P.O.V Lize

Saímos rapidamente daquele café e fomos traçando nosso caminho de volta para o hotel, eu sabia que JJ irei matar o coitado do Spencer se não tivéssemos ido rapidamente, Spencer estava tagarelando sobre qualquer coisa, mas de novo aquela sensação, não consigo não parar de sorrir quando ele fala, mesmo ele falando coisas que não fazem o menor sentido para mim. É terrivelmente bom essa sensação, mas não é pra mim... Tudo isso, nada disso é feito para mim. Eu sei meu lugar no mundo e isso tudo é apenas uma ilusão e eu nunca vivi de ilusões, sempre fui muito pé no chão ou o mundo me ferrava.

O olhar de Spencer no mundo é tão diferente do meu, okay, ele teve seus problemas, você pode ver isso de longe ou apenas de convivência, ser um garoto prodígio não deve ser nada fácil e tirar pelo fato que ele não falou da mãe, ou de qualquer parte da família dele nessas conversas da gente, torna-se bem mais claro que nada foi fácil.

Para falar a verdade, nada é fácil pra ninguém nessa vida. O jeito é continuar indo em frente e apenas em frente. Mas eu não acho que ele conheça de fato esse olhar inteiro que eu tenho sobre o mundo, mas acho fascinante o jeito que ele olha, e sabe das coisas. Eu na maioria das vezes não entendo, mas gosto de ouvir ele falar.

Preciso parar com isso, preciso tirar esses pensamentos de mim, a única prejudicada será eu, ou melhor, ele. Não sei. Ainda não decidi quem iria se machucar, mas eu não posso ser assim, não posso olhar para ele, sorrir igual uma idiota, não sou uma porcaria de adolescente que acha que amor existe, e que há magia no mundo e que tudo vai ficar bem quando ele/ele estiver lá, essa coisa simplesmente não existe. Existe pessoas realistas, como eu.

Chegamos lá rapidamente, mas não me pareceu tão rápido, Spencer falava e eu apenas sorria. Não sei.

Assim que chegamos JJ estava na porta me esperando, Praticamente me puxou para fora do carro, e eu a agradeci mentalmente por aquilo, olhei para Spencer que ria de tudo aquilo, daquele desespero, nem eu mesma estava entendendo a situação.

Assim que chegamos no quarto de JJ, ela jogava uns dois vestidos que ela havia trazido na sua mala, e eu me perguntei mentalmente se era para eu trazer vestidos porque não trouxe.

JJ mostrou um vestido preto, meio diferente para ela, e um azul que era algo mais “sweet”. Ela experimentou os dois, eu não sabia de como dar opinião naquilo. Nunca me preocupei sobre isso. Mas tudo bem, escolhi o azul porque parecia mais sua “praia”.

– E sobre o seu vestido? – Ela me perguntou enquanto colocava os seus brincos, eu estava sentada com os pés em cima da mesa que tinha ali.

– Oh, eu não vou – Falei e ela me olhou meio chocada.

– Mas por quê? – Ela me perguntou. Eu apenas dei de ombros. – Ora, Lize, eu sei que você ama festas.

– Apenas não quero ir, JJ – Eu respondi dando de ombros. Festas me amam, festas era tudo que eu conhecia de fato, mas isso é tão diferente de tudo que eles sabem de mim.

– Por favor, vamos – Ela pediu com jeitinho, eu apenas ri e fechei os olhos. – Por favor- Ela reforçou e veio até mim, me cutucando, me pedindo. Sei que ela não iria parar até eu dizer que iria pelo menos passar lá.

– Tudo bem, tudo bem – Eu falei e ela parecia uma adolescente, deu um gritinho e bateu palmas.

– E com que roupa você vai? – Ela me perguntou e eu dei de ombros e apontei para minha roupa.

– Isso – Respondi.

– Isso? – Ela perguntou novamente. Eu concordei com a cabeça. – Use esse, eu trouxe pensando em você de qualquer maneira – Ela falou jogando o vestido em mim, toda feliz. Não queria desapontar JJ, pelo menos não agora, ela saberia sobre minha verdade, de qualquer maneira. Mas não queria desapontar ela esses dias. Sei lá. Não sei o que diabos eu estou fazendo na maioria das vezes, mas tudo bem.

– Vou para o meu quarto – Falei pegando o vestido e saindo.

Fui para o meu quarto, tomei um banho rapidamente e troquei de roupa, o vestido ficou meio colado em mim, mas deixei para lá e não liguei, terminei de me arrumar, e refiz a mala novamente para ficar tudo pronto pra amanhã de manhã, e saí do quarto, e fui lá pra baixo, pra o saguão onde estava cheio de pessoas desconhecidas, policiais comemorando mais um caso encerrado, eu caminhei entre eles, e ouvi alguém gritando por mim, era Morgan e então fui na mesa deles, eles sorriam para mim e eu resolvi fazer o mesmo.

Assim que eu cheguei lá, Morgan começou seus comentários.

– Oh, baby... Você está... – Ele não completou a frase, apenas assobiou.

– Babaca – Eu falei e todos nós rimos na mesa.

– Eu não sei o que seu namorado aqui irá achar desse comentário mas você está absolutamente fabulosa hoje, Lize – Rossi me elogiou já bebendo, Spencer parecia ter ficado com vergonha daquilo, já me acostumei com todo mundo falando sobre isso, Deus sabe lá porquê.

– Só hoje, Rossi? – Reclamei e todos riram. – Obrigada – Agradeci e ele concordou com a cabeça. Os homens pediram Whisky, já JJ, Garcia e Emily pediram um coquetel, e eu teria que pedir meu velho e bom Whisky.

Assim que nossas bebidas chegaram, eu bebi num gole só. E Rossi ficou olhando para mim, rindo. Ele gostava de tudo aquilo, ele apreciava uma boa bebida.

Depois de um tempo eles começaram a conversar sobre coisas aleatórias, eu arrumei uma bela desculpa para sair dali de uma vez, e resolvi ir para o telhado do prédio, mas antes tive a decência de roubar alguma garrafa de qualquer bebida que vi pela frente, fiquei sentada no parapeito do telhado, perigoso eu sei, mas achei besteira aquilo, sempre fiz isso. Assim que eu peguei o celular, batia ali 5h da manhã.

Fiquei observando ali olhando para baixo o movimento que havia ali, a cidade. Era algo tão lindo de noite, fazia você pensar em tudo. Peguei minha bebida e tomei um pouco.

– Se importa se eu sentar? – Alguém abriu a porta do telhado e sentou ao meu lado. Era Spencer. Já imaginei isso. Eu o olhei e dei de ombros. Aquele silêncio constrangedor.

– Bebida? – Ofereci e ele negou, eu dei de ombros e bebi.

– Tão forte – Ele comentou.

– Pensei que iria falar ousada, mas tudo bem – Retruquei e ele riu.

– Por que aqui? – Ele perguntou se referindo ao telhado.

– Porque é lindo – Respondi dando de ombros e ele sorriu, o que me fez sorrir também.

– Gosto do seu sorriso – Ele confessou e eu apenas fiquei sem ter o que dizer. Não sei se isso é certo, não quero ferrar com Spencer, ele é um cara legal e eu apenas sou... Elizabeth Stonem. Ele nunca vai conseguir algo a mais comigo, nunca vai conseguir...Apenas não.

– Está é sua melhor cantada, Reid? – Brinquei tentando deixar as coisas menos constrangedoras.

– Suponho que sim – Ele respondeu e riu.

– Por que me beijou, Lize? – Ele perguntou novamente enquanto eu bebericava um pouco da minha bebida.

– Estou começando a achar que você não queria mesmo que eu tivesse feito isso – Respondi sincera, mas em um tom brincalhão. Estava um tanto curiosa sobre todas aquelas malditas perguntas.

– Não, não é sobre o beijo, eu queria muito que você tivesse feito aquilo, e você fez, mais corajosa que eu mas... – Ele falou e depois percebeu o que estava falando e parou rindo de si mesmo.

Eu ri daquilo, foi engraçado, foi a primeira vez que alguém ficou nervoso só por...Não sei.

– Você está bêbado, Spencer – Eu afirmei rindo.

– Pode ser – Ele parou do nada e me olhou. – Mas não quero me arrepender de não ter usado isso como uma desculpa - Ele falou e quando eu me virei para rir dele, ele apenas me agarrou, literalmente, se estivéssemos sentados na parte de fora do parapeito, apenas se apoiando, estaríamos mortos agora, mas como estávamos dentro, ele se apoiou na barra que tinha perto dele, e me beijou intensamente, não foi como o primeiro beijo, não foi algo calmo. Esse beijo era algo desesperador, Spencer tentava provar algo enquanto me puxava para frente, ele estava fora de si, de fato, mas não tanto assim. Spencer me parece um cara centrado, não posso fazer isso com ele. Eu não sinto nada, e não posso, e é assim que tem que ser. “Ninguém quebra meu coração” é assim que foi, é assim que vai sempre ser. Sempre fui fria e calculista e isso é bom, isso é uma coisa boa, algo que o mundo me deu. Não dá pra ser boazinha esses dias, ou você está muito ferrada. Mas Spencer... Ele traz o pior de mim.

Afastei gentilmente Spencer de mim, e tentei sorrir por mais confusa que eu estivesse naquele momento.

– Não vá fazer algo que depois se arrependa, Reid – Brinquei e ele riu.

– É, estou bêbado – Ele afirmou e eu ri.

– É, você está... Agora vamos, tenho que levar você para seu quarto antes que faça besteiras por aí – Eu falei enquanto saia do parapeito e ajudava ele a se levantar para sair comigo, ele se apoiou um pouco em mim enquanto saímos do telhado e pegamos o elevador, chegamos rapidamente no corredor do quarto da gente, enquanto eu ia deixar Spencer no quarto dele ele falava umas besteiras, coisas sem sentido para mim mas que era divertidas de ouvir.

Assim que eu cheguei no quarto, tateei no bolso de Spencer a chave e abri a porta, assim que chegamos, ele se deitou na cama enquanto eu joguei a chave em qualquer lugar e iria saindo.

– Lize? – Ele me chamou. Parecia uma criança naquele momento, eu me virei para ele sussurrando um “huh?”. – Você ficaria aqui comigo? – Ele perguntou ligando a TV no canal que passava Doctor Who, e abriu espaço na cama, ele estava muito bêbado e talvez eu ficasse por um tempo só para ele dormir e calar a boca, me sentei ao lado dele na cama enquanto ele falava algumas coisas sobre Doctor Who que para mim perderam o sentido, mas que eu talvez não devesse levar à sério, Spencer estava bêbado, mas era engraçado. De repente ele parou de falar as coisas, olhei para ele e ele dormia calmamente, já vi que essa era minha deixa, me desencostei da cama e o olhei antes de sair.

– Boa noite, seu bêbado amador – Eu sussurrei achando aquilo engraçado. Assim que cheguei no meu quarto, tomei meu banho e fui dormir. Estava apenas cansada de tanta merda que eu ando fazendo.