O mundo contra nós. escrita por Hippie Anônimo


Capítulo 6
Acorde




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–Acorde! ANA CARALHO, ACORDA! – Disse Nicolas balançando minha cabeça, demorei um pouco para processar essa informação.

Estávamos em um carro, eu estava deitada sobre Nicolas no banco de traz, achei aquilo meio estranho mas eu nem liguei tanto assim, não estava entendendo o que havia acontecido e ainda estava meio sonolenta, olhei para os lados, vi luzes das estradas passando rápido, me sentei e olhei para o motorista, era o Breno, estávamos no carro dele indo pra sei lá aonde, senti cheiro de cigarro assim que me aproximei dele. Olhei para o banco de passageiro da frente e Emmy estava lá, encolhida, como se tivesse chorando.

Encostei a mão no ombro dela.

–Emmy, você ta bem? Sou eu a Ana.

Mas ela não olhou.

Parei alguns segundo e olhei para Nicolas, ele estava com as mãos sobre o rosto do tipo “não acredito no que está acontecendo”. E perguntei:

–O que aconteceu? Só me lembro que estávamos no shopping e...

De repente o carro freia com tudo, Emmy levou um susto. Breno e Nicolas estavam quietos até de mais, Breno desceu do carro, deu a volta, abriu a porta de Emmy e foi correndo até o porta-malas do carro, em seguida Nicolas abriu sua porta e eu a minha, saímos do carro e eu fui até Emmy, ela estava assustada , pensei ''Meu Deus...'' e a abracei com força, como se fosse necessário, demorou mais do que o normal, ela se aliviou, suspirou e esfregou os olhos, ela estava obviamente assustada, e eu também estava. Ainda sem ninguém falar nada, segurei a mão de Emmy e fui até a parte de trás do carro, Nicolas pegou minha mochila e a de Emmy, Breno saiu com cara de sério, notei tarde que estávamos na frente do prédio dele, era pequeno, uns 6, 7 andares. Ele foi entrando na frente, abrindo o portão com a chave e esperou a gente entrar, apressei o passo e entrei. Havia um elevador logo a frente e a esquerda escadas, mas Breno foi correndo pelas escadas sem nem esperar ninguém, eu e Emmy fomos logo atrás. Nicolas também foi correndo, parecia a coisa mais importante do mundo chegar lá e eu nem sabia em que parte de São Paulo estávamos, fui me tocando disso em quanto subíamos as escadas, eu estava com Emmy num lugar desconhecido no apartamento de um amigo maior de idade que fumava e bebia, e além disso tudo meus pais nem estavam em casa, e provavelmente não me ligariam tão cedo para saber se eu estava bem.

Chegamos no tal andar, Breno parecia puto da vida com o que estava acontecendo, abriu a porta do apartamento com muita estupidez, ele entrou lá dentro e fechou a porta com força nos deixando do lado de fora, Emmy se assustou, não queria entrar lá. Ouvi Breno gritar com raiva, ficou Nicolas, eu e Emmy ouvindo ele lá dentro gritando e jogando coisas no chão, olhei para Nicolas esperando respostas, mas ele desviou o olhar para a escada e olhou para o chão.

–Nicolas, o que esta acontecendo? Por favor, fala logo.

Breno voltou, com uma cara mais calma, abrindo a porta. Nicolas já foi entrando para evitar mais perguntas.

–Desculpe é só que... Só entrem, não reparem na bagunça.

Emmy puxou minha mão de leve, eu olhei para ela e ela sussurrou “Eu não quero entrar” Breno ouviu e se abaixando até a altura de Emmy disse:

–Tem doce lá dentro se você quiser Emmy... Mas é sério, não sou um cara mau, estava nervoso só isso, pode confiar em mim, vocês duas. –Disse olhando para mim.

Fui entrando meio desconfiada olhando as coisas dele em quanto andava, havia varias coisas legais como esculturas de personagens de jogos e HQ’s em um estante, disco de vinil, jogos de vídeo-game em outra, puff’s estampados num canto sem utilidade, um tapete grande de zig-zag e bastante bagunça. Não havia sofás, isso não era normal para mim, havia uma cama de casal num canto com uma TV de LED grande na frente -coisa típica de quem mora sozinho- uma porta do lado, uma janela grande e um armário, a cozinha ficava ao lado esquerdo da porta de entrada, mas o legal foi que além de ser pequeno e bagunçado tudo era bem moderno e diferente, aquilo me confortou.

Nicolas estava no banheiro, Breno pegou um pacote de bolacha para Emmy, e ela me ofereceu uma. Nicolas voltou, pegou os puffs e colocou perto da cama. Me ofereceu para sentar como se eu estivesse num restaurante , preferi ficar em pé. Emmy se sentou no puff comendo outra bolacha. Breno e Nicolas também ficaram em pé, Nicolas estava de braço cruzado encarando Breno.

–Ok, após uma crise de silêncio, acho que vocês já podem me falar o que aconteceu né? -Falei

–Zumbis. -Disse Nicolas.

–Haha, sei. –Cruzei os braços e virei o rosto.

–Sabe o que aconteceu? isso aconteceu!

Ele foi até Emmy e levantou a manga do casaco dela.

–O que você está fazendo?! –Disse brava me aproximando.

Emmy estava com um machucado, estava com gaze enrolada logo abaixo do ombro. Parecia muito feio, mas ela não parecia ligar tanto. Ela olhou para mim como se tivesse aprontado, ela parecia bem, mas eu ainda não estava entendendo.

–Cara, isso é o inicio dos zumbis! Relaxa, não é mordida, é um corte de faca. –Disse Nicolas de um jeito super ignorante.

–O QUE?! Vocês a deixaram ser esfaqueada e agora fica colocando culpa em zumbis? Eu vou embora agora! Meus pais vão me matar cara.

–Eu estou bem Ana, sério mesmo. –Disse Emmy tentando me acalmar.

–Para de gritaria Anabel, ele não está de brincadeira. –Falou Breno.

Fui até a grande janela e olhei para a rua, só tinha umas pessoas colocando alguma coisa no porta-malas do carro.

–Nossa quantos zumbis! Acho que precisamos de um exercito de coelhos e bichinhos de pelúcia. –Nicolas voltou a cruzar os braços e resmungou algo. – Aff Emmy, vamos embora.

Breno foi até a porta e ficou parado na frente, ele não iria me deixar ir tão cedo.

–Me ouve Ana, você não sabe o que aconteceu, deixa a gente explicar e te prometo que iremos ver como sair dessa.

–Sair de onde? Do seu apartamento? Que tal pela porta que você está bloqueando? Vou ligar pra policia se você não sair, eu nem te pedi para vir aqui!

–EU salvei sua vida porra! Um cara infectado apontou um revolver na sua cabeça, ele estava obviamente infectado, ele era o cara que tentou roubar o famoso ultimo galão de água do supermercado e queria te matar para conseguir tal coisa, e eu o herói aqui pegou um rádio e meteu na cabeça do infeliz, DE NADA! A desgraça dos policiais também nem agradeceram, queriam me prender por ter metido o rádio na cabeça dele, dai eu tive que correr com você nas costas que nem um filme de guerra pra pegar meu carro e vir pra cá, mas acontece que estava cheio de loucos na frente do shopping, quebrando os carros como se fosse algo necessário, mas já que eu estaciono o carro atrás do shopping não tinha tanto movimento. O caminho estava muita confusão, já que existe outro supermercado do lado de fora do shopping que tava cheio de gente, pior do que no shopping, aquilo sim estava lotado, mas já que eu tive que salvar sua vida alguém teve que olhar a pequena Clementine, então não sei o que aconteceu, mas o Nicolas deixou ela ser esfaqueada por um louco querendo roubar as mochilas, teve sorte que foi bem de leve. Chegando ao meu lindo e humilde Fiat, tive que limpar e fazer um curativo nela, eu entendo um pouco disso e sempre levo um kit de primeiro socorros no carro, tenho um aqui também. Mas enfim, o mais duro foi fazer sua irmã parar de chorar, afinal, não é todo dia que crianças são esfaqueadas por causa de mochilas. O caminho foi de boa, o problema foi o transito, e sobre os celulares, nenhum tem sinal. – Ele suspirou – Lamento Ana.

Eu não tive reação de imediato, eu não tinha entendido direito, não sabia o que fazer, mas eu de alguma forma fiquei aliviada, o abracei com vontade de chorar, não sei o porquê fiz aquilo, foi estranho e ao mesmo tempo reconfortante, afinal, ele se importou comigo e com minha irmã.

–Tá, OK... – Disse Breno se afastando.

– Desculpa, é... Bom, acho que teremos que fazer um plano ou sei lá o que. Eu tenho que ir pra casa, e o Nicolas para a casa dele. –Falei tentando trocar de assunto.

–Finalmente, obrigado por me incluírem nessa.- Disse Nicolas

Emmy se levantou do puff e vai até nosso “circulo” de conversa.

–Posso ligar a Tv? -Perguntou Emmy já se sentindo a vontade.

Nós se olhamos e Nicolas colocou a mão no rosto, como nos esquecemos de ver a TV? Breno foi andando pelo apartamento procurando algo, abriu o armário e tirou de lá um controle, apontou para a TV e selecionou na Rede Globo.

As notícias não eram muito boas:

–Estamos agora sobrevoando a Avenida Paulista onde um grande desastre se encontra. Parece que algum tipo de doença afetou grande parte da América Latina. Não temos noticias da parte norte do continente, mas isso com certeza gerou várias mortes nessas ultimas horas aqui no Brasil. O Governo entrou em contato conosco rapidamente após os primeiros indícios nas capitais sobre essa doença misteriosa. Vamos repassar em breve a mensagem obrigatória. Essas tais pessoas apresentam aparência fraca e pálida. Os primeiros sintomas são bem semelhantes ao resfriado ou virose. Evitar qualquer contato, buscar ajuda médica... –Dizia a repórter.

Ouvi um alarme de carro logo seguido por um grito de susto bem baixo em algum do prédio.

–Mas... O que é isso Ana?! –Disse Emmy interrompendo.

–Meu Deus, eu não sei...

–Hum, eu sempre soube o que era. –Disse Nicolas

–Silêncio! É só um alarme de carro...–Falou Breno indo fechar as cortinas.

–...O governo garante que este é um evento rápido e que estão controlando a situação e pedem o apoio da população para que não gere mais dificuldades, repetindo, este é um evento rápido e está sendo controlado. Caso aviste alguém atacando ou destruindo algo evitar contato a todo custo, e espere a ajuda vier. Estocar comida e água é algo de muita importância, tranque as portas e janelas de sua casa, fique em segurança. Ligue 190 em questão de extrema emergência...

–Como alguém vai ligar pro 190 se os telefones nem estão funcionando?! -Eu disse.

–...Busque assistência em...

E então a energia acabou.

–ANA!

–Calma Emmy, vem cá. –Eu disse com uma voz calma, mas eu estava era me cagando de medo.

–Aff, vou pegar a lanterna. - Disse Breno se distanciando, dava apenas para ouvir seus passos.

–Então... ZUMBIS! Como eu disse. Vai ser muito legal! Eu sei que eu vou morrer mas eu vou durar um pouco pra contar a história.

–Vai se fuder idiota! –Respondi com ignorância para ele calar a boca.

Depois de alguns segundos conseguia ouvir pessoas discutindo em algum lugar de prédio muito de leve, ouvia também o barulho de Breno na cozinha procurando a tal lanterna. Levei um susto com a luz dela de repente na minha cara. Ele veio em nossa direção com mais duas lanternas e um tipo de lâmpada com um gerador, uma geringonça super improvisada, ele colou o teto e funcionou como uma luminária.

–Foi você que fez? –Perguntou Emmy

– Sim, sempre acaba a luz aqui. Nicolas, pega sua mochila. –Disse ele.

A discussão no tal lugar com tais pessoas estava mais alto. Nicolas foi pegar sua mochila .

–Quem esta brigando?

–São um casal no andar de baixo, gente boa mas sempre brigam. –Respondeu Breno na maior tranquilidade do mundo.

–Tá na mão, você quer o manual né? –Falou Nicolas colocando a mochila em cima da cama.

–O que? –Perguntei. - Gente, estamos num desastre de escala gigantesca! Por que vocês estão tão calmos? Vamos pra minha casa, por favor. Meu pai já chegou do trabalho e ele deve estar surtando com tudo isso, caso não tenham notado minha irmã esta aqui! E se algo acontecer com ela?! Hem?

–Ana, você sabe como o Nicolas é com essas coisas de zumbis. Esse é um manual de sobrevivência um pouco modificado, eu ajudei ele a fazer algumas partes...

–Que? Vocês piraram de vez? Vocês nem sabem se são zumbis.

–Tá, só ajuda a gente a sair daqui e ir pra minha casa e depois vamos direto pra sua, pode ser? –falou Nicolas.

–Pode, eu acho. Mas ajudar com o quê? –Perguntei mais tranquila.

–Primeira etapa do manual é estocar água, pegar algumas comidas, mapas e essas coisas assim.

Cada um pegou sua mochila, até Emmy pegou a dela com a dignidade de participar da ‘brincadeira dos mortos-vivos’. Deixei ela segurar a lanterna para que eu pudesse abrir aos compartimentos da minha mochila, Breno e Nicolas já estavam pegando coisas de um armário que ficava no fundo da cozinha com muita rapidez.

–Gente, pega tudo. Por enquanto não precisamos só de enlatados. -Falou Breno enquanto pegava um pacote de macarrão.

Bufei e cruzei os braços com minha mochila em um dos ombros enquanto Emmy apontava a lanterna na direção deles, eles nem precisavam da minha ajuda e eu estava doida para ir embora.

–Me fala as outras coisas da lista que eu procuro por aqui.

–Já estamos acabando, mas pega lá no banheiro o que você achar melhor.- Falou Breno.

Peguei a lanterna de volta e fui até a porta que ficava do lado da janela. Olhei com a lanterna até dentro do box procurando algo útil, mas não tinha nada. Abaixo da pia tinha um narguilé, mas achei melhor nem tocar naquilo. Achei alguns cigarros e um isqueiro, pensei que deveria ser aquilo que ele queria. Sai do banheiro e a Emmy estava olhando pela janela, por um momento esqueci que poderíamos estar num apocalipse e então me assustei com o que ela provavelmente estava olhando.

–Emmy sai da janela! –Falei olhando também.

Tinha algumas pessoas cercando um carro de policia, como se quisessem entrar nele ou ver o que estava acontecendo, a luz do céu limpo que estava aquela noite iluminava bem a rua, dava pra ver que havia gente saindo de suas casas e provavelmente indo para outra cidade ou algo do tipo. Nem pude raciocinar o que estava acontecendo quando alguém bateu na porta varias vezes com certo desespero, eu levei um susto muito grande que quase achei que meu coração ia sair pela boca. Por uns segundos todo mundo ali dentro parou de fazer barulho, só dava para ouvir a tal pessoa batendo na porta, Emmy já estava entendendo o que estava acontecendo.

–Ana, quem é?- falou sussurrando desligando a lanterna.

–Seja quem for vamos embora daqui agora, já cansei de esperar!

–Cala a boca! –Disse Breno com uma voz de sussurro, como se ninguém conseguisse ouvir.

Eu peguei minha mochila mesmo vazia e fui sem Emmy abrir a porta, eu não estava ligando se seria zumbi ou não, só queria ir embora ver meu pai e me mandar pra sei lá onde e já estava decidida que faria aquilo de qualquer jeito. Fui andando até a porta enquanto a tal pessoa continuava batendo agora com menos ritmo. Breno foi à minha frente e destrancou a porta, ele estava com uma lanterna e um martelo na outra esperando que eu abrisse a porta, se preparando para atacar.

Seria agora nosso primeiro zumbi? Eu, apesar de nem acreditar muito nisso e achar loucura estava esperando que fosse, queria ter a sensação... Como se fosse algo divertido.


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Notas finais do capítulo

Sera?



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