Bakumatsu escrita por Aoshi Senpai


Capítulo 23
O Derradeiro Fim!


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:

"– Exatamente Himura... - Comentou Aoshi, ainda com a voz onipresente. - É a mesma técnica que lhe deu a primeira vitória de nossa história. Desta vez, porém, não deixarei as coisas tão fáceis para vocês...

Kenshin rangeu os dentes com violência, firmando as pernas com força contra o chão de madeira lustrada. Seria agora o momento decisivo da luta. A voz de Aoshi soou uma última vez vinda de todos os pontos da sala:

— Estilo Kodachi Nitou Ryu... Kaiten Kenbu... ROKUREN!"



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Kenshin aumentou a pressão de suas pernas contra o assoalho. Em instantes tudo estaria terminado. Procurou invadir o cérebro de Aoshi e descobrir de onde o outro atacaria.

"Pelas costas, é óbvio..."

Argumentou para si sem mover os lábios. Certamente Aoshi viria do ponto de sua trajetória que fosse o mais complicado para que seu alvo assumisse qualquer posição defensiva, e este ponto deveria ser às costas do inimigo.

Sacou a outra katana com voracidade e a cravou no chão, meio metro a sua frente e na linha diagonal de sua visão atenta. Depois aguardou mais meio segundo antes de sentir o aço gelado da Kodachi de seu adversário tocar-lhe o corpo, correndo da esquerda para a direita à linha central de suas costas. Parou de exercer a enorme pressão que fazia sobre o chão de madeira com suas pernas treinadas e deixou-se levar pela lâmina da espada de Aoshi. Enquanto cortava profundo, a espada curta do moreno empurrava Kenshin para a direita levemente, e ele deixou o corpo tombar naquele sentido, na direção em que havia cravado a outra katana. Quando a lâmina de Aoshi percorreu todo o caminho que fazia nas costas do Battousai, a ponta da mesma o empurrou alguns milímetros para a frente, tamanha a força empregada sobre o corpo do ruivo. Com a leve impulsão na diagonal direita, Kenshin conseguiu alcançar a espada cravada no piso de madeira. Habilmente girou no ar pressionando a espada cravada para baixo, no sentido perpendicular ao fio da arma. O peso do ruivo aplicado sobre a espada firmemente cravada ao chão, fez com que a trabalhada lâmina do artefato se partisse em três partes, fazendo uma pequena fração de lâmina girar no ar. Terminando o movimento giratório, Kenshin golpeou o ar à sua frente com a espada quebrada, rasgando o braço do moreno que se debruçava sobre ele aplicando o que seria o golpe final para o Hitokiri. Antes de atingir o chão, porém, sentiu a lâmina de Aoshi atravessar-lhe o tórax, na altura das primeiras vértebras. Assim que atingiu o chão, entretanto, teve tempo de agarrar a fração separada da espada que havia cravado no chão e atravessá-la entre as costelas de Aoshi, que caía desajeitadamente sobre ele.

O moreno apressou-se em largar a espada curta que havia cravado no estômago de seu alvo e com aquela mesma mão apoiou-se sobre o chão, rolando para frente alguns metros, se aproximando da escada de acesso. Levantou-se com extrema dificuldade e virou para Kenshin, que estava deitado ao chão, com a kodachi estocada na altura do estômago, ficando de costas para a escada.

– Sua genialidade é verdadeiramente incomparável, Kenshin! Deixar... - Aoshi fêz uma pausa, curvando o corpo levemente e apoiando o braço esquerdo sobre o ferimento causado pela golpe nas costelas. Franziu a testa demonstrando extrema dor, depois continuou, com a voz ainda variando levemente na intensidade. - Deixar-se acertar para saber onde estou é... _-Parou novamente, buscando fôlego. - É impressionantemente calculista!

Kenshin arqueou a cabeça para trás alguns centímetros, até que seus olhos dourados mirassem Aoshi:

– Assassino de crianças...

Aoshi meneou novamente com a cabeça, recusando o título:

– Já lhe disse que não tive nada com o assassinato da sua família! E muito menos com a morte da jovem Akira! - Bradou, fazendo correr um filete pequeno de sangue no canto direito da boca.

Kenshin arregalou os olhos.

– Se alguém ganharia algo com isso, tem que ser o seu amigo... Urgh! - Aoshi gemeu, abrindo a boca com força e fazendo jorrar uma enorme quantidade de sangue.

Kenshin abriu ainda mais os olhos. Aoshi respirava extremamente ofegante e de dentes serrados, mas que não impediam a enorme quantidade de sangue que ainda lhe saía da boca. O ruivo virou-se com dificuldade, observando melhor a cena.

Da posição onde estava, pôde ver Aoshi segurando com força a lâmina ensanguentada que lhe atravessara o peito, fazendo correr uma fina linha de sangue em sua mão, enquanto tentava se agarrar à vida que lhe era ceifada. Seus olhos azuis frenéticos corriam de um lado para o outro e sequer piscavam, demonstrando dor inenarrável e angustia extrema. Mais abaixo e à direita, pôde também distinguir o sorriso rasgado e os olhos castanhos de outro demônio: Saitoh Hajime.

Aoshi e Saitoh ficaram naquela posição por mais alguns segundos, até que o moreno parou de movimentar o olhar e foi liberado da afiada espada que o havia atravessado, caindo para a frente com os olhos azuis abertos, sem brilho, à encarar o homem ruivo que também estava ao chão. Saitoh terminou de subir os degraus que o separavam da sala de comando e parou ao topo da escadaria, observando o corpo morto de Aoshi por mais meio segundo. Depois, com algum descaso, golpeou o moreno separando sua cabeça do corpo e fazendo jorrar ainda mais sangue do pescoço decepado. O sangue de Aoshi encharcou o chão de madeira, chegando à escada e escorrendo, degrau por degrau, até o primeiro andar. Só depois de observar a trajetória do sangue do moreno, Saitoh largou sua espada e parou de sorrir.

– Porco imundo, será enterrado sem cabeça, para aprender a não me desafiar. - Comentou, enquanto dava uma última cusparada sobre a cabeça decepada de Aoshi.

Saitoh deu dois passos na direção de Yamagata, que ainda permanecia equilibrado sobre o trono vermelho, e parou, voltando-se para Kenshin. O ruivo respirava com dificuldade, e Saitoh pôde ver o enorme corte em suas costas, bem como a espada curta de Aoshi cravada em seu tronco. Sorriu brevemente e crispou o olhar:

– Você ainda está vivo, então...

– Foi você! - O outro constatou, crispando o olhar e franzindo a testa com força. - Aoshi tinha razão... Somente você ganharia algo com todas as mortes desnecessárias que aconteceram.

Saitoh abriu novamente um largo sorriso, inclinando a cabeça levemente e fitando os olhos dourados do ruivo estirado ao chão.

– Aqueles que não estão comigo, Himura, estão contra mim! - Exclamou, enquanto endireitava a cabeça sobre o pescoço e aumentava ainda mais o sorriso. - Todos os que morreram nesta empreitada contra aqueles porcos... - Saitoh girou o corpo levemente para a direita, apontando o indicador destro para Yamagata, que começava a deixar escapar algumas lágrimas de desespero. - Todos, sem exceção... - Emendou, virando-se novamente para Kenshin. - Fizeram um bem ao nosso país. Suas mortes não foram em vão, meu companheiro.

– Todo o tipo de morte é em vão, Saitoh... - Kenshin retrucou, quase murmurando. - Você baseou seus discursos em uma verdade que era somente sua, enganando todos ao seu redor e fazendo com que tudo saísse como você havia planejado...

– Nem tudo. - Saitoh retrucou, com o sorriso forçado ainda na face. - Algumas coisas saíram do esperado. Não imaginava que, por exemplo, aquele seu amigo magrelo tivesse ficado tão forte a ponto de me ferir. - O moreno explicou, deixando cair a capa que cobria seu kimono e mostrando o corte profundo no ombro. - Mas devo admitir que você foi minha maior surpresa! De todos os finais que poderia imaginar para a sua luta com Aoshi, empate foi o menos considerado... Da maneira que você sangra, não deve durar até o cair da noite. Se mover apenas agravará o ferimento e a ajuda, lhe asseguro, não virá até aqui. Você e Aoshi já estão mortos, o que me deixa sozinho e absoluto no poder, assim que eu acabar com a vida miserável do velho logo ali.

Saitoh virou-se, deixando Kenshin à suas costas e caminhou, vagarosamente, na direção do velho senhor em pé, sobre a cadeira vermelha e prestes a ser enforcado. O sorriso frio do moreno aterrorizava ainda mais Yamagata, que já dava como garantida sua morte. Quando estava a mais ou menos três metros do alvo, Saitoh parou, congelado pela voz do homem ruivo, que ecoou forte pelo salão maior do prédio.

– Você é podre, Saitoh...

O moreno se virou, com calma, para fitar uma última vez o espadachim ruivo que lhe dirigia a palavra. Encontrou Kenshin de pé, equilibrado e empunhando a katana que se mantivera inteira depois da luta com Aoshi. Saitoh moveu levemente o olhar para o local em que o ruivo estava estirando quando ele apareceu à escadaria. A Kodachi ensanguentada de Aoshi estava largada ao chão, e uma grande quantidade de sangue do Hitokiri manchava todo o piso, partindo do corte profundo no abdômen do ruivo.

– O que houve Kenshin? - Questionou, ainda sorrindo sarcásticamente. - Vai me matar agora?

Saitoh deu um passo na direção do homem seriamente ferido, parando e estendendo os dois braços, abrindo-os despretensiosamente.

– Quer que eu chegue mais perto? Na condição em que está, duvido que consiga retirar a espada da bainha, e muito menos que consiga me atacar com força o suficiente para me causar qualquer ferimento importante. Mal consegue se manter em pé, seus olhos parecem perdidos, os braços trêmulos... - Saitoh largou novamente os braços, estendendo-os junto ao corpo. - Como é mesmo o nome? Amakakeru Ryuu No Hirameki? Vai me atacar com o movimento supremo de sua falecida técnica de espada? É isso que vai acontecer?

Kenshin não respondeu as seguidas perguntas do moreno, limitando-se a retirar calmamente a espada de dentro da bainha, firmando-a como pôde no punho direito.

– Estudei todos os seus movimentos detalhadamente, Himura... Nenhuma técnica que você tente contra mim funcionará corretamente, e você sabe disso! - Saitoh gargalhou alto, colocando uma das mãos na frente dos olhos e inclinando o corpo levemente para trás. Depois, finalmente desfez o sorriso e golpeou o ar, com a mão que estava sobre o rosto, levando-a até a guarda de sua katana, devidamente alocada dentro da bainha. - Vamos acabar com isso de uma vez por todas, Battousai!

Kenshin, novamente, não respondeu, flexionou com bastante calma e lentidão a perna direita à frente da esquerda enquanto posicionava a katana apontada para Saitoh, levemente acima de sua cabeça. A mão esquerda posicionada abaixo da ponta da lâmina indicava a posição padrão de um outro poderoso movimento do estilo Hiten, e que Saitoh havia estudado com esmero durante o tempo que passou junto à Kenshin, durante os treinos.

– Kuzu Ryuu Sen... O fulgor das nove cabeças de dragão! - Saitoh exclamou, querendo impressionar pelo conhecimento na técnica de espada do adversário. - Consiste em aplicar todos os nove movimentos básicos do Kenjutso praticamente de uma vez... O golpe só é possível para pessoas realmente habilidosas e em explêndida forma física, o que não é o seu caso... Não concorda?

Kenshin, que até aquele momento não havia aberto seus olhos e nem retrucado nenhuma das provocações de Saitoh, finalmente lançou um olhar no alvo. Seu olhar era frio e parecia muito triste, mas já não brilhava mais na cor âmbar. Eram os orbes liláses novamente... Os olhos transbordando de ódio e rancor, mas não mais os dourados olhos do Hitokiri Battousai.

Himura arqueou levemente o corpo para frente, piscou devagar e lançou-se com todas as forças na direção de Saitoh, que estava parado a uns quatro metros dele. O moreno alto percebeu que Kenshin vinha em velocidade considerável na sua direção e tratou de desmanchar completamente o sorriso que lhe voltara ao rosto branco. Buscou rapidamente sua katana na mão direita e lançou-se, também, na direção do golpe decisivo.

Em uma pequena fração de segundos, os dois atravessaram todo o trajeto que os separava e pararam novamente nos mesmo lugares, com as posições invertidas. Longos segundos de silêncio preencheram o enorme salão e aterrorizaram ainda mais Yamagata em cima de seu trono vermelho. Saitoh sorria confiante novamente, até sentir a temperatura quente de seu sangue lhe enchendo a garganta.

"Impossível, defendi todos os nove golpes de kenjutso... Como posso ter sido acertado?"

– Estilo Hiten Mitsurugi... - Kenshin resmungou, com o olhar trêmulo e as pernas começando a fraquejar. - "Jiu"zu Ryuu Sen.

Saitoh foi o primeiro a cair. Agonizou por mais alguns segundos buscando a resposta para o enigma que ele acabara de presenciar. Ele conhecia os movimentos, todos eram repetidos na mesma sequência e precisamente no mesmo lugar, ou a técnica não seria tão mortal. Devido a velocidade de seu inimigo, ele também sabia que não poderia ver nenhum dos golpes, mas não precisaria vê-los, apenas coordenar a sequência de defesas para não ser atingido por nenhum golpe. Mas a genialidade do espadachim lendário havia o sobrepujado novamente.

Sacrificando uma pequena fração da velocidade total do golpe, Kenshin havia conseguido aplicar mais um corte. Uma mortal estocada acima do golpe central e abaixo do superior, que atingira o alvo com precisão e força absurda. Ele, Saitoh, não havia sido derrotado por nenhuma das nove "cabeças do dragão", havia sido vencido pela décima cabeça, a verdadeira responsável por sua derrota havia sido a cabeça pequena e ornada com fios vermelhos de seu adversário. Sua habilidade para transformar-se durante a batalha... Ele era, realmente, incomparável.

Os olhos de Saitoh foram apagando lentamente até encontrarem o descanso eterno, congelados e mirando a cabeça que ele havia separado do corpo de Aoshi Shinomori.

Do alto de seu trono-forca, Yamagata começava a se desesperar ainda mais ao pousar seus olhos em Kenshin. Um corte extremamente profundo lhe atravessava todo o peito. O líquido rubro que saía do ferimento era abundante e logo fêz formar uma poça vermelha abaixo do ruivo, que continuava parado no mesmo lugar, com o corpo cambaleando para os dois lados e os olhos perdidos em algum ponto a sua frente.

– Ka... - Ele iniciou, largando a katana e cambaleando, com o braço direito estendido à frente, como se buscasse alcançar algo com sua mão. - Kaoru... Yahiko... - Ele deu mais um passo trôpego à frente, obviamente delirando em seus últimos momentos de vida. - Sanosuke... Akira... - Suas mãos se fechavam e abriam com lentidão e força, como se ele estivesse quase alcançando aquilo que estava ilusoriamente aparecendo à sua frente.

Yamagata queria ajudar o amigo mão não conseguia se livrar dos apertados nós e da mordaça colocada por Aoshi. Se houvesse algo que ele pudesse fazer para salvar Kenshin, obviamente teria feito. Mas ele não parecia querer ser salvo. Ainda delirando, começou a esboçar um sorriso, enquanto dava um último passo a frente antes de perder totalmente a força e deixar seu corpo cair. Os olhos liláses do ruivo esbranquiçaram-se durante o caminho que seu corpo percorria antes de tocar o chão. Suas últimas palavras fizeram Yamagata deixar rolar lágrimas e mais lágrimas de tristeza e amargura:

– Me desculpem... Meus amigos...

CONTINUA!!!


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Notas finais do capítulo

Não percam o prólogo da história e meus agradecimentos.



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