Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 23
Montanha Russa || Katniss


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! Adivinhem quem está de madrugada postando? Ellenzinha!!!
Sim, eu falo de mim na terceira pessoa, qual o problema?

E gente, talvez, apenas talvez, eu tenha me descontrolado e escrito o maior capítulo da minha vida, mas vocês me perdoam né?! *cara de gatinho do Shrek*

Agora queria agradecer Dreamy girl que me presentou com uma linda recomendação. Esse capítulo é para você e para todos os meus lindos que me deixaram reviews...
Bjs*



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Ela ainda está aqui? ― a voz de Peeta pôde ser ouvida através da parede do quarto com o corredor.

Lá fora. ― Madge respondeu. ― Quer que eu chame?

Por favor, se ela quiser. ― cocei meu nariz e tirei parte das lágrimas que ainda turvavam minha visão. Eu teria que falar com Peeta, e por mais que eu não soubesse fazer isso e me sentisse mal, teria que fazê-lo. Eu não o abandonaria agora.

― Katniss? ― Madge chegou na porta, uma seringa vazia em sua mão, seu rosto demonstrando tristeza.

― Eu vou. ― me levantei prontamente do chão, respirando fundo e me dirigindo à entrada. ― Se quiser pode voltar para seu plantão Mad, eu fico aqui com ele.

― Certeza?

― Absoluta.

― Eu acabei de aplicar uma dose de glicose nele. Mais tarde se ele quiser comer alguma coisa é legal. E beber bastante líquido também. ― ela passou as instruções.

― Ok.

― Você e Haymitch são próximos também. Tem certeza que você tá bem Katniss?

― Vou ficar, não se preocupe.

― Tá, mas qualquer coisa me liga. ― a loirinha deu um beijo em minha bochecha antes de sair do apartamento.

Ainda precisei de alguns segundos antes de entrar.

Senti um aperto no coração ao ver Peeta. Ele estava sentado sobre a cama, sua mão ainda acariciava algum lugar em seu braço, talvez onde Madge aplicou a injeção, e ainda haviam discretas manchas de lágrimas em seu rosto triste. Quando me viu, um discreto sorriso brotou de seus lábios, não como felicidade, mas talvez algo próximo de agradecimento. Sentei-me na cama ao seu lado.

― Katniss, minha querida... ― ele começou.

*

Katniss, minha querida! ― pude ouvir o grito até pelo interfone. Sua voz grogue não negava: Peeta estava mesmo muito alterado pela bebida. ― Ele disse que só vai sair daqui depois que falar com a señorita, dona Katniss. ― o porteiro falou demonstrando pressa para se ver livre dele. Conferi o relógio e já passava da meia noite. ― É só minha sorte me fodendo de novo meu amor! ― mais um grito.

― Estou indo aí.

Coloquei um casaco que ia até metade das minhas canelas sobre o pijama de moletom e calcei minhas botas macias e confortáveis. Era só o que me faltava, ter que lidar com uma crise de bêbado de Peeta a essa hora.

Por meu apartamento ser no térreo, não demorou mais que dois minutos para que eu chegasse no pequeno saguão de entrada. O porteiro, um senhor porto riquenho de mais de cinquenta anos estava apenas com a cabeça para fora da rua, olhando para a rua, onde a quantidade de chuva aumentava a cada segundo.

― Cadê ele? ― questionei olhando pelo completamente local vazio, com exceção do Sr. Gonzáles.

― Seu amigo saiu antes que pudesse parar ele, Katniss. E eu não vou entrar nessa chuva forte assim a essa hora e a señorita também não deveria. Ele já foi.

― Porra Peeta! ― praguejei baixinho antes de colocar o capuz do casaco sobre minha cabeça e sair para a calçada. Olhei para os lados e nada. ― Peeta! ― gritei para a rua vazia. Silêncio. ― Sr. Gonzáles, tem algum guarda-chuva aqui que possa me emprestar?

― Acho que sim.

Ele voltou logo em seguida e me passou o objeto, que logo abri, entrando no temporal que caía lá fora. Não precisei andar mais que alguns metros até encontrar Peeta deitado em uma calçada virando a esquina, suas roupas absolutamente encharcadas, as gotas de água deslizando de seus cabelos para seus olhos. Ele parecia bem relaxado tomando banho no mar de água que caía sobre seu corpo.

― Que merda Peeta, levanta daí! ― pedi impaciente, elevando minha voz para sobressair o barulho a chuva. ― Você já teve pneumonia esse ano, vai acabar morrendo!

― Eu não.

― “Você não” o que criatura? ― ele fechou os olhos. ― Peeta? Peeta! ― gritei me inclinando para dar um tapa em seu braço e checar se ele não havia dormido.

― Haymitch está morrendo Kat... ― escutei ele falar, sua voz quase inaudível.

― Como assim Peeta, eu falei com ele hoje mais cedo. Vem, vamos te tirar dessa calçada primeiro.

Apoiei seu braço em torno dos meus ombros, sentindo seu peso cair sobre mim e suas roupas encharcarem as minhas, mas com alguma dificuldade chegamos até meu prédio novamente. O porteiro me ajudou a sentá-lo em uma cadeira na entrada.

― Quer ajuda para levá-lo até seu apartamento Katniss?

― Não! ― Peeta gritou. ― Prim. ― entendi que ele não queria que a menina o visse naquela situação.

― Vou tentar ligar para alguém vir buscá-lo. Pode ficar de olho nele por alguns minutos, eu já volto.

Quando entrei na minha sala, já fui em busca do meu celular, que eu tinha esquecido carregando em algum lugar. Nele já haviam algumas chamadas perdidas de Madge e Gale.

Katniss, graças a Deus! ― Madge pareceu aliviada ao atender. ― Peeta...

― Tá aqui comigo. O porteiro disse que ele chegou batendo no portão gritando meu nome. Depois, fui encontrá-lo na chuva. Ele chegou a falar algo sobre Haymitch...

É verdade, Haymitch piorou, está muito mal na UTI agora.

― Ah meu Deus! ― exclamei chocada, levando a mão à boca.

Peeta saiu daqui de um jeito, temi que ele fizesse alguma besteira. Estava ligando pra você e Finn, e para ele, claro, mas ninguém me atendia.

― Será bom levar Peeta para o hospital? Ele está quase desmaiado de bêbado.

Não, vai queimar o filme dele aqui. Dra. Coin mata ele! ― ela pareceu pensar por alguns segundos. ― Fica aí, que vou sair rapidinho do hospital, e levá-lo para casa. Pode ser?

― Sim, eu espero.

O carro dele?

― Nem sinal.

Tá, vou com o meu. Até mais.

Desliguei o telefone e fui para meu quarto colocar roupas secas. Peguei meu celular, um cobertor e uma camiseta de Gale, que estava jogada por algum canto da casa, então tranquei a porta e saí, tentando ainda processar na minha mente o que a notícia sobre Haymitch significava.

Peeta estava embolado na cadeira tremendo de frio, seus lábios já adquirindo uma coloração arroxeada. Sr. Gonzáles me ajudou a tirar a jaqueta e a camisa dele. Não posso negar as sensações insanas e até um pouco saudosas que invadiram meu peito ao vê-lo seminu, mas afastei o pensamento e logo coloquei a roupa de Gale, o envolvendo no cobertor grosso.

― Tem certeza que não quer levar ele para dentro? Ou para um hospital?

― A ajuda já está vindo, se o senhor precisar sair, daqui a pouco o chamo só para trancar a portaria. Gracias. ― usei o agradecimento que o simpático senhor sempre dava quando era ajudado.

― Eu vou só conferir se a chuva fez algum estrago por aí, a lavanderia tava com uma infiltração amaldiçoada! ― confirmei com a cabeça quando ele saiu, e me sentei ao lado do loiro.

― Peeta...

― Ele está morrendo Katniss. Por que todo mundo que eu amo acaba morrendo? ― eu já conhecia a versão bêbada de Peeta e ele ficava feliz até demais, o que me fez acreditar que aquelas lágrimas eram genuínas. Senti meus olhos pinicarem.

― Isso não é verdade. ― tentei confortá-lo acariciando seu braço.

― Tem razão, você ainda está aqui.

Peeta apertou o cobertor em torno de si, deitando sua cabeça em meu colo, como uma criança cansada depois de um dia intenso de brincadeiras, e fechando os olhos. E eu? Ainda pasma e meio boquiaberta com o que tinha acabado de escutar.

“Todo mundo que eu amo acaba morrendo”.

“Isso não é verdade”.

“Tem razão, você ainda está aqui.”

As palavras ainda ecoavam em meus ouvidos enquanto ele parecia dormir, e eu esperava mesmo que não fosse um coma alcoólico. Tá tentando tirar o meu pouco juízo Peeta Mellark?

Madge não demorou a chegar, então o colocamos no carro e fomos para a casa dele. A chave reserva que mantínhamos escondida em uma pedra falsa numa planta no corredor tinha desaparecido, mas para nossa sorte as chaves de casa e do carro ainda estavam em seus bolsos, ao contrário do celular que tinha se perdido em algum momento da noite.

O deixei no quarto com Madge e me sentei no chão do corredor, próximo ao quarto, finalmente começando a digerir a notícia que o cara sarcástico, divertido, meu amigo e quem Peeta tinha, mesmo que inconscientemente, como pai substituto estava à beira da morte.

*

―...me desculpe. ― Peeta pediu, sem me encarar nos olhos. ― Desculpe por ter ido na sua casa daquele jeito, te dado trabalho e ter feito escândalo. ― esperei ele mencionar sobre o que ele tinha falado, mas ele não disse nada sobre o assunto, talvez nem sequer lembrasse.

― Tudo bem Peeta. ― peguei suas mãos, que estavam repousadas sobre suas pernas cruzadas sobre o colchão, no estilo meditação. ― Eu sinto tanto. ― não contive mais minhas lágrimas na frente dele, e elas começaram a descer novamente.

― Ele estava sendo como meu... ― Peeta manteve a palavra “pai” presa na garganta. Mas ele não precisava dizer para eu sabe que era disso que se tratava. ― Por que isso continua acontecendo comigo Kat?

― Ei, ei. Vai dar certo com Haymitch, você vai ver. ― me ajoelhei ao seu lado na cama e o abracei, seu cheiro inundando meu olfato e fazendo meu coração dar pulos. ― E ele vai ficar bom, tem que ter um jeito, vamos tê-lo de volta logo! ― falei mesmo sem acreditar nem um pouco em minhas palavras. Mad me falou parcialmente a situação e não era nada boa. Peeta negou com a cabeça, mas preferiu não dizer nada. Desci da cama. ― Posso te conseguir alguma coisa para comer, uma aspirina, sei lá...

― Não, só... Fica aqui comigo?

O que fazer agora? Eu não estava totalmente de boa com Peeta no presente. Não por culpa dele, mas por achar que Dan era o melhor para minha vida e meus objetivos no momento. E também eu tinha responsabilidades e devia o mínimo de respeito ao meu namorado, e dormir (só dormir mesmo!) com outro cara ia contra tudo isso.

Mas ao olhar para aqueles olhos brilhantes das lágrimas que não caiam, e ainda ao lembrar a história de como ele enfrentou a perda dos pais sozinho, eu simplesmente não podia deixá-lo. Ver Peeta sofrer também ia contra qualquer instinto meu.

Olhei ao redor, vi uma poltrona e sentei-me nela. Não longe demais para ele sentir-se só e não perto demais para ser desrespeitoso. Ou tentador...

Então Peeta desatou a falar, mesmo sem parecer ainda estar sobre efeito de bebida. Contou detalhes sobre sua relação com o pai, a mãe, Matt, mas principalmente Haymitch. Apontou as semelhanças entre o Sr. Mellark e o Sr. Abernathy e como eles poderiam facilmente serem irmãos. O cansaço me atingiu e acabei dormindo ao som de sua voz.

~

Tateei o colchão e a primeira coisa que encontrei foi um travesseiro. Ainda meio dormindo agarrei o objeto fofinho com força entre meus braços e aspirei o cheio maravilhoso que ele emanava. Cheiro de Peeta.

Ai meu Deus, o que aconteceu aqui?

Sentei na cama bruscamente, olhando ao redor. Estava no super organizado quarto de Peeta, mas sozinha na cama, meu casaco cuidadosamente dobrado em cima de uma poltrona. Meu superpoder infantil de dormir no sofá e acordar sob as cobertas da cama foi novamente ativado e não fui informada?

Levantei, calçando meus sapatos que estavam posicionados no chão ali próximo e pegando meu casaco, conferindo rapidamente no celular que ainda não eram nem sete da manhã. Onde o loiro se meteu a essa hora?

Mais alguns passos e descobri exatamente onde ele estava: cozinha. O cheio de café fresco e panquecas dominava o local, e ao me aproximar vi uma enorme mesa posta. Ovos, bacon, panquecas, pães de queijo, uns dois tipos de sanduíches, sucos, leite, chocolate e café. Peeta tomava um gole de uma xícara ao seu lado, logo se inclinando na frente do fogão e tirando uma fornada de cookies.

Alguém aqui parece que perdeu o juízo de vez, e por incrível que pareça, não fui eu!

― Peeta, o que você está fazendo? ― ele pulou de susto ao me ver.

― Oi Kat, bom dia! Senta aí, estou terminando os cookies, daqui a pouco sai mais uma rodada de pães de queijo. ― mais um gole. Peeta estava rindo e falando mais rápido que seu costumeiro falar lento, meio rouco e sexy. Eu disse sexy? Quis dizer indeciso e volúvel!

― Você está bem? ― perguntei com as sobrancelhas franzidas.

― Já ouviu falar de cozinhar por estresse? Pois é... Sabe, ontem eu não consegui dormir, então te coloquei na cama, já que parecia muito desconfortável naquela poltrona. ― minha boca se abriu, e o olhei um pouco assustada. ― Relaxa Kat, eu não fiquei lá com você, por mais que quisesse. ― pelo calor nas minhas bochechas, podia jurar que corei passando por uns dez tons de vermelho. Ele riu de mim e continuou. ― O ponto aqui é: fui estudar. Procurar meios de ajudar Haymitch. Você tem razão, deve ter alguma coisa que possamos fazer, a medicina tem evoluído bastante e achado um monte de solução para um caralho de coisa sem utilidade, então deve ter algo que nos ajude, não é?!

― Você se parece comigo agora. Desacelere Professor. ― ele riu de lado se aproximando com a bandeja dos biscoitos que tinham um delicioso cheiro de chocolate saindo deles. ― Isso na sua mão é café?! ― falei chocada.

― Talvez eu tenha bebido um pouquinho para me manter acordado, mas é melhor que a garrafa de vodca de ontem.

Peeta estava em negação. Acontecia quando pessoas com perdas, ou prestes a ter uma, se focava em algo para distrair a atenção de vivenciar a dor. No momento até poderia parecer bom, mas não resolvia o problema por muito tempo e cedo ou tarde, ele teria que enfrentar.

― Você vai para o hospital hoje? ― sentei-me tomando um gole de suco. Estava horrível! Ele sempre foi péssimo com sucos. Mudei para o café, que surpreendentemente estava muito bom.

― Sim. Katniss, você sabe por que os médicos usam verde quando estão trabalhando? ― ele perguntou contendo um riso que tentava escapar de seus lábios.

― Não Peeta, eu não sei.

― Por que estão de plantão! Entendeu? Plantão, tipo uma planta grande! ― o loiro gesticulou e eu ri da total falta de graça da piada. Ele tinha enlouquecido.

― Vamos deixar as piadas comigo, está bem? ― peguei um dos pães de queijo. ― Eu vou para casa, tem certeza que está bem para ir trabalhar?

― Sim, mas... ― ele me deteve pelo braço quando eu já estava quase chegando à porta de entrada. ― Você pode ficar, ainda temos alguns minutos. ― ele deu um passo para mais perto, nos deixando quase colados e olhando fundo nos meus olhos. ― ...para tomar café da manhã.

― Vai tomar um banho frio Peeta. ― falei tentando não parecer rude e soltando sua mão do meu braço. ― Até mais tarde. ― saí rapidamente para não ceder à tentação. E eu não estava falando da mesa de comida.

~

― Então nós vamos naquele restaurante japonês que te falei.

― Hm? ― perguntei soltando nossos dedos entrelaçados e abraçando o braço de Dan, enquanto andávamos pelos corredores do hospital. Irresponsáveis? Talvez.

― Depois, uma dose tripla do seu sorvete preferido, nutella com morango, estou certo? ― confirmei com a cabeça. ― Depois...

Ele continuou falando, mas me distraí quando passei pela sala de repouso. Peeta estava sozinho e focado em seu computador, milhares de papeis enchiam a mesa a ponto de caírem no chão.

― A gente se fala depois, ok?! ― dei um selinho no meu namorado. ― Preciso ver uma coisa. ― Dan olhou para dentro da sala pelas persianas e fez uma careta.

― Eu vou tentar não me incomodar com isso.

― Não precisa se incomodar mesmo bobinho. ― beijei seu rosto. ― Nos vemos mais tarde. ― ainda o observei se distanciar pelo corredores antes de entrar e sentar na cadeira em frente à Peeta.

― Esse cara é um babaca. ― ele falou ainda sem levantar os olhos da tela. ― Eu jamais deixaria minha namorada sozinha numa sala comigo.

― Prepotente? Imagina... ― ironizei.

― Não é prepotência Katniss, é o simples fato de que eu gosto muito de você e ele sabe disso. ― Peeta apoiou os cotovelos sobre a mesa e se aproximou de mim. Rolei olhos, jogando minhas costas contra o apoio da cadeira. Não sou obrigada a ter que ouvir essas indiretas charmosas, e logo de quem? Peeta Mellark, o senhor-não-vou-a-segundos-encontros?

― O que você está fazendo aí além de tentar acabar com o meio ambiente consumindo esse monte de papel? Já ouviu falar de cópias digitais? ― desviei o assunto.

― Isso são vários artigos sobre varizes esofágicas e cirrose hepática. Estou estudando esses a manhã toda e parte da tarde, e tá complicado isso aqui, mas vou achar algo.

― É ótimo ter esperanças Peeta, mas você ao menos já comeu?

― Claro Katniss. ― ele deu pouco importância à minha preocupação e voltou os olhos para a tela. ― O ideal seria acharmos um doador para um transplante, mas ele não tem familiares próximos.

― Você já foi vê-lo na UTI? ― ele me olhou rapidamente, depois voltou a ler algo em um livro grosso.

― O problema é que ele também não é um bom candidato por causa do diabetes.

― Peeta, você não foi vê-lo? ― a surpresa misturava-se com um pouco de indignação em minha voz. Seu olhar culpado encontrou o meu. ― Vamos, levanta daí.

― Agora não Kat...

― Nem vem com essa de “agora não Kat” pra cima de mim. Levanta daí! ― dei a volta na mesa e comecei a forçar seu corpo para fora da cadeira, empurrando suas costas. ― Cara, você é pesado!

― Tá bom, eu vou! Mas tem que ser rápido.

O andar das UTIs era o superior e o menos movimentado. Eu mesma dificilmente ia lá, apenas para ver Dan ou conversar com Madge, que às vezes davam plantão na UTI Pediátrica. Adentrar a ala dos adultos era novidade para mim.

Já ia buscar informações sobre o quarto e Haymitch quando uma jovem médica veio nos encontrar. Ela era baixinha, o cabelo castanho escuro bem curto e inteligentes olhos negros amendoados. Como uma linda bonequinha oriental. Ela sorriu ao nos ver.

― Hey Peeta! ― o loiro cumprimentou com a cabeça, seus olhos buscando algo nos quartos. Ela parecia genuinamente feliz em vê-lo, mas logo se virou para mim. ― Oi, sou a Dra. Mackenzie Lin.

― Katniss Everdeen, estagiária de psicologia. ― apertei a mão que ela me ofereceu.

― Você é residente aqui? Pode nos mostrar o quarto de Haymitch Abernathy? ― a médica riu.

― Na verdade sou supervisora dos residentes desse setor. ― fiquei de queixo caído. Ela não parecia ser mais velha que Peeta. ― Eu mostro o quarto para vocês, é logo aqui. Algum estudo de caso especial?

― Não, ele é nosso... Haymitch é especial. ― me limitei a falar.

― Kenz, posso ficar sozinho com ele um minuto? ― Kenz? Sério Peeta, até essa você já pegou? Me dei conta de que, além de Katherine, a loira que encontrei no apartamento dele uma vez e a mãe de Prim, eu não sabia nada sobre a vida amorosa de Peeta. Engoli a frustração ao ver o semblante triste que tomou conta do rosto dele. Meu coração apertou.

― Claro. Você também quer entrar Katniss?

― Não, vou ficar aqui.

Peeta sentou-se numa cadeira que ficava ao lado da cama. Pelas enormes janelas de vidro, era possível ver que o cara que antes vivia me pedindo bebida, agora estava ligado por um monte de aparelhos enquanto dormia.

― Então, dra. Lin...

― Pode me chamar de Mackenzie.

― Mackenzie. Você parece bem nova para já ser chefe de alguma coisa. Sem querer ofender nem nada...

― Acabei de fazer 26 anos. ― ela riu simpática. ― Você sabe o que dizem sobre o milagre da cultura oriental... Comida saudável, tratamentos naturais, yoga. Vou me virando. Some isso a um ano de antecipação no colégio e algumas horas de dedicação a mais. Mas me explica: qual é a do Peeta com esse paciente?

― Haymitch foi o primeiro paciente de Peeta, e eles conversam bastante. Eles são bem próximos, quase como família.

― Parecem mesmo. ― Mackenzie mordiscou a ponta da caneta olhando fixamente para dentro da sala. Ah não, ela também?! Quantas garotas você tem apaixonadas por você Peeta?

Ela começou a me dar detalhes sobre o estado atual de Haymitch. Pelo que pude entender dos termos técnicos, ele estava pior do que Madge me informara. A situação era constante, mas nenhum sinal de melhora era notado ainda, concluindo que a morte era questão de dias. O máximo que eles podiam fazer era deixá-lo confortável até lá.

― Por favor, Peeta vai te perguntar, mas não diz tudo isso a ele. Perder todas as esperanças vai quebrá-lo.

― Não posso mentir.

― Só ameniza as coisas, por favor? ― implorei.

― Tudo bem. Mas tira ele daqui antes que faça perguntas demais. Peeta pode ser bem curioso e insistente.

― É ele pode. ― falei sem humor.

Quando Peeta saiu do quarto, ele tinha o nariz e olhos vermelhos e friccionava as mãos nervosamente, tentando disfarçar a emoção. Mackenzie o abraçou sussurrando um “sinto muito” no ouvido dele.

― Então Kenz, como ele está evoluindo?

― Não posso discutir isso com pessoas que não são da família ou da equipe que está tratando o paciente, você sabe disso. ― trocamos um olhar cúmplice.

― Discuta comigo, sou médico.

― Não dele.

― Qual é Lin, me diz alguma coisa pelo menos...

― O quadro dele está estável ok?! Haymitch ainda está em coma induzido, mas estamos fazendo o máximo que podemos aqui Peeta. Você não pode fazer nada, então relaxe. Qualquer coisa eu te aviso.

― Mesmo?

― Pode ter certeza. Agora se me dá licença, tenho que cuidar de outros pacientes.

― Espera. Só me fala qual sedativo que vocês estão usando e qual a dosagem. Ah, e eu estava lendo que mesmo com o risco de infecção, compensa fazer um acesso venoso central, ele já está aqui há quase um dia. E também quero ver se já recomendaram a mudança de decúbito pra evitar escaras, você sabe como isso...

― Tira ele daqui Katniss.

― Pode deixar. Vem Peeta, deixa ela em paz. ― o puxei para o elevador.

― Tem outras coisas que eu preciso saber...

― Sabe do que você precisa? Relaxar, e eu tenho a ideia perfeita.

― Só me tira uma dúvida: estamos de boa, eu e você?

― Voltando à minha ideia perfeita. ― continuei o ignorando. ― Você sai daqui a pouco daqui certo? Vou ligar pro Dan mudando nossos planos da noite. E pra Madge e Gale.

― Qual a coisa de vocês garotas terem o prazer de me colocar de vela constantemente? Não é engraçado.

― Não se preocupe, conheço uma garota perfeita para acompanhar você. ― Peeta me olhou desconfiado enquanto eu ainda digitava as mensagens. Você não sabe o que te espera loiro, espero que não tenha problema no coração!

~

O pequeno espelho do meu pó compacto mostrava como meus olhos estavam brilhando e dois motivos poderiam ser atribuídos a isso. O primeiro é pela quantidade de luz nos oponentes brinquedos do enorme parque de diversões que estávamos. O segundo (e provavelmente aquele que nunca admitiria!) era devido ao me encantamento pela cena que se passava à minha frente.

Madge e Gale estavam em um dia bom, então eu apenas ouvia alguns sussurros atrás de mim. Dan andava ao meu lado de mão dada comigo, falando sobre algo que aconteceu no seu plantão, mas eu não ouvia, já que prestava atenção em Peeta e Prim, caminhando à minha frente.

Ele levava a menina sentada sobre seus ombros, enquanto ouvia pacientemente as intermináveis histórias dela sobre como tinha sido seu dia na escolinha. O modo como eles interagiam, a cumplicidade que eu tinha apenas com meu pai, o cuidado dele para não deixá-la cair, e a confiança dela que não cairia mesmo.

― Hein? ― Dan virou meu rosto delicadamente para olhá-lo. Droga, eu não fazia ideia qual tinha sido a pergunta, nem ao menos se ele havia feito alguma!

― Desculpa Danny, o que você disse?

― Onde essa cabecinha estava? ― ele pôs uma mecha de cabelo para trás da minha orelha, e eu esperava mesmo que ele não tivesse me visto corar. ― Falei que vou cobrir um plantão de um amigo mais tarde, ele pediu por mensagem, tudo bem?

― Tá, claro. Tem certeza que não quer na montanha russa comigo Dan, eu tenho vontade, mas também tenho medo. E Madge e Gale não querem...

― Eu adoraria, mas isso me deixaria com dor de cabeça e tontura por dias. ― fiz biquinho. ― Ah, eu estou quase passando por cima da minha labirintite só te pra fazer essa vontade!

― Não, deixa pra lá, não quero você doente. ― Danny passou o braço sobre meus ombros e caminhamos abraçados.

― Ali tio, ali! ― Prim gritou animada apontando para uma das barraquinhas cheias de ursos de pelúcia. ― Ganha um brinquedo para mim?

― Só se você aguentar uma corrida aí em cima, tá preparada?

― Sim!!! ― a garotinha exclamou, segurando a cabeça dele.

― Ai Prim, mas se você tapar os olhos do tio Peeta, a tia Madge vai ter que fazer curativo e dar injeção em nós dois quando a gente cair. Faz assim, eu te seguro. ― e os dois dispararam em corrida.

― Quem chegar por último é a mulher do padre? ― Madge falou para mim e também correu, arrastando Gale pela mão.

― Você tem sete anos? ― o moreno começou a brigar com ela.

― Vá se ferrar, seu chato! ― olhei para Danny, que me incentivou com o olhar a segui-los. Adultos infantis? Aqui!

― Ganhamos de todo mundo tio!

― Sim, ganhamos princesa! ― Peeta e Prim estavam se vangloriando quando cheguei. ― Agora deixa o tio mostrar pra esses dois caras o que é alguém bom de mira. ― ele falou a colocando no chão e pagando por algumas fichas que davam acesso às balas falsas. ― Não sai de perto de mim, ou você pode se perder.

― Isso é uma aposta Mellark? ― Mad perguntou erguendo uma sobrancelha.

― Eu sou um cirurgião loirinha, precisão é meu forte. Acho que dou conta do advogado e do fisioterapeuta aqui presentes. ― Peeta desdenhou e Dan o encarou.

― Você acha? ― meu namorado deu um passo para perto de Peeta, o encarando em desafio. Olhei suplicante para Mad e Gale, pedindo socorro para contornar a situação, antes que ela ficasse ruim.

― Acontece que você vai competir comigo loiro azedo. ― Madge se colocou entre os dois, já pegando uma arma e carregando. ― Qual bichinho de pelúcia você quer dali Gale? ― ela gargalhou e meu amigo a encarou chateado.

― Também vou jogar. ― Gale declarou.

― Sendo assim, jogamos todos. ― dei um passo à frente, ficando entre Mad e Peeta.

― Vou ganhar muitos bichinhos! ― Prim comemorou.

Eu nunca tinha brincado desse troço de atirar. Armas de fogo me deixavam nervosa quando eram fora das telas de cinema, mas tenho que confessar que estava me divertindo enquanto tentava acertar os alvos móveis com as balas. Peeta ficou animado ao dizer que eu tinha uma ótima mira natural, e poderia ser uma ótima cirurgiã, elogio que agradeci, mas logo rebati dizendo que pessoas com a barriga ou qualquer outra parte aberta na frente não eram pra mim.

Madge e Gale também eram muito bons e provavelmente teriam ganhado se não se distraíssem ofendendo cada erro um do outro, ou se não competissem contra Peeta e Dan. Esses últimos pareciam estar numa guerra real, a diferença é que não atiravam um no outro, coisa que parecia prestes a acontecer a qualquer momento. A competitividade era tanta que quando a primeira partida deu empate, eles pediram mais e mais balas, até algum conseguir uma vitória por pelo menos dois pontos, no caso, Peeta.

― Quem é o fodão agora?! ― dei uma cotovelada nas costelas do loiro pelo palavrão soltado perto de Prim, que graças a Deus parecia distraída com o algodão doce que Gale deu a ela, sentada em um banquinho próximo.

― Isso foi injusto, eu te desafio a mais uma partida. ― Daniel falou inconformado e Peeta estava prestes a aceitar, quando os interrompi.

― Nada disso! Já gastamos tempo demais aqui.

― Por mim tudo bem, já ganhei mesmo. ― eu queria estapear Peeta. Custava ganhar e ficar quieto?

― Que horas são? ― Dan desviou o assunto para mim.

― Quase nove, por quê?

― Vou fazer aquele favor pro meu amigo às nove e meia, tenho que correr.

― Vou com Danny até o carro. ― avisei à Madge e Gale, que se aproximavam e Peeta, que erguia Prim no colo para escolher um brinquedo.

― Então, desculpa ter que sair mais cedo.

― Sem problemas. ― respondi o abraçando, já que o vento do estacionamento vazio estava me deixando com frio. Dan olhava para a frente enquanto caminhávamos e parecia incomodado. ― Tá, me fala, o que é?

― O que é o quê?

― Você aí todo coisado. ― usei a expressão de Clove por não saber o que dizer.

― Eu não gosto dele. Ponto.

― Dele quem criatura, do homem da banquinha de tiro? ― eu sabia de quem estava falando, mas não queria mesmo começar nossa primeira briga por causa de Peeta.

― Ele fica te secando com aquela cara de coitado e agora usa uma criança e a doença de uma pessoa pra se aproximar, e você nem tá percebendo.

― Ei, eu não sou burra ok?! ― lutei para não aparentar raiva. ― Sei exatamente quem Peeta é, sei pelo que ele passou e não posso deixá-lo sozinho. Mas também sei quem você é: o cara que eu escolhi. Então pode parar de paranoia, odeio que tentem me controlar!

― Me desculpe. ― Dan selou nossos lábios. ― Prometo tentar lidar com essa sua amizade sem estresse.

― Obrigada. ― lhe dei um beijo de volta, que deveria ser rápido como o anterior, mas que logo cedi quando Danny o aprofundou, me fazendo rir e dar uma discreta mordida em seu lábio inferior.

― Você e Prim tem como voltar para casa direitinho?

― Sim, Gale veio de carro.

― Ok. Se cuida.

Ele entrou no carro e dirigiu foi embora. Quando voltei para onde estávamos, apenas o casal encrenca me esperava.

― Onde está Prim e Peeta?

― Na montanha russa.

― Onde? ― perguntei pasmada, já indo naquela direção.

― Promete vir comigo quando eu tiver esse tamanhão? ― Primrose indicava um desenho de uma pessoa numa placa de papelão, onde era mostrado o tamanho mínimo para entrar no brinquedo.

― Eu prometo princesa. ― Peeta respondeu.

― Ei tia! Tia! Tia Katniss. ― ela começou a gritar quando me viu. ― Vem no meu lugar com o tio Peeta! ― Prim saltou de cima dos três degraus onde a entrada do brinquedo ficava para meus braços.

― Melhor não meu amor, a tia não quer.

― Quer sim, que sei que a montanha russa é seu brinquedo preferido do parque desde que te conheço Catnip.

― E você tava encarando ele faz um tempo também, e ainda chamou nós dois e seu namorado tonto para ir com você. ― Mad falou.

― Vai tia, vai!

― Ok, isso é um complô para me ouvir gritar? ― eles riram cúmplices. ― Ok, eu vou. Prim, fica com o tio Gale e a tia Mad. E vocês dois, veem se não perdem a criança de novo!

― Foi uma vez Katniss, supere-se. ― Madge gargalhou. ― Prim, que tal aquele pacote enorme de batata frita?

Me virei para o grandioso brinquedo e respirei fundo. Peeta, que se manteve a discussão toda calado, me estendeu a mão para ajudar a subir nos degraus. Ele tinha um sorriso malicioso brincando nos lábios.

― E você nada de gracinhas. ― me apoiei em sua mão para subir. ― Tá muito saidinho hoje.

― Eu não fiz nada. ― o loiro levantou as mãos em rendição. ― Então, com pouca, muita, ou emoção extrema? Se você tiver medo, podemos ir no último carrinho.

― Vai se foder Peeta! ― passei por ele sentando no primeiro carrinho, bem na frente. Ouvi uma gargalhada e logo ele estava do meu lado.

Fechamos as travas de segurança e Peeta, o maníaco, conferiu pelo menos cinco vezes se estávamos bem presos antes dos carrinhos começarem a andar.

― Então, seu namoradinho tinha que dormir cedo? ― resolvi não retribuir à provocação e ficar calada já ouvindo o ranger dos pneus e o frio na barriga em antecipação da queda iminente. ― Acho triste o fato que a partida de tiro ao alvo foi apenas a primeira coisa que ele perdeu para mim.

― Ok, cala a boca. Você já está me irritando.

― Eu te irrito porque eu te incomodo Katniss. E se eu te incomodo...

Não sei se ele deixou a frase no ar ou parou de falar, pois no segundo seguinte estávamos caindo. Era como se minha pele estivesse separando-se dos meus músculos, que se separava dos meus ossos.

Meu coração batia acelerado com a descarga de adrenalina jogada em minha corrente sanguínea e sensação de perigo sem na verdade estar em perigo. Segurei a barra à minha frente e fechei os olhos com força, gritando a plenos pulmões enquanto o carrinho fazia a primeira descida e fazia uma curva sinuosa jogando meu corpo contra o de Peeta.

― Abre os olhos e solta os braços. Vai ser mais divertido. ― Peeta falou por cima dos meus berros enquanto o carrinho fazia diminuía a velocidade em mais uma sumida.

Fiz o que ele sugeriu abrindo meus olhos para ver nosso carrinho cair mais vez, então dar uma volta de 360° e mais algumas curvas verticais até ir parando aos poucos. Peeta tinha razão, aumentou muito a emoção e estava bem mais divertido. Às vezes eu olhava para o lado e lá estava ele gritando e rindo, como uma criança feliz. Pelo menos meu objetivo foi cumprido aqui, por alguns segundos pude vê-lo sem o estresse ou preocupações costumeiras.

― Quer ajuda? ― ele ofereceu quando pulou para fora do carrinho dando um grito animado.

― Eu consigo. ― talvez eu não conseguisse, já que assim que levantei senti as luzes do parque e o rosto de Peeta rodarem.

― Cuidado jovem. ― ele me segurou pela cintura segundos antes que eu desabasse no chão e apertei com força seus braços para não cair. ― Não queremos terminar essa noite no hospital. De novo.

Seus olhos fixaram-se nos meus e desceram vagarosamente para minha boca. Senti meu rosto esquentar pelo modo que era olhada e me surpreendi quando ele se inclinou mais um pouco em minha direção.

― Tia, foi bom?! ― a voz de Prim chamou a atenção atrás de nós. Peeta se afastou, riu e me ajudou a ficar em pé ereta.

― Incrível lindinha, mas agora acho que devemos ir, não é?!

― Ah tia, podemos ir no carrossel, só mais uma vez?

É tia, podemos? ― Peeta imitou sua voz infantil e eu acabei concordando.

Apenas assisti dessa vez, enquanto Peeta e Prim davam mais algumas voltas no brinquedo e então finalmente conseguimos convencer Prim que já bastava por aquele dia. Nos dirigimos então ao estacionamento para ir embora.

― Gale, você pode deixar eu e Prim em casa?

― Ah.

― “Ah” o quê? Pode ou não pode pessoa?

― Na verdade...

― Na verdade, eu e Gale tínhamos algo planejado para depois do parque de diversões. Algo também envolvendo diversão, mas sem um parque e com idade mínima para brincar, se é que vocês me entendem... ― ela riu com malícia.

― Deus Madge, tem uma criança aqui! ― Peeta tapou os ouvidos de Prim, que já estava sendo carregada e quase dormindo em seu ombro.

― Peeta te deixa lá. ― Gale deu a solução óbvia.

― É, Peeta te deixa. Vamos Gale. ― e ele saiu sendo carregado.

― Meu carro tá logo ali. ― seguimos em silêncio em direção ao veículo. ― Você pode dirigir, ela parece já ter dormido aqui.

― Você vai me deixar dirigir o seu precioso carro?

― Chaves no bolso dianteiro esquerdo. E não use isso como desculpa para me apalpar.

― Engraçadinho. ― meti a mão em seu bolso, desejando que Peeta usasse um jeans mais folgado, mas finalmente tirei o molho de lá e entramos no carro.

― Katniss, eu estava pensando numa coisa. O que você acha da Prim dormir na minha casa hoje, será que Johanna iria implicar?

― Não sei Peeta, tínhamos que ter falado com ela antes.

― Eu sei, mas não custa nada perguntar. E eu moro a dez minutos daqui, é até melhor pra ela que já está morta de sono.

― Ok, eu ligo.

Eu travava uma luta interior. Por mim, não teria problema algum a menininha dormir na casa de Peeta, até aprofundaria o laço que eles já tinham, mas secretamente eu torcia para que Jo dissesse não, pois a resposta sim me colocaria na casa de Peeta duas noites seguidas. Mais eu não podia atrapalhar uma relação de pai e filha por capricho.

Depois de muitos argumentos, Johanna finalmente cedeu e rumamos ao apartamento do loiro, que ao entrarmos já se ofereceu para colocá-la para dormir direito na própria cama. Busquei um copo de água na cozinha e fui para o quarto, mas acabei ficando parada espiando na porta.

Peeta cobria a loirinha com um cobertor e se mostrava meio desajeitado ao tentar arrumar um jeito melhor para ela dormir. Depois da terceira tentativa, ele finalmente achou que ela estava confortável e levantou-se do colchão.

― Tio? ― a pequena mãozinha segurou o forte braço dele. ― Eu te amo, tá? ― Prim declarou meio dormindo.

― Também te amo princesa. ― ele se inclinou e beijou a testa dela.

Corri para a sala antes de ser vista, piscando várias vezes para espantar as lágrimas que se formavam ali. Ele veio logo depois de mim, ocupando o espaço vazio ao meu lado no sofá cama.

― Obrigado por hoje Kat. E que começou como um dos piores dias da minha vida, acabou terminando como...

― Eu sei Peeta, eu sei. ― completei pois ele não sabia bem como terminar a frase. ― Mas confesso que estou meio incomodada em deixar minha afilhada dormir na sua cama. Vai saber quantas outras garotas já passaram por lá... ― brinquei.

― Relaxe, minha cama é tão pura como Prim. Fora Madge que adora de se aproveitar dos meus travesseiros e nossa loirinha, só mais uma pessoa esteve nela além de mim.

Peeta fixou mais uma vez seu olhar no meu e droga... mais taquicardia! Que merda de poder é esse que esse loiro dos infernos parece ter?

Ele era como uma maldita montanha russa. Estar com ele era um perigo e uma incerteza viciante, daquelas que você jura para si mesmo nunca mais ter, mas sempre que tem a oportunidade acaba experimentando de novo. E o fato das oscilações de humor dele hoje estarem uma loucura, passando de depressivo, para cafeínico imperativo, super focado, enlutado, pai do ano, e meio conquistador, só servia para deixar minha cabeça mais confusa.

Meus pensamentos distraíram minha atenção para o que o médico fez em seguida. Com uma mão do lado do meu rosto, ele me beijou. O gosto dos seus lábios fiz minha memória recordar em milésimos de segundos vários acontecimentos, a maioria da nossa noite em Louisville, antes que tudo desmoronasse.

Quando tomei consciência do que estava acontecendo ali, afastei seu corpo com as mãos em seu peito, o encarando assustada. Qual o problema desse cara? Em uma noite manda um pseudo “eu te amo” e agora me beija? Eu tenho um namorado ele devia ao menos respeitar isso!

― Eu também não vou me desculpar por isso. ― ele respondeu com a voz rouca, como se lesse minha mente.

Me preparei para brigar e gritar, quando ouvimos duas batidas rápidas na porta e um envelope branco passar por baixo dela. Toda correspondência deveria ser entregue na portaria e não nesse horário. Peeta levantou-se e pegou o envelope e abriu com aflição. A expressão de terror que atingiu seu rosto me fez ir para seu lado imediatamente, tomando a carta de suas mãos.

Nela, apenas quatro palavras estavam escritas: “Um presente para você.” Mas o mais preocupante era que Peeta não era o nome do destinatário, mas sim “Johnny”.

Levei minhas mãos à boca ao ver a cena quando Peeta abriu a porta.


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Notas finais do capítulo

OMG, o que pode ter acontecido?
Nos vemos nos reviews para discutir teorias e mais teorias... E também quero saber um pouco sobre o que estão achando desse novo Peeta...

Agora comunicado importante...
Conselheiro Amoroso está a alguns capítulos do final e para quem ainda não sabe, a fic que irá substituí-la será Como me (des)apaixonei por Oliver Mellark, a continuação da nossa querida CMDPPM. Então a partir do próximo capítulo, já começarei a colocar nas notas finais um pouco da caracterização dos personagens novos, e claro, mostrar-lhes seu lindo rostinho. Ansiosos? Eu estou!

Então recomendem, favoritem, entrem no grupo e aquela coisa toda...
Bjs*