Kenshin abriu os olhos de cor púrpura, calmamente.

Sentiu os olhos arderem enquanto a pupila se acostumava com a claridade. O gosto ruim em sua boca lhe dava a ideia de que permanecera ali durante muito tempo. Sua força não havia voltado completamente, na verdade estava longe de uma forma física adequada, mais conseguiu erguer-se na cama. Correu os olhos por todos os cantos do quarto onde se encontrava afim de descobrir se era velado por alguém. Percebeu que estava sozinho naquele lugar.

O quarto era pequeno. À sua direita, um pequenino armário estava fechado. Era feito de uma madeira aparentemente bem tratada e tinha uma tranca dourada e imponente na portinhola frontal. Continuou a observar os móveis do quarto e pôde distinguir, no canto oposto ao qual se encontrava, o objeto que originava o tic-tac que percebera durante aquele estranho sonho.

Estava sobre um mesa de carvalho. Um suporte segurava as 3 bolas de metal que eram suspensas por um fino fio de linha. Nas extremidades outras 2 bolas do mesmo material balançavam e se chocavam contra as do centro, alternadamente. A força da esfera direita passava pelas do centro sem movê-las e impulsionava a da esquerda, que se afastava e retribua o mesma impulso à bola da direita novamente. Cada vez que as bolinhas se chocavam com as do centro, um quase inaudível barulhinho era ouvido.

– Parecia bem mais alto enquanto eu estava dormindo... - Comentou para si mesmo.

Além destes dois detalhes, o quarto no possuía nada de mais. A luz que traspassava pelo filtro claro do tapume que o isolava dos outros cômodos da casa indicava o horário em que ele se encontrava naquele momento. Decidiu se erguer de seu leito afim de descobrir o que havia acontecido após a estranha batalha que tivera dentro do Dojo Kamiya Kasshin, algum tempo atrás.

Todos os músculos de seu corpo estavam doloridos e sem força. Naquele momento ele não podia identificar nenhum grupo muscular do corpo que não doesse bastante ou que pudesse completar a simples porém, naquele exato momento, inatingível tarefa de se erguer e caminhar. Aparentemente não tinha escolha, a não ser a de ficar ali esperando que alguém aparecesse.

Deixou o corpo cair novamente em cima da cama que fora preparada para ele. Não conseguia pensar direito em nada, a não ser na dor incrível que sentia em todo o corpo. A porta do quarto se abriu e por ela, entrou uma bela jovem.

A garota no tinha mais de 20 anos, a estatura era um pouco abaixo da média mas a beleza era embriagante. A face limpa possua traços delicados, o nariz pequeno contracenava com a boca um pouco grande e tentadora e com os olhos castanhos, lindos e brilhantes. O cabelo, de tonalidade levemente avermelhada, estirava-se sobre um kimono feminino muito largo mas que não escondia as formas curvilíneas da moça. Seus seios eram uniformes e hipnotizantes e o restante do corpo era esguio, porém deveras charmoso.

Kenshin estava tão perdido nas curvas da moça que não reparou o enorme sorriso que ela lançou ao ver que ele estava acordado.

– Senhor Battousai. - Disse ela curvando-se respeitosamente. - Que bom que o senhor acordou, já fazem quase quatro semanas que o senhor está desmaiado. Deve estar morrendo de fome, vou providenciar algo para comer imediatamente.

A voz da menina era aveludada e ela parecia realmente muito empolgada em ver que o ruivo estava desperto. Kenshin pensou em agradecer pelo sorriso e palavras bondosas mais antes que pudesse abrir a boca a moça já havia se retirado e deixado a porta aberta. O vão deixado pela porta mal fechada revelava um enorme corredor com algumas outras portas que se estendia até a cozinha da casa. Ao longe, ele pôde ver a menina passar correndo para baixo e para cima com ingredientes e mais ingredientes para o que estava fazendo. Lembrou-se das palavras dela.

"Já fazem quase quatro semanas que o senhor esté desmaiado."

"É possível que eu tenha ficado desacordado por tanto tempo assim?"

Até parecia razoável. O tempo desmaiado se recuperando da perda de sangue e do grave ferimento explicariam a dor muscular e a falta de força que ele sentia naquele momento. Haviam se passado quatro longas semanas desde aquele incidente no Dojo Kamiya Kasshin, mas ele só lembrava de ter fraquejado pela falta de sangue e desmaiado. A garota, por mais empolgada e boa-samaritana que pudesse parecer, jamais conseguiria arrastá-lo até aquele quarto.

O quarto...

Ele não sabia aonde estava e também não tinha a menor ideia de como viera parar ali. Haviam tantas coisas para questionar, tantas explicações para serem buscadas que ele não sabia nem mesmo por onde começar. Fechou os olhos novamente, fraquejando como havia fraquejado no momento em que havia desmaiado, porém foi desperto novamente pela voz da menina que entrou correndo no quarto:

– Senhor Himura... Senhor Himura! Eu fiz uma sopa para o senhor! O senhor precisa se alimentar para... - Ela fez uma breve pausa ao descobrir que havia perturbado o sono do Hitokiri. - Oh... Me desculpe, eu não quis atrapalhar seu descanso, mas o senhor precisa comer para recobrar a sua força. - Comentou, constrangida.

– Não se preocupe... Eu não queria dormir mesmo. Além do mais, você tem razão, eu preciso recuperar minhas energias. - Disse Kenshin, ainda com a voz trêmula e baixa.

A garota sentou-se ao lado da cama de Kenshin e começou a lhe servir a sopa na boca, posto que o ruivo não podia se mexer direito e acabaria fazendo sujeira. A sopa estava agradavelmente quente e Kenshin já se sentiu um pouco melhor depois que terminou com ela. A garota se levantou, calma, e curvando-se respeitosamente pela segunda vez, despediu-se e fechou a porta.

Sem entender o porque de todo aquele cuidado, Kenshin rendeu-se ao cansaço novamente e dormiu, com um sorriso timidamente moldado na face ainda bastante pálida.

CONTINUA!!!