Jennifer Houston levou a colher cheia de cereal até a boca apenas para não responder o que exatamente estava pensando quando o seu pai perguntou se estava tudo bem.

Não, não estava nada bem. E ela tinha certeza de que sua expressão mal humorada logo a mesa do café da manhã demonstrava exatamente isso.

Ela ainda não entendia a capacidade dos pais de não entender pelo o que suas filhas estão passando. O problema estava praticamente quase escrito na testa dela, e ele ainda não havia sacado.

Vou explicar. Ela é apaixonada desde sempre por Lucas. Vizinho, filho de uma família próxima a sua, amigo do seu irmão e principalmente, seu melhor amigo. Ele praticamente mora na sua casa. Mas acha que isso é uma vantagem para Jenny conquistá-lo? De certo, não.

Ela tem a leve impressão de que ele a vê como um garoto. Ok, ok. Talvez seus moletons gastos que usa de segunda a segunda e as partidas de futebol com o pai aos finais de semana não seja nada tão feminino, mas que culpa tinha ela? Crescera com um pai desleixado e preocupado com o trabalho e um irmão grosso e porco. Ela não tinha tido aquela imagem feminina pra seguir, aquela que faz tranças bonitas no seu cabelo e te obriga a usar vestidos no domingo. Sua mãe morrera cedo demais.

Tirando a parte de ela nunca ter alguém pra desabafar toda vez que sofre por não ter seu amor correspondido, ela está bem.

“Eu estou ótima, pai” mentiu ela,assim que engoliu o cereal de aveia molhado no leite, que por sinal estava horrível. Jenny não tinha ideia do porque acordara tão mal humorada naquela manhã.

Mas ao fechar os olhos se lembrara. Alex, seu irmão dois anos mais velho, trouxera Lucas na noite passada e sem querer ela ouvira que ele estava ficando com uma garota chamada Nicole.

Jenny tentou se lembrar de todas as Nicole’s que estudavam no colégio. Lembrou-se de Nicole Jenkins. Era do mesmo ano que os dois, mas de uma turma diferente. Jenny nunca havia visto os dois juntos.

Nicole era o tipo de garota que conseguia usar um sapato de salto alto durante uma festa inteira. Coisa que Jenny nunca conseguiria fazer, apesar de não ser convidada para muitas festas.

E embora Jenny deteste isso, ela nunca ouvira ninguém falar mal de Nicole Jenkins. A adorável aspirante a atriz de teatro. Argh!

“Você não parece bem” o Sr. Houston pousou o jornal sobre a mesa levando a xícara de café à boca.

Se Jenny pudesse escolher um super poder nesse exato momento, ficaria invisível. Pelo menos o Sr. Houston não a veria ali e tentaria dar uma de pai preocupado com a filha caçula.

“Acho que vou indo nessa” ela apressou-se caminhando até o balcão e alcançando a mochila.

O Sr. Houston levantou os olhos do jornal. “Eu posso te levar, Jennifer” disse ele. “Alex já foi com os amigos dele, se for a pé, vai ter que ir sozinha.”

Jenny assentiu. “Melhor assim”.

Ela saiu de casa com um aperto no coração. O pai dela não tinha culpa de tudo que acontecera e estava acontecendo. Pra ser exata, ele nem sabia. Ela não deveria tratá-lo assim.

Jenny seguiu pela rua da sua casa implorando para não ser incomodada. Enfiou a mão no bolso lateral da mochila procurando os fones de ouvido. Ela precisava de música, a única coisa no mundo que a acalmava. Conectou no celular o fone, e selecionou a playlist favorita, compostas por músicas bregas e antigas que com certeza Nicole Jenkins não ouvia.

Foi quando Lucas aparecera ao seu lado. Ela nem sentira ele se aproximar por trás.

“E aí, Jenny?” disse ele sorrindo.

Ela tentou não olhar muito pra ele. Contato visual freqüente é um sinal de que você está apaixonado pela pessoa e tudo que Jenny menos quer é que ele saiba disso, ainda mais agora que Nicole Jenkins apareceu em suas vidas.

Porém, naquela manhã, parecia que ele havia acordado mais bonito do que já era. Jenny tentou não pensar que talvez aquilo tudo tenha sido apenas para ver Nicole. Boba, é óbvio que era.

“Porque todo mundo insiste em perguntar isso a mim?” comentou ela enquanto tirava um dos fones da orelha.

“É isso o que se pergunta quando encontra uma pessoa, não é?” perguntou ele confuso passando a mão sobre o cabelo loiro curto.

“É”, respondeu Jenny. “Exatamente. E eu estou ótima”, mentiu ela pela segunda vez naquele dia.

Ficaram em silêncio até as proximidades colégio. Jenny sentia os olhares de Lucas a ela como se quisesse saber o que estava acontecendo, mas ignorou todos. Voltaram a conversar apenas quando Jenny se despediu dele. Queria ficar sozinha naquele dia. E teria conseguido, se o próprio Lucas não tivesse aparecido, na hora do intervalo, em frente ao armário de Jennifer, com ninguém mais do que Nicole Jenkins ao seu lado.

Jennifer abriu a boca, incrédula. Por que ele a trouxera? Não, não podia ser o que ela estava pensando.

“Essa é a Nicole”, disse apontando para a garota. “E essa é Jenny, minha melhor amiga” ele ousou dizer apontando na direção de Jennifer.

Essa esperava que a garota lançasse um olhar de descaso quando Lucas pronunciara as palavras melhor amiga. Mas Nicole abriu um sorriso enorme e apertou a mão de Jenny que nem a havia estendido.

“Oi Jenny”, Nicole cumprimentou ainda sorrindo.

O coração de Jennifer acelerou. “Vocês dois estão juntos?”, indagou ela tentando não demonstrar desgosto ao perguntar aquilo.

“Estamos” respondeu Lucas. “Queria que você ficasse sabendo por mim antes que outra pessoa te contasse”.

Jenny olhou para o lado mordendo os lábios. Ela sempre fazia isso quando estava prestes a chorar. “Estou feliz por vocês então”.

Ela não esperou respostas de agradecimento. Bateu a porta do armário, colocou a mochila no ombro e saiu andando pelo corredor. Não segurava mais o choro, porque não precisava, já que Lucas e Nicole ficaram para trás acariciando um ao outro. Agora mais do que nunca, ela precisava ficar sozinha.

Sábios aqueles que me ouviram. Tudo pode ficar pior.