Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 16
Camera-Kiss || Peeta


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!! Quem estava ansioso pela postagem desse capítulo levanta a mão! o/

Ele ficou grandão, tem muita coisa, vários acontecimentos e claro... Daniel!!! Dan, Danny, assim você me mata!!! Mas não se preocupe Peeta, no meu coração ainda cabe você...

Sem mais enrolações, queria agradecer aos reviews e favoritações, o feedback que vocês me passam é incrível!!! Passamos de 23 mil visualizações em apenas 15 capítulos!!! Conquista nossa, conquista nossa!!

Falei que não ia enrolar, e acabei enrolando...
Aí vai o capítulo!!! Até as notas finais!!! Bjs*



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― Você é minha melhor amiga, tem obrigação de fazer isso por mim! ― eu seguia Madge pelas rondas dela no Pronto Socorro há mais de dez minutos.

― Eu não vou perseguir Katniss só porque você quer Peeta.

― Não falei nada de perseguição. ― justifiquei tentando provar meu ponto. ― Eu só quero saber se ela tá namorando aquele cara.

― Em duas horas volto pra te ver. ― ela acariciou a mão de uma senhora idosa antes de sair do biombo, comigo ainda em seu encalço. ― Não é da sua conta Peeta.

― Claro que é, sou amigo dela.

― Um amigo que ela não fala há quase um mês por uma completa idiotice que o tal amigo disse e fez. Você perdeu sua chance, agora deixa a menina ser feliz!

― A culpa foi do Finnick e seus péssimos conselhos.

― Opa, minha não! ― ele saiu de trás de uma das cortinas, onde ele tratava de um paciente com uma máscara de oxigênio. ― Eu disse pra você decidir de vez o que fazer e parar de enrolar a Katniss. A ideia de encerrar suas “aulas” e mandá-la sair com outros caras foi inteiramente sua.

― Vocês são os piores melhores amigos do mundo!

― Você não tem pacientes ou coisa assim? Porque eu e Finnick não somos os queridinhos da Coin e precisamos mostrar serviço.

― Ei Finn, você bem que podia chamá-la pra sair. ― meu amigo parou as anotações que fazia de um dos monitores cardíacos, despediu-se do paciente e da família e me encarou abismado por causa da minha sugestão.

― Agora você apelou. ― Madge tentou conter uma risada.

― É melhor um cafajeste que já sei lidar do que outro desconhecido.

― Vai se foder, vai Peeta! ― Finnick falou baixo para as pessoas ao redor não escutarem. ― Além do mais, a Kat-Cat nos apresentou algumas semanas atrás, e o Dan é muito gente boa.

― E lindo pra caralho! Quando Katniss o beijar, vai se apaixonar de vez, tenho certeza. ― eu até brigaria com os dois pelo fato de agora serem totalmente do time “Daniss” (como Madge chamava para me irritar), mas o que a loirinha falou me deixou mais animado.

― Então ela ainda não o beijou? ― Madge se deu conta que tinha falado demais.

― Vai procurar o que fazer!

― Eu vou, mas só uma dica pra vocês. Madge, acho melhor você trocar a aquela Amoxilina 500 mg por um Azitromicina 500 mg, e Finnick, se você colocar seu paciente respiratório em um semi decúbito de fowler vai melhorar o conforto dele. ― eles me empurraram entre resmungos de “vai se ferrar” em direção aos elevadores que levavam aos andares superiores, onde eram meus plantões de hoje.

Eu estava puto com aquela situação há dias, mas um pequeno raio de esperança iluminou minha mente. Eu via sempre Katniss de cochichos com o fisioterapeuta novo pelos cantos, mas saber que os dois ainda estavam apenas no estágio das conversas e flertes, me deixava mais aliviado.

Além da irritação, o que mais me incomodava era a saudade que eu sentia da morena. De repente meus ouvidos sentiam falta de tantas palavras jogadas rapidamente, assim como meu olfato do seu cheiro e minhas mãos da sua pele. Katniss estava me fazendo um obcecado com uma clara crise de abstinência. Ótimo!

Apertei o botão do elevador e aguardei. Aguardei. Aguardei. O visor indicava que a caixa metálica continuava parada no mesmo lugar.

Maravilha, a única coisa que faltava era essa coisa quebrar de novo!

Quando eu já estava pronto para tentar o elevador no outro lado das salas de Pronto Socorro, ou mesmo subir pelas as escadas, o som característico apitou e as portas se abriram, uma pessoa saiu correndo e me agarrou pela cintura. Passei protetoramente o braço por seus ombros, enquanto Katniss soluçava um “me ajuda” com a cabeça enfiada em meu peito.

― O que aconteceu?

― Hey Jhonny?! ― levantei o olhar pra ver que Mike Willis ria descaradamente enquanto brincava com as algemas fazendo um barulho irritante no contato com o aço da barra do elevador. Eu não fazia ideia como ele tinha acabado sozinho com ela, já que sempre que vinha fazer suas consultas de rotinas, vivia cercado de guardas e era considerado muito perigoso.

― O que você fez com ela? ― cuspi as palavras, me contendo para não fazer nada impensado. Ele deu de ombros.

― Ah, você sabe, uma amostra grátis do que vem por aí, cedo ou tarde.

Katniss instintivamente levou as mãos ao próprio pescoço e pude ver no espaço entre seus dedos discretas marcas avermelhadas. Senti meu rosto esquentar e o sangue que corria por minhas veias fervendo. Se aquele cara tinha passado dos limites, eu também passaria, não importando as consequências.

Ele anda ria quando soltei Katniss de mim e fui em direção à ele, já desferindo o primeiro soco. Uma total balbúrdia começou ao nosso redor, mas não estava mesmo me importando, já que aquela tinha sido a gota d’água do meu limite com Mike Willis. Eu suportei as ameaças, salvei a vida do cara, mas ter que ver ele machucar Katniss novamente, e agora deixando até marcas?

Senti braços me tirarem de cima dele, e as vozes de Finnick e Madge me mandando ficar calmo, ou conseguiria uma suspensão. Mas diante do bem estar de Katniss, quem se importa com isso? Policiais chegaram pelas escadas logo em seguida e imobilizavam o bandido.

― Ele escapou por dois segundos e entrou no elevador. ― um deles explicou. ― O que aconteceu aqui?

― Aconteceu que eu estou machucado e quero prestar uma queixa formal contra esse doutorzinho.

― Ele atacou minha amiga! ― rebati apontando para Katniss, que estava trás de mim. Os policiais olharam por cima do meu ombro, pra mim e de volta pro Mike.

― Você vai ganhar uns dias na solitária por essa brincadeirinha Willis. ― ele bufou frustrado, mas logo recuperou seu sorriso arrogante.

― A gente se vê Jhonny. Até mais Katniss.

― Vocês dois estão bem? ― Madge perguntou abraçando Katniss, enquanto o homem era levado para fora do hospital.

― Você tem merda na cabeça Peeta? ― Finnick esbravejou. ― Se os policiais decidissem levar em consideração a queixa do tal Willis e a Dra. Coin fica sabendo? Sua carreira afundaria em segundos!

― Desde que o filho da mãe não conseguisse chegar mais um milímetro sequer perto da Katniss, eu não me importo! O cara tá obcecado por ela! ― Como você já confessou estar também! Minha consciência me alertou. Afastei o pensamento.

― Existem outros meios de resolver isso que não envolvem esmurrar um paciente no meio de um Pronto Socorro lotado.

― Não me arrependo, e se você não tivesse chegado, ele teria apanhado bem mais.

― Tá maluco Peeta? ― foi a vez de Madge intervir. ― Eu sei que sua cabeça não está boa esses dias, mas se escuta falando e olha ao redor.

Acabei fazendo o que ela pediu e vi muitas pessoas me olhando assustadas. Apesar de nunca ter dado muitos plantões por aqui, alguns poucos rostos conhecidos me encaravam com estranheza, enquanto outros pareciam desconfortáveis e surpresos por ver algo do tipo acontecendo em um hospital como o Exempla.

― Respira fundo e vai tomar uma água, que eu e Finn temos que trabalhar. E você, fica bem. ― ela beijou o rosto de Katniss antes de sair com Finnick dispersando os curiosos que ainda cercavam o local. A morena ainda estava parada no mesmo lugar.

― Você está bem? ― perguntei segurando seu rosto entre minhas mãos. Ela apenas balançou a cabeça em negativa. ― Vem, vou cuidar de você.

A guiei para a sala em que geralmente nos reuníamos nas horas e vagas e onde conversamos pela última vez. O dia que falei algumas das maiores besteiras da minha vida para a pessoa mais especial dela.

― Posso ver? ― pedi, antes de começar a analisar o delicado e alvo pescoço de Katniss, onde algumas marcas vermelhas de dedos ainda permaneciam.

― Ele entrou no elevador sem aviso e depois parou ele. Eu não conseguia me soltar, mas ele não parecia disposto a me matar, só queria se divertir com meu medo. ― Katniss falava e eu tentava pensar em outra coisa, ou mataria o filho da puta ali na porta do hospital mesmo. ― Eu não quero que aconteça de novo Peeta. ― ela choramingou, uma lágrima solitária escorrendo do canto do seu olho.

― Não vai, eu prometo. ― tentei acariciar sua mão, mas ela a recolheu em um movimento rápido. Engoli seco e me levantei. ― Agora vamos cuidar de você. Tenho um remédio muito complicado pra lhe receitar, difícil de achar de de fazer, você está preparada? ― forcei um sorriso, e ela me olhou ansiosa. ― Compressa gelada.

Coloquei algumas pedras de gelo em um tecido limpo e entreguei a ela, que logo pôs em volta do pescoço. Sentei-me ao seu lado.

― Sabe? Finn e Madge estavam certos, você foi muito imprudente lá. ― Katniss falou depois de algum tempo. ― Poderia ter se prejudicado muito.

― Não me importo, já disse. Você é muito importante pra mim Katniss.

― Só precisou de um serial killer me asfixiando pra você descobrir isso. ― Ouch! Toma na cara Peeta Mellark!

― Me desculpe. Eu fui um idiota, eu tenho sido um, na verdade. E logo com você... ― parei sem saber exatamente o que falar e nem que rumo aquela conversa estava tomando, mas decidi continuar com o que veio à minha mente, sem parar para pensar ou ponderar as consequências como sempre fazia. ― Eu não mereço sua amizade, sei disso, mas por favor, me deixa ao menos tentar conquistá-la de volta?

― Pode ser um trabalho em progresso, mas você deu um passo pra frente hoje. Obrigada Peeta.

~

Senti cada músculo do meu corpo se retesar pedindo um contato imediato com os lençóis macios e quentinhos da minha cama, mas eu não teria esse luxo, não agora. Ainda faltavam doze horas para o meu plantão triplo acabar e eu já estava exausto. Um acidente com um ônibus noite passada direcionou quase todos os residentes para o Pronto Socorro e com certeza entrou pra história como o pior de plantão da minha vida.

Parecia que eu tinha fechado os olhos há apenas dois segundos quando ouvi duas leves batidas na porta. Me sentei na cama com o susto, fazendo minha cabeça doer e meus olhos sonolentos pinicarem. Considerei até fingir que o quarto estava vazio, quando ouvi a voz que me chamava.

Peeta, você está aí, é a Katniss. Posso entrar? ― mais curioso que ouvi-la se identificar, mesmo eu conhecendo aquela voz até debaixo d’água, era o modo como ela pedia permissão pra entrar, coisa que ela nunca fez em meses.

― Sim, a porta está aberta.

Ela entrou hesitante, olhando para os lados antes de sentar-se ao meu lado na cama. Eu nunca fui do tipo carinhoso e adepto de demonstrações exageradas de afeto, mas no tempo de convivência com Katniss e Madge, eu já tinha me acostumado em ter essas pessoas que invadem minha vida sem permissão, bagunçando tudo como se fossem as donas. Mas ao olhar pra garota agora, eu não reconhecia seu comportamento.

― Desculpa se te acordei.

― Não precisa se desculpar. ― e não precisava mesmo. Como eu disse, já estava acostumado com isso, o que eu não estava acostumado era com o lado discreto e evasivo de Katniss, e esse tratamento desde que começamos a “retomar a amizade” me fazia relembrar todos os dias as merdas que fiz em nosso relacionamento. ― Posso te ajudar em alguma coisa?

― Então... ― ela colocou as mãos no colo e abriu um sorriso, aquele que ela sempre dava antes de me pedir algo que ela sabia que eu não iria concordar. ― Preciso de um favor. ― rolei olhos atestando minha teoria.

― Se eu puder ajudar.

― Você pode. É o seguinte: esse final de semana, amanhã pra ser mais precisa, vai ter um jogo de basquete da Liga Nacional aqui em Denver.

― Finn me falou algo do tipo.

― Então... Queria saber se você quer ir comigo. ― arregalei um pouco os olhos em surpresa.

― Você e eu?

― Nós. Você, eu e o Dan. ― ela se corrigiu e eu fechei a cara.

― Nem pensar, não vou ficar de vela.

― Você pode levar alguém também! ― ela me estendeu dois ingressos. ― Tenta falar com a Madge, quem sabe ela pode ir.

― E enquanto eu estou com minha amiga, você se pega na cadeira lado com esse cara? Nada disso, procure outra pessoa.

― Eu procurei, mas Finn está de plantão e Gale já tem compromisso. Eu só conheço vocês três de amigos homens. ― meu orgulho agora estava oficialmente ferido. Quando virei a última opção da Katniss?

― Por que você não vai só com o cara? ― falei amargurado.

― Primeiro de tudo, ele tem um nome. Segundo, pra quem está tentando voltar a ser meu amigo, você está colocando banca demais pra um simples favor! Eu só não quero que as coisas fiquem estranhas logo agora no início com ele, então pensei que uma saída dupla ajudaria, mas se você não quer...

― Ok, eu aceito! ― concordei tentado com a possibilidade de impedir que algo a mais acontecesse. ― Mas na primeira situação constrangedora, eu me levanto e...

― Obrigada! ― ela me cortou batendo palmas animada. ― Vai ser demais, passo na sua casa amanhã, às oito. Não se atrase! Ah, e se você não quer levar a Madge, pelo menos me poupe de ter que dividir o oxigênio com alguma vadia. ― se ela falou aquilo com o objetivo de me ofender, não conseguiu. Eu não tinha saído com ninguém desde nosso encontro, e no fim das contas eu ia acabar levando Madge, ou mesmo Johanna já que nossa relação estava melhorando.

Me deitei novamente, mas o sono tinha passado completamente. Usei minha hora de descanso para pensar, e no final em já tinha uma conclusão e dois objetivos.

Concluí que Katniss estava arredia e mantendo a distância com medo que eu a machucasse novamente, e eu não a culpava por isso. E isso levava aos meus dois objetivos: antes de conseguir a amizade, eu precisava ter a confiança dela de volta. E o segundo objetivo era sair com esse cara e ver as intenções dele com ela, e se visse uma coisinha suspeita sequer, faria de tudo para acabar com esse romance antes mesmo que ele começasse.

~

O carro de Katniss parou a centímetros dos meus pés, cantando pneu e quase arranhando no meio fio.

― Dez minutos e quarenta e sete segundos. ― vi quando o tal Daniel parou o cronômetro do celular e Katniss deu um soco no ar.

― Isso! ― eles bateram as palmas em comemoração.

― Falei que você conseguiria. ― ele disse, então pigarreei me fazendo notar.

― Ei Peeta, entra aí. ― Katniss jogou o corpo na direção do banco do carona (que por sinal estava ocupado!) e falou comigo pela janela. ― Sua acompanhante não veio?

― Ela vai nos encontrar lá. ― menti.

Na verdade, eu ainda estava tentando conseguir alguma companhia para não ter que ficar de vela sozinho. Como deixei pra avisar Madge apenas hoje, ela me informou que já tinha compromisso, e nem a tarde inteira que passamos com Prim conseguiu convencer Johanna a ir comigo. Eu não queria ter que chamar qualquer dos meus casos, mas meu orgulho em admitir que estava sozinho já tinha me feito mandar várias mensagens aleatórias.

― Quanto tempo daqui até o local do jogo? ― ela perguntou.

― Vinte minutos. ― Dan respondeu enquanto eu tentava abrir a porta de trás que estava travada por dentro.

― Aposto que faço em doze. ― ela pressionou o acelerador fazendo um barulho irritante.

― Te pago uma pipoca dupla se conseguir.

― Feito. Não esqueça dos três cachorros quentes que já ganhei. ― eles só podiam estar fazendo aquilo de propósito. Como se eu já não odiasse Daniel o suficiente!

― Katniss? ― bati no vidro, puxando o ar pra me dar paciência.

― O que você ainda está fazendo aí fora Peeta?

― Destrava a porra da porta! ― a morena riu constrangida antes de se contorcer para trás do carro, estender o braço e abrir a porta.

― Desculpa Peeta, esqueci que ela tava com defeito desde que um motoqueiro idiota cruzou meu caminho semana passada. Não se preocupe, ele tá vivo. ― os dois gargalharam.

― Deve ser porque você dirige por aí que nem uma doida. ― eu ri, mas ela ficou séria, rolou olhos e se concentrou na pista à frente.

― Cronômetro pronto Danny?! ― Katniss fingiu pôr luvas de corrida e apertou os dedos no volante.

― Prontíssimo!

― Então apertem os cintos meninos!

Nos minutos seguintes a cidade passou por nós como um vulto disforme e sem sentido, mas acho que na verdade nós éramos o vulto. Suponho que infringimos no mínimo umas dez leis de trânsito, e agradeci pela polícia do trânsito em Denver não ser lá essas coisas, ou estaríamos bem ferrados.

Eu nunca tinha me acostumado com esse modo dela de guiar qualquer tipo de veículos (acredite, até bicicletas podem ser um perigo), e quando desci estava com as pernas bambas e a mão direita vermelha de segurar com força o suporte acima da minha cabeça.

― Vou comprar suas recompensas, se quiser pode ir procurando nossos lugares. Kat, você é, sem dúvida, a melhor mulher motorista que conheço!

Dan beijou o rosto dela e foi em direção à lanchonete. Ela mordeu o lábio ainda olhando na direção que o cara ia, antes de dar um suspiro. Cruzei os braços na frente do peito e ergui uma sobrancelha. Não era possível que Katniss estivesse mesmo se apaixonando.

― O quê? ― ela questionou quando se virou pra mim e viu minha expressão.

― Nada. ― meneei a cabeça.

― Qual é Peeta, fala logo. Sei que você adora se meter.

― Qual é a desse cara? Te comprando comida, cronometrando e concordando com suas loucuras, elogios clichês, beijinho no rosto... ― ela riu.

― Chama flerte bobinho. ― Katniss deu dois tapinhas em meu ombro e começou a caminhar em direção à entrada da quadra. ― Nem todo mundo demonstra sentimentos destratando as pessoas Peeta. ― Aquilo foi uma indireta pra mim?

― O que você está insinuando? ― a segui.

― Nada. ― ela me imitou e bufei irritado. ― Sua acompanhante já devia estar aqui, não é?! ― ela falou ironicamente, mas deixei a pergunta pairar no ar até que encontramos nossos lugares e sentamos lado a lado.

― Também não estou entendendo qual é a sua. Se esse cara é tão legal, porque não namora ele ao invés de ficar me convidando pra sair com vocês?

― Por experiência própria, sei que apressar as coisas não resolve nada. Só preciso de um tempo sem procurar namorado antes de me jogar com tudo em um relacionamento de novo. E eu e Dan somos ótimos amigos, por enquanto.

― Friendzone... ― cantarolei.

― Nem é.

― E essa roupa? Pelo amor de Deus Katniss, você parece uma delinquente! ― a morena usava uma calça jeans justa de lavagem escura e com alguns rasgos discretos, uma blusa larga azul que caía em um ombro e tênis.

― Sabe qual a melhor parte de não ser mais sua aluna? Posso dizer isso sem culpa. ― ela abriu um sorriso enorme. ― Não. É. Da. Sua. Conta. ― Katniss tocou com o indicador em minha barriga, peito, queixo, nariz e testa ao falar cada palavra.

― Que merda Katniss, ainda sou a droga do seu amigo! ― ela me encarou séria, então abriu o riso tímido, quase imperceptível.

― Eu não sabia o jeito que você gostava do hot dog então trouxe com maionese, ketchup, sem mostarda, pouca verdura e muita batata palha. ― me endireitei na cadeira olhando para a pista onde algumas pessoas a limpavam antes da entrada dos atletas. Dan sentou-se na cadeira vazia do outro lado de Katniss.

― Acertou em cheio, como sabia?

― É o jeito que eu como. ― E o medo de infarto antes dos quarenta anos ninguém aqui tem né?!

― Trouxe um pra você também Peeta. ― ele ofereceu a caixinha de papel quadriculada com o lanche dentro. Analisei sua expressão procurando alguma falsidade no gesto.

― Peeta não come nada que tenha carne, açúcar, sal, gordura, carboidrato, vegetais de origem suspeita ou comida feita na rua. Então passa isso pra cá. ― ela tomou o hot dog da mão dele e juntou aos seus.

― Obrigado por oferecer.

― Quer pipoca então? ― neguei com a cabeça. ― Ah, sal e gordura...

― “Pacotes de morte!” ― Katniss fez sinal de aspas com os dedos.

― Lá vende uns biscoitos integrais, se quiser...

― Não obrigado, estou bem.

― Ok. ― ele deu de ombros. ― Ei Kat, o quanto você entende de basquete?

― Hm, ter namorado por três semanas no colégio um cara que se tornou astro nacional conta?

― Logo vi por suas roupas, nada a ver. ― segurei minha risada. Então Katniss, quem é o príncipe mesmo? ― Mas por mim adaptaria toda uma tradição de anos a você. Estive pensando isso a noite toda, então preciso dizer: você está perfeita.

― Sério? Eu achei que podia parecer meio “delinquente”, sei lá... ― olhei para baixo e de repente qualquer aplicativo idiota de jogo do meu celular ficou mais interessante.

― Não seja louca de pensar algo do tipo.

― Ah, não fui eu que pensei isso. Mas me diz Dan, como um cara como você está solteiro?

― Tenho que te confessar uma coisa. Não estou.

― Como assim senhor Daniel Anderson? Vai explicando direitinho.

― Aqui. ― ele pegou o próprio telefone e mostrou uma foto dele abraçando dois cachorros. Nunca fui fã de cachorros. ― Já tenho duas, e se você quiser competir com elas, fique à vontade, mas Bianca e Catarina são meus eternos amores. ― Ele acabou de compará-la com suas cadelas e ela está rindo disso?

― Ai que lindas! Eu amo cachorro, não vejo a hora de conhecê-las. E você nomeou como na “Megera Domada”, amo esse livro!

― Sério, eu também! Você está mesmo empenhada ganhar a competição não é?! ― ambos riram e eu rolei olhos.

― Olha, você tem covinhas lindas. ― ele se aproximou do rosto dela, afastando o cabelo solto e sussurrando algo em seu ouvido. Até tentei, mas não pude evitar voltar a observar a cena. ― Estava falando das covinhas do seu sorriso. ― Katniss se corrigiu corando um pouco.

― Sendo assim, seu sorriso também é lindo. ― Dan fez carinho na bochecha dela e agradeci por não ter comido nada, ou vomitaria ali mesmo.

― O jogo vai começar! ― anunciei em seguida. Nunca fiquei tão feliz pelo início de uma partida de basquete na vida!

Depois de dez minutos, decidi parar de fingir que alguma acompanhante ainda chegaria e fui assistir ao jogo. Pra minha sorte, os pombinhos pararam de arrulhar, e só ouvíamos o barulho das pessoas gritando e incentivando os jogadores, o técnico dando orientações e a bola batendo com força no piso de madeira. Ah, e claro, Katniss comendo.

― Que droga! ― ela reclamou quando um pouco de ketchup caiu em sua roupa. ― Vou rapidinho ao banheiro, já volto. ― ela formou um “se comporte” com os lábios apenas para mim, e não entendi o porquê daquilo.

― Então... Daniel Anderson. ― esperei ela sair de vista e chamei o Dan, que desistiu relutante de assistir a próxima jogada pra olhar pra mim.

― Já sei, chegou a hora daquela conversa que você me fala que se eu machucar Katniss, você vai me quebrar inteiro? Já ouvi esse discurso do Gale, Johanna, Finnick e Madge. Por algum motivo, as garotas me assustaram mais. ― ele riu. ― Não vou magoá-la, jamais faria isso. ― quase exatamente o que eu disse para Mad e Finn antes de sair com ela.

― Às vezes você não tem intenção mas acaba acontecendo. ― falei quase que para mim mesmo, então Dan ergueu as sobrancelhas como se atestasse algo.

― Ah, ok. Peeta Mellark, já ouvi muito falar de você.

― Desculpe, mas Katniss nunca falou de você. ― rebati, rindo internamente.

― Não foi Katniss que falou de você pra mim, sua fama pelo hospital te precede.

― Fama?

― Médico prodígio, preferido dos pacientes, queridinho da Dra. Coin, colecionando relacionamentos passageiros com praticamente todo o corpo de funcionários feminino do Exempla.

― Isso não é verdade.

― Acredito que as pessoas exageram, mas esse não é o ponto aqui. A questão é, Katniss é incrível e estou mesmo afim dela, mas tem algo que está segurando-a. Agora conhecendo os dois juntos, posso apostar minhas duas cachorrinhas que é você.

― Eu e Katniss nos falamos bem pouco no último mês. Mal somos amigos.

― Esse também não é o ponto. Falando francamente, é óbvio pra qualquer um que você tem sentimentos fortes por ela. ― abri a boca para protestar, mas ele me interrompeu. ― E se você disser agora que a ama e vai fazer o que for preciso para fazê-la feliz, eu recuo e Katniss é toda sua. Sem mágoa, sem ressentimentos. Caso contrário, não espere que eu tolere você a cercando com essa cara de arrependimento e a fazendo se sentir culpada por isso.

― Katniss não é um prêmio.

― Tem razão, mas ela é tão valiosa que merece ser cuidada. É só um aviso. Então, não tem nada a me dizer?

Voltei minha atenção ao jogo que se desenrolava à minha frente, sentimentos e palavras não exprimíveis ainda presos na garganta.

Quando o time que estava ganhando começou a perder em pontuação e posse da bola, o técnico pediu um tempo para substituição. Katniss voltou nesse momento com outro pacote de pipoca.

― Perdi alguma coisa?

― Alguém perdeu. ― Dan respondeu.

― Quem? ― ela perguntou curiosa.

― O time. ― respondi. ― Vão substituir um jogador. ― apontei para os grandes telões colocados no centro e acima da quadra.

― Ah merda!

― O que foi Kat?

― Tá vendo esse jogador que está entrando? Ele é o meu ex que falei mais cedo. O mesmo que terminou comigo no colégio e ainda fez questão de jogar na minha cara que anos depois a gente ia se encontrar, ele rico e famoso, cercado de mulheres e eu sozinha com minha língua grande e descontrolada.

― Que absurdo!

― Danny, vamos embora? Por que nossos lugares tinham que ser tão perto da quadra mesmo?

― De jeito nenhum! Você tem que ficar e mostrar como os anos apenas te fizeram melhor.

― Ele tem razão Katniss. ― a morena olhou pra mim com estranheza por ter concordado com o Dan. ― E além do mais, você não está sozinha.

― E devo dizer que ainda está acompanhada dos caras mais lindos daqui. Parabéns garota! ― uma mulher que estava sentada atrás de nós falou e riu escandalosamente, a fazendo respirar um pouco aliviada e deixando nós dois sem jeito.

Quase no final do jogo, Daniel recebeu uma ligação a teve que sair apressado. Algo sobre sua avó ter tido algum problema que necessitava da sua ajuda imediata. Entre um milhão de pedidos de desculpas e promessas de que se não fosse grave, ele não iria, ele se despediu de Katniss com um beijo no rosto.

Ela acabou perdendo o interesse no jogo nos minutos seguintes, preferindo ver algo no celular do que nas bolas sendo lançadas nas cestas.

― Kat? ― um dos jogadores a chamou quando passou por nós, voltando ao banco.

― Ei Jeff, não tinha te visto. ― ela falou fingindo animação, mas não convenceu ninguém.

― Sério? Eu triunfante apareci naquele telão várias vezes. E esse é seu... ― ele apontou pra mim.

― Amigo. ― ele levantou as sobrancelhas sinalizando um “eu sabia”.

― A gente se vê. Ah, e aqui vai outra previsão pra você: vamos ganhar esse jogo hoje. Você sabe como não erro essas coisas. ― e saiu rindo.

― Que filho da mãe!

― Eu devia ter dito que a gente namorava. Droga, mas ninguém ia acreditar! Se pelo menos Dan estivesse aqui... ― Katniss esmurrou a própria perna.

― Não deixe esse cara te irritar. ― E me irritar por tabela!

Não demorou mais que cinco minutos e jogo finalizou com a vitória do time do babaca.

― Agora eu estou mais irritada que nunca.

É hora dos nossos espectadores participarem! ― uma voz empolgada soou pelo local. ― Um dos momentos mais divertidos e esperados de todos os jogos: câmera-kiss! ― uma salva de palmas e gritaria. ― Nossos cinegrafistas estão à procura do casal mais fofo, o casal mais quente, o casal mais romântico.

― Depois uma pessoa dessas é atropelada em um beco e não sabe o porquê. ― ela ainda resmungava, guardando o celular na bolsa.

― Relaxa, já estamos indo. ― segurei sua mão tentando acalmá-la.

― Peeta?

― Hm? ― falei próximo ao seu ouvido por causa do barulho.

― Estamos na tela. ― olhei pra cima e lá estávamos nós, cochichando, de mãos dadas. ― Que se foda, mas Jeff não vai por cima hoje.

Mal processei o que aconteceu até Katniss ter seus lábios nos meus. Seus braços envolveram meu pescoço e seus dedos enlaçaram-se aos meus cabelos. A puxei mais pra perto, quase a trazendo pro meu colo, descendo minhas mãos até sua cintura e base da coluna.

Não achei que ela fosse tão longe, considerando local onde estávamos, mas senti sua língua passar por meu lábio aprofundando o beijo. Meu corpo reagiu ao contato, minha pulsação chegando a níveis medicamente preocupantes, mas eu não me importava. Até o barulho ao redor parecia ficar mais distante, e havia apenas eu e Katniss.

Em uma fração de segundo que parei para respirar, Katniss desviou o rosto, me fazendo beijá-la na bochecha e enquanto olhava para cima nos telões, seus olhos cinza brilhando em contado com as luzes coloridas.

Nossa imagem abraçados era exibida com um grande “VENCEDORES” na parte inferior. Segui para onde seu olhar estava agora para encontrar o tal Jeff também observando a cena de boca aberta. As imagens mudaram para entrevistas dos jogadores recém-saídos da partida.

― Bom trabalho Peeta. ― Katniss deu dois tapinhas em meu rosto e levantou-se ajustando a blusa e colocando a bolsa no ombro.

― Mas o que...

― Isso nunca aconteceu. ― ela sussurrou ao meu ouvido e depois riu. ― Podemos ir?


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Notas finais do capítulo

Ai ai, esses dois...

Então, me digam o que estão achando de tudo!!! Peeta, Katniss, Dan???
Ah, e recomendem, sinto falta de vocês escrevendo pra mim!! E ainda me ajuda muito!!

Até os reviews... Bjs*