Surreal - Art and Insanity escrita por Jess


Capítulo 77
Capítulo 76 - Patética




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Anne.

Cheguei mais uma vez atrasada para o jantar, corri subindo as escadas com toda a minha ofegância até chegar em meu quarto e num piscar de olhos estar de baixo do chuveiro. 

Aqueles últimos meses estavam sendo difíceis; eu tentava correr da faculdade para a editora e da editora para minhas investigações. Essa era a minha rotina desde aquele dia, eu criei essa fixação, precisava descobrir algo que ajudasse Sebastian  de alguma forma que não me prejudicasse. Afinal, eu sei que ele não tem nenhum envolvimento com a morte do Adam, mas eu sim.  

Posso parecer fria, egoísta, calculista e qualquer outro adjetivo negativo. E realmente posso ser tudo isso, mas não sou burra, não iria sair correndo e dizer tudo que aconteceu naquela noite só por saber que Sebastian iria em meu lugar. Eu não ajo por impulso e naquela situação em que me encontrava, sabia que isso seria o pior a ser feito. Entretanto, admito que não sou tão boa assim nisso, em alguns momentos me senti imensamente mal por não poder dizer a alguém a verdade, por deixar que a única pessoa que me conhecia pagasse por algo que fiz. Essa sensação fazia com que os olhares que eu recebia todos os dias naquelas ultimas aulas, não pesassem tanto. 

As suposições, os boatos e fofocas tomaram o colégio, cada um tinha uma versão, pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida falavam sobre o que aconteceu com total propriedade; as ultimas festas do ano foram substituídas por homenagens a Adam Nigre, parecia que aquelas pessoas não iriam sobreviver sem toda a magnitude de um babaca, a verdade era que ele não faria falta nem mesmo ao próprio pai... E era nesse ponto que eu queria chegar, e chegaria, tudo tem seu tempo. 

Minha mãe surtou quando soube o que aconteceu com Sebastian, e obviamente culpou toda a violência que existe na mídia enquanto me abraçava com força, como se pudesse me proteger de alguma coisa. Ela colocou a culpa na mídia, nos agrotóxicos, dizendo que os alimentos cheios de veneno estão contaminando. Quando eu já estava cansada das neuras de Dona Arabella deu um jeito de me soltar de seu abraço apertado, me refugiei em meu quarto e tive medo; medo do olhar que Sebastian tinha na ultima vez que o vi, medo do que poderia acontecer, medo de não conseguir provar sua inocência e por fim medo dele não me perdoar ela minha covardia. 

Lembro-me do dia em que fiz a operação, antes que a anestesia geral fizesse efeito pensei no que faria dali em diante, a única coisa que me lembro é de querer ver o Sebastian. Quando acordei, depois da cirurgia; sentia algo em meio ao torpor que o remédio causava, não sabia se era culpa ou se era só uma tontura.Depois de alguns dias percebi que era culpa. 

"Anne!" 

O grito me fez dar um salto e piscar freneticamente vendo apenas uma camada de vapor enquanto tentava retornar de meus pensamentos que não eram os mais confortáveis, mas nada estava sendo assim. 

Senti a frieza do metal na ponta dos meus dedos ao desligar o chuveiro, aquela era uma das poucas coisas que sentia de forma muito automática. 

Na mesa o jantar já estava servido, vi os três pratos bem distribuídos com estranheza e aguardei sentada pelo que viria a seguir. Já estava me acostumando com isso de esperar o que podia acontecer depois de qualquer coisa que eu fizesse. 

"Oi" falei sem muito ânimo ao ver meu pai entrando na sala de jantar e sentando-se a mesa. Ele respondeu com ainda menos ânimo, se é que isso é possível... 

Depois dos últimos acontecimentos a nossa "relação" só piorou. Ele está trabalhando no caso do Sebastian e em algumas pequenas causas, isso vem mantendo nossa distancia intacta, para meu alivio. Ele estava sendo pago pelos pais do Sebastian para defender seu caso, estava adiando o máximo possível o julgamento, tentava alegar falta de provas. Entretanto, estava tudo cada vez mais difícil e como eu sei disso? 

Aproveito alguns momentos de distração para vasculhar seus papéis, venho aprendendo mais do que realmente gostaria sobre direito para entender as anotações e documentos do meu pai. E dessa forma também me mantenho próxima do Sebastian, nunca estive distante. 

O jantara foi todo em silencio, mal nos olhávamos, porém minha mãe estava sempre tentando iniciar alguma conversa agradável, mas dessa vez ela não conseguiu. 

Assim que terminamos de comer e nos damos a permissão de sair da mesa e seguir com nossas vidas, o que deveria ter acontecido; eu deveria ter levantado e voltado para meu quarto, mas havia um Dominic em meu caminho que não me deixou prosseguir. 

"Precisamos conversar" foi a única coisa que ele disse e só soaria mais paternal se tivesse um "mocinha" no final da frase. Incomodada o segui até a sala me preparando para uma conversa longa e entediante que eu sabia que um dia ia chegar. 

"Acho que já adiamos demais essa conversa e...", ele continuou falando, mas eu ignorei. Seria uma longa introdução até ele chegar ao ponto e eu não tenho mais tanta paciência para ouvir todo o seu discurso, mesmo sendo um belo discurso. 

Fingi da melhor forma estar prestando atenção no que ele falava, vez ou outra franzia a testa e concordava sutilmente.  

"Você está me entendendo?" ele indagou parecendo genuinamente preocupado E só ai que prestei atenção e concordei, seja lá o que ele havia dito eu entendia. 

"Sebastian pediu para que eu lhe entregasse isso", mostrou o papel dobrado e meu coração quase parou. 

Nunca esperei que o Sebastian fosse tomar uma atitude dessa, esperava que ele se comunicasse de alguma forma, mas não através do meu pai. Isso me deixou um pouco desconfiada, mas não esperei um segundo para pegar o papel de suas mãos. 

"Não se envolva nisso. Estou te dizendo isso como pai e não como advogado do Sebastian", ele falou, mas sua voz parecia estar muito distante por causa de toda a atenção que eu dava para o papel. Antes de abri-lo olhei novamente a minha volta e mudei de ideia, não leria na frente do meu pai, não leria na frente de ninguém, ele percebeu isso. 

"Depois que você ler e decidir o que vai fazer, me avise. Só peço que seja rápida" foi o que ele disse antes de levantar e sair da sala. Uma saída bem dramática diga-se de passagem... Mas meu maior interesse naquele momento era aquele papel e o que Sebastian estaria fazendo, ele sempre tinha um plano. 

Subi as escadas correndo e me joguei na cama depois de fechar a porta, desdobrei o papel com pressa e comecei a ler a letra fina e a voz de Sebastian invadiu meu pensamento, era como se ele estivesse ali comigo falando tudo que eu lia. Num impulso cheirei a folha  como se pudesse captar algum vestígio do cheiro dele, logo depois me senti patética. Porém, patética com uma decisão.


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