As crônicas de Steve escrita por Mand Fireguy


Capítulo 2
Capítulo 2 - Abrigo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal, bem vindos a mais um capítulo, antes mesmo do prazo que eu disse a vocês que pensava. Ele está do dobro do tamanho do anterior, embora os próximos venham a ser maiores. Não tem muita ação, na verdade, quase nada, mas leiam: ele é bem importante para a compreensão da história no futuro. E não fiquem chateados: No terceiro capítulo, haverá toneladas de ação. No quarto, prometo dar um ataque cardíaco de brinde pra cada um de vocês! E que comece a leitura.



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Depois de alguns minutos sentado na terra úmida da selva, encarando com expressão confusa e de certa forma desolada o trecho de grama carbonizado à sua frente, Steve se levanta mais uma vez e olha novamente o sol nascente, examinando seu ângulo. Ele tem mais onze horas de claridade. Precisa conseguir um abrigo, qualquer lugar que o permita se esconder durante a noite. Portanto, ele tira uma das alças de sua mochila e abre seu fecho na lateral, puxando dela o machado de madeira.
Não é de fato a melhor ferramenta que ele poderia ter nesse exato momento, mas é o suficiente para que ele consiga derrubar uma das altas e largas árvores dessa floresta.
Steve fecha a mochila e, com o machado na mão, caminha de volta na direção da praia, até uma árvore perto da areia, que parece ter uns bons trinta e dois metros de altura. Ele se posiciona e começa a golpear a lateral do tronco com toda a força, angulando ao redor da árvore para danificar a maior área possível e, quando finalmente consegue cortá-la, a árvore começa a se inclinar e Steve rapidamente corre para fora da reta da mesma, se escondendo atrás de um arbusto.
A árvore se quebra no ponto aonde Steve a atingiu diversas vezes com o machado e tomba na direção da praia, automaticamente se rompendo em vários pedaços. Ele vai em direção ao tronco quebrado e pega mais algumas ferramentas na mochila, começando a serrar e refinar a madeira da árvore com grande habilidade que, embora não saiba de onde vem, ele não possui o menor desejo de algum dia perder.
Em aproximadamente meia hora, Steve termina de serrar todo o tronco da árvore, conseguindo quinhentos e doze metros cúbicos de tábuas de madeira que, apesar do volume absurdo, cabem perfeitamente dentro de sua mochila. Por algum motivo, ele não se surpreende com a sobrenatural capacidade da mochila. Alguma parte de seu cérebro, ou talvez algum resquício de memória lhe diz que, naquele mundo, se surpreender com aquilo seria equivalente a se surpreender com a própria imagem refletida na superfície da água de um lago.
Com isso, ele segue até a beira da praia, com o intuito de se afastar o máximo possível da selva que pode conter mais esqueletos do que apenas aquele que ele viu, e faz com a madeira quatro varetas cilíndricas de um metro cada, que ele finca na areia aos pares, cada par onze metros de distância um do outro, e prega tábuas de madeira no topo das varas, em seguida se afastando na direção do mar, amarrando a única corda em sua mochila a elas, então inicia a construção de uma plataforma de madeira sobre o mar, quadrada e de onze metros de lado. Assim que termina de pregar todos os cem blocos de tábuas de madeira refinada, começa a construir paredes de seis metros de altura nas laterais da plataforma, e as une uma à outra e então sobe no topo e faz sobre elas um telhado, também de onze metros por onze metros. Depois disso ele desce e abre dois buracos de dois metros de altura e um de largura, um voltado para o mar, o outro para a praia, e em cada uma dessas direções amplia a plataforma, agora praticamente um cubo oco de madeira flutuando na água, três metros na direção do mar e três metros na direção da praia. Terminando de fazer isso, Steve entra na pequena casa da plataforma, agora quase pronta e, considerando que logo terá de fazer novas ferramentas quando as atuais quebrarem ou precisar de utensílios melhores e constrói uma pequena mesa de trabalho e nela, com doze tábuas de madeira, constrói duas portas, que coloca uma em cada abertura que fez na plataforma, e senta no chão, já com fome, o sol agora exatamente sobre sua cabeça e abre sua mochila, a procura de comida. Para seu desgosto, encontra apenas duas maçãs, mas come as duas e percebe que, antes de terminar a construção da plataforma irá precisar de mais comida.
Desse modo ele pega as duas tochas apagadas no interior da mochila, acende e com cuidado para evitar que queimem o teto, prende pouco abaixo dele em cantos opostos do quarto, então sai da plataforma e salta de volta para a praia, aonde caminha para a copa do que restou da árvore que derrubou e pega treze frutas tropicais, das quais come uma e guarda o restante em sua mochila, então arranca quatro mudas da copa da árvore, segue para o trecho na entrada da selva, de terra sem grama, que desmatou e as planta lado a lado, formando um quadrado. Então segue na direção da selva em busca de algum animal que possa caçar, saca sua espada de madeira e caminha sorrateiramente até encontrar uma ovelha.
Ele não entende exatamente o que uma maldita ovelha estaria fazendo no meio de um local quente e úmido como uma selva, mas também não se importa. Ele precisa da lã e da carne da ovelha, não do conhecimento de o que ela está fazendo ali. Steve se aproxima por trás da ovelha e ergue a espada.
Ao mesmo tempo em que desce a espada de treino contra o pescoço da ovelha para quebrar sua vértebra, Steve ouve um chiado atrás de si e vê uma luz que de tão intensa é refletida pela grama à sua frente. Assim que a espada parte a espinha da ovelha, o jovem sente e ouve a explosão.
Steve lentamente recupera a consciência, sentindo dores em todas as partes do corpo. Lentamente se põe de joelhos e olha ao alto, vendo pelo ângulo do sol que agora são aproximadamente duas horas da tarde. Deve ter ficado não mais do que meia hora desacordado. Finalmente se põe de pé e olha ao redor, se situando no espaço. Está a alguns metros do local de antes, mas a explosão também moveu a ovelha e ele caiu por cima dela. Olha para trás e vê o cadáver carbonizado de algum animal que deve ter possuído uma coloração verde quando vivo, e que talvez também tenha sido ligeiramente humanoide, no centro de uma cratera. Steve não sente problemas em ver cadáveres, mas a visão de alguma criatura capaz de se autodestruir de forma tão violenta para levar consigo alguém, mesmo que em nome de um bem maior o enoja, e ele vira de volta para frente, focando suas atenções no cadáver que lhe é mais importante neste exato momento: o da ovelha.
Steve caminha até o cadáver da ovelha e segura com cuidado a espada que, apesar de ser feita de madeira, é afiada o suficiente para cortar a lã e o corpo da ovelha, e extrai dela todo o velocino em uma série de cortes lentos e cirúrgicos. Em seguida retira os músculos das patas e do abdômen e peito da ovelha, os quais guarda em sua mochila junto com o velocino.
Terminado o trabalho, Steve segue na direção de uma rocha alta, com aproximadamente cinco metros de altura, guarda a espada e pega a picareta na mochila, então a minera do início ao fim em quinze minutos, guardando todos os trinta e dois metros cúbicos de rocha na mochila e mais quatro pedras de carvão, e segue de volta para a praia, em direção ao abrigo, agora quase terminado, e nele se põe frente à mesa de trabalho e separa a lã do velocino e constrói, com oito metros cúbicos de pedra, uma pequena porém potente fornalha e coloca uma das quatro pedras de carvão mineral em sua parte de baixo e os oito pedaços de carne de lã no topo, e acende o carvão. Então mais uma vez Steve sai da casa e segue até a beirada da floresta, aonde encontra outra árvore, também da mesma altura e largura da anterior e a derruba com diversos golpes do machado de madeira, então novamente serra o tronco e refina a madeira, conseguindo mais quinhentos e doze blocos de madeira refinada no tempo em que cozinha a carne, e guarda os blocos em sua mochila, então ele segue até a copa da mesma e retira uma dúzia de frutos tropicais e quatro mudas, que planta em um quadrado no mesmo local desmatado por ele, e segue de volta para o abrigo, agora aproximadamente quatro horas da tarde e, morto de fome por não ter comido mais do que duas maçãs no almoço e também por conta do trabalho que teve até então, Steve se agacha e retira a carne recém-cozida do interior da fornalha e se senta encostado na parede, comendo lentamente.
Foi um longo dia hoje... e ainda está sendo. Diz ele com a voz rouca pelo desuso, e para ninguém em especial, tendo como motivo de falar mais a própria ausência de alguma pessoa por perto e o fato de não ter falado durante todo esse tempo do que de fato alguma mensagem para alguém além dele mesmo.
O jovem volta a comer a carne, junto com dois dos vinte e quatro frutos tropicais que colheu nesse mesmo dia, ao mesmo tempo em que pensa em tudo o que já fez no dia em si e em tudo aquilo que ainda terá de fazer.
Assim que termina de comer, Steve se recosta em um canto na parede e se deita naquele lugar para descansar enquanto seu corpo digere toda a carne de ovelha e dos dois frutos que ele comeu.
Aproximadamente meia hora depois, agora quatro horas e meia, Steve se levanta e se limpa dos restos de comida e suco das duas frutas, então segue novamente para a mesa de trabalho, aonde pega as maiores pedras de sua mochila e, com um pequeno martelo, esculpe a cabeça de uma picareta, que amarra com um pedaço de cipó e une com pregos a uma estaca de madeira, formando uma picareta nova para substituir a que já quebrou, então esculpe e constrói uma pá e, com um pedaço de rocha grande e longo, porém leve, ele esculpe e afia as laterais da lâmina de uma espada de pedra, então esculpe o punho com madeira e une os dois com pregos e cipó mais uma vez.
Em seguida, Steve guarda os objetos na mochila e constrói com a madeira dois grandes baús, que posiciona cada um em um lado da casa na plataforma sobre a água e em um armazena toda a madeira que conseguiu extrair, toda a rocha que minerou e as três pedras de carvão, e no outro armazena as frutas e os seis pedaços de carne de ovelha que restaram dos oito que coletou da mesma, junto com a lã e o couro da ovelha, tomando o cuidado de colocar uma dose generosa de sal sobre a carne para evitar que a mesma estrague tão cedo, o que lhe seria de certo um grande prejuízo.
O jovem então olha ao redor e pensa no que pode estar faltando, além do que já tem em mente, para o que por enquanto é apenas uma casa rudimentar construída sobre uma plataforma de madeira no mar: Janelas. Janelas de vidro. Para isso, ele irá precisar de areia, recurso que tem em abundância, já que está situado na beira de uma praia.
O jovem então sai da casa e caminha até a beira da plataforma, de onde salta de volta para a ilha, então retira a pá de madeira e pedra, recém-feita, da mochila, e começa a escavar.
Em aproximadamente meia hora, Steve consegue extrair do solo menos do que havia pensado, mas suficiente para o que precisa: Trinta e dois metros cúbicos de areia. Por alguns momentos fica parado pensando por que demorou tanto para fazer isso, dado que no resto do dia ele foi tão ágil na construção e extração de materiais e suprimentos, mas logo desiste de pensar sobre isso, já que não lhe ajudará em nada no objetivo de escapar da ilha pelo mar, e caminha de volta para a beira da praia, então salta para a plataforma de madeira e entra na casa, para em seguida colocar vinte e oito dos trinta e dois metros cúbicos de areia na parte de cima da fornalha e, na de baixo, as três pedras de carvão mineral, juntamente com duas tábuas de madeira e duas varetas cilíndricas, também de madeira, para que consiga derreter toda a areia e produzir a exata quantidade de vidro que ele calcula ser necessária para fazer as janelas.
Em seguida, Steve percebe a escassez de carvão, rocha e minérios e sai da plataforma, saltando novamente para a costa e caminha em direção a uma região de terra seca e dura, abaixo da qual ele imagina haver rochas, e começa a escavar em diagonal para a terra até encontrar rocha sólida e cascalho, então pega a picareta e começa a minerar o local, descendo diversos metros e coletando dezenas de metros cúbicos de rochas, e ainda uma dúzia de pedras de carvão, as quais julga que serão necessárias para cozinhar toda a comida e derreter todos os minérios que encontrar.
Conforme escava, Steve volta a pensar nas memórias perdidas e em como teria sido sua antiga vida, e ainda mais para ele saber tantas coisas relacionadas às Engenharias, Métodos de construção, Mineração, Forja, Extração de madeira, Navegação e até mesmo Caça e Artes Marciais, além de Esgrima e talvez até mesmo a arte dos tiros e da batalha com arco e flecha, Arquearia. Ele tenta juntar os padrões para entender que grupo, classe ou tipo de trabalhador dominaria todas essas áreas do conhecimento, mas não consegue encontrar nenhum estereótipo ou padrão em que ele mesmo se enquadre, o que só serve para deixa-lo mais solitário ainda, perdido naquela ilha no meio do oceano, sem memórias e com nada além de um nome e as exatas habilidades necessárias para sobreviver e talvez, com um golpe de sorte, fugir daquele lugar.
Steve suspira e continua trabalhando, descendo por metros na terra e golpeando com tamanha intensidade que depois de um ponto começa a criar rachaduras em um dos lados da picareta. Ele apenas muda de lado da picareta e continua minerando por uma hora e meia, iluminando o lugar com tochas que ele mesmo vai preparando e acendendo pelo caminho, até que por fim encontra algo inesperado.
À frente e ao lado de Steve, ele vê uma rocha, um mineral diferente das rochas normais daquele lugar, e também diferente das dúzias de rochas de pedras de carvão que encontrou pelo caminho. À sua frente ele vê uma rocha cheia de veios de cor marrom-avermelhada, que ele imediatamente reconhece: é Ferrugem. Óxido de ferro. Minério de ferro.
Animado pela recente descoberta, Steve coleta todos os oito metros cúbicos de minério de ferro, batendo com tanta força que em determinado ponto sua picareta se quebra, mas ao quebrar o último bloco ele também revela uma enorme caverna iluminada por um pequeno córrego de lava que escorre pela lateral, sendo no final atingido por água e formando na base uma piscina de rocha obsidiana. Ao lado da corrente de magma, perto do ponto de onde ela sai, ele vê no alto um minério que reluz com veios ligeiramente azulados, mas que, refratando e refletindo a luz que vem do magma, torna-se de um tom púrpura avermelhado. Diamante.
Extasiado pela visão do minério de extrema raridade, Steve rapidamente joga fora no chão os restos da picareta de pedra quebrada e sobe rapidamente os trinta metros que escavou para dentro da terra, até chegar de volta à superfície, o sol agora já começando a se por. Steve corre até a costa e salta para a plataforma de madeira e entra na casa construída sobre ela, então rapidamente retira os blocos completando no total vinte e oito metros cúbicos de vidro, coloca no topo da fornalha os oito metros cúbicos de ferro que pretende derreter e uma única das dezessete pedras de carvão que coletou enquanto minerava.
O jovem então serra da lateral da casa um buraco de seis metros de lado, dois de altura, bem no meio da parede, e o completa com vidro ainda quente pelo calor da forja, então vai para o lado esquerdo e repete o processo, então atrás e na frente ele abre buracos aos lados das portas de dois metros por dois metros cada um e preenche com vidro. As janelas acabam ficando consideravelmente espessas, com aproximadamente um metro de espessura, mas ele não se importa, já que calcula que serão necessárias janelas e paredes grossas para caso o que no momento é apenas uma plataforma no futuro venha a ser atingido por algum objeto sólido.
Enquanto o metal derrete na fornalha, Steve sai pela porta voltada para o mar e se senta na beira da plataforma, os pés quase tocando a água, e apenas observa solene enquanto o sol desce no horizonte e brilha, emitindo algo próximo de uma faísca de luz verde pouco antes de terminar de se por.
No exato momento em que o sol termina de se por, ele tem a impressão de ver ao longe o reflexo de alguma coisa construída pelo homem, algum objeto metálico que, ao invés de ser visível como uma sombra à luz do sol, o reflete, permitindo a visão de um pequeno ponto brilhante de luz do sol refletida a partir de alguma coisa no alto de um pico quase invisível pela distância.
Algo em alguma cidade em alguma outra ilha ou mesmo em um continente.


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Notas finais do capítulo

É só isso mesmo, pessoal, espero que tenham gostado. Se forem espertos, entenderão já agora o que é que Steve está construindo com base naquela plataforma. Se não, voltem pro indíce da história, cliquem de novo no capítulo e o releiam até descobrir. Se mesmo assim não descobrirem, bem... Nos vemos em alguns capítulos!
Cenas do próximo capítulo, A Noite Sombria:
Se não se lembra... Então me deixe te mostrar, diz.
Steve encara a criatura nos olhos.
Se não se lembra, deixe-me te mostrar...
“Como... Como você faria isso?” Pergunta. O Enderman apenas emite o mesmo ruído, que se assemelha a algo entre um grunhido e um ruído de sucção, e ergue a mão para tocar a testa de Steve. Assim que a ponta do dedo médio toca a testa de Steve, a consciência do humano é sugada para dentro da mente do Enderman e ele se vê na memória do mesmo, voltando no tempo para uma série de eventos que aconteceu vários anos atrás...



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