso histórico.

Eu tinha acabado de chegar na sala de preparação e já estava lavando as mãos para entrar quando a Dra. Coin chegou olhando tudo e conferindo se havia algo errado. Suspirei de alívio quando ela deu meia volta e partiu para atormentar o próximo residente.

Seria uma cirurgia simples de retirada de vesícula, então em pouco mais de uma hora eu estava fechando o paciente e saindo da sala. Encontrei Madge no corredor do primeiro andar.

― Você sempre me surpreendendo Peet.

― Como assim? ― ela balançou a cabeça.

― Ei, Finn quer falar contigo. ― Mad cortou o assunto. Então devia ser isso. Finnick provavelmente contou sobre nossa conversinha de ontem.

― Espera um segundo, ainda tenho que ver Annie, acho que vou liberá-la hoje.

― Depois você fala com ela. ― a loirinha me puxou pelo braço.

― Não Madge, tenho responsabilidades. E o quarto dela é logo ali. ― soltei meu braço e fui em direção à porta. Me surpreendi ao ver o quarto vazio. ― Onde ela pode estar?

― Vamos logo para sala de repouso! ― Madge agora começou a empurrar minhas costas em direção à sala.

― Ok, isso está estranho. Você geralmente tem comportamentos totalmente irregulares, mas dessa vez...

Minha fala foi cortada com o grito de um milhão de pessoas e confete voando na minha cara. Mas o pior de tudo foi quando vi Katherine sair do meio da multidão de colegas e pacientes e correr para me abraçar.

― Feliz aniversário meu amor. ― ela beijou meu rosto.

― O que você está fazendo? ― sussurrei disfarçando um sorriso para as pessoas. Apenas ela sabia do meu aniversário e poderia ter falado aquilo para todo mundo.

― Nunca mais me deixe fora do seu apartamento. ― ela cochichou de volta. ― Ainda mais ele sendo tão próximo ao da sua melhor amiga.

― Parabéns Peeta! ― Madge me abraçou. ― Apesar de estar um pouco ofendida de sua amiga precisar ter vindo não sei de onde para descobrir a data do seu aniversário, ainda deu tempo de organizar essa festinha.

― 25 aninhos Mellark? ― Finnick veio na minha direção rindo com as mãos no bolso. Annie estava logo atrás dele. ― Ainda um bebê.

― Vejo que você está se aproveitando da minha boa vontade com relação à minha paciente.

― Soube que médico idiota dela vai dar alta logo. As coisas vão ficar mais difíceis.

― Parabéns doutor. ― recebi um abraço de Annie.

― Obrigado Annie.

― Discurso! Discurso! Discurso! ― os retardados dos meus melhores amigos começaram a berrar enquanto eu ainda recebia cumprimentos. Mad e Finn podiam se considerar pessoas mortas depois disso.

― Obrigado a todos, mas não sou bom com palavras.

― Que mentira! Ele sempre arrasou nos discursos no colégio, seria até o orador na nossa formatura se tivesse comparecido. ― Calada Katherine!

― Sério Peet? Nunca soube disso. Por que faltou na própria formatura? ― olhei para Katherine com raiva. Qual o problema dessa garota?

― Discurso, discurso! ― a doida começou a gritar para disfarçar. Todos se viraram para mim.

― Quem vai discursar? ― apenas a voz de Katniss vindo da entrada fez meu coração acelerar. ― Ah. ― ela disse simplesmente quando me virei para olhá-la. Sua mão estava enlaçada na de Daniel.

― Katniss, finalmente! ― Madge passou por mim. ― Tentei ligar pra você e pro Dan, mas não consegui. Acredita que hoje é o aniversário do Peeta?

― Do Peeta? ― Katniss repetiu olhando para mim com as sobrancelhas franzidas.

― Katherine me ajudou a organizar uma festinha.

― Katherine?

― Ei garota-moletom! ― a insuportável chegou enlaçando o braço no meu, gesto que tratei logo de repelir. ― Espera, esse cara é seu namorado?

― Prazer, Dan. ― ele estendeu a mão.

― Ele é mesmo seu namorado? ― Katherine usou sua cara mais exagerada de surpresa enquanto olhou para mim e depois para Katniss com um sorriso malicioso no canto do lábio.

Obviamente não tínhamos contado a ninguém sobre o que aconteceu em Louisville, principalmente com o desenrolar da história, mas minha ex namorada não parecia tão disposta assim a esconder de todos o modo como ela encontrou a mim e Katniss naquela manhã.

― E você veio me chamar de vadia?

― Katherine, vem aqui. ― a puxei pelo braço para o corredor, antes que ela falasse demais, ou eu tivesse que separar outra briga das duas, já que Katniss parecia prestes a arrancar os olhos dela. ― Perdeu a razão garota?

― Você gosta de sofrer, não é Peeta? E por aquela lá, que já está até com outro...

― Dobre sua língua para falar qualquer coisa da Katniss. Você é a vadia aqui. Você se meteu na minha vida de novo e já está manipulando meus amigos!

― Ok, é verdade que vou fazer de tudo para te ter de volta, mas a primeira vez eu não me “meti” na sua vida, foi você. Você começou a me amar primeiro, você fez aquilo, pagou minha escola e tudo. Foi épico Peeta, e um amor assim é para sempre.

― Você não sabe do que tá falando. ― falei tentando controlar minha raiva para não gritar no meio do corredor de um hospital.

― Eu sei que no fundo, você ainda sente alguma coisa por mim, ou não ficaria tão irritado com minha presença. Qual é Peeta, a gente ainda pode ser feliz juntos, vai dar certo dessa vez. Quando todo mundo criticava nós dois juntos, você sempre dizia que o amor não precisava ser perfeito, só precisava de nós dois. Eu acredito nisso. ― ela me surpreendeu quando pulou no meu pescoço e me roubou um beijo.

― Fica longe de mim. ― ao afastá-la vi Katniss me observando da porta. Sua boca estava levemente aberta e seus olhos marejados. Ao perceber que tinha sido pega em flagrante observando, ela se atrapalhou e tentou sair na direção oposta, quase batendo de cara na parede. ― Não me segue. ― ordenei a Katherine. ― Katniss, espera.

― Tá tudo ok Peeta.

― Mas você viu que foi ela né?! Você viu que eu fui o beijado e a afastei na hora.

― Eu vi Peeta, eu vi.

― Então...

― Então que é isso e sempre vai ser. Ela faz parte da sua vida agora e não vai desistir, simples assim.

― Eu não me importo com o que ela quer. Eu quero você! ― falei sem pudor. Todo mundo dizia que eu tinha que me posicionar, pois era isso que eu faria de hoje em diante.

― Para de falar isso agora Peeta, meu namorado está logo ali.

― Dan não é importante pra mim, Katherine também não. Você é. ― peguei sua mão entre as minhas. ― Me desculpa não ter ido na sua monografia, ter sido meio burro e estúpido esses meses. Não vai mais ser assim, eu prometo.

― Eu não... ― ela soltou a mão e massageou a testa com a ponta dos dedos. ― Eu não posso lidar com isso agora.

Resolvi não voltar para minha adorável festa. Eu mal lembrava que era meu aniversário, então não ficaria comemorando uma data que para mim não significava nada. Pediria desculpas pros meus amigos depois e estava torcendo para que Katherine não me encontrasse antes de ir embora.

O dia passou rapidamente, já que me ocupei o máximo possível. Annie recebeu alta, assim como mais três pacientes. Ainda admiti mais dois, assisti em uma cirurgia, além de estar sempre na cola da Dra. Coin em busca de mais trabalho. Sabia que quando encontrasse Madge e Finnick haveria interrogatórios sobre Katniss e Katherine, e não estava mesmo disposto a contar a verdade ou inventar mentiras para eles.

― Garoto, que cara é essa? ― Haymitch questionou quando passei em seu quarto antes de ir embora.

― Eu que pergunto, que cara é essa? Você está sentindo alguma coisa? ― ele estava ainda mais pálido, com olheiras mais profundas que o normal e sua respiração também parecia dificultosa.

― Estou forte como um touro. ― ele tossiu ao tentar sem sucesso sentar na cama.

― Ei. ― me aproximei o ajudando a deitar-se novamente e comecei a conferir os sinais vitais nas máquinas em que ele estava ligado. Tudo estava um pouco acima do normal. ― Vou pedir para medirem a sua saturação de oxigenação.

― Relaxe garoto, eu estou bem. É algo sobre o esse horário e o fato de que daqui a pouco a Effie entra no plantão. Aquela voz... ― ele riu.

― Você implica demais com ela, tá parecendo amor. ― brinquei. Ele rolou olhos.

― Mas você hein?! A sua amiga baixinha tagarela veio me chamar para uma tal festa de aniversário.

― Nem me fala. Dez segundos de festa e minha vida estava sendo mais ferrada. ― Haymitch me olhou sem entender. ― Se eu te contar uma história, você promete não rir? Ou chorar?

― Você já me viu chorar alguma vez, por acaso?

― Não, mas sei lá, vai que você ficou sentimental esses dias.

― Desembucha garoto!

Então contei tudo a ele. Cada detalhe da minha vida, minha história com Katherine, meus pais, meu irmão. Contei sobre o que aconteceu com Katniss e como tinha sido nossa conversa mais cedo. De algum modo até Finnick e Annie entraram no rol das confissões. Haymitch apenas ouvia.

― Então?

― Você precisa dispensar de vez essa putinha de vez se ainda quer ter alguma chance com Katniss.

― Katniss não quer chances comigo.

― Ela ficou balançada com sua atitude. Como sempre o Hayhay aqui estava certo e mais cedo ou mais tarde ela vai ceder. Seja paciente e não desista.

― Parece um livro de autoajuda.

― Se eu fosse escrever um livro de autoajuda, seria no máximo “10 passos para ficar bêbado sem cair”. ― nós rimos.

― Mas você está certo, obrigado Haymitch.

― Por nada. Sempre que precisar, pode vir ao consultório do Dr. Hayhay.

― Eu vou lembrar disso. Minhas costas estão me matando, hoje trabalhei mais que o normal, já vou pra casa. Boa noite.

― Peeta? ― ele me chamou quando eu já estava quase na porta. Ele tinha aquele olhar de alguém que está prestes a fazer uma confissão muito importante.

― Hm?

― Deixa para lá, amanhã te falo. ― confirmei, e saí do quarto.

Desci ansioso por chegar logo em casa, torcendo para a coisa no hospital acalmasse os ânimos de Madge sobre fazer festas essa noite. Quando estava a apenas dois quarteirões de casa, ouvi o zumbido da vibração do meu celular no banco do carona. Franzi minha testa ao ver que era Effie. Atendi e coloquei no viva voz.

― Quem eu queria falar. Da próxima vez, não dê meu endereço a estranhos. ― eu ri, mas ela não.

Peeta, você pode voltar para o hospital agora? ― ela questionou preocupada.

― Aconteceu alguma coisa com algum dos meus pacientes Effie?

Não. Mais ou menos.

― Então o que foi?

É o Haymitch. Há alguns meses ele pediu que você fosse marcado como contato dele de emergência. ― eu não sabia daquilo.

― O que tem o Haymitch, falei com ele faz menos de meia hora.

Ele passou muito mal. Teve uma hemorragia e uma parada respiratória. A equipe conseguiu reanimá-lo, mas é grave. O fígado está praticamente parado e ele não está mais respirando sozinho. ― parei o carro com os pneus cantando na pista.

― Isso é impossível, eu estava com ele agora mesmo.

Você vem?

― Já estou a caminho Effie.

Fiz o retorno e voltei a toda velocidade para o Exempla. Por um momento todo o drama com as morenas de olhos cinzas se dissiparam e as únicas palavras que vinham na minha mente eram: “Não posso perdê-lo também!”


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Notas finais do capítulo

Peeta querido, parece que você nasceu com os dizeres “feito para sofrer” escritos na testa, porque vai ter azar assim longe!
Como disse no início, esse capítulo marca uma nova fase. Com Katherine de vez na estória e Peeta com mais atitude, teremos muita coisa pela frente.
Continuem acompanhando, recomendando, favoritando e tals... Prometo me esforçar ao máximo para responder os reviews, mas é que minha rotina está me matando!!! Ah, e se quiserem, deixem seus números por MP que adiciono no nosso grupo do wpp!!! Lá tem spoilers, conversas sem propósitos e muita gente legal!!
Bjs*