Garota Imperfeita escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 4
Estilo musical


Notas iniciais do capítulo

Galera, peço desculpas pelo atraso pra postar. Explicações no final do capítulo, boa leitura.



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Diário,

Eu estava aqui, deitada na minha cama, pensando em várias coisas e em nada. Já sentiu como se existisse um lugar melhor que esse? Quero dizer, eu olho pela janela e tudo o que consigo pensar são em outros lugares inexploráveis. Como um formigueiro. Já parou pra pensar em como ele deve ser grande por dentro e para uma formiga? Quando eu era mais nova, eu ficava observando as formigas andando de um lado pro outro ao redor da sua colônia. É claro que me arrependo pelas vezes em que coloquei a mangueira na abertura e inundava tudo. Pobrezinhas.

Eu terminei toda a minha lição de casa, arrumei meu quarto e agora não tenho nada pra fazer. Eu não sinto vontade de ler, nem de ver filme, nem de sair com alguém. O com alguém se refere a minha mãe, que saiu pra fazer compras.

As últimas duas semanas foram tão patéticas. Eu esperava algo novo, mas tudo foi simplesmente um preto, cinza e branco. A única coisa que pensei que fosse dar um pouco mais de emoção era as minhas visitas ao consultório, mas ao que parece, o doutor Fuller precisou se ausentar para resolver "assuntos pessoais", e um velho idiota está no lugar dele. E não é como se eu ficasse pensando onde Mitchell está, o que ele está fazendo ou porque ele quis me evitar. Tipo assim, ele não saiu por minha causa, ne? Eu não fiz nada. Será que ele não quer mais olhar pra minha cara? Porque se a última consulta foi um desastre - eu classifico como desastre nota 5 - a culpa foi dele. Eu pesquisei por códigos de condulta de um psciólogo e ele não não seguiu quase nada disso. Aliás, ele já se formou na faculdade, por acaso? Eu acho que ainda está cursando.

Mas isso não importa, e não é isso que tem feito meu coração doer tanto. Sim, eu estou quebrada, e confesso que os dias tem sido insuportáveis e um nada total por causa de uma coisa : O KENNEDY TA NAMORANDO!!!!

Eu não sei porque ainda me incomodo com isso. Quero dizer, eu não vejo ele a quase dois anos, e a última vez que nos falamos foi a uns dois meses, quando ele me deixou no vácuo. Eu penso que talvez ele tenha se esquecido de responder ou algo assim, mas não quero puxar assunto. Será que ele se lembra de mim? Será que ele se importa comigo, ao menos um pouquinho?

É segunda vez que eu tenho que ver isso. Antes, ele namorava uma garota extremamente popular da escola em que estudávamos, e tudo o que eu conseguia pensar na época era :

O que você está fazendo com ela? Você não percebe que eu seria melhor?

É claro que isso foi antes de eu me apaixonar pelo irmão dele, mas isso nem vem ao caso. Tudo isso é passado. Agora, irei me converter e me comprometer a morrer virgem. Eu não preciso de garotos. Eu não preciso do Kennedy, com seus lindos olhos verdes, e seu cabelo bagunçado, e seu sorrisinho irônico e sua boca inteligente e sarcástica. Quem precisa dele? Não é como se eu me importasse, não mesmo.

Mas e se eu tivesse feito algo diferente? Talvez, se eu tivesse sido menos eu. Quero dizer, ele era o cara mais popular da escola, e eu era a esquisita que vivia na biblioteca lendo um livro. Mas talvez, a culpa tenha sido dele por ser tão idiota. Eu tenho quase certeza de que ele não quis ficar comigo por vergonha. Mas não quero pensar nisso.

Acho que vou atrás da minha mãe. Cansei de ficar nesse estado sedentário.

X X X X

Eu pensei em ir atrás da minha mãe, e até liguei pra ela, avisando, e então ela fica perguntando se já terminei a lição, se já arrumei o quarto, até que chega e diz :

– Já terminou de preencher suas fichas?

Isso é um saco. Essas fichas estão me perseguindo? O novo psicólogo substituto, o doutor Rodrigues, me deu algumas folhas para que eu respondesse em casa, como se fosse uma prova. Mas até que não foi tão difícil, porque o assunto era algo que eu simplesmente amo : gênero musical.

A primeira pergunta foi sobre qual era meu gênero musical favorito.

Se tivessem me perguntado isso a uns dois anos atrás, eu não teria dúvida alguma e responderia, sem sombra de dúviva, Rock. O melhor estilo musical que existe e que já foi inventado. E se você não gostasse de rock, eu te consideraria um idiota. Eu sentiria pena de você caso dissesse que não tem um gênero musical favorito, e tiraria sarro caso fosse forró, sertanejo, pagode, samba, música brasileira. Eu me acharia super foda e acharia que ser rockeiro é a coisa mais fascinante do mundo.

Hoje, com meus míseros 16 anos, tenho orgulho de dizer que deixei de ter esse tipo de pensamento babaca e idiota. Na verdade, eu sinto pena de quem pensa como eu pensava, porque essas pessoas são limitadas. Eu acho esse tipo de pensamento patético.

Eu diria que sou eclética.

Definição : Uma pessoa eclética é aquela que aprecia diferentes tipos de música, comida, leitura, etc. Termo de origem grega, "eklekticós" significa aquele que escolhe, um selecionador. É uma posição intelectual ou moral, caracterizada pela escolha entre diversas formas de opinião, sem seguir uma linha rígida de pensamento.

Eu olhei no google. Uma pessoa eclética é aquela que possui várias linhas de pensamentos, que seu gosto varia, não se restringe a apenas uma determinada opinião, é aquele que gosta de diversas comidas muito diferentes. Também gosta de praticar atividades totalmente opostas, como um show de rock e um show de pagode, por exemplo.

Um indivíduo eclético não se prende a nada, é uma pessoa que gosta de tudo, tem interesses e preferências muito diversificadas, sem se importar com o que as outras pessoas possam pensar. Essa pessoa não segue um sistema em particular, mas seleciona e utiliza aqueles que são os melhores elementos de todos os sistemas. Aquele sentimento que reúne estilos variados, que não está preso a um único conceito.

Eu diria que não me prendo a um gênero e não tenho um favorito. Eu gosto de rock, pop, sertanejo, jazz, música clássica... Numa hora posso estar ouvindo Skank, na outra Lady Gaga. Posso estar ouvindo Alaniss Morissete e então Johnny Cash. Eu ouço o que eu gosto, e respeito o que você ouve e gosta, mesmo que eu não goste.

Canto hits como Musa do Verão, Adoletá, Puro Êxtase. Gosto bastante de música brasileira. Eu só não respeito funk carioca, porque pra mim, isso não entra na definição de músca. É horrível você estar andando na rua com sua família e ter que ouvir gemidos, palavrões e sacanagens. Quer ouvir esse tipo de lixo industrial, ouça. Mas precisa aumentar num volume tão absurdamente alto que um bairro inteiro possa ouvir? Isso deveria ser crime, é atentado ao pudor. Se já não é.

E confesso não curtir tanto certas músicas do Axé, porque os passos e coreografias é bem... Parecido com... Candomblé, se não se engano. Não que eu esteja querendo ofender alguém dessa seita ou religião ou seja lá o que ela é, mas pra mim isso é macumba. Então eu fico fora disso

Bom, acho que vou dormir um pouco enquanto minha mãe não chega. Boa noite, diário. Durma bem.

X X X X

Eu estava tão ansiosa para voltar para o consultório, e eu não seie xatamente o por que. Eu estava com o coração aos pulos, então eu entro na sala e me deparo com o senhor Marcos Rodrigues. De novo. E de novo eu me sento na cadeira e fico com aquela cara que expressa exatamente o que eu estou pensando : não quero estar ali.

Ele me ofereceu uma xícara de café, e eu juro que poderia ter vomitado ali mesmo.

Motivos para detestar café:

1 : Prometi a minha mãe que não usaria drogas.

2 : Estraga os dentes.

3 : Tem um cheiro horrível.

4 : Tem um gosto pior que o cheiro.

Eu recusei e fiquei olhando a sala. Enquanto ele ficava lendo e examinando minhas respostas das folhinhas, fiquei procurando alguma foto de Mitchell. Engraçado, parecia que não tinha nada dele ali. Eu estava prestes a perguntar se ele iria voltar, quando o doutor perguntou o motivo de eu me considerar eclética. Então eu comecei a explicar.

Falei que eu tinha um amigo e ele se dizia eclético. Eu não dava muita corda para os discursos moralistas que ele dava, mas depois percebi que era verdade. Eu dizia que o Rock era o único estilo musical que não tinha preconceito, mas é um dos que mais tem. E daí se uma pessoa gosta de sertanejo, forró, baião, country, mpb, sinfonias, blues? Isso é música, não te torna melhor do que ninguém. E eu não sou obrigada a me prender a um estilo apenas. Eu disse que era uma divergente, e que se eu quiser, eu posso ouvir pop, rock, e o que eu achar que é bom. É isso, eu ouço o que eu gosto. Falei que era a mesma coisa em relação a comida, filmes, séries que assisto, livros que leio. Eu nunca me prendia a um tema, eu ficava com aquilo que eu gostava.

Em resumo, eu praticamente disse que era uma divergente. E depois de terminar de falar, eu fiquei em silêncio, e ele ficou em silêncio, e aquilo foi muito constrangedor. Eu tinha dito algo errado? Em seguida, ele pediu desculpas e saiu da sala. Aquilo foi uma das situações mais estranhas que presenciei, e olha que eu já vi coisas bizarras. E agora estou aqui, sozinha, a quase cinco minutos, esperando alguém dar sinal de vida. Eu devo ir embora? Eu devo esperar?

Espera, estou ouvindo passos se aproximando. Será que ele vai me dispensar? Ou será que foi buscar reforços para me internar? Eu não poderia ser internada por isso, não é? O que eu disse de errado?

Ah, não... É ELE!


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Notas finais do capítulo

Então, meu pc deu problema e estava horrível digitar nele. Agora ta tudo certo e voltei, dentro de três dias posto o próximo capítulo. Beijos.