P.O.V Lize

Acordei bastante desnorteada, devo confessar. Olhei para o lado e meu celular tocava sem parar, meu alarme provavelmente, peguei meu celular na maior preguiça e desliguei o alarme.

Virei-me novamente, estava muito cansada. Esse negócio de trabalhar é cansativo mesmo, mas enfim, resolvi me levantar depois de 10 minutos, apenas parada, deitada de barriga para baixo, com o rosto enfiado no travesseiro, a vida real chama certo?

Me levantei prendendo o cabelo num tipo de coque esquisito matinal, e peguei uma roupa separada ali e fui tomar meu banho, não demorei muito porque eu sabia que em muito pouco tempo JJ estaria batendo histericamente na minha porta e eu não queria isso. De modo algum, eu não costumo ter uma paciência muito grande de manhã, mas também não queria brigar, só queria voltar para... Será que eu poderia dizer “casa”? Acho que dizer casa é um pequeno erro, nunca chamei nenhum lugar de casa, ou lar porque eu nunca pertenci a nenhum lugar de fato. Mas só queria voltar.

Saí vestida do banheiro, e resolvi arrumar a mala, ou melhor, arrumar o resto que faltava, odeio arrumar malas, que preguiça. Joguei tudo de qualquer jeito, não entendo, pra que arrumar se vai ficar bagunçada de qualquer jeito?

Enquanto eu arrumava a mala, como eu imaginava JJ começou a bater nela, já gritando meu nome, ah, resolvi abrir logo antes que ela derrubasse a porta e chamasse os seguranças para me tirar da cama. Ri internamente com aquele pensamento e fui abrir a porta rapidamente, ela me olhou um tanto surpresa e usava um óculos de sol, entrando no quarto.

– Que milagre foi esse? – Ela perguntou.

– JJ, cale a boca e me ajude a fechar essa mala aqui – Pedi e ela riu concordando e fechando a mala sem nenhuma demora ou tanta força, ela era definitivamente acostumada com aquilo, comigo era tipo qualquer mochila e jogar algumas coisas e cair na estrada.

– Você vai levar as coisas assim? – Ela perguntou se referindo às roupas jogadas na mala, e eu concordei.

– Não vejo um ponto certo para dobrá-las, elas vão ser bagunçadas de qualquer maneira – Retruquei e ela riu concordando e me dando a mala.

– Vamos, vamos embora daqui – Ela falou me olhando de uma maneira esquisita, pelo que eu percebi, JJ estava preocupada, mas sobre o quê?

– Pensei que nunca iria perguntar – Respondi e ela riu andando. Tentei afastar esses pensamentos de mim porque não podiam ser tão relevantes a esse ponto, ou podiam?

Pegamos o elevador rapidamente e quando chegamos lá em baixo, todo o time estava esperando por nós, com suas malas prontas e suas caras matinais, muitas de ressaca ali, principalmente Garcia que estava quase caindo ali em cima de Morgan que apoiava ela, e depois ela se apoiou em mim.

– Eu nunca, nunca, nunca vou beber novamente – Ela afirmou apontando para o time que estava de olho nela, eu sem pensar muito, ri.

Todos depois de um tempo começaram a rir também, apenas Garcia para fazer isso tudo nessas horas.

Spencer de repente chegou do meu lado, ele usava óculos também, todos ali não aguentavam algumas bebidas? Nossa.

Ele se ofereceu para pegar minha mala, mas ele estava tão mal, de ressaca que eu tive de recusar, todos pareciam acabados, menos Hotch, Rossi e eu, o que era engraçado porque todos me olhavam como se eu fosse uma badass ou algo parecido, mas eu não sou.

Hotch por outro lado resolveu pegar a minha mala, ele não é nunca tão gentil, ele simplesmente chegou e pegou a mala da minha mão, eu sei que ele não queria ser malvado, então apenas deixei para lá, o que há demais nisso?

Como sempre me colocaram no mesmo carro que Spencer, mas ele estava tão cansado e de ressaca que não falou nada, tentou puxar conversar sobre qualquer coisa, mas nem ele estava com o raciocínio no lugar então calou a boca.

Depois de muito tempo chegamos ao aeroporto e fomos direto para nosso jatinho que não demorou muito para decolar.

Todos entram primeiro que eu, então sempre conseguem pegar os melhores lugares, os reservados, eu fiquei na janela novamente e quem sentou de novo ao meu lado foi Spencer que tinha essa expressão no seu rosto, estava cansado e aparentemente não lembrava de que havia me beijado no dia passado, o que era completamente engraçado.

– Então, você pediu para eu te perguntar depois de uns dias - Ele começou a falar, sua voz estava praticamente arrastada e ele estava com a cabeça recostada na poltrona. Eu fiquei confusa sobre aquilo. – Você vai ficar no BAU? – Ele perguntou percebendo minha expressão confusa, eu ri com aquilo, não sei como ele lembrava.

– Aparentemente sim, Reid – Eu respondi curta, e ele riu também o que era algo incrível, ouvir Spencer rindo de alguma forma era reconfortante, não iria durar, e também sei que esse tipo de coisa eu nunca devo nutrir mas sei lá, apenas hoje posso me dá por vencida e me deixar escutar essa risada sem me recriminar a cada minuto.

– isso é bom – Ele disse fechando os olhos, eu o olhei e sei que ele percebia que eu o olhava, na verdade, eu mudei toda minha posição para encará-lo.

– E é? E como é bom? – Eu perguntei arqueando as sobrancelhas, todos no ali já estavam dormindo então tínhamos que falar baixo.

– Gosto de ter você por perto, Lize. Só isso – Ele respondeu abrindo os olhos e encarando qualquer outro lugar, eu apenas ri e abaixei o olhar depois de um tempo, não sei, não acho que conseguia olhá-lo e não pensar...

Então para amenizar tudo o empurrei de leve com o ombro e ele me olhou rindo também.

– É bom ser gostada em algum lugar, para variar - Eu falei enquanto encarava a vista linda que eu tinha da janela, não tenho certeza se Spencer escutou, eu rezei para que ele não tivesse escutado porque sei lá, não me parecia algo que ele devesse escutar.

Quando voltei à realidade a minha volta, percebi que Spencer já dormia e que ele estava caindo no meu ombro já, então de repente, ele simplesmente caiu no meu ombro e ficou deitado lá, e sem perceber acabou se acomodando na poltrona e colocou seu rosto praticamente enterrado no meu pescoço. Eu tentei conter o sorriso, mas, foi inevitável, sei que Spencer não se lembrava do que fez na noite passada sobre o beijo, mas eu sei que eu gostei de alguma forma, era simplesmente horrível você sentir as coisas, queria poder apagar isso de mim porque ele não pode se machucar, ele simplesmente não pode, ou pior, eu não posso machuca-lo, sei que preciso pôr um ponto final nisso, até porque sei o tipo de pessoa que eu sou, mas como? Spencer arrumava todas as maneiras possíveis para me trazer de volta, eu simplesmente não sei lidar com isso, com toda essa aproximação, não fui criada assim.

De novo o olhei ali dormindo profundamente, imagino o que ele esteja pensando, é simplesmente impossível não o olhar ali, respirei fundo afastando todos esses pensamentos, me recrimino de qualquer maneira porque não posso machuca-lo, ele é apenas... Bom demais para isso.

Encostei minha cabeça na janela e fechei os olhos, tentando descansar um pouco, mas como sempre expulsando esses malditos pensamentos.