Química. Soluções. Ela não conseguiria aguentar por muito tempo mais. Lily estava na escola depois do (melhor) final de semana que teve; seu corpo já estava razoavelmente normal, quase sem nenhuma dor.

Ela olhou para os lados, os rostos familiares de amigos e conhecidos estavam com uma expressão de tédio, ela não estava tão diferente. Dorcas, que sentava atrás de Lily, estava entretida em desenhar algo para passar o tempo. Marlene, que estava a sua frente, enrolava a ponta de seu cabelo e encarava alguns garotos que acabavam por retribuir os olhares, e Remus, que sentava do seu lado, observava as pessoas da sala, assim como Lily fazia.

– Lily, olha isso. – Dorcas sussurrou estendendo o seu caderno de desenho para a ruiva.

Ela teve que virar o desenho várias vezes até conseguir assimilar o que era, um livro? Aquilo parecia um livro, um pouco torto para ser um livro, porém um livro. Uma das sobrancelhas de Lily se levantou.

– Dorcas, o que é isso? – Lily sussurrou se virando para a outra.

– Um livro. – Ok, ela havia acertado.

– Livro legal. – a ruiva comentou com incerteza, não sabia o que a amiga queria que ela comentasse sobre o livro.

– Não é só legal, ele é incrível. – Dorcas bateu palmas de leve – O melhor desenho que já fiz.

– Olha, se esse foi o seu melhor desenho, me desculpa, mas você não nasceu pra ser artista. – disse Marlene se virando pra Lily e Dorcas, olhando para o caderno na mesa de Lily.

– Não fale assim. – a ruiva disse, embora concordasse com a morena.

– Lily gostou do meu desenho, Lene. – Dorcas mostrou a língua enquanto se inclinava para frente para pegar o caderno.

– Ela está sendo gentil. – a morena disse, fazendo Lily revirar os olhos. Elas começariam uma briga logo mais.

– Vocês duas parem, ok? A aula já está acabando, podem brigar quando eu não estiver entre as duas. – a ruiva sabia que com o tempo que faltava pra aula acabar as duas não se lembrariam mais disso.

Então elas pararam, Dorcas começou um novo desenho e Marlene continuou olhando para os garotos, Lily colocou a cabeça em cima da mesa fria e só levantou quando ouviu o sino tocar; um “aleluia” saiu de sua boca automaticamente enquanto se levantava e pegava os materiais. Mais uma manhã na escola finalizada com sucesso.

– Alguém quer sorvete? – perguntou Dorcas para Marlene e Lily, porém varias pessoas no lugar se viraram para a loira na menção da palavra “sorvete”.

– Eu tenho que ir correndo pra casa, desculpa. – Marlene disse com uma expressão triste, embora devesse estar aliviada; ir com Dorcas em uma sorveteria não era a melhor experiência que se poderia ter, sempre acabava na mesma demorando meia hora pra escolher um sorvete e dois minutos depois reclamando do sabor do mesmo, às vezes ela conseguia uma boa briga na ocasião.

– E você, Lily? – a garota se virou para Lily com os olhos piscando e dizendo por si próprios “venha comigo ou vai se arrepender”.

– Eu vou, eu vou. – a ruiva suspirou, ela não tinha nenhuma desculpa para dar a Dorcas, ela era horrível com mentiras, sempre acabava se entregando.

– Ótimo. – a loira deu breves saltos e se agarrou no braço de Lily.

A ruiva suspirou, aula de química e logo depois ir a sorveteria com Dorcas, belo começo de semana. Marlene sorriu nervosamente e saiu andando rapidamente pelos corredores, provavelmente querendo evitar qualquer pergunta sobre o que teria que fazer de tão importante em casa para precisar sair correndo e nem poder dar uma parada para tomar sorvete. Remus, que parecia estar um pouco apreensivo que Lily o convidasse pra ir junto, se despediu com um aceno e saiu tão depressa quanto Marlene. Estava sozinha com a louca loura barraqueira, era só o que precisava neste dia.

As duas caminharam calmamente pelas ruas até chegar na Minx, a melhor sorveteria de acordo com Dorcas. Lily não entendia porque Dorcas achava que aquela era a melhor sorveteria se sempre reclamava de seus sorvetes. Foram entrando e até os atendentes prenderam a respiração quando viram a loira entrando. Dorcas olhou todos os sabores disponíveis (muitos sabores, muitos sabores mesmo) e ficou se perguntando qual deveria pegar. “O de abacaxi parece ótimo, mas o de napolitano seria melhor, mas não, olha esse outro aqui”. A ruiva murmurou que iria querer napolitano mesmo e se sentou em uma das mesas perto de onde Dorcas estava.

– Escolhi! – a loira praticamente gritou e Lily sorriu para ela – Eu quero de morango.

Isso sempre acontecia, sempre tinha duvida entre os mesmo sabores e acabava escolhendo o morango. Dorcas foi até a mesa de Lily com duas casquinhas em mão, entregou a mais colorida para a ruiva e começou a comer. E então veio a careta que sempre vinha seguida de algum comentário maldoso.

– Isso aqui está horrível, até parece que pegaram neve e pintaram de rosa. – Dorcas se levantou para reclamar com a primeira pessoa que visse.

Lily realmente não entendia isso, o seu sorvete sempre estava com um gosto ótimo, gosto de napolitano. A mesma revirou os olhos e abaixou lentamente a cabeça, alguma hora Dorcas seria proibida de entrar naquela sorveteria novamente, Lily achava que esse dia estava perto.

– Eu não sou obrigada a comer esse veneno que vocês dão para os idiotas... – a loira falava mais e mais para o garoto que estava apenas passando um pano na mesa; Lily sentiu um pouco de pena, ele estava com uma cara assustada, provavelmente era novo no lugar.

Quando a ruiva acabou seu sorvete, Dorcas ainda brigava com o garoto, que parecia estar prestes a enfiar o pano na boca da loira. Lily encostou-se à parede, perto de Dorcas, caso ela decidisse partir para cima do menino. Mas algo partiu para cima da ruiva primeiro, um garoto. Não importava o quanto ele era bonito, ele a havia derrubado e deixado um sorvete cair em seu cabelo, fazendo com que virasse um tipo de chapéu na cabeleira ruiva. Talvez ele ganhasse alguns pontos com ela por ter ajudado a garota a se levantar. Estava na vez de Lily de arranjar alguma briga na sorveteria, mas na hora que levantou sua cabeça para encarar o garoto e lhe dar um bom sermão, ela percebeu que ele a olhava fixamente com os olhos em um certo tom de surpresa.

– O que ta olhando? – Lily perguntou de uma forma grosseira.

– Acho que ele ta te olhando. – ela ouviu a voz de Dorcas sussurrando em seu ouvido. Ótimo, ela havia conseguido parar de brigar com o pobre garoto – É ele.

– Ele quem? – Lily perguntou enquanto ainda encarava o moreno a sua frente.

– O garoto novo. – a loira respondeu, enquanto o garoto pestanejava e parecia voltar em si.

– Eu sou James Potter.