Surreal - Art and Insanity escrita por Jess


Capítulo 78
Capítulo 77 - Reunião familiar




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Sebastian

Aquele não seria um dia comum, soube disso assim que abri meus olhos e não se tratava só de um pensamento positivo; não sou de exercitar esse tipo de coisa. Era só uma intuição, se é que podia chamar assim.

recebi minhas refeições no quarto e não havia nenhuma explicação para isso até então, ninguém se preocupou em me explicar e não me recusei a permanecer onde estava.Mais tarde, como já era previsto a porta se abriu para que eu recebesse Dominic, mas ele não estava só.
[...]

Anne

Depois de algum tempo em frente ao espelho, minha imagem ainda não era das melhores, mas resolvi ignorar e terminar de me arrumar. Dessa vez não estava me preparando para ir a faculdade ou ao jornal, seria algo bem mais desgastante.

Sai de casa sem fazer muito barulho, não queria responder perguntas ou ver Dominic antes de ter algo que pudesse mudar consideravelmente a situação em que nos encontramos. Separei com cuidado algumas cópias de exames que foram feitos antes e depois da morte da Olivia; neles estão detalhados algumas lesões, um registro queixa de agressão e ameaça feito algumas semanas antes de sua morte e uma foto antiga de uma festa

Eu imagino como deve ter sido para ele; ter alguém querendo destruir sua promissora carreira na politica, ter um escândalo que prova que ele é completamente o oposto do que diz ser, que faz as mesmas coisas que diz abominar. Seus argumentos conservadores não suportariam  todos os fatos nas capas das revistas e obviamente seu casamento também não suportaria. Entretanto, não é por eu imaginar que aceito.

Tive muito tempo pra pensar em todas as situações, em tudo que podia ter acontecido e tentei ver pelos dois lados, dois lados sujos. Pensei em como seria se minha mãe tivesse sobrevivido e tive a triste percepção que tudo seria bem pior.

Parei em frente a um enorme prédio onde está localizado o escritória da advogada do Sr. Nigre, observei algumas pessoas que passavam por ali, eu parecia a única fora do "clube dos terninhos" e isso me fez encontrar algum humor dentro de mim e sorrir entrando no prédio e seguindo para perto da secretária que falava ao telefone, ela tirou seus olhos da tela a sua frente por um segundo para me olhar de sima a baixo, aquele um segundo foi o suficiente para ela pensar que eu não merecia sua preciosa atenção, mão não me preocupei, sentei na cadeira a sua frente e aguardei.

Quando a secretária já havia feito de tudo para me ignorar, perguntou se eu tinha uma hora marcada, eu neguei e como se não pudesse fazer nada por mim ela cruzou as mãos na mesa e disse que teria que marcar uma hora e que a agenda estava cheia.

"Diga a advogada do Sr. Nigre que tenho informações sobre o caso do Adam, eu sei o que aconteceu naquela noite", foi o suficiente para ela pegar o telefone e num segundo estar me guiando para o escritório onde a advogada me recebeu de pé.

Uma frase foi o bastante para me diferenciar de um qualquer sem dinheiro o suficiente para estar ali, porem, não seria tão fácil para eles, eu não chegaria e abriria minha boca dizendo tudo que ela precisava para condenar o Sebastian, ele já tinha até abrido mão da liberdade provisória; provavelmente por escolha própria e por sugestão de seu advogado.

Sentei em frente a mesa da advogada e esperei que ela se sentasse e me olhasse com aquela expressão, contendo como estava ansiosa para me ouvir.

—Meu nome é Anne Hill Andreiko e...

—Andreiko? Esse não é um sobrenome muito comum._ Interrompeu sentando-se com os olhos presos em mim.

—É Ucraniano — Sorri sabendo que ela já sabia quem eu era.

—É a filha do Dominic, a garota que não quis depor.—Constatou, mas não parou de me analisar.— Estou curiosa para saber o que veio fazer aqui, sei que não veio procurar um advogado.

Eu já conhecia aquele olhar e sabia que cada palavra minha tinha que ter o efeito certo, ela provavelmente era uma boa advogada e certamente sua hora custava muito caro, para reforçar o quão boa era. Eu teria muito prazer em fazê-la perder tempo.

—Preciso que o Sr. Nigre esteja presente, é um assunto do interesse dele.

—Sou advogada dele, sou a segunda pessoa mais sabe sobre os assuntos do seu interesse, a primeira pessoa é o próprio Sr. Nigre.—Ela disse sorrindo pra mim como se sorrisse para uma criança.

Essa foi a minha vez de analisa-la, e ela não parecia o tipo de pessoa que conseguiria dormir sabendo que defendia um assassino. Reconheço o tipo de pessoa que teria a consciência tranquila fazendo isso, essas são pessoas como meu pai, seus colegas de pôquer e quem sabe eu. Porem aquela mulher parecia limpa demais para saber tudo, cada detalhe do que acontecia... Provavelmente ela estava apenas naquele caso, não era sua advogada  para a qual ligava quando estava com problemas. Aquela mulher acreditava que estava querendo por o assassino do filho de um bom homem no corredor da morte.

—Acredito que o assunto seja muito pessoal para ele, e que o próprio não reagiria muito bem se você soubesse. Então peço que ligue para o Sr. Nigre e chame-o, diga que é urgente.

Ela fez o que sugeri e depois de quase uma hora em que nos encaramos Sr. Nigre nos deu o ar da graça, ele tinha a imagem de sempre; serio, em seu terno escuro e com seu olhar superior.

Permaneci sentada naquela cadeira esperando que todos estivessem devidamente acomodados, a advogada que já tinha se levantado para receber seu cliente se sentou novamente.

—O que há de tão urgente?—Ele perguntou olhando da advogada para mim.

—Sente-se Senhor Nigre—Meu sorriso fez parecer que não era uma ordem, mas da mesma forma ele me encarou com sua cara de poucos amigos.

—Então? Pode nos contar o que só podia ser dito na presença do meu cliente?

—Eu gostaria de ficar a sós com o Senhor, é um assunto de seu interesse e acredito que não queira que ninguém saiba. — Olhei somente para ele e ignorei totalmente a advogada que pensava saber de tudo.

—Você é?

—Anne Hill Andreiko, é um prazer finalmente conhece-lo Senhor Nigre— Enquanto falava estendi minha mão para cumprimenta-lo, ele apertou minha mão e senti o calor desconfortável de sua palma. Nunca havia exercido tanto a minha frieza.

—Ela é filha do Advogado de defesa do Volkov. — A afirmação da advogada fez a expressão do senhor a minha frente mudar sutilmente, mas li em suas marcas de expressão da testa que sabia o quão surpreendente era a situação.

—Eu estava na festa na noite em que seu filho foi morto, mas acredito que a ligação entre Adam e eu vá além disso...

—Estava namorando com meu filho?

—Gostaria de falar a sós com o senhor sobre isso.

Depois de alguns segundos estávamos a sós, sentados a uma certa distância e ligeiramente tensos.

—Minha relação com o Adam era um pouco diferente do que pode estar pensando—Comecei, mais insegura do que o necessário.

—Não tenho todo o tempo do mundo.

De certa forma eu já esperava por aquilo, ele só queria o que era do seu interesse, ada de dramas adolescentes, apenas o que lhe fosse útil para usar num tribunal.Então desfiz minha expressão de vítima.

—Trouxe isso para o senhor—Falei entregando as cópias dos documentos que vinha guardando a tanto tempo, ele pegou ainda com o cenho franzido e logo depois de pegar os óculos de grau dentro do terno, começou a folhear e ler rapidamente.

—Acredito que  esses documentos expliquem boa parte do motivo de eu estar aqui, mas para economizarmos seu precioso tempo e evitarmos uma cena dramática serei mais direta...—Ele parou de ler os papéis e me olhou, era o que eu queria para poder dizer— Sou filha da Olivia, acredito que se lembre dela, mas irei refrescar sua memória de qualquer forma; ela era uma dançarina de uma boate com uma fama ruim, você já era noivo de sua atual esposa e almejava uma carreira politica, porém isso não o impediu de ter um caso com ela.—Falei dando de ombros, não me importava muito com essa parte da história— Entretanto, Olivia não estava tão feliz com a posição de amante, e isso só piorou ao descobrir que estava grávida. E o final nós já sabemos.—Sorri vendo sua perplexidade.—Olá papai.

Seus olhos pareciam duas bolas de vidro, parados assim como todo o seu rosto, era uma máscara expressando choque. E eu ainda estava ali sorrindo e querendo saber o que se passava por sua cabeça; ele iria se desculpar? Negar tudo mesmo com as provas em suas mãos? Iria surtar e tentar me matar dentro daquela sala? —Devo admitir que seria um belo show.

Sr. Nigre piscou repetidas vezes quando toci chamando sua atenção.

—Quanto?

—Como?—Indaguei fingindo não entender.

—Quanto você quer para me deixar em paz?— Indagou em tom mais alto—É óbvio que quer dinheiro.

Sorri, um sorriso um pouco triste, mas ainda assim sorri ao perceber alguns traços que herdei de meu pai biológico, ele me parece uma pessoa direta, ainda mais por seu tempo custar muito dinheiro.

—E se eu quiser sua figura paterna?

—Eu só tive um filho e ele está morto.— Aquele foi seu ponto final, não havia mais discussão sobre paternidade ou falsos sentimentos.

—Você pode até não me considerar sua filha, mas eu posso acabar dando a entender que sou sua filha para alguns jornalistas e estariam muito felizes em publicar essa bomba, posso até imaginar sua foto e a minha na capa do jornal e a história de uma bastarda... Você devia ficar feliz, a vida te tirou um filho e te deu uma filha.

—Está me ameaçando?

—Eu jamais ameaçaria meu pai, mas as vezes sou muito transparente e posso acabar falando para algum jornalista, um acidente.

—Um acidente também pode acontecer com você, não sei se seria muita sorte ou muito azar da minha parte perder mais um filho.

Gargalhei alto vendo sua mão apertar o canto dos papéis que segurava.

—Temos o mesmo humor.—Sussurrei quando me recuperei do riso.

—Diga logo o que quer.

—Eu sei quem matou seu filho, e não foi o Sebastian. Mas o que eu quero é que atrase o julgamento.— E aquela foi a vez dele de rir, um riso de incredulidade.

—Não estou querendo nada que seja impossível para você, é até fácil demais.

—Adiar o julgamento do psicopata que matou meu filho?

—Primeiro, Sebastian não se enquadra num quadro de psicopatia, e segundo; você não está se importando com quem matou seu filho e sim com o que estão mostrando sobre o caso. Você está se aproveitando da situação para aparecer ; pais conservadores sempre se sensibilizam ao ver outro "pai conservador " tendo seu jovem e saudável filho morto.—Falava enquanto me aproximava—Só tem que inventar alguma coisa, isso não será problema pra você.

Ele me observou por algum tempo e desviou o olhar novamente para os papéis. Se não soubesse o tipo de pessoa que é o Sr. Nigre pensaria que ele estava triste ou até arrependido, mas conhecendo duvido muito disso.

—Como sabe que não foi ele?

—Eu conheço o Sebastian e...

—Ele é seu namorado? Porque se for... Não confie numa pessoa só por...

—Eu sei em quem devo ou não confiar—Interrompi dura.— A unica coisa que tem que fazer é atrasar o máximo possível o julgamento, se não quiser que todos saibam do homicido de uma pobre dançarina.

Levantei-me e fui em direção a porta, não havia mais o que fazer ali, quando algo chamou minha atenção.

—Pode ficar com essas cópias de recordação, eu tenho muitas outras. E é bom que saiba que se algo acontecer comigo muitas cópias serão automaticamente enviadas para todos os jornais.

Pronto, sai do prédio com meu coração disparado, já sem toda aquela pose que consegui sustentar o tempo todo. Esperei que o Sr. Nigre tivesse acreditado na minha ameaça, esperei que ele não mandasse ninguém me degolar na próxima esquina.Entretanto, se mandasse já teria alguém com os documentos.


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