Ao final do dia tinha a fila para o banho, no meu caso tinha uma hora reservada para mim, mas para os outros não, eles tinham que banhar-se rapidamente, tinham que pegar os restos de sabonetes e ainda haviam os estupradores. Aquele era um momento em que os enfermeiros não ficavam muito presentes, eles andavam a certa distancia e falavam de assuntos paralelos, por isso era a hora em que mais aconteciam as brigas.

Tenho que dizer que o centro psiquiátrico se assemelha muito a uma prisão convencional, de pessoas sãs, só que aqui é muito pior, mesmo com os medicamentos. Não pode haver distrações, qualquer medicamento que for entregue a pessoa errada pode acarretar em um massacre. Cada um usa um tipo de remédio, um tipo de sheik químico e se a pessoa errada tomar um sheik mais fraco... Todos correrão riscos.

Vivemos num tipo de sociedade reclusa. O diretor da clínica é o nosso presidente, nosso czar que nos mantém presos nesse feudo, os enfermeiros são nossa policia, servem para nos manter protegidos (de todos e de nós), mas alguns também são corruptos...

Nós somos o povo, temos nossos lideres, desigualdades e exclusão.

Os neurologistas e outros corvos brancos são como nossas crenças, nos desafiando, tentando tirar-nos algo, nos fazendo cair em contradição, nos afogarmos em nossos sonhos.

Mas eu não tenho crenças...., Penava eu quando voltei a realidade.

_Como vai?_ A doutora perguntou tentado parecer contente.

_Bem.

Ela tirou uma prancheta da bolsa e uma caneta, perguntei-me se ela havia desistido das telas.

_Vamos da uma adiantada nas sessões._ Ela disse girando a caneta nos dedos.

Aguardei por mais informações e ela aguardou analisando-me.

_Vamos lá_ Falou quando desistiu de esperar-me e começou a olhar as folhas presas na prancheta._ Se quiser se sentir mais a vontade, pode fechar os olhos._ Concluiu um pouco receosa.