Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 11
Complicados || Katniss


Notas iniciais do capítulo

Olá florzinhas e cupcakes! ~nostalgia modo ON~

Indo direto para os muito obrigadas:
1) CA ultrapassou 11 mil acessos e CMDPPM conseguiu o fantástico número de 50 mil!!! Isso se deve a vocês, então me imaginem rindo e agradecendo.
2) Recomendações, ah como amo recomendações. Só quem é autor sabe a importância e o valor disso, então à Kiti e Julia Everllark: OBRIGADAAAA!!!

Agora ao capítulo, espero que gostem. Achei ele fofinho!



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Depois da décima chamada Gale finalmente resolveu atender ao celular. Eu odiava quando ele ignorava minhas ligações.

Eu só estou te atendendo pra dizer pra você parar de me ligar. — eu esperava que ele estivesse com a voz de sono, mas não estava. Noite interessante meu amigo?

— Gale, preciso muito da sua ajuda.

Você não ouviu minha última frase Catnip? Para de ligar, estou ocupado.

— Às duas da manhã? — perguntei com uma sobrancelha arqueada. — Deixa pra lá, é que aconteceu uma coisa muito, muito estranha.

Espera um minuto. — tamborilei meus dedos impacientes no colchão ao meu lado. — Pode falar.

— Peeta tentou me beijar.

Ele o quê? Assim, do nada?

— Eu fui deixar ele em casa, porque ele tinha bebido, não podia dirigir e Madge sumiu do hospital antes que eu a chamasse pra ir com a gente comemorar o sucesso da primeira cirurgia do Professor. A gente estava conversando, ele me falava de umas coisas, então ele foi chegando perto, quando eu vi já estava quase lá. O que faço, tipo, o que diabos deu na cabeça dele Gale, me traduz!

Traduzir?

— A cabeça de vocês homens. Geralmente eu pergunto pra ele, mas não né? Como vou chegar lá e falar: “ei Professor, tá afim de mim?” Sem condições.

Relaxa e respira Katniss.

— Estou relaxada! — gritei.

O que ele te disse?

— Antes que eu saísse correndo de lá? Ele falou que foi devido à umas lembranças, faz até sentido, mas lembra quando eu o conheci? Eu tentei ficar com ele e nada. Agora isso? Essa complicação tá embolando meus neurônios Gale.

Eu vou te dizer isso rápido e vê se entende de primeira: para de analisar como se isso fosse grande coisa ou tivesse algum significado escondido. Você disse que são como irmãos, que ele tava meio bêbado e foi algo sobre recordações. Relaxa Catnip.

— Então em sua opinião ele realmente não queria me beijar? — confesso que senti uma pontinha do meu orgulho ferido.

Talvez quisesse, você é até beijável, mas ficar remoendo isso pode fazer vocês perderem a amizade, ou irmandade, sei lá. Conversa com ele amanhã.

— Então você acha que foi só atração? Porque sei lá, eu não sei se você pode ficar atraído por alguém que você critica tanto o comportamento. Ah Gale, mas eu não entendo!

Katniss, eu vou desligar meu telefone agora, ou você vai passar as próximas duas horas indo e voltando no mesmo assunto.

— Espera, eu ainda não terminei de... — a linha ficou muda. — Filho da puta.

Joguei meu celular na cama ao lado e voltei à minha rotina de analisar o teto, apenas com a luz fraca do abajur, o que era bem mais animador do que lembrar de Peeta. Pensar no que ele fez, porque ele fez, em como eu quase não quis impedi-lo e no que poderia ter acontecido depois era complicado demais.

Eu não poderia perder sua companhia e amizade estragando tudo me envolvendo com ele romanticamente. Por isso Gale era só meu amigo, eu também não queria perdê-lo. E o modo como Peeta cuidava de mim era algo que eu não poderia ficar mais sem em minha vida.

— Tia Katniss? — olhei para o lado e Prim estava com as mãozinhas e a cabeça apoiadas na minha cama.

— Princesa, o que você faz acordada a essa hora?

— Estou sem sono e não quero acordar a mamãe. Eu tive um sonho ruim que tava no hospital e tinha injeções e tudo.

— Quer dormir na cama com a tia? — estendi meus braços pra ela, que aceitou prontamente se jogando ao meu lado. — Aqui nada de ruim vai te acontecer. — a abracei e ela começou a brincar com meus cabelos.

— Sabe a única parte legal do hospital? A tia Mad e o tio Peeta. Por que a senhora nunca mais me levou pra ver eles?

— A gente pode falar de outra coisa que não seja o tio Peeta agora Prim?

— Vocês dois brigaram? — ela abriu a boca me olhando com seus grandes olhos azuis arregalados.

— Pior que não. — não pude deixar de rir de mim mesma, já que estava em plena madrugada quase fazendo confidências para uma criança de 5 anos de idade. — Tive uma ideia! Que tal eu terminar aquela história que deixamos na metade, porque a senhorita resolveu me deixar no vácuo e dormir? — apertei de leve o nariz dela, o a fez que sorrir.

— Vou pegar. — ela pulou pra fora da cama e logo voltou correndo me entregando o livro.

Como previ a insônia dela não durou mais que três páginas e logo ela já se embolando em cima de mim. Voltei a olhar o teto. Respira fundo e segue os conselhos de Gale Katniss! Durma e amanhã você conversa com ele!

Dormir? Como conseguir depois do dia de hoje? Estou tão ferrada!

~

Peeta abriu a porta depois da primeira batida e aquilo foi estranho. Quando ele não tinha que trabalhar pela manhã, geralmente dormia até tarde. E ainda não eram nem sete horas.

— Eu tenho uma explicação. — ele falou antes mesmo que eu entrasse.

— Se desarma Professor, ainda é cedo. E eu trouxe croissants. — balancei o saco pardo de papel na frente dele.

— Precisamos conversar. — ele falou mais relaxado e eu assenti, depositando o pacote e minha bolsa em cima do balcão. — Ontem à noite...

— Ontem foi uma noite muito intensa, você me falando aquilo tudo. Você lembra que me contou sobre a Katherine, não lembra? — Peeta balançou a cabeça em concordância.

— Eu não estava tão bêbado Katniss e além do mais...

— Não importa! Foram lembranças fortes pra você e eu estava lá, só isso. Apenas não vamos analisar isso, deixar pra lá e seguir em frente com nossa amizade. — despejei tudo antes que aquilo tomasse um rumo que eu não queria.

— Você ainda quer ouvir minha explicação?

— Não sei, duvido que ganhe da minha explicação. — falei com um sorriso e ele também riu encarando o chão, então voltou o olhar pra mim.

— É um pedido de desculpas, na verdade, agora totalmente sóbrio. Eu tenho essas coisas dentro da minha cabeça e você não merece que eu te preocupe com isso, então esquece o que te falei. E só pra constar, você não é um lembrete ruim do meu passado, nunca mais pense nisso. Você é mais a alegria do meu presente.

— Você está muito errado Peeta Mellark. — meneei a cabeça, mordendo o lábio e rindo. — Pedidos de desculpas não são necessários, você pode falar comigo quando quiser, já que eu meio que te atormento a cada minuto do seu dia. Eu só não posso lidar com a possibilidade de não ter você em minha vida, entende? — ele finalmente relaxou os ombros respirando aliviado, mas continuou com o olhar firmemente preso ao meu.

— Então estamos bem?

— Estamos bem. — confirmei e continuamos nos olhando sem ter nada a dizer, o que foi bem incomum, já que geralmente eu tenho algo a dizer.

— Você não quer que eu te abrace ou coisa assim não é? Eu não sou muito de abraçar. — soltei uma risada porque ele resolver aliviar o clima com aquela careta fofa.

— Relaxa Professor, vamos fazer uma coisa que todos gostam, é sem erro. — me levantei e fui em direção à cozinha. — Comer!

— Ótima ideia, mas... — ele checou o conteúdo da sacola. — Nossa! Pra quantas pessoas você comprou comida?

— Só pra mim. — ele ergueu uma sobrancelha. — Brincadeira, pensei em fazermos uma surpresa e tomarmos café no apartamento da Madge. — e os créditos dessa ideia vão direto pra minha curiosidade em conhecer as casas de todos os meus amigos.

— Vou ligar pra ela. — Peeta já ia em direção ao quarto em busca do celular.

— Perdeu a parte da “surpresa” Professor? — Peeta ponderou por alguns instantes se devíamos ou não fazer isso. Esse loiro está sabendo de algo que não sei! — Qual é Peeta, é pra hoje. — estalei os dedos.

— Vamos lá então.

Descemos apenas um lance de escadas e já estávamos na frente da porta de Madge batendo pela centésima vez, eu já bastante impaciente com a demora. E eu achando que Peeta era preguiçoso!

— Peeta! Katniss! — Madge abriu a porta meio descabelada, usando só uma camisa masculina gigante demais pra ela e nos olhando meio assustada. — O que fazem aqui? De madrugada.

— Katniss quis vir. — Peeta falou posicionado um pouco atrás de mim, enquanto eu a olhava desconfiada. Eu podia jurar que conhecia aquela camisa.

— E trouxe croissants pro café da man...

— Mad, eu vou precisar da minha camisa... — Gale apareceu vindo de algum cômodo interior usando apenas a calça jeans. — ...de volta. — o moreno sibilou a última parte tão baixo que sua voz quase não pôde ser ouvida.

Quando nos viu parados na porta, ele ficou estático no lugar, enquanto Madge começou a bater a testa contra a porta que ela ainda segurava nos mantendo fora. Abri meu maior sorriso malicioso e ouvi uma gargalhada de Peeta atrás de mim.

— Eu te disse! — comecei a dar cotoveladas nada fracas nas costelas de Peeta. — Te falei que tinha uma tensão sexual entre os dois!

— Então, os segredos já foram descobertos mesmo, eu vou entrar pra comer. Tem aquele meu suco de laranja com leite de soja Mad? — Peeta passou por nós duas e se jogou no sofá maior da sala.

Eu te mato. — Madge gesticulou com os lábios pro loiro que nem se importou.

— Vou entrar também. — sentei ao lado de Peeta no sofá.

— São meus convidados. — Madge indicou o sofá ironicamente, fechando a porta e em seguida sumindo da sala pela mesma porta que meu amigo veio.

— Isso não é constrangedor nem nada. — Gale sentou-se em uma poltrona envergonhado, contrastando totalmente com meus risos e os de Peeta.

— Desculpa cara, eu apenas estou feliz por não ser o alvo da vergonha essa vez.

— Podemos falar sobre você quase beijando Katniss ontem, se quiser. — o loiro fechou o sorriso instantaneamente me criticando com os olhos por ter contado a Gale, e foi minha vez de gesticular um “eu te mato” pro meu amigo.

— Já superamos isso, vamos mudar de assunto, vamos mudar de assunto. — peguei um dos pães da sacola, começando a mordiscá-lo. — Gale, sabia que ontem Peeta fez a primeira cirurgia e foi incrível?

— Você disse ontem. Legal cara, parabéns.

— Valeu. — e mais uma vez o silêncio instaurou-se nos minutos seguintes.

— Camisa, carteira, chaves, celular e sapatos. — Madge voltou usando shorts e camiseta e jogando os vários itens no colo de Gale. — Vaza daqui.

— O quê? — ele perguntou perplexo.

Arrivederci, tchauzinho, au revoir, sayonara, hasta la vista, adeus. — Madge cantarolou abrindo a porta.

— Acho bom a gente sair. — Peeta sussurrou pra mim.

— Agora que as coisas vão ficar boas? Fica quietinho Professor e vamos assistir. — dei dois tapinhas na coxa dele ainda atenta à cena.

— Você é normal garota? Acabou de me provar que não! — Gale começou a calçar os sapatos.

— Eu não sou normal? Você que não resistiu e já se apaixonou por mim!

— Eu? — ele gritou. — Você me chamou pra sair!

— Eu só tinha um ponto pra provar aqui, pergunta pro Peeta! — nós três encaramos o loiro que deu de ombros.

— Me deixa fora dessa loirinha. — ele pegou um dos pães da minha sacola despreocupadamente.

— Eu queria provar como sou incrível. — ela continuou. — Tese comprovada, agora cai fora! Não me faz usar meu adeus especial de novo!

— Quer saber de uma coisa Madge? Você tem um sério problema psicológico não tratado. E não me liga mais! — Gale bateu a porta com força.

— Mais um revoltadinho por não conseguir um segundo encontro. — ela rolou olhos. — Vamos comer? — a loira foi nos convidou a ir em direção à cozinha como se nada tivesse acontecido.

E eu achando que minhas relações amorosas eram complicadas...

Na meia hora seguinte, Madge mal pareceu se importar com minhas broncas por possivelmente tentar quebrar o coração do meu amigo, mesmo eu tendo a certeza que ele estava mais revoltado que magoado mesmo, então decidi apenas deixar isso em stand by por algum tempo e pensar no meu "jeitinho Katniss" de resolver isso depois.

Depois do café da manhã me despedi de Mad, e Peeta me acompanhou até seu apartamento para buscar minha bolsa. Ele trabalharia durante a noite seguinte, e também precisava de descanso depois do semi porre e da confessa noite mal dormida.

O silêncio já estava pesando sobre meus ombros e temi que o clima ruim e constrangimento talvez pudesse voltar entre nós por causa do “incidente que não deve ser nomeado ou repetido”, então resolvi amenizar o clima.

— Então... Primeiro beijo aos 17 anos uh? — cutuquei seu braço com o meu, e por minha visão periférica vi um riso torto se formar em seus lábios.

— De tudo que te contei, essa foi a parte que você absorveu?

— É a parte que posso tirar sarro então... Você não deveria ter me contado.

— Sabe? Fico feliz que falei disso pra alguém.

— E fico feliz que foi comigo. — encarei o chão rindo e mordendo o lábio bobamente. — Mas 17 anos?! Sério?

— Você não vai esquecer isso nunca Katniss? — ele elevou a voz, mas eu podia notar o tom brincalhão por trás da bronca que ele fingia dar enquanto abria a porta.

Alguém teve a capacidade de machucar Peeta Mellark, e não esse Peeta fechado metido a forte que eu conheço, o que já seria péssimo, mas um mais frágil ainda! Apenas esse pensamento me dava vontade de arrancar os cabelos um por um da vadia. Depois os dentes. Depois as orelhas. Depois os olhos.

De repente me imaginei sendo a “Kat” da adolescência dele. Sendo seu primeiro beijo, sua primeira vez. Sendo a dona dos seus pensamentos e do seu coração. Eu nunca faria isso, seria como machucar um filhote de cachorro, um filhotinho que te amava e faria tudo por você. Eu nunca magoaria Peeta.

— Katniss? — a voz dele me tirou dos devaneios. Olhei pro loiro que me encarava com a testa fincada numa discreta ruga curiosa.

— Oi? — sorri em resposta.

— Você estava viajando. Pensando em outros meios para me envergonhar?

— Com certeza! Te fazer passar vergonha é o meu propósito aqui na Terra. — coloquei a mão no peito falando solenemente.

— Engraçadinha. — ele me estendeu a bolsa. — Aqui.

— Obrigada.

Me dirigi à saída apertando os dedos em torno da alça ponderando se contava ou não a Peeta sobre o encontro que eu tinha marcado para amanhã. Na verdade, ele deveria ser no dia anterior, mas todas as emoções da cirurgias, happy hour e tudo depois acabou me fazendo mudar a data.

Mas falar disso com ele sempre foi fácil, por que o constrangimento agora Katniss?

Forcei minha mente a acreditar que esses assuntos eram mais difíceis de conversar com irmãos mais velhos. E era isso que Peeta era na minha vida, certo?

— Peeta? — o chamei e seu rosto adquiriu uma feição preocupada. Conclui que deveria ser um reflexo da minha própria expressão.

— Algum problema Katniss?

— Não, nada de problema. — tentei disfarçar um riso nervoso. — É só pra te avisar que tenho um encontro amanhã. — Peeta prendeu a respiração por dois segundos, abrindo um pouco a boca e fechando logo em seguida, suas sobrancelhas franzidas.

— Você... Você quer ajuda? — ele ofereceu, sua boca fechada numa linha fina e rígida.

— Er, acho que não, eu me viro.

— Algum conselho, sei lá... — não pude ler sua expressão dessa vez, porque ele já caminhava rápido em direção à cozinha.

— Você me ensinou bem. Quer dizer, nas últimas semanas eu meio que tinha esquecido essa coisa de Conselheiro Amoroso.

— Eu também. — ele falou terminando de virar um copo gigante de água.

— Você tá bem Peeta?

— Ótimo. — ele encheu novamente o copo e começou a bebê-lo de uma vez.

— Ok. — resolvi ignorar o súbito desejo por mega hidratação de Peeta e sair dali antes que ele se arrependesse começasse a chuva de conselhos, “podes” e “não podes”. — Eu já vou indo.

— Tá bom. — o loiro me acompanhou até a porta. — E qualquer coisa me liga ou me manda mensagem. Se precisar de carona...

— Vou ficar bem Professor. — acenei o tchau discreto antes de fechar a porta atrás de mim.

Peeta Mellark, essas suas reações estranhas ainda vão me enlouquecer!

~

Encarei minha imagem no espelho e retoquei o batom, apesar da minha cor de longa duração ainda estar perfeita desenhando minha boca. Eu apenas precisava fazer alguma coisa pra fugir dali ou acabaria dormindo em cima do risoto.

— Eu meio que entendo, sabe? Ele estava todo fofo e vulnerável. — falei a Clove equilibrando meu celular entre o ombro e o ouvido enquanto guardava o batom na bolsa. Contei a ela a parte do quase beijo omitindo toda a história que levou àquilo.

Fofo e vulnerável? — os adjetivos foram ditos com malícia antes de uma gargalhada da minha amiga. — Pensei que fossem irmãos.

— E daí? — questionei não entendendo realmente o ponto.

Eu tenho três irmãos mais velhos Kat, e nunca chamei nenhum deles assim. Ogros? Sim. Idiotas? Sempre. Mas “fofo e vulnerável”? Você não se refere a pessoas que diz ser irmã com esses termos.

— Você é maldosa, isso sim. Mas me conta, terminou aquele trabalho? — encostei a base da coluna na pia de mármore enquanto conferia as unhas despreocupadamente.

Katniss, me tira uma dúvida?

— Ui, você toda sabe-tudo me pedindo pra tirar dúvidas? Me sinto lisonjeada.

Você não está num encontro ou coisa assim? — ela cortou minha piada indo direto ao ponto. — Porque foi isso que você me disse quando cancelou o trabalho daquele estudo de caso que deveríamos fazer.

— Estou. Mas é que esse cara é tão... — deixei o adjetivo no ar por não saber bem como caracterizar meu entediante acompanhante.

O que foi? Nunca te vi colocando defeito em homem antes Katniss!

— Você como sempre me fazendo parecer uma tarada!

Mas qual o problema desse?

— Nada, ele é legal e tudo, mas eu estava quase dormindo lá! Tédio!

Se joga nele que o cara acorda rapidinho!

— Não faço mais isso Clove. — usei minha voz de repreensão pra ela. — Me dá uma ideia que preste, faz favor!

Liga pro seu professor então.

— Nah! Peeta está meio estranho em relação a isso.

Hm... — minha mini-amiga gemeu maliciosa do outro lado da linha.

— “Hm” o que senhorita?

Nada. Faz assim: volta pra mesa, que o coitado já deve estar achando que você morreu ou fugiu pela janeira do banheiro. Aí você encerra logo esse jantar, agradece pelo convite e vai procurar algo que te divirta nesse fim de noite. Como me ajudar a escrever nosso trabalho.

— Vai sonhando... Mas finalmente um conselho que preste Clovinha!

Que bom que gostou, agora tchau. Se você não quer estudar, eu vou.

— Boa noite pessoinha. — desliguei o telefone.

Eu nunca tive problemas em conduzir diálogos, mas aquele cara estava dificultando muito as coisas pra mim. Pra a coisa da conversa dar certo a outra pessoa precisava participar também, nem que seja com poucas palavras, gestos constrangidos como os de Gale ou mal humorados como os de Peeta. Mas esse aqui só me encarava deslumbrado. Bobo demais pro meu gosto.

Seguindo a dica da minha amiga de faculdade, terminei de comer a pouquíssima quantidade de comida que eles serviam nesse restaurante chique e até dispensei a carona, agradecendo pela noite, omitindo a parte sonífera dela. Enquanto meu táxi estacionava, apenas a lembrança de uma pizza fez minha boca salivar e a ideia para o fim perfeito para aquela noite de domingo clareou em minha mente.

— Pra casa senhorita?

— Ainda não.

~

Peeta abriu uma fresta de tamanho suficiente apenas para que ele colocasse a cabeça para fora, então fez a sua melhor expressão confusa ao me ver parada em sua porta. Sorri em resposta, arqueando as sobrancelhas esperando um convite para entrar.

— O que você está fazendo aqui? Seu encontro não era hoje?

— Já foi. Pensei em passar aqui e...

— Espera um minuto. — ele entrou fechando a porta na minha cara.

— Ok. — comentei sentindo uma chateação inexplicável crescer dentro de mim.

Eu provavelmente invadiria o apartamento no minuto seguinte, mas Peeta saiu e fechou a porta atrás de si, se juntando a mim no corredor vazio. Ele usava uma calça jeans escura e uma camisa social bege com os punhos dobrados até os cotovelos. E estava mais cheiroso que o normal, o que realmente significava alguma coisa. Ai que droga!

— Você está num encontro também! — elevei involuntariamente minha voz arregalando os olhos com a contestação.

— Fala baixo. Não é isso! — ele falou baixou olhando para a porta e de volta pra mim.

— Não me diga que você se arrumou assim pra fazer maratona de Doctor Who!

— Na verdade, você chegou aqui no momento perfeito.

— Eca, não quero assistir você e sua companhia “se socializarem”. — fiz uma careta de nojo. — Acho melhor eu ir.

— Não, espera! — me voltei pelo alarme em sua voz. — Lembra quantas vezes já te ajudei? Hora de retribuir.

— Como assim? — estreitei meus olhos pra ele.

— Essa garota é a sua versão fútil e materialista. — Peeta fez drama. — Ela fala tanto sobre cabelo e maquiagem, que se a medicina não der certo, já estou apto a abrir um salão de beleza. Me salva dessa, vai? — comecei a gargalhar sem controle.

— Por que eu? Chama a Mad.

— Eu ia fazer isso, mas você é com certeza bem melhor quando a função é usar seu cérebro brilhante para criar situações constrangedoras. — fechei meu sorriso na hora, fingindo ofensa. — Foi mal.

— Tá, o que você quer que eu faça? — cruzei os braços.

— Você é a mente maléfica. Eu sou só o cara que deu o primeiro beijo aos 17 anos! — ele riu e acabei fazendo o mesmo.

— Bom argumento. — pensei por um instante. — Entra lá, diz que veio atender uma vizinha agora e daqui a pouco eu chego. E não negue nada que eu disser! — o sorriso dele se desfez numa expressão preocupada.

— Já estou começando a me arrepender de ter pedido isso... — Peeta saiu cochichando para si mesmo voltando ao seu apartamento.

Passei meus dedos entre as ondas dos meus cabelos bagunçando-os um pouco e desajustei meu casaco. Não podia negar que seria divertido envergonhá-lo agora com consentimento do meu professor mais carrancudo e estressado. Esperei passar alguns poucos minutos até correr até a porta dele dando pancadas espalmadas na porta.

— Peeta! Peeta! Abre isso aqui. — gritei desesperada como se tivesse chegado ali correndo. Não demorou mais que alguns segundos para a porta ser aberta e eu escancará-la ainda mais entrando de supetão. — Você não sabe o que acabou de acontecer!

A loira levantou-se do sofá alarmada me encarando com a expressão assustada, não sei se pela bagunça que eu estava ou pelos gritos. Foi então que conheci a mulher. Eu já tinha vista ela uma ou duas vezes pelos corredores do hospital, uma delas inclusive enquanto a mesma cercava Peeta, mas isso era mais comum de acontecer que o próprio chegava a notar.

Minha ideia de fingir ter descoberto estar grávida dele depois de uma noite muito louca, mancharia com certeza a pose de bom moço de Peeta e iria virar algum tipo de fofoca no hospital, e como nós dois trabalhávamos lá e vivíamos grudados, todos acabariam acreditando.

Que droga! Mudança de planos!

— O que aconteceu Katniss? — Peeta chamou a atenção, enquanto me olhava cúmplice.

— Prim. — falei a primeira coisa que veio à minha mente. — Ela precisa de você.

— Peeta, quem é sua amiga? — a loira questionou.

— Glimmer, essa é Katniss. Trabalha no hospital com a gente, mas me diz: o que aconteceu com ela? — ele se voltou rapidamente pra mim, fazendo pouco caso do evidente olhar de ciúme que a médica lançava sobre nós.

— Prim está doente e precisa de você. — não era uma mentira total no fim das contas, afinal situação semelhante já havia ocorrido. — Urgente!

— Parece que vamos ter que encerrar a noite mais cedo Glimmer. — ela com certeza não notou, mas não pude deixar de reparar nas notas de alívio que saíam da voz dele.

— O quê? Por quê? Quem é essa Prim, afinal?

— Uma garotinha muito especial pra mim, sinto muito. — Peeta falou já em busca da jaqueta e das chaves.

— Se ela está doente, vou com você. Posso ajudar. — a garota também começou a recolher os pertences.

— Não! — eu e ele gritamos ao mesmo tempo.

— Quer dizer... Não quero incomodar.

— Já incomodou... — a tal da Glimmer sussurrou e quase abri minha boca para responder com um lindo xingamento quando Peeta me puxou pelo braço para o corredor.

— Quando sair coloca as chaves por baixo da porta, tenho uma reserva. Até mais e desculpe. — ele fechou a porta.

— Você não tem chave reserva. — cochichei no corredor.

— Mas você tem, que eu sei. Vamos nos esconder nas escadas e esperar ela passar.

— Tão virgem. — comentei rindo enquanto arrumava o laço do meu casaco. — Fugindo de mulher.

— Mulher sem conteúdo.

— Pensei que para sexo de encontros únicos, o conteúdo exclusivo que precisasse fosse silicone exagerado. — comentei e Peeta rolou olhos.

— Você deveria estar em um encontro também. O que faz aqui afinal?

— Procurando algo que rebatesse sonífero, mas parece que meu médico já estava muito ocupado. — minha leve irritação por ele ter marcado algo sem me avisar e ainda me fazer livrá-lo dessa saiu quase sem querer.

Peeta parou de caminhar e me lançou um olhar curioso, seus olhos estreitados e um dos cantos de sua boca se ergueu em um discreto e quase imperceptível sorriso, como se tivesse notado o nariz no meu rosto pela primeira vez.

— O quê? — questionei e ele abriu um riso descarado dessa vez, mas quando abriu a boca pra responder, pareceu avistar algo atrás de mim.

— Shiu.

Peeta envolveu minha cintura com um único braço, colocando o indicador da mão oposta em meus lábios, juntando nossos corpos e me carregando com facilidade para um espaço na descida da escada que camuflava nossa presença ali. Minha respiração automaticamente se acelerou com o susto, à medida que ele descia a mão da minha boca e encaixava na curva do meu pescoço, ainda atento à um ponto atrás de nós.

Merda. — ouvi a voz da loira praguejando baixo enquanto o barulho de vários objetos caindo no chão ecoava pela escadaria quase vazia.

Ele soltou um discreto riso, mas minha concentração de repente estava em seu perfume tão perto e em nossos corpos tão juntos. Eu sei, é estranho, ele é como um irmão mais velho e protetor, mas negar aquela fragrância era única e especial parecia uma tolice. Além disso, desde o incidente de dois dias atrás, quase sem querer estávamos evitando contato físico e só aquele pseudo abraço me fez saber que eu sentia falta disso. A respiração dele movimentando seu tórax e barriga ao encontro do meu corpo, sua pele sempre quente, seu braço em torno de mim.

— Desastrada essa Glim. Mas parece que ela já... — ele baixou o olhar e me encontrou o encarando. — ...foi. Desculpe. — Peeta me soltou e deu dois pequenos e cautelosos passos para trás, parecendo pela primeira vez perceber a posição que ele nos colocou.

— Não, está... Está ok. — gesticulei com a mão dispensando o pedido, sentindo a droga da minha circulação esquentar meu rosto e muito provavelmente o tingir de vermelho. — Então, você quer a chave pra voltar ao seu apartamento, certo?

— Seria bom.

A caminhada em silêncio da escada até a porta já estava quase virando um ritual nosso e eu não soube quando tudo isso começou a ficar tão complicado.

— Katniss? Você disse algo sobre te ajudar com um sonífero. Isso foi piada?

— Infelizmente não. — peguei as chaves escondidas no vaso de planta da vizinha entregando a ele para abrir a porta. — Pensei que pizza e filme seria mais divertido que restaurante chique de pouca comida e companhia alinhada demais, por isso vim pra cá. Foi mal atrapalhar.

— Você me ajudou maluquinha. — ele deu espaço para que eu entrasse. — Não estava afim mesmo dela, apenas cedi a uma pressão de meses de insistência.

— Ah.

— Mas isso que você disse pareceu mais legal.

— Restaurante?

— Não isso, a outra coisa. Ainda está afim de pizza e filme? — ele abriu um sorriso.

Mordi meu lábio tentando em vão esconder o sorriso que também cresceu em meu rosto. Entre o complicado com Peeta e o simples com qualquer outro, claro que meu professor seria a escolha!


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Notas finais do capítulo

Alguém está mudando o pensamento sobre um outro alguém e esses alguéns não querem admitir... ~Ellen cantarolando~

Quero saber a opinião de todos sobre Peetniss, Gadge, Prim e tals... Podem usar a caixa de comentários abaixo, ela não morde, nem eu. Prometo que vou responder tudo com carinho! Recomendações sempre são bem-vindas!

Até mais amores... Bjs*

p.s.: Pra quem não sabe o que é CMDPPM que citei nas notas iniciais, dá uma passadinha no meu perfil e confira essa minha fic que amo amo amo e já está finalizada!