Brittle escrita por Isabelle


Capítulo 8
Capítulo 7 - Will


Notas iniciais do capítulo

"Todo mundo se machuca algum dia
Não há problema em ter medo
Todo mundo sofre, todo mundo grita
Todo mundo se sente assim, e está tudo bem"
— Avril Lavigne



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556769/chapter/8

O tempo parecia um bumerangue.

Ao mesmo tempo em que começava a chover, a chuva sessava e em instantes, o sol aparecia; mas logo, logo as nuvens negras surgiam de novo e começavam a derrubar seus pingos fortes novamente.

Passei os olhos por cima daquelas fantasias ridículas sem saber qual escolher ou qual me deixaria com menos cara de idiota. Estava ali com Jhony há mais ou menos meia hora. E não esperava a hora de sair dali e ir me encontrar com a Emily.

— Cara, até agora? — Jhony surgiu usando uma fantasia de super-homem. — Você parece uma menina se vestindo para sair com um cara. — Ele caminhou até o espelho e olhou sua fantasia, que o deixava com suas canelas finas aparentes.

Seus cabelos eram de alguma cor entre loiro e castanho; seus olhos eram verdes escuros e ele tinha uma barba rala espalhada pelo rosto.

— Por que não usa aquela do macaco lá fora?

— Eu não sei porque estamos alugando fantasias — Eu disse pegando uma de aranha que era preta e estranha, — Vou terminar com a Emily hoje, não vamos na festa dela. — Disse fracamente lembrando das palavras que usaria.

Já havia se passado uma semana desde a minha briga com Cely, nós dois estávamos de boa novamente, mas essa semana nem tínhamos nos falado direito por causa da sua faculdade que tirava todo seu tempo e também por causa dos encontros que ela estava tendo com um garoto de sua faculdade. Porém, eu havia pensado que essa seria a semana perfeita para falar com Emily, mas toda vez que eu marcava de fazer alguma coisa com ela, ela simplesmente inventava que tinha que fazer alguma outra coisa, e por isso hoje iriamos jantar em um restaurante chinês, e eu falaria finalmente com ela.

— Não iriamos na festa dela de qualquer jeito. — Ele entrou no provador novamente. — Vamos na festa da minha faculdade, junto com o Dudu e o Fernando.

— Entendi. — Eu disse e peguei uma fantasia de garoto havaiano.

Ele saiu do vestiário com sua blusa de manga comprida e suas calças jeans velhas.

— Aqui está o ingresso. — Ele me entregou um cartão amarelo e sorriu levando a fantasia para o caixa.

— Você não teria um ingresso sobrando teria? — Disse o seguindo, ainda segurando a fantasia de havaiano.

— Tenho, mas por quê? — A moça do caixa uma ruiva meio gótica sorriu para ele e ele piscou para ela.

— Quero levar uma amiga. — Entreguei a fantasia para moça que também sorria com cara de safada para mim.

— Uma amiga é? — Ele pegou a sacola com a fantasia junto com telefone da garota gótica e nós saímos da loja.

— Sim, uma amiga. — Eu apertei a alça da sacola em minha mão. — Ela está morando comigo agora, foi ela que a Emy chamou de prostituta.

— Já a levou para cama? — Jhony sorriu com orgulho para mim.

— Acho mais fácil — eu disse destravando a camionete e entrando nela, — te seduzir e fazer você ficar de quatro para mim, do que transar com a Cely.

— Osso duro de roer, — Ele esfregou as mãos uma na outra. — Essas são as melhores.

Eu sorri e virei em uma avenida movimentada.

— Mas fala ai, por que vai terminar com a Emy? — Ele ligou o som colocando em alguma estação do rádio que tocava sertanejo.

— Não dá mais certo, Jhony, — Eu olhei para o tempo que já começava a soltar pequenas gotinhas. — Ela é, não dá certo.

— Que pena cara, são quase nove anos de namoro de vocês dois. — Jhony acenou para Sally, uma mulher que ele já havia namorado há alguns meses e depois se voltou pra mim. — Mas, quando vocês terminarem tem algum problema se eu me divertir um pouco com ela? — Eu olhei para ele e nós dois começamos a rir. — Vamos admitir, Will, a menina é insuportável de conviver, mas aquele corpo.

Trocamos um olhar de aprovação e eu sorri.

Jhony era um dos meus melhores amigos desde sempre. Minha mãe era melhor amiga de seu pai, e nós havíamos nos tornado amigos quando tínhamos sete anos e começamos a ser vizinhos. Ele costumava ser bem filho da mãe quando o assunto era mulher e já tinha ficado com várias prostitutas, mas tirando isso, era uma boa pessoa.

— E essa garota que está morando no seu apartamento? — Ele pegou o celular e respondeu alguma mensagem. — Fale mais sobre ela.

— Ah, não sei, ela é misteriosa sobre algumas coisas. — Eu suspirei. — Ela parece ser toda forte na vida e não deixa ninguém cuidar dela, ou se preocupar.

— E fisicamente. — Ele olhou para mim sorrindo.

— Ela é muito bonita. — Eu disse me lembrando de seus detalhes. — Cabelo castanho avermelhado, olhos castanhos escuros e pele bronzeada.

— Gostosa?

— Total. — Nós rimos.

— Você gosta dela?

— Como amigo, sim, gosto muito dela. — Eu parei em frente à loja que ele trabalhava e ele desceu do carro rapidamente. — Tenho muito tesão por ela, mas não gosto dela desse jeito.

— Então você está de boa meu amigo. — Ele desceu do carro. — Nos vemos na festa domingo.

— Com certeza. — Ele acenou e entrou na loja de telefones.

Virei o carro em uma esquina seguindo para o meu apartamento, mas a vi cruzando a rua.

Ela estava com os cabelos lisos e usava uma blusa azul que mostrava um pedaço de sua barriga; uma bermuda preta colada e sapatilhas preta.

Parei o carro ao lado da rua onde ela estava andando e ela sorriu ao me ver. Ela passou a língua pelos lábios e continuou andando.

— Pensei que tínhamos superado essa fase.

— Nunca vamos superar essa fase.

— E essa barriga sexy, se você quer que eu me controle, Cely, não pode sair se vestindo assim. — Vi a sacola que ela carregava que estampava o símbolo de uma loja de música.

— Você está me seguindo, Will?

— Estava na loja de fantasias com o Jhony e te vi cruzando a rua. — Eu continuei acompanhando-a pela linha próxima a calçada.

— Eric, morre de ciúmes de você.

— Fale para o Eric não se preocupar porque ele vai ser sempre o número um no meu coração.

Ela me lançou um olhar irônico.

— Sério, ele acha que nós temos um lance ou algo do tipo.

— Mal deixa eu encostar em você, e ele pensa que nós temos um lance? — Eu dei uma risada parando o carro e ela entrou.

— Eu não sei — ela colocou a sacola no chão. — Ele acha que eu vou trocá-lo por você.

— Quem não acha? — Eu disse.

Ela abaixou a cabeça e riu.

Ela tinha o conhecido um dia depois na nossa briga, na lanchonete da escola. Depois, ela chegou no apartamento e me contou tudo sobre ele, como ele estava no terceiro ano de engenharia, e como ele parecia ser um cara legal, que gostava dos mesmos livros que ela. Contudo, eu via o medo de se arriscar batendo no coração dela e depois de passarmos praticamente a noite inteira conversando sobre Eric e Emily, ela entrou em consenso comigo sobre Eric, e eu entrei em um consenso com ela sobre Emily.

Eu admitia que eu próprio estava ficando com um pouco de ciúmes dos dois, mas, não por que eu sentia alguma coisa por Celeste, mas sim, porque ela tinha passado a semana inteira com ele e nós não tínhamos tido tempo para nada.

— Você gosta dele? — Eu lancei um olhar travesso para ela e ela riu.

— Talvez, é muito cedo para dizer. — Ela disse percebendo a sacola com a minha fantasia no banco.

Ela tirou de lá uma bermuda florida e um floral para usar no pescoço, foi o que bastou para ela começar a gargalhar de mim.

— O que diabos é isso, William? — Ela disse entre intervalo de risos.

— Isto é a minha gostasia. — Misturei a palavra gostoso e fantasia, fazendo ela rir mais ainda.

— Pensei que ia terminar com a Emily, mas você vai na festa dela?

— Vou terminar com ela hoje, e nós, eu e você, vamos na festa da faculdade.

— Eu não vou a festas que envolvem fantasia.

— Ah, por favor Cely, passou a semana inteira com o Eric, e agora não tem um tempo para o seu melhor amigo.

— Quem disse que você é o meu melhor amigo? — Ela arqueou as sobrancelhas brincando.

— Sou seu único amigo, garota. — Arqueei as sobrancelhas para ela. — E ainda divido meu teto e minha comida com você. Não somos nem amigos, somos casados.

— Sim, e estamos esperando um filho. — Ela passou a mão pela parte da barriga exposta e fez uma expressão desolada.

— Não me lembro de ter feito nada com você para que resultasse nisso. — Fiz um sorriso safado para ela. — Mas nós podemos ajeitar isso.

— Silêncio, Will.

Eu virei em uma rua diferente a do nosso prédio e ela me olhou estranho.

— Está me sequestrando?

— Claro, por que várias pessoas pagariam o resgate. — Eu disse aquilo brincando, mas pensei um pouco e me arrependi no mesmo instante. — Me desculpe.

— Não tem problema. — Ela disse sucintamente.

— Não quis dizer isto, Cely. — Eu disse francamente. — Eu pagaria o resgate.

— Você é um otário.

— Sei disso, — Eu sorri. — Por isso quero te mostrar uma coisa.

Parei em frente à loja avermelhada por causa dos tijolos; essa semana sua vitrine exibia um violoncelo mediano, uma guitarra preta, um pandeiro e uma flauta.

Desci do carro e Cely desceu também, observando a loja como ela sempre fazia.

Brad estava logo no caixa e me cumprimentou quando eu passei por ele, mas verdadeiramente, ele ficou encarando Cely, indignado por eu trazer uma garota junto comigo para a loja.

Subi para o outro andar, sendo seguido pelos passos minúsculos de Cely, que ficava encantada com todos aqueles instrumentos em um lugar tão pequeno.

— Meu Deus — Ela disse ao chegar no outro andar e observar aqueles milhões de CDs. — Eu morri e vim para o paraíso dos CDs.

— Eu sabia que ia gostar, e na loja que você comprou, você deve ter pagado um absurdo por aqueles vinis.

— Eu paguei. — Ela disse vendo os vinis clássicos no canto da sala. — Isso é um original da Jacqueline Du pré? Pensei que eles nem faziam mais aqui no Brasil.

— Brad tem de tudo — Me encostei na parede a observando, parecendo uma criança rodeada por doces. — Ele vende todo o tipo de música que você imaginar.

— E ainda são a metade do que eu paguei na outra loja. — Ela sorriu e começou a selecionar alguns CDs.

Deixei-a selecionando e subi na pequena escada que ficava no outro canto da sala.

O pequeno porão que estava ali, empoleirava todo o tipo de instrumento velho e inutilizado. O chão estava todo coberto de pó e as teias de aranha chegavam a me tocar de tão gigantes que elas estavam, contudo, o que me interessava estava um pouco mais a frente, em atrás de uma porta amarelada e velha.

Uma varanda enorme ficava do outro lado do outro lado da loja, dando uma vista exata para o céu acinzentado que jorrava suas pequenas gotas de vez em quando. Me sentei em um dos bancos de madeira que havia lá, e observei o chão acinzentado que estampava vários quadradinhos.

Vi Celeste parada na porta, observando aquela varanda enorme e fiz um gesto para ela se sentar ao meu lado. Ela soltou um sorriso abafado quando suas pernas descobertas encostaram o banco gélido coberto pelas finas gotas de chuva e olhou para mim.

— Bem-vinda a Williamlândia. — Eu disse sorrindo para ela. — Se sinta orgulhosa, nunca trouxe uma garota aqui.

— Você está apaixonado por mim. — Ela disse apertando minhas bochechas — É igual naqueles filmes clichês, que o garoto traz a garota para o lugar especial dele e conta para ela que a ama.

— Quase isso, tirando o fato que eu não estou apaixonado por você. — Eu fiz um gesto para que ela observasse o céu e toda a paisagem.

— Ainda. — Ela sorriu e empurrou o meu ombro com o seu.

— Vai conversar com a Emily hoje?

— Vou. — Engoli seco pensando que terminaria nove anos de futilidade em poucas horas.

— Você está sendo muito corajoso, sabia disso? — Ela disse.

— Não. — Ri e ela me acompanhou.

— Tenho que ir para faculdade daqui a pouco. — Ela mordeu o lábio inferior e eu assenti.

Caminhei até a beirada da varanda e pulei-a segurando em uma escada poucos metros abaixo.

— Você quer me matar do coração? — Celeste surgiu olhando para baixo.

Eu sorri de um modo cafajeste para ela e comecei a descer as escadas. Ela me acompanhou quando eu estava na metade da escada. Ela descia com todo o cuidado do mundo, com medo de escorregar, e quando chegou bem do final da escada, eu a segurei pela cintura, colocando-a no chão.

Nesse momento senti um frio na barriga incomum, mas apenas balancei a cabeça e fomos até o carro, voltando para o nosso apartamento.

— Essa comida está fria. — Ela mordeu o lábio e empurrou o prato.

— Eu acho que ela está muito boa. — Eu continuei comendo sem me importar com ela.

— Will — A voz dela foi firme. — O que está acontecendo com você hoje?

— Como assim? — Eu levantei o olhar para ela e encontrei aqueles olhos mais frios que o polo norte.

— Você tem algo para me dizer?

— Na verdade, eu tenho. — Passei a língua pelos meus lábios e suspirei. — Mas não agora.

Terminamos o jantar e fomos embora com o carro de Emy. Ela tinha exigido que viéssemos com o dela e não com o meu, por ser uma camionete amarelada e velha.

Paramos na frente do meu prédio e eu fiquei olhando para ela antes de falar. Ela estava usando um vestido vermelho aquela noite que deixava todas suas curvas a mostra, um colar de estrela estava caído em seus peitos e os olhos dela brilhavam com a luz do poste.

— Emily, o que eu vou falar agora, preciso que você escute em silêncio e com muita atenção.

— Tudo bem. — Ela cruzou as pernas de um jeito tão sexy que eu cheguei a duvidar se queria mesmo dizer aquilo.

— O.k., — Eu suspirei. — Ultimamente eu tenho percebido que nós dois temos essa atração física, mas nenhuma sentimental. E nós já namoramos há bastante tempo, eu sei, mas acho melhor nós dois terminarmos.

Ela ficou me encarando sem expressão, até o emocional dela fluir, e ela sorrir com seu sorriso sarcástico.

— Você é um idiota, Will. — Ela disse levemente. — Sabe, eu sou a única menina que vai ser capaz de te amar. Você acha que eu não sei que está terminando comigo por causa daquela prostituta barata…

— Não fala assim dela! — Eu gritei brutalmente.

Ela riu.

— Ah, me desculpe, você e ela vão ser muito felizes e morar em uma caixa de papelão. — Ela riu de novo. — Você é um idiota, você acha mesmo que vai ganhar alguma coisa com aquele piano?

— Cala boca, Emily. — Eu cerrei os punhos.

— William, você não sabe tocar aquilo e não vai passar naquela faculdade, você é um lixo e você sabe disso, sabe como eu sei disso? — Ela inclinou a cabeça. — A sua mãe se mandou daqui e foi para o país mais longe possível, para ela nem ver o desastre que você é. E o seu pai? Ele nunca te quis, e quando te quis, você veio com essa do piano, e o que aconteceu? — Ela bateu palmas. — Ele não te quer mais.

— Você é uma puta. — Eu cuspi as palavras descendo do carro.

— Eu sou uma puta? — Ela gritou também saindo do carro. — Você me traiu com aquela puta cachorra lá de cima e eu sou a puta?

— Você é uma cachorra que não faz ideia do que está falando.

— Eu não sei do que eu estou falando? — Ela me olhou indiferente. — Então por que, Will, você ficou tão bravo. — Ela sorriu e entrou no carro. — Pense nisso, viu?

Eu fiquei olhando aquele carro vermelho ir embora até a medida do possível, mas minhas veias estavam dilatadas de tanta raiva que eu estava.

Subi para o meu apartamento pisando firme no chão, a única coisa que eu queria naquele exato momento eram as chaves da minha camionete para desaparecer daquela cidade. Eu nunca havia sentindo tanta raiva.

Entrei no apartamento e as risadas que ecoavam de lá bateram na minha cara diretamente com uma pitada de ciúmes.

Cely não parecia ser a mesma menina que era a algumas semanas atrás.

Ela estava usando um vestidinho branco de algum pano que eu não conhecia, os seus cabelos estavam presos em um coque mal feito e ela sorria enquanto pintava as unhas da mão de preto. Eric estava sentado no chão segurando uma bola de futebol de pelúcia, falando alguma coisa que meu cérebro possuído pela raiva não conseguia entender.

Entrei ainda pisando firme e fui até a cozinha procurando no painel a chave da minha camionete. Peguei-a rapidamente e fui para a porta novamente.

— Will? — A voz de Cely soou preocupada, mas eu apenas a ignorei e bati a porta do apartamento quando sai.

A noite lá fora brilhava escura e não havia nem meia dúzia de estrelas. O tempo estava meio frio, mas o frio não me abatia nenhum pouco, por isso apenas entrei no carro e o liguei. Fiquei pressionando os dedos no volante e quando mudei a marcha para sair com o carro, a porta de passageiro se abriu, revelando uma menina dos cabelos castanhos avermelhados sentado ao meu lado.

— Então, para onde vamos?

— Cely… desce do carro.

— Espero que tenha comida, eu e o Eric não comemos muito.

Respirei profundamente e dirigi sem direção


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Brittle" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.