Surreal - Art and Insanity escrita por Jess


Capítulo 52
Capítulo 52 - Ceder em silêncio II


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Espero que gostem desse capítulo, eu gostei kkk
O próximo será narrado pela Anne
Boa leitura



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_Eu não vou naquela festa cheia dos acéfalos da escola, que estarão sob efeito de substancias ilegais._ Ela falou como se fosse uma ideia absurda que tive.

_Você não é convidada para a festa dos acéfalos, por ser considerada estranha por alguns e também porque a maioria sequer te nota.

_Se eles sequer me notam, por que preciso ir? É só você dizer que fui, todos acreditarão._ Rebateu franzindo o cenho.

Respirei fundo e analisei a situação, não adiantaria nada ficar discutindo com a Anne, quanto mais eu tentasse convence-la a ir, mais ela tentaria me fazer desistir... Era algo um pouco infantil, mas mostrava o quanto ela estava disposta a manter-se longe das pessoas, longe de mim.

_Certo, podemos ir, ficar por alguns minutos e quando a primeira pessoa vomitar voltamos._ Falei calmamente, como se tivéssemos feito um acordo.

Anne já ia fazer alguma objeção, quando eu falei:

_Você sabe que eu não vou desistir, então encare isso como se eu estivesse cedendo, então é sua vez de ceder e parar de reclamar; será muito rápido: Vamos, ficamos um pouco, vemos a primeira pessoa vomitar, o que será bem rápido e voltamos. Sem mortos ou feridos.

_Não entendo o porquê de você fazer isso, além da sua obsessão, é claro..._ Ela sussurrou, se não estivesse um silêncio sepulcral naquele quarto eu não teria ouvido.

_Se está se referindo ao vestido; ele te dará uma aparência mais firme, vai passar segurança._ Expliquei, já um pouco cansado de ter que falar sobre isso.

_Não sou como você Sebastian, não preciso enganar a todos com a minha aparência, não preciso ser uma farsa... Uma bela tela, mas ainda assim falsa...

Anne falava em baixo tom, o que mostrava toda a frieza e toda a raiva transformada em frustração, algo amargo que não precisava ser demonstrado em gritos, pois era palpável.

Aquilo me incomodava, toda aquela frieza e o amargo das palavras me incomodavam, me irritavam e de alguma forma eram absorvidas. Só ela podia fazer isso comigo.

_Você não é a melhor pessoa para dizer o que é verdadeiro e o que é falso, você finge para si tentando fazer de conta que não liga para o que digo, mas guarda cada palavra que sai da minha boca... Se você se incomodasse tanto com essa minha atenção que é empurrada por sua garganta, já teria me dado o que quero desde o inicio, mas você não faz isso, só fez com que essa minha obsessão aumentasse.

Minhas palavras jogavam toda aquela amargura de volta para ela, esperei alguma resposta grosseira, esperei por qualquer reação agressiva, mas ela não veio.

Anne fechou os olhos, deu um longo suspiro, provavelmente tentando se acalmar, tentando encontrar alguma forma de firmar os pés no chão e manter o controle. Vendo-a daquele jeito não pude evitar sentir-me mal, tudo que eu havia dito era o que pensava, era o que eu sentia, mas dizer da forma que foi dito foi algo ruim. A frieza e a amargura, já não estavam comigo então não tive no que manter-me firme.

A veracidade das minhas palavras não valiam nada sendo ditas para o silêncio, a verdade das minhas palavras não eram nada se não havia ninguém para ouvi-las, eu estava sozinho, quase não podia ouvir a respiração controlada de Anne, não via seus olhos monótonos, não ouvia palavras grosseiras e não sentia suas amenidades.

Não adiantaria sair daquele quarto como se não estivesse sentindo nada, com um sorriso no rosto e esperar que no dia seguinte tudo já tenha sido esquecido, ou que se resolva com um pedido de desculpas como na ultima vez... Mas, não sou bom com pedidos de desculpas.

Aproximei-me observando seu rosto tenso e a abracei, levantei-a da cadeira e pude ouvir o ofegar assustado. Eu também estava assustado, mas talvez aquilo funcionasse.

Todos pareciam gostar desses gestos, dessas aproximações. Anne não é como as outras pessoas, sei muito bem disso, mas eu nunca quis tanto estar perto de alguém como quero ficar perto dela, e esse abraço poderia ser coo um aperto de mão, como um gesto para selar um acordo.

Anne sequer se mexia, eu tentei tornar aquilo algo normal, mas era estranho de uma forma aconchegante; podia sentir o cheiro suave do cabelo dela, podia sentir como seu corpo era delicado e podia sentir sua respiração. Aos poucos nos adaptamos aquela nova situação, algo que já tinha significado criou forma.

Quando senti os braços em volta do meu pescoço e a perda gradativa de tensão em seu corpo, percebi que ela havia aceitado uma trégua, que ela sabia o significado de cada sinal, sabíamos nos comunicar sem palavras.

Fechei meus olhos e me permiti não ouvir nada, não sentir nada que estivesse fora daquele abraço, e naquele momento perguntei-me se minha busca era tão importante assim, questionei a importância de saber decifrar alguém, de tornar pessoas previsíveis, manipuláveis e fracas... Tudo era muito confuso, não valia a pena perder aquele momento com minhas indagações.

Senti Anne mover-se bruscamente, como se tivesse levado um susto e virei-me ainda segurando-a dela cintura.

_E que... Vocês podem descer, eu já preparei tudo._ Senhora Hill falou nos olhando como se fosse algo impossível, uma miragem. Depois ela sorriu e desceu as escadas

Anne olhou-me e eu pude ver de perto seus olhos, eram ainda mais bonitos de perto... Perguntei-me se conseguiria alguma forma de passar aqueles olhos para uma tela, passar aquele tom.

_Pode me por no chão?_ Ela perguntou dando um pequeno sorriso.

Coloquei Anne no chão e olhei pela janela, em minha mente havia se passado muito tempo, mas pela claridade do lado de fora não devia ter passado nem uma hora.

O resto da tarde passou rapidamente.


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Notas finais do capítulo

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