Bésame escrita por Verônica Souza


Capítulo 19
Audácia




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Lety havia perdido o sono durante a noite, mas o que a incomodava não era o cansaço, e sim a preocupação de voltar a se encontrar com Miguel, e o pior: Ele a reconhecer. Tudo o que Lety queria era esquecer toda aquela história e continuar com sua vida ao lado de Fernando.

– Lety? – Carolina abriu a porta.

– Olá. – Lety virou-se e sorriu.

– Vim ver se você quer companhia para almoçar. Omar disse que ele e Fernando ficarão para terminarem alguns detalhes da próxima campanha.

– É claro. – Lety desligou a tela do computador e se levantou. – Estou precisando mesmo distrair.

– Por quê? O que aconteceu?

Lety olhou para a porta e pensou que seria arriscado demais tocar naquele assunto com Fernando trabalhando ao lado. Não queria preocupa-lo, muito menos irritá-lo. Conhecia Fernando bem o suficiente para saber que ele iria atrás de Miguel, e sabe-se lá o que faria com ele.

– Conversamos sobre isso durante o almoço. – Lety forçou um sorriso. – Podemos?

– Claro!

As duas saíram da sala e Fernando e Omar trabalhavam na mesa da presidência.

– Meu amor, estou indo almoçar com a Carolina. Você quer alguma coisa?

– Não meu amor, pode ir.

Lety e Carolina se despediram de Fernando e Omar e seguiram pela recepção até o Elevador. A recepção estava vazia, já que as mulheres do Quartel haviam saído para o almoço no mesmo uma hora antes.

– Você parece tensa, Lety. – Carolina disse enquanto desciam de elevador.

– Dá para notar assim? – Lety perguntou olhando para o espelho do elevador.

– Talvez eu a tenha visto assim tantas vezes que já me acostumei a reparar. Está preocupada com alguma coisa não é?

– Ai Carol... Talvez eu esteja ficando um pouco paranoica demais.

– O que aconteceu, Lety?

Antes de Lety começar a conversa, a porta do elevador se abriu, e as duas saíram da empresa. Celso estava na portaria, e as mulheres do Quartel voltavam do almoço.

– Lety! – Tomás a gritou e as duas pararam de andar, esperando por Tomás que corria na direção das duas. – Estão indo almoçar?

– Sim.

– Posso acompanha-las?

– É claro. – Lety disse.

– Seria um prazer, Tomás. – Carol sorriu.

Os três se viraram para atravessarem a rua, quando uma moto parou em sua frente. O barulho do freio foi tão alto que Lety deu um pulo para trás, e as mulheres do quartel que vinham na direção contrária correram para ver o que havia acontecido.

– Você é louco? – Carol perguntou irritada. – Quase nos atropelou!

O homem desceu da moto e tirou seu capacete. Lety prendeu o folego e se agarrou no braço de Tomás, que também olhava abismado para o homem. Carol olhou para os dois sem entender, mas antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, foi interrompida por Miguel.

– Lety. Você é a Lety, não é? Letícia Padilha Sollis. – Ele disse com a voz falha.

Lety não respondeu. Deu mais um passo para trás, e Tomás fechou a mão, nervoso.

– É você, não é?

– O que pensa que está fazendo aqui? – Tomás perguntou.

– Tomás? É você?

– É melhor você sair daqui, antes que...

– Eu não quero incomodá-los. – Ele dizia tentando se aproximar de Lety, mas à medida que ele se aproximava ela se afastava, e Tomás entrava em sua frente, protegendo-a. – Eu só preciso ter uma conversa com você, Lety.

– Eu não tenho nada para conversar com você! – Lety disse ríspida. – E é melhor você ir embora.

– Então você se lembra de mim, não é?

– É claro que me lembro de você. E é por isso mesmo que não quero que se aproxime mais de mim, e que nunca mais dirija a palavra a mim.

– Lety, por favor... Me deixe explicar.

– Lety, você quer que chame a policia? – Carol perguntou.

– Não, não será necessário. Ele vai embora, e nunca mais vai voltar.

– Eu só quero me descul...

– Se desculpar? – Lety riu debochada. – Então você acha que pode me seguir e pedir desculpas? Que tudo ficará bem? O que você fez comigo não tem perdão. E eu não preciso. Eu só quero que vá embora.

– Algum problema? – Celso se aproximou com Sansão.

– Não, problema nenhum. Eu só quero conversar com a Letícia.

– Acho que o Senhor ainda não entendeu, que a Senhora Mendiola não quer conversar com o Senhor.

– Senhora? Mendiola? – Os olhos de Miguel pararam sobre a mão esquerda de Lety, onde sua aliança estava visível. – Então você se casou.

– Sim, eu me casei, por mais estranho que possa parecer. E estou muito bem casada. Agora por favor, vá embora e me deixe em paz.

– Lety, esse rapaz está te incomodando? - Sara se aproximou, acompanhada das outras do Quartel.

– Mas o que é isso? Uma gangue? – Miguel perguntou perdendo a paciência. – Eu só quero um minuto para conversar com você, Lety.

– Eu já disse que não quero conversar com você!

– Mas Lety... – Miguel deu um passo à frente e novamente Lety se afastou.

– Se afaste de mim! – Disse nervosa.

– É melhor você ir embora! – Tomás disse.

– Olha, não se meta, está bem?

– Eu me meto sim!

Todos começaram a falar ao mesmo tempo. Tomás enfrentava Miguel enquanto ele tentava dizer que queria apenas conversar com Lety. Talvez o calor que fazia naquela manhã tenha ajudado, misturando-se com a bagunça e o falatório, e principalmente o nervosismo. Lety só queria que Miguel a deixasse em paz, e que as lembranças de toda a humilhação que ele a fez passar fosse embora. Lety sentiu tudo rodando ao seu redor, e aos poucos, tudo escureceu.

– Lety! – Carolina gritou, e antes que ela caísse no chão, Tomás a segurou.

– Chamem um médico! – Marta disse.

– Leve ela pra dentro, Tomás! – Carol disse.

Todos se desesperaram, e no meio de toda a confusão, Tomás carregou Lety para dentro da Conceitos, e Carol o acompanhou. Sara segurou Miguel que tentou segui-los, e Celso ameaçou ligar para a policia se ele não fosse embora. Depois de muita insistência e ameaças, Miguel aceitou ir embora, mas antes, deixou seu telefone com Paula Maria, e suplicou que Lety ligasse para ele.

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– Deite ela aqui! – Carol apontou para o sofá da recepção. Tomás deitou Lety e sentou-se ao seu lado, tentando acordá-la.

– Eu já liguei para o médico. Ele irá chegar em dez minutos.

Em pouco tempo a recepção se encheu. O quartel se aproximou preocupadas, e um grande falatório preencheu a recepção.

– Será que vocês não sabem se portar bem em uma empresa? – Carmen disse.

– Cala a boca perua! – Paula Maria disse irritada.

– Não vê que a Lety não está bem? – Lola disse.

– Ai meu deus! O que aconteceu?

– Não é da sua conta!

– Meninas, por favor! – Irminha exclamou. – Vamos ter mais respeito, por favor. – Ela sentou-se ao lado de Tomás, tentando ajuda-lo a acordar Lety.

– Ai meu Deus como vocês são barulhentas! Bando de loucas! – Luigi apareceu com as mãos na cabeça. – É impossível trabalhar assim e... Ai! O que aconteceu? – Ele se aproximou do sofá onde Lety ainda estava desacordada.

– Ela passou mal, Luigi. Vá chamar o Fernando, por favor. – Carol disse.

– Sim, sim é claro!

Luigi se apressou em ir até a sala da Presidência, e sem bater na porta, a abriu.

– Fernando!

– Mas o que é hein? Não se tem mais educação por aqui? – Fernando reclamou. – Imagina se eu e Omar estivéssemos em um momento intimo aqui?

Luigi olhou estranhamente para os dois, mas não estava no momento para brincadeiras.

– Você precisa vir logo!

– O que aconteceu? Por que toda essa confusão na recepção? Já disse a elas que quando voltarem do almoço e ganharem sobremesa não precisam fazer todo esse barulho.

– Fernando! É a Lety!

– A Lety? – Fernando se levantou imediatamente, e Omar fez o mesmo. – O que foi? O que aconteceu?

– Ela está desacordada lá na recepção!

Imediatamente Fernando disparou indo para a recepção. Aproximou-se da roda de pessoas que estava em volta do sofá e se infiltrou no meio. Seu coração disparou e seu corpo gelou ao ver Lety desacordada em sua frente.

– Lety! Meu amor! – Fernando se abaixou ao lado dela e segurou sua mão. – O que foi que aconteceu?

– Ela desmaiou! – Sara disse.

– É mesmo? Quase não percebi! – Fernando respondeu ironicamente. – O que aconteceu para ela desmaiar?

Dessa vez ninguém se atreveu em responder. Apenas olharam uns para os outros, compartilhando do mesmo pensamento: Arriscariam contar a Fernando o que aconteceu?

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Fernando andava de um lado para o outro. Ninguém voltou ao trabalho desde que o médico chegou para examinar Lety. Fez-se silencio na recepção, mas todos permaneciam ali, esperando por notícias. O médico se levantou e colocou seus equipamentos em sua maleta. Fernando se aproximou dele no mesmo instante.

– Como ela está?

– Ela ficará bem. Foi apenas uma queda de pressão.

Lety já estava acordada, mas não disse nada desde então.

– Ela vai ficar bem?

– Eu prefiro dizer com certeza depois que examiná-la direito. Lety, preciso que vá ao meu consultório amanhã bem cedo. Precisamos fazer alguns exames e ter certeza de que está tudo bem com você e com o bebe.

Lety apenas balançou a cabeça concordando.

– Por hoje apenas aconselho que ela fique em repouso e não se esforce. E que se alimente bem.

– Alimentar é comigo mesmo! – Marta disse. – Vou buscar algo bem saudável para ela comer!

– Eu ajudo! – Lola disse.

– Fantástico. Obrigado meninas.

As duas sorriram abobadas para o médico (que era um homem muito charmoso) e então se retiraram.

– Obrigado, Doutor. – Fernando disse apertando sua mão.

– Se houver mais algum problema podem me ligar. Sente-se melhor Lety?

– Sim. – Respondeu apenas.

– Ótimo. Lembre-se, fique de repouso e não se esforce.

– Nós cuidaremos disso, Doutor. – Carolina disse.

– Fico mais tranquilo em saber que muita gente se preocupa com ela. Bom, agora estou indo. Tenham uma boa tarde.

– Obrigado. – Fernando novamente apertou a mão do Doutor.

– Eu o acompanho, Doutor. – Carmen se aproximou sorrindo.

– Nós também. – Sara se aproximou acompanhada de Paula Maria, imitando o andar esnobe de Carmen.

Fernando se aproximou de Lety e segurou sua mão.

– Meu amor, sente-se melhor?

– Sim.

– Fernando, é melhor levarmos ela para sua sala. Ela precisa descansar. – Disse Carolina.

– Sim, é claro.

Lety se apoiou no ombro de Fernando e se levantou. Tomás, Omar, Carolina e Luigi os seguiram enquanto iam para a sala da presidência. Todos entraram na sala, e Fernando ajudou Lety a se deitar no sofá.

– Precisa de alguma coisa? Está sentindo alguma coisa?

Ela apenas balançou a cabeça negativamente.

– Vamos deixa-la descansando. Tomás... Porque não vão até a sala de reunião e você explica ao Fernando o que aconteceu? Eu fico aqui com Luigi fazendo companhia à Lety.

– Tem certeza de que está bem? – Fernando novamente perguntou à Lety.

– Sim, estou.

Era notável que ela estava magoada com alguma coisa, mas Fernando não quis aborrece-la. Acompanhou Tomás à sala de reunião, junto com Omar. Assim que ficaram sozinhos, Fernando olhou para Tomás esperando que ele começasse a explicar o acontecimento.

– E então? – Fernando cruzou os braços.

– É melhor se sentar.

– Como assim?

– A história é um pouco longa.

– Longa? Que história é essa Tomás? Você está me deixando nervoso...

– Maninho, apenas faça o que ele disse. – Omar tentou acalmá-lo.

– Está bem! – Fernando puxou uma cadeira, irritado, e sentou-se. – Pronto. Está do seu agrado agora?

– Sim.

Tomás também se sentou, e contou toda a história desde o início. Apesar de Fernando já saber da história de Lety e Miguel, ouvir Tomás contar o seu lado era ainda mais doloroso. Se Fernando sentiu-se péssimo ao ouvir aquela história a primeira vez, estava ainda pior dessa vez. Enquanto Tomás contava o que Miguel fez com Lety, Fernando sentia apenas repulsa por aquele homem, mas também sentia uma grande culpa, por pensar que fez o mesmo (ou ainda pior) com Lety. Por mais que ela já tivesse dito várias vezes que o havia perdoado, Fernando no fundo nunca se perdoaria pelo que fez.

Mas quando Tomás contou sobre a volta de Miguel, Fernando ficou ainda pior. Uma mistura de todos esses sentimentos se transformou em uma enorme bola de neve, e tudo resultou em apenas um sentimento: Ódio. Fernando sentia seu sangue queimar dentro de seu corpo, sentia seus músculos se contraírem de raiva. Era algo que ele nunca havia sentido por alguém. Se antes já sentia raiva por Miguel, sabendo que ele havia retornado e que teve a audácia de ir até Lety apenas piorou a situação.

– E foi isso que aconteceu... – Tomás finalizou.

Fez-se silencio na sala. Omar olhou tenso para Fernando, estranhando todo aquele silencio, já que ele mesmo estava com raiva daquele homem que mal conhecia.

– Então quer dizer... Que ele foi capaz de fazer tudo isso com a Lety, e ainda procura-la, mesmo depois de tudo? – Fernando perguntou em baixo tom. Tomás e Omar se olharam, estranhando a tranquilidade de Fernando, que não durou muito tempo.

Fernando fechou sua mão e socou a mesa em sua frente, fazendo-a balançar como se fosse despencar no chão. Ele se levantou e colocou a mão na testa, andando de um lado para o outro.

– Fernando... – Omar se preparou para tranquiliza-lo.

– COMO ELE TEVE AUDÁCIA DE FAZER ISSO, OMAR? – Fernando aumentou o tom de voz, e seu rosto estava completamente vermelho. – COMO ELE TEVE CORAGEM DE IR ATRÁS DA LETY DEPOIS DE TUDO O QUE FEZ?

– Fernando, se acalma... – Omar tentou segurá-lo pelo ombro, mas Fernando não parava de andar de um lado para o outro.

– ELE PERDEU O JUIZO, NÃO FOI? ELE É UM LOUCO! UM IMBECIL!

– Fernando...

– Isso não vai ficar assim, Omar. Isso não vai ficar assim! Eu vou acha-lo, nem que eu tenha que procura-lo no inferno!

Tomás e Omar apenas deixaram que Fernando liberasse toda a raiva que sentia. Ao menos ele e Miguel não haviam se encontrado, ou Fernando seria capaz de mata-lo.

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– Lety, não precisa se preocupar mais com isso... – Carol segurou a mão de Lety. – Eu duvido que depois da vergonha que ele passou hoje, ele vai voltar a procura-la.

– Eu não quero vê-lo nunca mais, Carolina.

– E você não vai precisar, Lety.

– Ai minha deusa, eu te entendo. – Luigi disse. – Ex é a pior coisa do mundo. Todos os ex-namorados deveriam ser enviados para outro planeta, para que não os víssemos nunca mais. Ex se fosse bom não se chamaria ex. Ainda bem que os meus nunca correm atrás de mim. Quero dizer, já aconteceu uma vez, mas eu dei um jeito nisso.

– O que você fez? – Lety perguntou.

– Eu voltei com ele. Assim ele não seria mais meu ex.

As duas riram e Lety colocou a mão em sua barriga.

– Está se sentindo mal de novo? – Luigi perguntou.

– Não... Eu só fico preocupada. Já é a segunda vez que isso acontece. Estou com medo de ir à consulta amanhã e descobrir que tudo isso está afetando o bebê.

– Não está, Lety. – Carolina disse. – Está tudo bem, você vai ver.

– Assim espero.

Pela terceira vez ouviram um estrondo vindo da sala de reunião.

– Pelo visto Fernando está quebrando a sala inteira. – Carolina disse.

– Eu só espero que ele não tenha ficado muito bravo. – Lety disse tensa. – Não quero que ele se aborreça com essa história, muito menos quero que ele se irrite e vá atrás do Miguel.

– Se eu fosse você deixaria ele ir atrás desse tal de Miguel. Tenho certeza que o Fefê daria uma boa lição nele. – Luigi disse.

– Não quero mais ter nenhuma relação com Miguel. Quanto mais rápido esquecermos isso, melhor será.

– Lety tem razão. Deixe que Fernando extravase a raiva dele na sala. Assim ele ficará mais calmo e você pode tranquiliza-lo.

No mesmo instante a porta se abriu, e Omar e Tomás entraram, acompanhados de Fernando. Sua gravata estava frouxa, sua camisa social estava com as mangas arregaçadas, e ele carregava o paletó em seu braço.

– Sente-se melhor companheiro Seu Fernando? – Tomás perguntou.

– Sim Companheiro Tomás. Estou melhor. – Fernando respondeu com tranquilidade, embora sua feição demonstrasse o contrário.

– Bom, vamos deixar que vocês conversem. – Carolina se levantou e Luigi a acompanhou. – Vamos, rapazes.

– Obrigada, Carol. – Lety disse, recebendo um sorriso como resposta. Os quatro saíram da sala, deixando os dois a sós. Fernando colocou o paletó em sua mesa, e com as mãos no bolso se aproximou de Lety.

– Como está se sentindo? – Ele perguntou.

– Eu estou bem. E você, como está?

– Ficarei melhor.

– Fernando, eu...

– Por favor, não diga nada. – Ele suspirou. – Não é sua culpa.

– Eu só quero esquecer tudo o que aconteceu.

– Eu sei.

– E quero que você esqueça também.

– Não será fácil para mim, Lety. Esse... Esse idiota aparece depois de anos e vem te procurar para se desculpar. Depois de tudo o que fez com você.

– Eu sei que não é fácil, mas você precisa tentar esquecer.

– Eu não consigo esquecer, Lety, porque eu fiz exatamente o mesmo.

Lety ficou em silencio.

– Eu te magoei, te feri, e depois tentei me desculpar...

– Meu amor, não precisamos falar sobre isso.

– Eu sei. Eu sei. – Fernando sentou-se ao lado de Lety. – Eu sei que não tenho o direito de ter tanta raiva dele, porque fiz exatamente o mesmo. Mas eu tenho, Lety. Eu estou com tanta raiva que eu seria capaz de... – Ele interrompeu sua frase e olhou nos olhos de Lety. – Não posso permitir que ele se aproxime de você novamente.

– Ele não vai. E não quero que fique pensando nisso, e nem no que aconteceu no passado. Não precisamos lembrar. Estamos aqui, agora, juntos. Temos muita coisa pela frente.

Fernando segurou sua mão e ela a colocou em seu ventre, junto com a sua.

– Só temos que nos preocupar com uma coisa agora.

– Eu sei. - Fernando sorriu olhando para a barriga de Lety. – Eu sei...

– Me prometa que vai deixar esse assunto para lá, mesmo que seja difícil.

Fernando não respondeu.

– Fernando. Me prometa.

– Eu prometo, Lety.

Lety sorriu e Fernando se inclinou para beijá-la. Antes de beijá-lo, Lety olhou para a mão dele, que estava vermelha.

– O que foi isso?

– Talvez eu tenha descontado um pouco a minha raiva na mesa.

– Fernando!

– Não se preocupe, não está doendo.

– Tem certeza?

– Tenho.

Fernando novamente se aproximou para beijá-la, e dessa vez não foram interrompidos.

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Durante o resto da tarde Lety foi paparicada. A todo o momento suas amigas lhe levavam algo para comer, e aproveitavam para fazer companhia a ela. Fernando nem ao menos se importou que estivesse trabalhando enquanto conversavam, sentia-se mais aliviado que Lety não ficasse sozinha.

À noite, quando todos já estavam indo embora, Lety insistiu que conseguia andar sem ajuda, e que se sentia melhor. Depois de muita discussão Fernando aceitou que ela descesse e o esperasse no carro enquanto ele organizava os balancetes em sua mesa. Ele organizou o mais rápido possível para não deixar Lety sozinha no carro por muito tempo, e assim que terminou, se apressou em ir embora. Estava saindo da empresa quando ouviu Paula Maria chama-lo.

– Seu Fernando! – Ela se aproximou sem folego por correr até ele.

– Paula Maria? Achei que já tivesse ido embora.

– É que eu esqueci uma coisa. – Ela tirou um papel de sua bolsa e o olhou séria.

– O que é isso?

– O homem... O tal de Miguel me entregou. Disse que era para entregar à Lety para que ela ligasse para ele. É claro que eu não ia entregar isso a ela, então achei melhor entregar ao Senhor. Eu não gostei nada dele, principalmente depois do que aconteceu com a Lety. Não sabemos quem ele é, mas não queremos que ele incomode a Lety mais. Então eu e as meninas concordamos em entregar ao Senhor. O Senhor resolve o que quer fazer com isso.

Fernando encarou o papel na mão de Paula Maria, e a raiva que ele havia controlado durante toda a tarde voltou à tona.

– Fez bem. – Ele pegou o papel e o embolou, colocando em seu bolso. – Obrigado.

– Mas Seu Fernando, tome cuidado.

– Não se preocupe. – Fernando respondeu. – Agora vá pra casa, tenha uma boa noite.

– O Senhor também.

Fernando virou-se e saiu, deixando Paula Maria confusa pensando se havia feito a coisa certa, ou se havia piorado ainda mais a situação.

– Aconteceu alguma coisa? Vi Paula Maria voltando correndo. – Lety perguntou quando Fernando entrou no carro.

– Não, ela apenas esqueceu de me dar um recado. – Ele forçou um sorriso. – Agora vamos embora, o dia hoje foi cheio.


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