Garota Imperfeita escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 3
Primeira consulta


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, vou tentar postar o próximo capítulo em pelo menos três dias. Boa leitura.



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Minha mãe acaba de me obrigar a usar você, diário, ela diz que eu estou esgotando a paciência dela. Diário, Isso é um pesadelo, não é? Quero dizer, fala sério. Eu vou ter que ficar escrevendo nesse troço e indo bater um papinho com um cara que eu nunca vi na vida? Eu não preciso de um psicólogo e não preciso desabafar em papel nenhum. Quero dizer, eu não tenho nada reprimido dentro de mim. Nadinha. Da onde tiraram isso?

Minha mãe acha que eu estou com bulimia e anorexia. Meu padrasto diz que posso estar em depressão e com anemia. Meu pai diz que talvez eu esteja namorando com um cara problemático. Meus irmãos dizem que a culpa é dos meus amigos. Será que alguém quis saber minha opinião? Alguém me perguntou algo? Não. É realmente um saco ser adolescente.

E eu já mencionei o quanto odeio ficar confinada dentro de um veículo? Eu não sei o que é pior, o carro ou o ônibus. Se bem que no ônibus eu não sinto essa vontade tão grande de vomitar. Ai, droga... É tão ruim se sentir mal, eu consigo sentir o cheiro horrível de gasolina. Por que a gente não podia ir de a pé? Além de fazer bem pra saúde, iríamos economizar combustível e reduzir a poluição. Confesso que isso seria pouca coisa, mas não é de pouquinho em pouquinho que se faz coisas grandes?

Contagem regressiva para me encontrar com um velho enrugado e acabado nas retas finais!

10...9...8...

Ah, droga. Acho que minha mãe vai entender se eu deitar a cabeça do joelho e parar de escrever aqui, não? Eu.Detesto.Carros.

XX X X X

Ai

Meu

Deus

Ainda não caiu a ficha do que aconteceu. Se bem que, vindo de mim, é esperado que aconteça merda. Mas eu precisava fazer tanta merda de uma vez? E tipo assim, como é que eu iria saber que o meu mais novo psicólogo particular é simplesmente inacreditável? Eu rasgo minha coleção de As Crônicas de Nárnia se aquele cara tiver mais do que 25 anos.

Ai.

Meu.

Deus

Eu tinha pego um copo d'água, sabe, porque eu ainda estava tonta por causa do confinamento dentro da maquina de tortura, também conhecida como carro, quando eu comecei a procurar a sala 12. E eu fiquei dando voltas, porque minha mãe simplesmente me largou na porta do consultório e disse que estava atrasada para buscar minha irmã não sei a onde. Então eu fiquei por mais de dez minutos perdidinha, sem ter noção de pra onde ir, até que eu paro em uma sala que parece ser a minha. E ela está com a porta aberta. E tem um cara lindo de morrer sentado relaxadamente atrás da mesa. E o que eu faço?

Ah, claro. Eu tenho que FICAR PARADA IGUAL TONTA OLHANDO PRA ELE COM A BOCA ABERTA COMO SE NUNCA TIVESSE VISTO UM CARA TÃO BONITO ANTES. ARGH

Mas essa não foi a primeira merda que eu fiz. Enquanto ele se levantava da cadeira dele ( que por sinal, parecia muito confortável. E aliás, por que não temos cadeiras desse tipo na escola? Eu poderia passar o dia todo sentada nisso que nem reclamaria) quando eu derrubo meu diário no chão e o meu copo de água dentro da minha blusa. Tipo assim, eu estava imóvel, encarando ele, e babando nele, e meu diário foi escorregando, e eu tentava segurar ele com firmea, mas as minhas mãos estavam igual gelatina. E eu até tentei me agaixar, mas perdi o movimento da mão e o copo virou. Sabe, você não conseguir se mover? Minha mão formigava.

Mico. Total.

Mas não para por aí. Enquanto eu ficava olhando pra minha blusa molhada, totalmente envergonhada, ele se aproximou e pegou meu diário do chão e sem querer acabou lendo uns trechos. "Sem querer". Mas porque você, diário, tinha que cair aberto? Adivinha só qual a parte que ele leu?

A parte em que eu o chamava de velho enrugado e acabado.

Meu rosto está queimando até agora, de tanta vergonha que eu sinto. E eu pensei que ele fosse brigar comigo ou algo do tipo, mas ele apenas começou a dar risada. E eu juro que parecia que ele tentava se controlar, mas eu devia parecer mesmo uma palhaça, porque ele NÃO PARAVA.

E foi aí que eu comecei a ficar com raiva. Qual era a desse idiota? Então eu esperei ele conseguir me olhar sem dar tanta risada e perguntei a ele onde eu poderia encontrar o doutor Fuller, já que eu procurava um cara sério e responsável, então ele começou a rir mais ainda. E eu fiquei tipo, qual é a graça? Até que olhei pra porta e vai.

Doutor M. Fuller , psicólogo e psicanalista

Então eu estou aqui, sentada em frente a cadeira dele e esperando. Quero dizer, o que eu poderia fazer? Vai ver, talvez, os médicos tinham certo senso de humor. Embora nãoum que eu goste.

X X X X X

E eu queria gritar : Ai meu Deus, o que tem de errado comigo? Até que ele se sentou, provavelmente exausto de tanto rir, e pediu desculpas pelo comportamento totalmente anti ético. E eu estava quase pra dizer algo ácido, mas aí eu fiz a besteira de olhar para os olhos dele. E ei fiquei assim, tonta.

Quero dizer, os olhos dele eram de uma cor estranha. Incrivelmente incomum. Não pareciam castanhos, mas também não pareciam pretos. Era como uma mistura de algo quente misturado com prata. E eu fiquei observando aqueles olhos, procurando ter certeza de que eram lentes de contato ( porque assim, eu nunca tinha visto algo parecido) quando ele arqueou as sobrancelhas e ficou me encarando. E eu tenho que confessar que aquilo foi incrivelmente sexy - não acredito que escrevi isso - e foi aí que eu me toquei. Tipo assim, ele estava parado. Me encarando. Certo? Errado. Eu estava encarando ele. Eu estava olhando de forma tão fixada pra ele que foi constrangedor. E eu pensei, eu nunca, nunca mais, piso os pés aqui. E ele inclinou a cabeça, pensativo, como se estivesse me estudando. Até que ele fez a pergunta mais incomum que eu poderia esperar.

"Quem leu o seu diário?"

E eu fiquei tipo, o que? Como é? Volta a fita. E ele ficou dizendo que quando alguém se agarrava a um diário da forma que eu estava segurando é porque tinha medo de alguém ler, e muitas vezes isso acontecia porque alguém já tinha lido. E eu falei pra ele que isso era totalmente sem sentido, e falei que quem tinha lido era ele, e ele falou como se tivesse explicando a uma criança que só o fato de eu levar um diário pra uma consulta já provava muita coisa. E que se eu me sentisse segura, pra início de conversa, não levaria ele pra uma consulta. E que ele tinha visto minhas fichas e tinha uma preenchida pela minha mãe, onde ela dizia que eu amava escrever em diários quando eu era pequena e que agora eu detestava.

Como minha mãe pode fazer isso? Fato é que agora ele sabe que quando eu era mais nova o meu querido irmão estourou o meu diário pra conseguir abrir ele. E ele leu páginas. E aquilo me deixou com tanta vergonha que eu não saí de casa por meses. Porque assim, ele tinha lido que eu achava bonitinho o nosso vizinho, o Guiga. E eu tinha certeza de que ele tinha comentado isso com o Guiga, porque os dois eram amigos e viviam saindo pra jogar futebol juntos.

Acho que esse Fuller deve ter notado que eu fiquei mal por isso, porque ele me liberou uns quarenta minutos mais cedo. E aqui estou eu, sentada na praça, esperando minha mãe voltar. Oh, que mundo cruel.


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Notas finais do capítulo

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