Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 12
Foco || Peeta


Notas iniciais do capítulo

*Ellen escondendo-se atrás das cortinas*

Olá!!!! Que vergoinha... E que saudades de vocês!!!
Desculpem a demora meu amores, aconteceram muitas coisas, com minha jornada de trabalho, viagens e feriados, foi realmente impossível postar antes.

Mas eu tenho tanto pra agradecer...
Primeiro aos reviews lindinhos que não tive como responder, mas li todos!!!
Segundo, às favoritações que vocês continuam me enviando!!!
E por último e com mais destaque:
* Sofia Mellark
* Arabella MHSI
* su_tukinha
* Enthranlling Books
* vish
As recomendações foram divônicas, espetaculares, esplêndidas, maravilhosas!!! É sério, me derreti com cada palavrinha, cada carinho, cada emoção que vocês colocaram nesse oferecimento tão especial. Muito, muito, muito, muito, muito obrigada!!!

Mas agora ao capítulo... Segurem os queixos galera!!! Bjs*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556919/chapter/12

Amor. Amizade. Dedicação. Entusiasmo. Alegria.

Não é de hoje que podemos observar que sempre vai haver aqueles idiotas que usam palavras para nortear sua vida, para que com apenas a menção delas façam situações piores melhorarem e alvos sejam alcançados. E confesso, sempre fui um desses idiotas.

Mas ao contrário da maioria, não era nada sentimental que me ajudava quando o peso nas minhas costas me inclinava em direção ao solo ou mesmo quando estava no fundo do poço. Não eram emoções humanas que mantinham meus pés no chão nos momentos de sucesso. Uma palavra vinha à minha mente sempre e me fez chegar aqui.

Foco.

Desde que me entendo por gente, eu sempre mantive foco em alguma coisa, algum objetivo, alguma pessoa. Confesso que nem sempre minha atenção esteve no lugar certo, como foi na minha história com Katherine, mas a questão é que eu me focava em amá-la e isso me consumia. Me focava em estudar muito e isso esgotava até a última gota de energia. Me focava em dar orgulho para os meus pais ou à mim mesmo e fazia de tudo para chegar lá.

Mas ultimamente algo estranho estava acontecendo. Eu simplesmente estava distraído, não conseguia manter a concentração em apenas uma coisa como sempre fiz. Era o trabalho, estudos, mas principalmente Katniss. Sem que eu pudesse controlar, minha mente divagava para alguma lembrança da morena. Eu me via preocupado com o que ela poderia estar fazendo ou pensando, e em como ela reagiria quando eu contasse minhas novidades do dia.

Não sei explicar o porquê, mas Katniss tinha me roubado a porra do meu foco.

— PEETA? — Madge gritou batendo uma palma em frente ao meu rosto, quase me fazendo cair da cadeira da lanchonete.

— Que susto loirinha!

— No que você estava pensando? Ou em quem? — ela arqueou as sobrancelhas me olhando com malícia.

— Em Haymitch. Ele não tem progredido. — falei a primeira coisa que me veio à mente. Mas confesso que esse era outro dos motivos das minhas preocupações nos últimos dias.

— Haymitch, sei... É só que é estranho te ver assim, meio voando. Nunca te vi perder o foco. — ouvir meus pensamentos saírem da boca de outra pessoa só atestou que eu tinha mesmo um problema. Talvez devesse procurar um psicólogo, mas com certeza um que falasse menos que Katniss.

Espera, como ela veio parar na minha cabeça de novo?

— O que você estava dizendo Mad?

— Que a Dra. Coin marcou minha cirurgia e do Finn.

— Ah, legal. Quando vai ser?

— Amanhã, às 08 da manhã.

— Eu tenho uma cirurgia nesse horário amanhã!

— É porque é a mesma cirurgia Peeta. Onde você estava na última meia hora quando a Dra. Coin explicou tudo? Seu corpo estava com a gente, mas você... — apenas rolei olhos. — Isso é tão estranho.

— Estranho é essa coisa que você está tendo com Gale. Pensa que eu ainda engoli aquela de “provar que é incrível”?

— Você não precisa engolir nada, até porque não é da sua conta.

— Isso, foge do assunto. Uso essa estratégia também. — falei a desafiando.

— Olha aqui seu loiro antipático. — Madge ergueu o dedo em riste em frente aos meus olhos. — Eu e aquele gigante...

Dra. Undersee compareça à pediatria. Dra. Undersee compareça à pediatria. — uma voz ecoou pelos autofalantes.

— Eu tenho que ir, mas pode deixar que estou guardando meu xingamento pra depois Peeta Mellark!

E quando achei que ela fosse sair quieta, a garota passa por trás de mim e me dá um tapa na parte de trás da cabeça, chamando a atenção de várias pessoas ao redor. Minha amiga oficialmente tem a idade mental de uma adolescente de 13 anos! Terminei meu suco e já estava indo em direção ao elevador para voltar ao quinto andar, onde eu estava de plantão, quando avistei Johanna ao longe. Apressei meu passo para encontrá-la.

— Jo?

— Até aqui? — ela falou bufando quando a alcancei.

— Na verdade, eu trabalho aqui, você sabe. — falei rindo com minha lógica.

— Eu estava procurando a Katniss, não você.

— Ela teve que ir na Universidade resolver umas coisas do estágio.

— Ok, então tchau.

— Espera. — a detive pelo braço. — Podemos conversar? Não vai durar mais que dois minutos, prometo. — juntei minhas palmas. Jo estreitou os olhos me encarando parecendo decidir se aceitava ou não meu convite.

— Vou me livrar de você depois disso?

— Vem, eu te pago um café. — comecei a voltar na direção da lanchonete. — Ainda gosta preto, forte e com pouco açúcar?

— Você lembra. Isso é impressionante.

— Seu café pós-ressaca é o mesmo, que choque! — ironizei com um sorriso e pela primeira vez depois do nosso reencontro ela riu. Paguei a bebida pra ela e sentamos em uma mesa e ficamos em silêncio por algum tempo.

— Então, você me chamou aqui pra ficar calado? — ela questionou quando terminou de engolir tudo de uma única vez. — seu prazo acaba em dez segundos.

— Por que você afasta a Prim de mim? — fui direto ao ponto.

— Não quero minha filha na companhia de pessoas irresponsáveis como você.

— Qual é Jo?! Eu frequento sua casa e estou saindo com a Katniss há quase seis meses. — percebi que a frase saiu estranha quando ela arqueou uma sobrancelha. — Quer dizer, saindo como amigos. Bons amigos. O ponto é que já deu pra perceber que eu não sou aquela pessoa que você conheceu.

— E daí? Você pode estar fingindo ser bonzinho só pra comer minha amiga. — aquilo me ofendeu de um jeito que ela não tinha noção, então resolvi relevar e continuar a conversa civilizada.

— Naquela época... — pigarreei tentando conter meu psicológico ao lembrar de como estava minha vida aos 18 anos. — ...eu não era eu mesmo, apenas uma versão idiota e sem controle de mim. Coisas ruins aconteceram, coisas que prefiro nem lembrar, me levaram a agir daquele jeito.

— Ashley era apaixonada por você. E eu tive que aguentar minha colega de quarto chorando por dias quando ela descobriu quantas garotas além dela frequentavam seus lençóis! Eu tive que levar a menina no médico quando ela se drogou até quase morrer! E eu fiquei sem minha melhor amiga quando os pais dela a levaram de volta pro interior! Você permitiria o tipo de pessoa que causa tudo isso em menos de três meses brincando com sua filha? — engoli seco.

Ashley Davis sempre foi um dos meus maiores arrependimentos na vida. A conheci na rodoviária quando cheguei em Denver, uma loira dos olhos castanhos intensos e de sorriso fácil que me ajudou a encontrar um mini apartamento perto da Universidade. O fato é que eu estava quebrado, minha cabeça uma verdadeira bagunça e acabei indo longe demais nas minhas “aventuras” machucando qualquer um que chegasse perto demais.

Quando descobri os problemas de depressão de Ash, já era tarde demais, e a menina já estava mais envolvida do que deveria, resultando tudo na cascata de eventos que Johanna lembrava bem. Até tentei contato depois que ela foi embora, mas Johanna me disse pra deixar pra lá e cada um seguir sua vida sem olhar pra trás. Por causa da personalidade meio largada, do comportamento dela na época e o fato de esse assunto não ter sido citado até agora, achei que Jo tinha mesmo seguido em frente, mas pelo visto estava muito enganado. E mais uma ferida antiga foi aberta.

— Me desculpe. Não me orgulho de nada que fiz e se dependesse de mim voltaria no tempo antes de tudo acontecer.

— O fato de você querer voltar, não faz isso possível Mellark! Seus dois minutos acabaram. — ela se levantou da mesa, mas a parei antes que saísse.

— O que você quer que eu faça pra te provar que mudei e que posso conviver com a Prim sem você se preocupar? Eu sei que Katniss já deve ter insinuado que a paternidade dela pertence a mim, e sei também que você deve ter medo ou sei lá, mas eu não quero nada além de uma oportunidade. Eu nunca me senti tão ligado assim a uma criança antes.

— Ela não é sua filha.

— Eu sei, mas por favor... Me deixa conviver com ela? — eu estava quase implorando quando Johanna soltou o ar dos pulmões finalmente rendida.

— Uma chance. — abri um sorriso. — E se você ferrar com isso, eu juro que você nunca mais vai ver ela na sua vida. — dei um passo atrás quando Jo começou a parecer mais ameaçadora do que eu lembrava.

— Ótimo. Quer dizer, não ótimo que nunca mais vou vê-la, mas ótimo que você me deu uma oportunidade.

— Hoje vou ter que sair à noite, mas volto cedo. Katniss está indisponível por causa de um trabalho ou coisa assim. Então você pode ficar com ela hoje? Por duas ou três horas, no máximo.

— Vai ser ótimo.

— Ok, pode parar com os “ótimos”, sei que você é mais inteligente que isso. Na minha casa às sete!

— Ótimo, quer dizer, combinado!

~

— Não sei como você me mete nessas suas histórias Peet. — Madge reclamou já chegando comigo na porta do apartamento.

— Considerando que Prim estava perguntando por você, eu não tenho um mínimo jeito com crianças e que você não tinha nada pra fazer à noite, sua presença aqui é meio óbvia. — ela fez uma careta antes de finalmente concordar rendida.

— Pela Prim e não por você seu ingrato!

— Ingrato, eu?

— Você não me ajudou a me livrar do Gale naquele dia.

— Ele é melhor amigo da Katniss, prefiro não ficar no meio dessa confusão. — expliquei.

— Katniss... Katniss... Quando sua vida começou a girar em torno da dela? — Madge perguntou não disfarçando um riso malicioso.

— Ciúmes loirinha?!

— De você? HA HA HA.

— Vai se ferrar Mad!

— Vai se ferrar você! — ela apontou o dedo para o meu peito e deu um passo à frente. Nos assustamos quando a porta abriu de repente.

— O que está acontecendo aqui? — Jo perguntou já fechando a porta atrás de si. — Você tá pegando essa doutorazinha também Mellark?

— A Madge?!

— E doutorazinha é a mãe!

— Madge, fica quieta! — ralhei com a loira tomando a frente. — Posso entrar?

— Na verdade, tentei te ligar para te avisar que não precisava mais você vir aqui.

— Esqueci meu celular no silencioso quando voltei do trabalho, não vi suas ligações. Mas o que aconteceu, você não vai mais sair?

— Eu vou, mas a Kat resolveu ficar. Então... Tchau.

— Ei, espera. Eu posso ficar também com ela? — ouvi um pigarreio nada discreto de Madge antes de impedir Johanna de sair segurando-a pelo braço.

— Faz o que você quiser Peeta, mas lembra do que eu te disse: na primeira merda que você fizer, nunca mais verá a Prim.

— Feito.

— Katniss, Peeta tá aqui! — Jo gritou abrindo apenas uma fresta da porta.

Manda ele entrar! — ouvimos uma resposta do interior.

— Só tentem não danificar a mente da minha filha ok?!

— Essa Johanna é uma flor de pessoa, não é?! — Madge ironizou quando já estávamos dentro. — Entendo porque você caiu fora.

— Eu não caí fora. Nunca tivemos nada, eu já te disse.

— Então vocês descobriram um jeito de fazer crianças por contato visual?

— Você está engraçadinha demais hoje Undersee.

— Minha TPM me deixa assim loiro.

— Alguém falou TPM? Acho que vou morrer de dor ou de chorar até amanhã! — Katniss chegou na sala enxugando os cabelos úmidos com uma toalha, espalhando seu perfume de banho recém-tomado por todo o ambiente. — Oi pessoal.

— Sorvete? — Mad perguntou.

— Geladeira, segunda prateleira. Fica à vontade.

— Eu vou. — a loirinha sumiu por uma porta.

— Boa noite Katniss. — cumprimentei com as mãos nos bolsos.

— Boa noite Peeta. — ela largou a toalha no sofá e envolveu seus braços em torno do meu pescoço, me dando a perfeita posição e oportunidade de senti-la próxima a mim. — O que você faz aqui, eu te disse que não estaria em casa.

— Johanna me pediu que ficasse com Prim essa noite.

— Uau, isso é um avanço. — ela falou enquanto brincava enrolando os dedos na gola da minha camiseta, vez ou outra seus dedos tocando acidentalmente a pele sobre minha clavícula.

— Sim, é. E você? Por que não saiu?

— Hoje é a noite do filme da Disney com a Prim! E eu estou morrendo de cólica, então adiei meu compromisso.

— Noite do filme da Disney? Que legal! — fingi entusiasmo, o que a fez rir.

— E você veio logo no dia de Frozen.

— Um sucesso.

— A sorte a seu favor Professor.

— Ei Catnip, a Prim quer sua ajuda pra... Peeta? — Gale perguntou confuso ao me ver e não pude evitar quando as palavras escaparam da minha boca.

— Ih, fodeu.

— O que esse cara tá fazendo aqui? — Madge berrou como imaginei que ela faria quando o visse ali, ainda segurando uma colher e um pote de sorvete. — Isso é alguma armação sua Peeta Mellark?

— Nem vem Madge, eu não sabia.

— Já sei, você está me seguindo. Ser um perseguidor idiota vai além do que imaginei que você fosse capaz Hawthorne.

— Como eu te seguiria se você chegou aqui depois de mim, oh genialidade em pessoa?! — ele satirizou.

— Obcecados apaixonados sempre dão seu jeito.

— Eu não estou apaixonado por você, se enxerga!

— Ah, eu me enxergo, e muito bem!

— Ok, parou. Essa coisa de casal encrenca tá ficando muito chato. — falei e Katniss acenou a cabeça concordando.

— Isso mesmo, se os dois forem ficar com essa coisa perto da Prim, é melhor um de vocês ir embora logo.

— Concordo. Vaza Gale!

— Sai você, Prim é minha afilhada.

— Eu sou a visita aqui.

— Mais um motivo pra você sair.

— Vem. — senti minha mão sendo puxada em direção aos quartos, foi quando notei que era Katniss me tirando dali. — Ela vai amar te ver.

Deixamos a discussão para trás para chegar no quarto da menininha que estava terminando de subir em um banquinho que havia sido posto em cima de uma mesa.

— Prim, cuidado! — Katniss falou alarmada, um segundo antes da garota se distrair, se desequilibrar e tombar para trás. Graças aos céus eu estava a apenas um passo e logo a peguei no colo antes que atingisse o chão.

— Tio Peeta! — ela me abraçou.

— Aprendeu a voar esses dias pequena?

― Saudades de você tio.

― Também senti muito sua falta princesa. ― apertei a menina em meus braços.

― Se eu não tivesse quase tido um infarto agora, eu provavelmente acharia isso fofo. ― Katniss, a dramática começou a falar. ― O que eu e sua mãe te falamos sobre subir em coisas Prim?

― Que é perigoso e que nunca deveria fazer, desculpa tia. Eu só queria minha coroa da Elsa.

― Dessa vez passa. ― enquanto eu ainda estava abraçado à loirinha, Katniss ficou na ponta dos pés para alcançar um caixa rosa de onde ela tirou uma coroa de plástico e entregou a Prim.

Não pude negar que aquilo me surpreendeu um pouco. Quer dizer, dada nossas personalidades, se eu imaginasse nós dois com uma criança, jamais passaria por minha cabeça que eu seria o babão e Katniss a que exercesse alguma autoridade sobre nossos filhos.

Peraí... O que eu acabei de pensar?

― Você não vem Peeta? Tá tão distraído.

― Vou, claro que vou. ― me recuperei colocando Prim no chão e acompanhando as duas até a sala.

― Vai pro inferno você, sua loira endiabrada!

― Mamãe falou que não podemos mandar ninguém ir pro inferno. ― a garotinha falou inocentemente e foi quando Gale e Madge pareceram perceber que nós havíamos saído da sala. Arrastei Madge pelo braço para perto da entrada.

― Mad, se controle, ou você vai pra casa agora.

― Você não é meu pai Peeta Mellark.

― Então pare de precisar de um e se comporte como alguém crescido, não literalmente, claro. ― ela fez uma cara feia para mim, então continuei. ― Essa criança precisa de bons exemplos e não de adultos infantis que xingam e brigam por qualquer merda.

― Eu vou me comportar se esse cara parar de me provocar. ― ela fez aquela cara de falsa santa que está prestes a aprontar que eu já conhecia bem. ― E só pra constar, você falou "merda". ― rolei olhos e a acompanhei até o sofá, me sentando junto da minha amiga e de Prim. Katniss voltava com Gale da cozinha e ele também parecia mais calmo, como uma criança que tinha acabado de levar uma boa advertência.

― Vamos começar a ver o filme?

― Sim! ― Prim bateu palmas animada.

― Esqueci meus óculos no seu carro Peet. Me empresta a chave?

― Quatro olhos. ― Gale sussurrou e torci pra que Madge não tenha escutado.

― O que você disse seu... Seu...

― Vai logo loirinha!

Katniss sentou-se ao meu lado onde Madge estava e depois que ela voltou, colocamos o filme. Apenas a menininha não podia notar a tensão no local. A sala não era grande o bastante, e com Gale sentado no chão aos pés de Katniss e Madge na poltrona ao meu lado, eles não perdiam a oportunidade de se alfinetarem de um modo que Prim não percebesse.

Ignorei aquilo e me foquei em estar atento aos carinhos quase sem perceber da menina, que na última meia hora do filme, acabou no meu colo, com a cabeça no meu tórax, dividindo espaço com Katniss que tinha a cabeça no meu ombro. Sim, eu era a almofada oficial do local.

― De novo! De novo!

― Nada disso Primrose, seu horário de dormir chegou.

― Ah tia, mas hoje é especial.

― Boa tentativa, mas não. Vou fazer um lanchinho pra você, te dar banho e te contar uma história.

― O tio Peeta pode contar a história? ― Katniss me olhou buscando a resposta. Eu nunca tinha contado uma história para crianças, mas por que não tentar hoje?

― Vai ser ótimo Prim.

― Oba, então eu vou tomar banho.

― Te ajudo com o lanche Katniss. ― me ofereci fugindo da possibilidade de ter que ficar de vela do casal encrenca.

― Gale tá impossível hoje. ― a morena reclamou enquanto colocava os ingredientes de um sanduíche na bancada.

― Madge também. Parece que um ativa no outro o modo “criança tardia”. ― falei rindo e encostando o ombro no batente de entrada da porta da cozinha. É, eu não estava ajudando muito.

Fiquei a observando em silêncio por mais alguns minutos antes que ela se voltasse bruscamente com uma faca na mão.

― Por que esse interesse em Prim?

― Abaixa a faca, por favor Katniss.

― Ah, me desculpa. ― ela colocou o instrumento sobre a mesa. ― Mas me diz, por que tanto empenho em fazer parte disso? O que você não está me contando Professor?

― Não há nada, eu juro.

― Nadinha mesmo? Nenhuma noite muito louca, uma camisinha com defeito, nada?

― Eu não sei se eu já disse isso, mas nenhuma droga afeta minhas memórias. Meu julgamento e minha noção de certo e errado sim, mas eu lembro de cada detalhe do que faço, vergonhoso ou não. ― ela ainda me olhava com as sobrancelhas franzidas. ― Qual é, quando eu escondi algo de você?

― Deixa eu ver... Sempre?

― Já passamos dessa fase de desconfiar dos motivos um do outro. Podemos alimentar uma criança faminta agora e você me ensinar como se conta uma história, ou vamos ficar voltando na mesma discussão sempre?

― Odeio sua lógica Peeta, odeio mesmo. ― ela pegou o lanche pronto e foi pra sala, eu a acompanhando com um sorriso estampado no rosto. ― Prim? Vem comer! ― como não houve resposta, ela me entregou o prato. ― Segura isso, vou buscá-la.

― Não, obviamente eu sou mais inteligente! Faço suturas enquanto você lê papéis, coisa que aprendi a fazer com cinco anos de idade. Por favor né, vamos nem comparar...

― Ah, por que cortar e costurar algo deve ser muito complicado mesmo! Minha avó era uma ótima costureira e com certeza seria melhor cirurgiã que você!

― Vai se foder, vai Gale!

― Ok, já chega! Eu pretendo mesmo ficar aqui mais um pouco, mas com esse comportamento tá impossível Madge! E você cara, como deixa essa garota te irritar tanto?

― Vai se foder você também Peeta!

Peeta! ― Katniss gritou de dentro do quarto. ― Peeta! ― corri até lá.

― O que houve?

― Por favor, me diz que Prim está na sala vendo TV e eu não a vi.

― Como assim? ― falei preocupado.

― Ela desapareceu.

~

― Ei, ei, não fica assim. ― Katniss chorava com as mãos no rosto, enquanto eu acariciava suas costas. Mas eu não podia negar que em meu interior uma aflição crescia a cada segundo. ― Vamos encontrá-la. Quem sabe Mad e Gale já estão com ela a essa hora.

― E se não estiverem?

― Eu não vou dormir ou comer até devolver ela pra você.

― É tudo minha culpa.

Na verdade eu sentia que aquilo era minha culpa. Se por algum motivo eu não tivesse tão focado em estar com Katniss e tivesse prestado mais atenção, estaríamos felizes e tranquilos agora, assim como a criança que já deveria estar dormindo. A porta se abriu e Madge e Gale entraram cabisbaixos.

― Nada.

― Ai meu Deus, nós somos muito irresponsáveis! — Madge lamentou.

― Vocês são! Os dois!

― Katniss, vai com calma.

― Calma nada Peeta! Madge esqueceu a porta aberta e Gale estava tão distraído numa briga infantil que não viu uma criança passar por ele. Se alguma coisa acontecer com Prim...

― Sinto muito Catnip.

― É bom sentir mesmo. ― ela saiu em direção ao quarto e eu a acompanhei, dando uma última olhada na cara culpada dos dois que ficaram na sala.

Parecia finalmente que Madge e Gale tinha entendido que a implicância sem fim deles teve consequências bem graves. Os dois discutiram até quando precisamos montar as equipes de busca pelas redondezas, mas ao final chegamos a um acordo que os médicos deviam ficar em equipes diferentes, assim como as garotas. Eles só aceitaram relutantemente depois de um grito de Katniss.

― Me deixa sozinha Peeta. ― a morena pediu quando dei duas batidas na porta semiaberta.

― Vai ficar tudo bem, sabe por quê? ― me sentei ao lado dela, a abraçando. ― Você é a Katniss, a pessoa mais legal que existe. Nem o Universo consegue ser injusto o suficiente para deixar nada de tão ruim acontecer. Vamos encontrar Prim.

― E se não encontrarmos?

― Nós vamos! Te fiz uma promessa ainda a pouco, lembra?

― Eu era a pessoa responsável por ela hoje.

― Eu também era, de algum modo. ― respirei fundo tentando manter a concentração no que devia ser feito a seguir. ― Precisamos ligar pra Johanna, e pra polícia. Acionar o Alerta AMBER* o quanto antes.

― Alerta AMBER? ― Katniss levou as duas mãos à boca. ― Você acha que...

― Só temos que nos precaver, ok?! ― falei mal acreditando em minhas próprias palavras. Imaginar algo de ruim acontecendo com nossa loirinha me causava uma dor e angústia que nunca pensei ser possível sentir.

Katniss, Peeta! Corram aqui! ― a voz de Gale nos chamou.

Ajudei Katniss a descer do colchão e andamos a passos rápidos em direção à sala, para encontrar Madge e Gale em um abraço de alívio e Johanna com um olhar de ódio com a garotinha no colo, que brincava despreocupadamente com o cabelo da mãe.

― Prim, graças a Deus! ― a morena soltou minha mão e correu, pegando a menina no colo e a abraçando forte. Suspirei de alívio. ― Nunca mais faça isso comigo, entendeu?

― Eu só queria ver Frozen mais uma vez!

― Como? — perguntei.

― Quer dizer, como recebi uma ligação da minha vizinha de cima avisando que minha filha estava na casa dela e não tinha ninguém aqui, ou como eu tive a coragem de confiar em você de novo Mellark? Você não vai chegar mais perto dela, nem que eu precise de uma ordem de restrição! ― Jo aumentou sua voz e caminhou em minha direção.

― Prim, é melhor a senhorita dormir, você já teve aventuras demais pra hoje. ― Gale pegou a menina nos braços e a levou para dentro, numa provável tentativa de se redimir da culpa que sentia.

― Ei, a culpa não foi do Peeta. ― Madge interveio.

― Realmente, a culpa foi minha. Eu sabia que essa cara era o mais volátil e irresponsável de Denver e ainda tive coragem...

― Ei, nem vem com essa de novo Johanna! ― falei firme a enfrentando. Já chega de garotas lutando minhas batalhas. ― Existe outro motivo claro aqui pra você me odiar, e não estávamos mais falando da Ashley! ― quase pude sentir os olhares de Madge e Katniss queimando sobre mim, mas eu explicaria qualquer coisa depois.

― Você é despreocupado, irresponsável e péssima influência. Ponto. ― ela sentou-se no sofá com um aspecto cansado. E não parecia apenas um cansaço físico.

― Despreocupado? Eu estava quase tendo um troço aqui pelo sumiço de uma criança que conheço a pouco tempo e que mal convivi por que você não me permite!

― Jo... ― Katniss sentou-se ao seu lado. ― Posso não saber muita coisa sobre você, assim como também não sei sobre Peeta, mas conheço os dois o suficiente pra saber que não são más pessoas. E sei também quando não estão contando algo.

― Ok, eu falo. ― ela apoiou o rosto entre as mãos. ― Eu afastei Prim de Peeta sim, mas foi por medo. Eu não queria perder minha filhinha.

― Como assim perder garota? Nem que eu quisesse poderia tirar Prim de você.

― Na verdade você podia. Ainda pode, na verdade.

― Isso não faz sentido Johanna. ― foi quando ela me encarou com os grandes olhos castanhos marejados. ― Você sabe melhor do que eu que nós nunca transamos.

― Primrose não é minha filha. É da Ashley. ― Jo respirou fundo. ― E sua.

.

.

.

*Alerta AMBER (America’s Missing: Broadcast Emergency Response): rede de ação que emite sinal acionado em todas as mídias ao ter notificação de uma criança desaparecida nos EUA. A sigla recebeu esse nome em homenagem à Amber Hagerman, uma criança de 9 anos sequestrada e encontrada morta em 1996 no Texas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

OMG! Alguém previu isso chegando? Peeta papai mesmo?!
Mais uma coisa: agora dá claramente pra ver os sentimentos de Peeta mudando. Quer dizer, claramente pra nós, porque Peeta parece ser meio cego quanto a isso!
E Madge e Gale, irão sossegar depois do susto?
Tudo isso nos próximos capítulos de CA!!!
Comentem, favoritem, recomendem, aquela coisa toda!!!
Bjs*

p.s.: Comecei a ler "A Seleção". O que acham da saga? Me digam nos reviews, mas detalhe, sem spoiler!!! Ainda estou no segundo capítulo!!!