Lily recusou a mão estendida de James, caminhando para dentro antes dele. A careta que dominava sua face aumentou ao respirar o ar do lugar, sua mão foi automaticamente para seu nariz. Com toda a poeira e velharia ali encontradas, o cheiro sugeria que algo havia sido deixado para morrer ali durante todos os séculos que estivera abandonado.

– E então? – James perguntou.

– O que? – a voz dela saíra um pouco mais fina do que o comum.

– Alguma coisa?

Ela deu uma olhada geral. Nada. Tudo estava tão empoeirado que ela não conseguia olhar por mais de 2 segundos antes que seus olhos começassem a arder; não iria aguentar muito tempo em um lugar como aquele. Ela suspirou e se virou para James, que a encarava com expectativa nos olhos, fazendo Lily pensar que talvez devesse realmente lembrar de algo sobre aquele lugar. Ela andou um pouco mais pelo galpão, nada ainda.

– Não. – a ruiva disse voltando para perto da porta – Não me lembra nada, nunca estive aqui.

– Você acha que nunca esteve. – ele disse sorrindo como se fosse uma brincadeira.

E então ela se perguntou porque parara de cogitar a ideia de estar se encontrando com um abusador sexual quando viu James, afinal, ela não sabia nada sobre o garoto, ele podia muito bem ser um aproveitador.

– Eu entendi o que você quer. – ela murmurou semicerrando os olhos – Você me leva pra cá com esse papo de ter algo que eu preciso lembrar e então me apaga, eu tenho certeza que irei acordar aqui, na escuridão, sem roupa alguma.

– Você descobriu meu grande plano. – ele respondeu sarcasticamente.

– Melhor prevenir do que remediar. – ela deu de ombros e saiu de dentro do lugar.

– Qual é, nada?

– Nada.

Respirar o ar puro nunca lhe pareceu tão prazeroso daquele jeito, mesmo em uma rua com o ar tão poluído como aquele. James parecia partilhar de sua opinião, pois quando saiu parar fora puxou o máximo de ar possível para dentro de seus pulmões.

– Esse lugar está mais empoeirado do que eu pensava que estaria. – James comentou passando a mão pelo seu cabelo.

– O que esperava? Está abandonado faz séculos. – ela disse, repetindo o que ele lhe dissera.

– Só imaginei que estivesse melhor do que está, não sei. – ele se adiantou pela calçada, mas logo parou, olhando para o horizonte – Você contou a alguém que viria pra cá?

– Não que eu viria pra cá, só que iria sair. – Lily andou até o garoto.

– Então como ele descobriu que estaríamos aqui? – ele indicou com a cabeça um vulto que vinha andando rapidamente pela rua.

– Quem é aquele? – ela espremeu os olhos para ver se sua visão melhorava, nada. A poeira do galpão deveria estar fazendo efeito nela.

– Seu amigo.

E então ela olhou melhor, consegui reconhecê-lo; Remus. Ele agora corria como se sua vida dependesse de chegar até ela e James. Lily franziu o cenho, não havia comentado com o amigo que iria sair naquele dia, talvez Dorcas tivesse comentado algo (o que era bem provável, uma vez que fosse apaixonada pelo garoto).

– Por que a trouxe aqui? – Remus perguntou, ofegante, quando chegou perto dos dois.

– Você sabe o porquê. – James respondeu com um sorriso divertido no rosto.

– Isso não tem graça, não pode estragar as coisas dessa maneira. – Remus se colocou entre Lily e James, como se esperasse que o outro fosse explodir e isso fosse matar a ruiva.

– Vocês não podem esconder isso para sempre. – Lily encarou os dois com uma expressão questionadora – Vamos nessa, Remus, podemos contar a ela juntos.

– Contar o que? – a ruiva se intrometeu, mas foi ignorada pelos rapazes.

– Todos nós concordamos em não contar nada! – Remus falou.

– Eu não concordei com nada.

– Não é nossa culpa que estava ocupado demais atrás das grades.

O rosto de James congelou enquanto encarava Remus, seu olhar lentamente se voltou para Lily, como se estivesse tendo uma batalha interna sobre algum assunto; após algum tempo, seu olhar retornou ao outro garoto.

– Tanto faz. – ele deu um breve empurrão em Remus e quando passou por Lily colocou algo em seu bolso disfarçadamente – Nos vemos na escola.

E saiu andando pela rua, sem olhar para trás sequer uma vez. Lily, que tentava absorver o que acontecera ali, se virou para Remus.

– Vem cá, qual o problema com vocês dois? – ela perguntou e ele olhou para ela como se só reparasse em sua existência naquele momento; seu rosto tingiu-se de um tom branco.

– Você... Você não acreditaria se eu te falasse. – ele olhou para o caminho que James havia feito para ir embora, como se para conferir que ele não voltaria – Vamos?

– Pra onde?

– Pra casa. – ele a encarou como se aquilo fosse óbvio, o que era de certo modo – Ou tem mais alguma coisa que queira fazer por aqui?

Lily olhou em volta, encarou o galpão e o terreno vazio ao seu lado. Seu estomago embrulhou, a mesma sensação ruim. O lugar começou a lhe parecer familiar, já havia estado ali antes desse dia, tinha certeza agora; mas quando?

– Lily? – Remus colocou a mão em seu ombro, o que fez a ruiva dar um salto – Tem algo mais que queira fazer aqui?

– Não, nada. – ela se adiantou a dizer e olhou mais uma vez para o lugar antes de puxar Remus pra voltarem a suas casas.

Lily andou a passos rápidos para casa, seja o que James tivesse deixado em seu bolso, fizera seus dedos formigarem de curiosidade de pega-los. A garota passou a correr pela rua quando Remus entrou em casa. Quando ela passou pela porta de seu quarto, se jogou na cama e pegou um papel amassado.

“Le gallérie”

Esse ela conhecia; a galeria de arte que ficava próxima do galpão em que James e ela haviam estado. Sempre visitava o local quando era criança, era grande e bonito. Claro que quando era criança ela não ligava muito para isso, ficava reclamando o caminho inteiro para ir a loja de lembrancinhas.

Lily passou a mão pelo rosto, por que James iria querer que ela fosse ao lugar? Suspirou fortemente e analisou o papel em busca de um sinal, havia algo escrito na parte de trás. Um nome. Um nome de um quadro.

“La belle Leonor”

Ela gemeu, não queria saber onde aquela caça ao tesouro iria acabar levando.