Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 17
Suporte Básico || Katniss


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! Desculpem a demora curicas e curicos, mas a autora que vos escreve esteve muito doente essa semana!!! Mas graças ao feriadão, pude escrever!!! Digam eba!!! ~leitores: EBA!!!~

Já passando pra agradecer à Karen Dorothy que escreveu uma recomendação linda pra fic. Sigam o exemplo dela, sigam o exemplo dela... hehehehehehehehehe

Dei algumas boas risadas nesse capítulo, espero que gostem tanto quanto eu!!! As coisas entre nosso casal preferido cada dia parecem que se embolam mais!!!
Divirtam-se e leiam as notas finais!!! Serão de mudar vidas!!! Bjs*



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― E fim! ― falei animada largando o notebook de lado no sofá.

― Por favor, me fiz que você não colocou “fim” no final da sua monografia.

― Claro que não Clove. ― ela riu. ― Às vezes tenho a impressão que você me acha uma retardada.

― Ah amiga, então às vezes você entende mesmo o que eu estou dizendo? ― ela encenou uma expressão emotiva, e até me segurei para ficar séria, mas acabei rindo. Meu humor estava uma maravilha esses dias. ― Mas tenho que te dar meus parabéns. Sempre achei que você fosse ser daquelas que no dia anterior à apresentação estaria arrumando um monte de coisa que não deu tempo de terminar.

― Sabe que eu também achava?

― E como você conseguiu a proeza de finalizar a tempo?

― Peeta me ajudou muito no início e Danny no final do trabalho. Além de lindos, eles conseguem ser bem espertos. ― peguei meu celular para conferir meus prazos de entrega.

― Hm... ― Clove murmurou maliciosa e arqueou as sobrancelhas.

― “Hm” o quê?

― Você reclamava de falta de homem, que não tinha sorte e tal... Não me parece isso agora.

― Que maldosa você Clo, Dan e Peeta são só meus amigos. ― ela começou a gargalhar, e eu não entendi o motivo. ― O quê?

― Eu tinha leve a impressão que Peeta era seu “irmão mais velho”. Já virou amigo foi? Vai ser marido antes que você perceba.

― Você enlouqueceu baixinha.

― Só me avisa se começar a pegar um dos dois, não quero nem ficar perto. Te conheço namorando, é uma chatice e nojeira só.

Apesar de Clove ser uma das minhas melhores amigas, eu não tinha contado a ela sobre ter beijado Peeta e nem pretendia fazer isso. Só Madge e Finn sabiam do primeiro beijo, e eu esperava mesmo que meu ex-professor ainda estivesse mantendo o outro em segredo. As duas ocasiões foram coisas do momento, e até pensar sobre elas poderiam torná-las reais. Ter meu coração machucado por Peeta de novo logo era algo que eu evitava terminantemente.

― E você Clove? ― voltei o assunto pra ela.

― Eu o quê? ― ela recolou os óculos se fazendo de desentendida.

― Desde que você terminou seu namoro há mais de um ano, nunca mais nem ficou com ninguém.

― Digamos que estou muito ocupado ganhando o prêmio de Mérito Acadêmico. ― Clove respondeu sem se abater, mas pude perceber suas bochechas corarem, então rolei olhos.

― Kat, me diz que você tá livre na sexta à tarde. ― Johanna chegou com Prim, que se jogou no meu colo, fazendo Clove afastar-se um pouco.

― Na verdade não Jo, vou passar o dia na Universidade, tenho que mostrar meu trabalho pra minha orientadora e finalmente terminar isso. Por quê?

― Que droga, estou tão ferrada!

― O que é ferrada mãe? ― Prim perguntou inocentemente.

― Encrencada. ― Johanna se corrigiu. ― A mamãe está encrencada.

― Qual o problema?

― Sabe aquela coisa de dia das profissões que teve ano passado na escola de Prim? Vai ser na sexta, e eu estava esperando que você fosse no meu lugar.

Eu sabia que ser garçonete não era algo de que Johanna se orgulhava, mas pra mim não era vergonha nenhuma a pessoa que deixou a universidade para dedicar a vida um bebê de outra pessoa e que ela cuidava como filha. Mas sempre que podia a ajudava, como ano passado quando organizei uma rápida roda de conversa com os adolescentes sobre a escolha da profissão.

― Se você não pode ir, porque simplesmente não pede ao Peeta? ― Clove sugeriu e lhe dei um leve cutucão, e Jo me olhou com crítica. Eu não contei o segredo da paternidade de Prim pra ela ficar anunciando por aí.

― Por que pro tio Peeta? ― Prim perguntou novamente.

― A senhorita já está perguntando demais Patinha. ― comecei a fazer cócegas nela.

― Vem Prim, vou te dar banho antes que as amigas da Katniss falem mais. ― Clove a ignorou.

― Ei Jo, posso tentar ir depois, mas você poderia mesmo ir.

― Deixa quieto Katniss, vou dar meu jeito.

(...)

Dei duas batidas na porta do quarto, e entrei assim que ouvi um convite.

― Annie...

― Eu não vou levar uma bronca de você também, vou? ― ela riu fracamente e desisti na hora da bronca iminente.

A mente de Annie estava bem, nos encontrávamos toda semana para suas sessões de psicoterapia que acompanhavam as medicações receitadas pelo psiquiatra para o distúrbio bipolar, mas nas últimas duas semanas ela parou bruscamente com o tratamento medicamentoso e não contou a ninguém, além de arrumar desculpas pra faltar à terapia.

Resultado: na noite de ontem quando ela estava sozinha em casa, em um incidente de mania, ela subiu no telhado para ver melhor as estrelas. A Dra. Paylor me contou que ela estava tão animada que achou que poderia pular direto na piscina da própria casa. A garota teve sorte por ter caído na grama, não no piso de cimento, mas não saiu sem vários machucados, escoriações e uma perna quebrada.

― Eu não vou te dar bronca.

― Eu não sou suicida. ― os olhos verdes dela encheram-se de lágrimas. E era verdade, apesar de tudo ela sempre teve um brilho vivo no olhar. Mas se sem a medicação aconteceu isso quando ela estava numa felicidade excessiva, um episódio de depressão poderia ser fatal. ― Eu só queria ser uma pessoa normal.

― Ei, ei. ― acariciei sua mão. ― Você é normal.

― Não! ― ela enxugou os olhos com as costas das mãos. ― Pessoas normais de vinte anos não tomam remédios tarja preta, conseguem ter relacionamentos e não são controlados por pais super protetores.

― Sabe Annie... Todos nós temos problemas, e temos que lidar com isso. Não estou diminuindo seus sofrimentos nem nada, mas você tem que ver o lado bom as coisas e ficar feliz com isso.

― Parece que felicidade demais foi meu problema.

― Só não faz mais isso com a gente ok?! Eu quase tive um infarto hoje quando cheguei e me disseram que você estava internada aqui! Como você está?

― Fizeram uns curativos e estão esperando resultados de uns exames aí. Mas parece que vou ter que ficar aqui por um tempo.

― Você vai ficar bem e enquanto tiver aqui, venho te ver todos os dias.

― Isso é uma vantagem.

― Viu? Já vendo o lado bom. ― eu ri pra ela e Annie riu de volta. ― Até mais tarde.

Dei um beijo em seu rosto e saí do quarto. Ainda espiei pelos espaços das persianas e a vi derramar algumas lágrimas. Eu não imaginava como seria ter minhas emoções descontroladas ao ponto de me machucarem. Annie era tão doce, e merecia tanto ser feliz, que eu não considerava aquilo justo.

― Kat-Cat! ― Finnick praticamente gritou ao meu ouvido me fazendo saltar para trás, esbarrar em Peeta e só não cair porque ele me segurou pela cintura, me trazendo para junto de si.

― Ei Katniss. ― o loiro falou baixinho próximo ao meu ouvido não tendo noção (ou talvez tendo!) em como aquilo soava sexy. Toques demais, perto demais! Me afastei rapidamente arrumando minha roupa não desarrumada.

― Que susto Finn! ― dei um belo tapa no ombro de Finnick.

― Ai. ― ele acariciou o local. ― Você é bem forte Love. E ninguém mandou você ficar espiando os quartos alheios.

― Não é alheio, é da minha paciente.

― Olha, ela também vai ser minha paciente agora. Mais uma coisa que temos em comum Kat. ― ele falou se aproximando sedutoramente de mim e Peeta rolou olhos. Eu ainda me divertia com os flertes de Finnick, era como se ele não conseguisse evitar, e no fundo eu sabia que Peeta não se importava mais como no início. Depois de tantos meses que nos conhecíamos, eu e Finn não seríamos nada além de grandes amigos.

― Já chega né Odair, vá trabalhar!

― Foi mal Peeta, não quis ser... ― ele deixou a frase suspensa no ar.

― Não quis ser o quê? ― questionei Finnick, mas com o olhar fixo em Peeta. Será que ele tinha dito algo ao amigo?

― Ah, vocês sabem... ― ele olhou para nós dois e deu um riso malicioso.

― Não, não sabemos. ― Peeta falou tentando mostrando que estava tão confuso quanto eu.

― Eu acho melhor eu ir trabalhar, vejo vocês dois por aí. ― ele leu o nome em alguns exames antes de entrar no quarto. ― Vamos lá... Annie Cresta.

― Tchau Peeta. ― falei já saindo.

― Eu não contei nada a ele sobre o jogo, se você está pensando nisso. ― o loiro me seguiu pelo corredor.

― Sério?! Pensei que vocês caras comentassem sobre os resultados das partidas de qualquer coisa. ― desconversei.

― Qual é Katniss, vai continuar fingindo? Não é como se aquelas centenas de pessoas não tivessem visto... A gente se beijou de novo. ― Peeta me parou segurando meu braço e sussurrando a última sentença como se fosse algum segredo mortal. Seus olhos fixaram-se nos meus. ― Por que não podemos falar sobre isso?

― Porque simplesmente não aconteceu. Agora, com licença, tenho que trabalhar.

Peeta passou as mãos pelos cabelos em um gesto agoniado quando ele começou a ir em outra direção no corredor. Não Peeta Mellark, você não teria permissão de me machucar de novo.

Eu só queria poder realmente esquecer a sensação incrível que era beijá-lo e ainda mais: parar de querer fazer de novo.

(...)

― Katniss Everdeen! Que surpresa agradável! ― apesar das roupas sérias e de cores discretas da mulher, ela exibia um dos sorrisos mais simpáticos que eu me lembrava. Cumprimentei a diretora com um beijo no rosto.

― Você lembra de mim?

― Claro, falei pra Johanna trazê-la esse ano de novo, mas ela disse que você não poderia. Ano passado as crianças te adoraram, e esse ano eles parecem estar cada vez mais sem controle! ― Chamar adolescentes de 17 anos de crianças provavelmente não ajuda a controlá-los! Abafei o pensamento.

― Consegui sair mais cedo e dar uma passada. Então... Turma do último ano de novo?

― Perfeito! Eles estão terminando uma palestra sobre advocacia e estão com um tempo livre antes da de Primeiros Socorros, posso te encaixar no meio. ― ela escreveu algo numa prancheta. ― Quanto tempo você precisa?

― Eles gostam muito de falar, mas posso tentar terminar em uma hora. Pode ser?

― Sim, sim. Obrigada.

Não precisei esperar muito e a diretora Adams já me indicou a sala que eu deveria entrar.

― Precisa que eu vá com você?

― Não, isso pode deixar eles meio receosos. Eu me viro.

Quando entrei, eles sequer notaram minha presença. Sentei na mesa como fazia no meu ensino médio e observei enquanto eles conversavam sobre sua família, seus dramas e romances, sobre a palestra chata que tinham acabado de ter, e principalmente sobre qual universidade e curso seguir. Aos poucos, ao me ver, eles foram se calando.

― Ei, você é aluna nova? ― um dos garotos que parecia mais atirado veio até mim.

― Dois pontos para você por achar que ainda pareço ter 17 anos.

― Na verdade você parece. Tênis, mochila, saia jeans, camiseta de banda. ― uma menina que parecia bem estilosa comentou apontando pra mim.

― Não me julguem, eu vim direto da aula! ― levantei as mãos rendida.

― Você é aluna então? ― uma garota de aparência inteligente questionou.

― Não dessa escola. Meu nome é Katniss, estou terminando o último ano de psicologia e hoje estou aqui pra conversar sobre o que pretendem ser quando crescerem. ― percebi que eles bufaram entediados e já dissipando a atenção de mim. Eu ri. ― Vamos fazer assim: todo mundo afasta as cadeiras e vamos sentar no chão. Você. ― apontei para o primeiro garoto que falou comigo. ― Sei que deve ter alguma garrafa de bebida escondida por aqui, me empresta. ― eles se entreolharam com estranheza. ― É sério, me empresta, não vou falar pra Sra. Adams.

Eles me trouxeram uma garrafa de cerveja, que levei até o banheiro mais próximo e derramei toda. Tudo bem que eu não era a pessoa mais puritana do mundo, mas beber com menores de idade estava fora de questão. Quando voltei, eles já tinham feito o círculo. Ajustei minha saia da melhor maneira possível e sentei no chão.

― Hoje vamos girar essa garrafa, mas diferente daquele joguinho pervertido que vocês brincam, vamos falar sobre nosso futuro. Pra onde a garrafa apontar, a pessoa vai ter que responder pelo menos duas profissões que pretende seguir e por quê.

No início eles ainda estavam meio tímidos e retraídos, mas logo foram se soltando e falando muito sobre suas certezas e incertezas, e eu ajudando a orientar com o conhecimento e experiência que tinha. Ao final da uma hora quando a diretora veio chamá-los para a próxima palestra, já estávamos todos rindo como se fôssemos amigos há tempos.

― Você tem que voltar aqui de novo!

― Eu oficialmente quero cursar psicologia agora!

― É ótimo, mas você tem de fazer o que gosta. Ser condenado a um emprego que não goste é quase tão pior que casar com alguém que você não ame. ― eu seguia conversando com algumas meninas na direção do auditório, onde seria a próxima atividade.

― Você ama alguém? ― uma delas perguntou maliciosa.

― Peeta! ― falei perplexa quando passei pela porta e o vi arrumado alguns materiais em cima de uma mesa. Ele levantou o olhar parecendo igualmente surpreso. ― Foi um prazer conhecer vocês meninas. ― me despedi delas antes de ir falar com ele.

― Katniss, o que faz aqui?

― O mesmo que você aparentemente.

― Johanna pediu que eu viesse, ela disse que você não poderia. Fiquei até de levar Prim pra casa no fim da aula.

― Muito bem papai. ― o elogiei dando dois tapinhas em seu ombro.

― Sabe Katniss, isso está sendo melhor do que eu imaginava. A coisa do pai. Só tenho medo quando tiver que contar a ela. Se as coisas mudarem?

― Só se forem para melhor. Vocês se amam e são pai e filha. Não há nada que fique no meio disso por muito tempo.

― Obrigado. ― ele estendeu a mão para pegar a minha, mas disfarcei arrumando meu cabelo. Peeta riu constrangido.

― Mas então, sobre o que você vai falar hoje?

― Nada demais. Só uma aulinha básica de Suporte Básico de vida. ― o olhei com as sobrancelhas franzidas. ― Primeiros Socorros Katniss. Nunca é bom saber demais sobre isso.

― Posso assistir? Prometo me comportar! ― juntei as mãos em uma prece.

― Claro, fica aí.

Ele terminou de arrumar os poucos equipamentos básicos que eu reconhecia do hospital. Haviam luvas, gazes, compressas, um negócio com uma daquelas máscara de oxigênio e um balão de plástico que eu não lembrava o nome.

― Boa tarde pessoal. ― ele começou simpático. ― Eu sou o Dr. Peeta Mellark, faço residência em cirugia no hospital Exempla Saint Joseph e vou ensinar pra vocês algumas técnicas para usarem se algum amigo ou conhecido começar a passar na mal na frente de vocês. ― a maioria das meninas o mediu de cima a baixo, dando risadinhas e conversando entre si. Ele continuou talvez nem tendo consciência daquilo. ― Suporte básico de vida: são as ações que podem ser feitas por profissionais ou não, para manter a vida até chegar a uma assistência mais especializada. São os conhecidos primeiros socorros. ― mesmo usando calça jeans, tênis e camiseta simples preta, Peeta exalava autoridade e conhecimento.

Com os alunos em um círculo, ele ensinou a estancar sangramentos, imobilizar pescoços com abas de bonés, e braços e pernas com talas de madeira, o que fazer no caso de queimaduras, choques elétricos e a sentir a pulsação. Essa última parte foi a que as meninas mais gostaram, pois ele foi em cada aluno mostrando onde sentir no pulso e no pescoço. Digamos que o público feminino precisou de mais de uma demonstração para entender bem onde a artéria carótida passava no pescoço de Peeta. Do meu ponto de observação eu apenas ria do constrangimento dele.

― Bom, digamos que você sai em um encontro. ― Peeta continuou já seguindo para o próximo tema.

― Que sair comigo professor? ― Ok, agora parou a brincadeira. Quem foi a vadiazinha que usou o meu apelido? Ele a ignorou continuando.

― Nesse restaurante, seu par engasga com uma azeitona, por exemplo. Ele pode morrer sem ar, se você não fizer nada. Quão dramático seria esse fim de noite? ― saltei da mesa e fiquei atrás dele.

― Você está exagerando... ― cantarolei rindo.

― Formem duplas. ― ele ordenou à turma e eu já estava voltando para meu lugar, quando ele segurou meu pulso, aproximando-se. ― Você fica, não quero sair daqui preso por pedofilia.

― Como assim?

― Uma das pessoas fica na frente e a de trás envolve os braços em torno da primeira, chegando mais perto. Assim. ― ele me abraçou por trás e não pude evitar corar quando uma série de murmúrios maldosos ecoou pelo local.

― Peeta, não acho isso adeq...

― Shiu, estou ensinando. ― os pelos da minha nuca arrepiaram-se quando ele sussurrou ao meu ouvido. ― Feche uma das mãos em punho e com a outra segure o pulso. Agora você faz uma pressão abaixo no osso esterno, esse da frente do tórax, onde as costelas se encontram.

Quando a tal pressão foi feita, parte do meu corpo foi jogado um pouco pra frente, mas se manteve firme em seus braços, numa posição erótica demais pra ser assistida por uma turma de mais de trinta adolescentes. Sem contar o fato que eu estava sem ar por ter sido desengasgada sem necessidade. Por isso, ou por descobrir que a pegada de Peeta era tão boa quando seu beijo.

― Todos entenderam, ou querem que eu repita? ― ele ainda me manteve firmemente presa em seus braços e pude ver por minha visão periférica um risinho safado brotar do canto de seus lábios.

― Acho que eles entenderam Peeta. ― dei dois tapinhas em seus braços, e ele me soltou.

― Quero sua cobaia doutor. ― um dos garotos falou.

― Muito engraçadinho, mas faça com seu amigo.

Toda turma acabou se divertindo enquanto bastante tentavam “desengasgar” um ao outro. Até me arrisquei a repetir o movimento em algumas das meninas que conversavam mais comigo, já Peeta preferiu ensinar mantendo a distância dos toques diretos nelas, mesmo algumas mais atiradas pedindo por isso.

― Nosso tempo está acabando, então vamos pra última lição: afogamentos.

Todos gritaram e aplaudiram animados e eu sabia exatamente o porquê. Se Peeta ainda quisesse me usar como exemplo, aquilo ia ficar constrangedor a um nível que eu não podia nem imaginar.

― Qual a primeira coisa que você tem saber pra lidar com uma vítima de afogamento?

― Beijar bem? ― um garoto da altura de Peeta, de cabelos castanhos e olhos escuros sugeriu, e a turma explodiu em gargalhadas.

― Nadar, mas boa tentativa. Seu nome é...

― Luke.

― Ótimo Luke, venha aqui por favor. ― os amigos começaram a rir dele, que caminhou até onde Peeta estava, no meio do círculo, tentando esconder o constrangimento. ― Nosso amigo Luke aqui caiu na piscina e não sabe como sair. O que você faz?

― Deixa ele lá... ― um dos amigos dele falou e todo mundo riu.

― Não, primeiro você tem que ter a certeza que consegue tirá-lo, ou ao invés de um, serão dois problemas. Quando já estiver na água, tente acalmar ao máximo a pessoa, pois se ela se desesperar, vai ser bem pior e pode te levar junto para o fundo. Agora visualizem comigo uma faixa presidencial ou de concurso de beleza. Você vai passar um dos seus braços por baixo do da vítima, alcançando com a mão o ombro da pessoa e então é só nadar com o outro braço pra fora da água. Desse jeito.

À medida que Peeta demonstrava no garoto, a turma ria e eu agradecia por não ter sido escolhida pra isso.

― Agora fora da água. Você pode deitar no chão, por favor? ― mais gargalhadas e o pobre Luke não sabia onde colocar a cara. Peeta ajoelhou-se ao seu lado. ― Procure uma superfície rígida e plana. O protocolo aqui se assemelha ao da Parada Cardio-Respiratória. Trinta massagens cardíacas a cada duas respirações.

― Essa eu quero ver.

― Melhor aula ever! ― os alunos comentavam enquanto Peeta ensinava como fazer as compressões cardíacas.

― Agora na respiração... Vamos usar isso. ― ele levantou-se e pegou o negócio que eu não sabia o nome. ― Se chama AMBU e serve pra colocar ar artificialmente para dentro dos pulmões. ― depois de ensinar como o negócio funcionava, Peeta dispensou o menino que respirava aliviado e acredito que passaria um bom tempo sem fazer piadinhas na sala de aula.

― Ah, assim perde a graça...

― Doutor, e se eu não tiver um desses?

― Siga com as massagens cardíacas. Não é recomendável se arriscar sem saber a procedência da vítima. Você pode pegar alguma doença pelo contato com a boca ou saliva.

― E se eu souber a procedência da vítima?

― Então você pode usar a respiração boca a boca. É bem simples, você fecha o nariz da pessoa, e sopra ar da sua boca na dela. A pressão do ar fará a água sair pela boca e nariz evitando sufocamento. É basicamente o mesmo processo do uso do AMBU.

― Não, não estamos conseguindo visualizar. ― eles falavam e eu amaldiçoava aqueles adolescentes safados.

― Vocês dois se conhecem, certo? ― uma voz sugeriu apontando pra mim e Peeta. Atenção, alguém por favor cava um buraco pra eu meu jogar bem agora? ― Podiam fazer uma demonstração, já que você conhece “a procedência da Katniss”.

― Não, eu não acho...

― É melhor não. ― Peeta concordou. ― O namorado dela pode implicar. ― Peeta deu de ombros rindo com a certeza de que eu iria negar e o olhei com raiva. O idiota estava se divertindo com aquilo? Ele não deveria se divertir às minhas custas, eu que sempre fazia isso. Agora você me paga Mellark.

― Tudo bem, eu faço.

― Faz? ― ele perguntou surpreso.

― Faço Peeta, vamos nessa! ― falei me deitando no chão. ― Eu tenho que sair com meu namorado daqui a pouco. ― o provoquei e ele pigarreou.

― Então... Como eu disse antes. Afogamento.

― Direto ao ponto, pode ser? ― cobrei fechando os olhos.

― Bom, com a vítima desacordada você faz os movimentos de compressão. Trinta. Então duas respirações. Tape a saída de ar pelo nariz, use a outra mão pra levantar um pouco o queixo da pessoa, encha os pulmões e sopre o ar dentro da boca. ― senti os lábios de Peeta tocarem levemente os meus e ar foi colocado para dentro. Meu coração batia descompassado. ― Outra vez.

Não sei precisar o momento que parou se ser um procedimento de salvamento e virou um beijo. Nossos lábios agora estavam unidos ao ponto de sentir o sabor um do outro. Peeta tinha gosto de bala de menta. Minhas mãos subiram à sua nuca o trazendo mais para perto, enquanto ele segurava o próprio peso com as mãos uma dela cada lado do meu corpo.

― É, acho que ela acordou. ― alguém falou e todos gargalharam.

Peeta quebrou o beijo e se levantou, me estendendo a mão e me ajudando a levantar logo em seguida.

― Obrigado pela atenção, vocês estão dispensados. E digam não às drogas e usem sempre camisinha.

― Vocês dois também. ― um dos alunos falou antes de sair. Com licença, o buraco que eu solicitei já está pronto?

― “Digam não às drogas e usem sempre camisinha”? Que patético! ― joguei minha mochila no ombro e fui em direção à saída.

― Desculpa Katniss, você está com raiva de mim? ― ele terminou de jogar tudo de qualquer jeito na própria mochila e me seguiu.

― E eu não deveria?

― Não, já que você aceitou fazer a coisa toda.

― Claro que aceitei, você estava se divertindo às minhas custas!

― Do jeito que você sempre faz e fez a aula toda? Menos drama, por favor!

― Eu não sou dramática! ― quase gritei e para nossa sorte o caminho do auditório até o estacionamento estava vazio.

― Dramática sim. E inconstante! ― ele também elevou a voz.

― Você é o inconstante daqui. Você disse que nunca teríamos nada, que eu não era o seu tipo, e meses depois já estava com a língua na minha boca!

― Tá bom que você é a virgenzinha inocente nisso. Eu nunca te beijei uma vez sequer para que você não correspondesse na hora Katniss Everdeen.

― Você me usou como estepe da sua Kath!

― Eu nunca te usei pra nada, ao contrário da senhorita. Pra fazer ciúmes em um babaca, pra se esconder de outro, dar conselhos sobre outro e até se consolar por outro. Eu fui o usado! Sabe, não gosto do tal do Dan, mas tenho pena dele que vai ser usado por você para me esquecer!

― Eu te esquecer? Eu não gosto de você, se enxerga Peeta!

― Isso, nega seus sentimentos. ― alcançamos o carro dele, que destravou e jogou a mochila no banco do carona.

― Ah, porque você é conhecido por exalar sentimentos. Seu coração é do tamanho de uma ervilha!

― Você não sabe metade da minha vida e acha que pode julgar.

― Você também julga sem precisar saber da vida dos outros. É mandão e autoritário! ― dei um passo à frente apontando meu indicador para seu peito.

― Você controladora e obcecada. ― ficamos nos encarando meio ofegantes da recente briga. ― E estupidamente linda.

Peeta alcançou meus lábios com os seus e me ergueu do chão, colocando minhas costas contra a porta fechada de seu carro, continuando a me beijar. Passei as alças da minha mochila pelos braços, a fazendo cair no chão, para poder trazer seus cabelos mais para perto com meus dedos de um modo nada delicado. Sua língua adentrou minha boca, reproduzindo a discussão de agora a pouco de um jeito bem mais divertido, só pra constar.

Eu sei que esse deveria ser o momento de parar de beijá-lo, de parar de corresponder, de empurrá-lo para longe dar-lhe um belo tapa na cara, mas eu não queria e talvez mesmo que tentasse, não conseguiria. Peeta tinha esse poder de me fazer derreter quando me beijava. Eu simplesmente perdia toda minha lógica e razão, todos meus argumentos iam por terra, eu só pensava em tê-lo perto de mim para sempre.

Sua boca escorregou da minha para meu pescoço, mordendo, chupando, deixando marcas da minha falta de domínio próprio. Minhas mãos percorriam suas costas, enquanto cada toque e aperto em minha cintura arrepiava cada mísero pelo do meu corpo.

Segurei os lados do rosto com a intenção de olhá-lo e mandá-lo parar, provavelmente xingar ou jogá-lo naquele buraco que era pra mim, mas ao ver seus olhos azuis me encararem o máximo que consegui fazer foi beijá-lo novamente. Por mais que eu evitasse com todas as forças pensar nisso, Peeta estava se tornando um daqueles problemas que você sempre deixa para resolver depois. O vício que você para amanhã ou a academia que você vai começar toda segunda feira.

Respira fundo Katniss, você consegue!

― Devíamos parar com isso agora. ― falei ofegante.

― Provavelmente. ― ele riu de lado antes de me beijar de novo. Assim você dificulta minha situação, oh pessoa!

― É sério Peeta!

― Hum rum. ― ele murmurou com a cabeça enfiada no meu pescoço, sua língua traçando o mesmo caminho das minhas artérias e veias, seu cheiro inebriando meus sentidos e me fazendo morder o lábio com força. E eu nem queria pensar em como suas mãos faziam carícias maravilhosas nas minhas costas, abdome e cintura.

― Estamos no estacionamento da escola de Prim. ― Peeta se afastou bruscamente.

― Prim! Eu tinha... tenho que levá-la para casa. ― o loiro saiu meio desnorteado. Ele tinha esquecido de pegar a filha na escola, eu tinha esquecido que já estava quase namorando outra pessoa. Que ótimas pessoas nós somos!

Peeta, a porta do seu carro está aberta. ― peguei minha mochila no chão.

― Merda! ― ele voltou, a batendo com força, seu rosto parecia estar tomando consciência do que tinha acabado de acontecer ali. Bem-vindo ao meu mundo dos confusos Peeta Mellark! ― Sobre a gente...

― Eu sei, precisamos conversar. ― mas do jeito que as coisas estavam indo eu sabia bem aonde uma conversa assim iria chegar. Se uma briga aos gritos gerou essa pegação toda em um lugar aberto, uma conversa civilizada ia parar... Ai meu Deus!


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Notas finais do capítulo

Como eu disse, pessoas emboladas... Quase literalmente falando!!! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Recomendem favoritem e tals...

Agora à notícia bombástica: eu e a Thamy (autora de Jogo de Amor em Las Vegas) que muitos de vocês devem conhecer e serem fãs como eu, estávamos conversando essa semana e decidimos criar um grupo no WhatsApp, para aumentar nossa interação, divulgar novos projetos ou apenas jogar conversa fora. Nossa vida é muito corrida mesmo, mas gostaríamos de estar mais próximas de vocês. Então aos interessados, deixar seu número por MP (não nos reviews, eles são públicos e isso é perigoso!) que essa semana criaremos o grupo, ok?!

Segunda notícia... Aos fãs de Arrow, estou com projeto já adiantado de uma fic lindinha dessa categoria, continue me acompanhando. E antes que vocês esqueçam, também já voltei a trabalhar em Como me (des)apaixonei por Oliver Mellark, vocês não perdem por esperar!!!

Por enquanto é só... Nos vemos nos reviews... Bjs*

p.s.: AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH
Breve surto pelos episódios de Arrow e The Flash dessa semana!!!

p.s.2: Pra quem gosta de uma ótima comédia romântica original, recomendo "Por trás do seu sorriso", da talentosíssima Tatá Mellark. Taí o link: http://fanfiction.com.br/historia/609986/Por_tras_do_seu_sorriso