Bésame escrita por Verônica Souza


Capítulo 16
Passado


Notas iniciais do capítulo

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Lety foi despertada por barulhos vindos da cozinha. Com dificuldade ela abriu os olhos, olhando em volta e procurando por Fernando. A cama ao seu lado estava vazia, e a solidão cresceu em seu peito. Pensou que mais uma vez Fernando a estava ignorando, e mais um dia teria que aguentar sua frieza sem explicação. Mas antes de se levar e procurar o motivo de tanto barulho na cozinha, foi surpreendida por Fernando entrando no quarto com uma bandeja de café da manhã em mãos.

– Bom dia meu amor. – Ele disse animado se aproximando da cama.

– Bom dia. – Lety respondeu surpresa. – O que é isso?

Fernando colocou a bandeja na mesinha ao lado da cama, inclinando-se para depositar um beijo demorado em Lety. Ainda um pouco desnorteada ela abriu um largo sorriso, esperando uma explicação para aquela atitude amável logo pela manhã.

– Acordei mais cedo e decidi preparar um café para você, do jeito que você me ensinou. Com a sua geleia preferida... – Passando o dedo pela geleia, ele o aproximou dos lábios de Lety. Sem demora ela abriu a boca e provou da geleia. – Não está ótima?

– Sim... Está. Mas espera, você acordou cedo em um sábado, comprou tudo isso para o café? – Perguntou surpresa.

– Sim. Perdi o sono e resolvi preparar essa surpresa para você. Gostou?

– Se gostei? Eu adorei meu amor! – Lety o puxou para mais perto, e lhe deu um beijo ainda mais demorado do que o anterior. – Espera. – Ela se afastou um pouco para olhá-lo seriamente.

– O que foi?

– Não aprontou nada, não é?

– O que? – Ele arregalou os olhos, espantado. – O que está querendo dizer Senhora Mendiola?

– As meninas do quartel disseram uma vez que quando o marido surpreende a esposa, devíamos desconfiar de que ele aprontou alguma coisa de errado. Você não tem saído à noite, não é? – Perguntou divertida.

– Na verdade Lety... Tenho algo para te contar. – Sua feição mudou para uma fingida cara de choro. – Eu tenho saído durante a noite... Para me vestir de Princesa Lili. Me desculpe, Lety, mas é mais forte do que eu.

Lety deu uma gargalhada e deu um leve tapa no ombro de Fernando. Ele a acompanhou nas gargalhadas, e os dois se pegaram rindo um para o outro, como não faziam há algum tempo.

– Te ver assim aquece o meu coração, sabia? – Ele tocou a mão dela delicadamente. – Faço tudo para manter esse sorriso em seu rosto todos os dias.

– Se continuar me preparando um café assim, pode ter certeza que verá esse sorriso sempre. – Ela riu e ele beijou sua mão.

– Eu te amo tanto, Letícia.

– Eu também te amo, meu amor.

De repente Fernando pareceu mais sério, e se aproximou mais de Lety, repousando uma das mãos suavemente em sua nuca, entrelaçando os dedos pelos cabelos emaranhados de sua amada. Seus olhares se cruzaram e Lety sentiu que ele queria lhe dizer algo. Seus rostos ficaram próximos um do outro a ponto que era possível um sentir a respiração do outro.

– Lety, eu nunca vou me permitir te ver magoada novamente.

– Por que está falando sobre isso, meu amor?

– Eu não vou suportar sentir a dor de te perder de novo, Lety.

– Fernando... Você não vai me perder. – Lety repousou suas mãos carinhosamente no rosto dele. – Você me tem para sempre.

– Você sabe que eu não sou um ser humano perfeito, Lety. Tenho medo de que em algum momento, mesmo contra a minha vontade, eu te magoe de alguma maneira. E isso eu nunca, nunca vou me perdoar. Não quero cometer esse erro de novo, Letícia.

– Você é outro homem. Eu tenho certeza que nunca me magoaria. Eu confio em você, Fernando. Confio no seu amor por mim.

– Disso você não pode duvidar nunca, Lety. Eu te amo mais que a mim mesmo. Eu só quero ser o homem perfeito para você. Quero ser o homem que você merece.

– Você já é esse homem. – Lety sorriu e notou que os olhos de Fernando estavam marejados. Assim como ele, ela se emocionou, mas antes que demonstrasse isso, o puxou para um beijo. Fernando se sentiu reconfortado após o beijo. Não eram necessárias palavras para que ele tivesse a certeza que Lety era e sempre seria inteiramente sua.

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Omar andava de um lado para o outro ajeitando seu paletó. Estava ansioso, nervoso e com uma enorme vontade de enforcar o seu melhor amigo. Pela quinta vez consecutiva ele olhou em seu relógio e suspirou impaciente.

– Seu Omar, o Senhor não acha melhor se sentar? – Ramon perguntou.

– Eu não quero. Não quero nada. Eu só quero matar aquele falso que se diz meu amigo! Aquele insensível, aquele, aquele...

– Cuidado com o que vai dizer, hein! – Fernando se aproximou de Omar e Ramon suspirou aliviado. Estava em tempo de ter um ataque com Omar nervoso. – Mas o que é isso, Omar? Você está suando mais do que uma chaleira!

– Onde é que você estava? Pensei que não viria!

– O transito estava ruim. Pra que todo esse estresse?

– Pra que? Pra que? Você não se lembra de que vou me casar daqui a dez minutos? Quer que eu fique como?

– Quero que relaxe. Você está parecendo um doido. Ele não está parecendo um doido, Ramon?

– Está sim.

– Por que não se acalma um pouco? Senta aí. – Fernando o empurrou para uma cadeira e Omar sentou-se.

– Aqui, Seu Omar! – Celso se aproximou com um copo de whisky.

– O que é isso? – Perguntou Fernando.

– Preciso me acalmar. – Omar disse pegando o copo, mas antes que bebesse, Fernando o tirou de sua mão.

– Ficou louco? Quer beber antes do seu casamento? Vai beijar a noiva com bafo de bebida?

– Fernando, me devolve! Eu preciso me acalmar!

– Não, você não vai beber isso!

– E nem você!

– É claro que não seu imbecil. Ninguém vai beber!

Fernando jogou o whisky em um vaso de planta, no mesmo momento em que o padre parou à porta da pequena sala da igreja onde os rapazes estavam reunidos. Fernando olhou sem graça para o padre e acariciou a folha da planta.

– Estava um pouco seca, padre. Ela estava com sede. – Tentou explicar-se.

– Sei. – O padre disse ignorando a atitude de Fernando. – Vim avisar que a noiva já está lá fora. Podemos começar a cerimonia?

– Sim.

– Não.

Fernando e Omar disseram juntos.

– Como não? – O padre perguntou à Omar.

– Ele está um pouco nervoso, sabe?! – Fernando sorriu sem graça levantando Omar pela gola da camisa. – Ele está pronto sim.

O padre balançou a cabeça negativamente e saiu da sala, deixando-os a sós.

– Omar! Omar! Para com isso! Não seja frouxo!

– Eu? Frouxo? Olha quem fala... – Omar riu sarcasticamente. – Até parece que você não se lembra de como ficou no seu casamento com a Lety.

Omar entrou no apartamento de Fernando e ele estava sentado no sofá, com os olhos fechados, em uma posição de ioga. Omar prendeu o riso e se aproximou em silencio, parando na frente de Fernando, em seguida bateu suas mãos uma na outra, provocando um grande barulho que fez Fernando pular no sofá enquanto Omar dava gargalhadas.

– Você é imbecil ou o que? – Fernando perguntou irritado.

– Calma irmão, calma! Eu vim ver como você está. Afinal você vai se casar daqui a três horas e meia. Como está se sentindo? – Omar sentou ao lado de Fernando. – Quem diria irmãozinho. Quem diria que você, um cara que corria de casamento, está indo se casar.

Fernando ficou em silencio e Omar olhou divertido para ele.

– Por que estava fazendo ioga? Não me diga que... Não! – Omar novamente soltou uma gargalhada. – Não me diga que está com tensão pré-casamento?

Fernando não respondeu. Apenas ficou de cara fechada olhando Omar rir da sua cara.

– Eu não acredito, Fernando! Fernando! – Omar bateu no ombro dele. – Isso é coisa para mulheres, irmão! Os homens não ficam tensos antes do casamento.

– E como você sabe disso? Que eu me lembre você nunca se casou.

– Isso é um fato! Enquanto as mulheres ficam em casa chorando, se descabelando por causa do casamento, os homens ficam em casa relaxando e aproveitando os últimos minutos de paz e paciência. E então nos atrasamos dez minutos para mostrarmos quem manda.

– É a noiva que se atrasa, seu animal.

– É claro que não! Essa regra não existe mais! Agora os homens que se atrasam!

– Não diga besteiras, Omar! Por favor! Eu já estou nervoso o suficiente.

– Mas por quê? Agora falando sério, Fernando. O que pode dar errado? A única coisa que pode dar errado é a Lety desistir no ultimo minuto porque percebeu que ama o Domensolin, que te largue no altar para ir atrás do verdadeiro amor da vida dela.

Fernando fechou as mãos, irritado e se levantou.

– Você tem certeza de que veio para me ajudar, Omar?

– Não. Não, eu estou brincando Fernando. Agora falando sério, não tem porque você ficar assim. A Lety te ama, você ama ela. E vocês vão se casar.

– Agora sim... Agora sim está me acalmando. – Fernando sorriu. – Tem razão. Não tenho porque ficar nervoso. – Disse enchendo o peito. – Lety me escolheu, e ninguém vai mudar isso. O Domensolin está bem longe para conseguir estragar qualquer coisa. Então está tudo bem!

– Isso. É assim que eu gosto!

– E eu vou entrar naquela igreja totalmente confiante!

– Por que não fazemos um teste? Vai, finge que eu sou a Lety.

– O que?

– Finge que eu sou a Lety! Para você treinar e não fazer feio na igreja com todos os convidados.

– Está bem. Está bem.

– Hãm-hãm. – Omar limpou a garganta e engrossou a voz. – Você, Fernando Mendiola, aceita a monstren...

Fernando se preparou para bater em Omar.

– Não. Não. Desculpe, é a força do hábito. Vamos de novo. Fernando Mendiola, aceita Letícia Padilla Solis como sua legítima esposa?

– Sim, eu aceito! – Fernando disse contente.

– Agora faz o padre que eu farei a Lety.

– E você, Letícia Padilla Solis, aceita Fernando Mendiola, um homem tão bonito, elegante, e sedutor como seu esposo?

– Hehehehe... Eu posso pensar por um momento? – Omar afinou a voz e piscou os olhos sem parar. Fernando o olhou irritado. – Mas é claro que aceito!

– Eu vos declaro, marido e mulher!

– Pode beijar a noiva!

Omar abriu os braços e Fernando se afastou com um pulo, caindo no sofá. Os dois deram gargalhadas e finalmente Fernando deixou sua ansiedade de lado. Estava pronto para se casar, e ser feliz com a mulher que amava pelo resto da vida.

– Omar, você vai sair dessa sala agora e vai até lá para receber a sua noiva! – Fernando disse irritado. – Seja homem ao menos alguma vez na sua vida!

Ramon e Celso olharam assustados para Fernando.

– Se você não for por bem, vai por mal!

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– Eu estou tão nervosa, Lety. – Carol disse olhando-se no espelho.

– Isso é normal. Mas você está linda! Maravilhosa! – Lety sorriu olhando para o reflexo da amiga.

– Acha que ele está bem?

– Omar?

– Sim.

– É claro que está. Os homens não ficam nervosos como nós mulheres. Aposto que estão se divertindo enquanto te esperam.

– É... Tem razão, Lety.

– Então, vamos?

– Vamos. – Carol sorriu.

– Ai! Ai como está linda! – Luigi se aproximou das duas, fingindo enxugar lágrimas falsas. – Quem é que te arrumou tão lindamente assim?

– Você, é claro! – Carol riu.

– É claro! – Luigi disse orgulhoso e os três riram. – Estão todos te esperando lá fora. Seus pais já chegaram e só falta você.

– E Omar?

Luigi olhou para Lety como se quisesse dizer algo, mas então sorriu animado.

– Ele também, sua boba! Agora vamos!

– Vamos!

Os três saíram da salinha da igreja, passando pela lateral. Quando se aproximaram, os convidados aplaudiram a chegada de Carol. Ela sorriu emocionada, mas procurava pelo seu noivo, sem sucesso.

– Onde está o noivo? – Lety perguntou e todos se calaram, olhando ao redor procurando por Omar.

Carol começou a se sentir tensa, assim como o clima, que pesou. Os pais de Carol se aproximaram tentando acalmá-la, e Lety e Luigi se prepararam para irem procurar por Fernando e Omar, até que ouviram vozes vindas de dentro da igreja. O padre olhou para a porta de entrada, e todos fizeram o mesmo. Na porta da igreja, Fernando puxava Omar pelo braço enquanto ele travava suas pernas no chão. Todos ficaram em silencio observando aquela cena, assustados.

Lety balançou a cabeça negativamente e envergonhada. Carol ficou de boca aberta olhando para os dois. Finalmente Fernando conseguiu puxar Omar com força, e o jogou para cima de Carol. Os dois olharam assustados para ela e então sorriram envergonhados.

– Carol, você está lindíssima. – Fernando disse sorrindo sem graça. – Então... Está entregue. Ele é todo seu. – Ele deu um passo para trás, parando ao lado de Lety, que lhe lançou um olhar de reprovação.

– O que foi isso? – Carol perguntou à Omar.

– Eu... Eu... Você está... Está linda! – Ele a olhou admirado.

– Não muda de assunto. Por que Fernando teve que te arrastar até aqui? Você não quer se casar?

Em meio a multidão ouviu-se alguns murmúrios. Omar sentiu sua garganta seca e não sabia o que responder. Não queria dizer a Carol que estava nervoso por causa do casamento, ou ela pensaria que ele não queria se casar. Por sorte Fernando intercedeu por ele, livrando-o de uma explicação sem nexo.

– Acontece Carol que ele não queria te ver antes de entrar na igreja. Omar tem umas superstições meio bobas. É que ele não regula muito bem da cabeça, quando a mãe dele estava grávida ela pulou muito, deixou ele meio confuso das ideias. Desculpe Dona Carmen. – Ele olhou para a mãe de Omar.

– Ah... Então era isso? – Carol sorriu aliviada. – Não se preocupe, não precisa acreditar nessas superstições.

– Que bom. – Omar sorriu e segurou sua mão.

– Agora... Podemos nos casar?

– É claro!

Todos aplaudiram e comemoraram. Lety olhou para Fernando e balançou a cabeça, sorrindo. Era incrível a habilidade do seu marido de inventar coisas para ajudar os outros.

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Após a cerimonia, todos seguiram para um salão onde teria a festa de casamento, planejada por Lety e Fernando – Padrinhos de casamento. O salão estava lotado e a banda convidada já começava a animar a festa. Fernando e Lety sentaram-se em uma mesa grande junto com os funcionários da Conceitos e os pais de Lety. Todos estavam animados e aproveitavam cada segundo daquela diversão.

– Está vendo como ele está feliz? – Fernando disse para Lety, olhando na direção de Omar que dançava com Carolina. – Quanto tempo ele perdeu com outras mulheres sendo que ela estava bem em baixo do nariz dele.

– Parece com alguém que eu conheço. – Lety sorriu divertida.

– Éramos muito bobos mesmo.

– Mas agora o que importa é que estão os dois aqui, casados e prestes a formar uma família.

– Ainda bem por isso. – Fernando sorriu e a beijou.

– Lety! Lety vamos dançar! – Sara se levantou com as outras do Quartel.

– Ah não... Meninas... Vou ficar por aqui.

– Não Lety! Não seja tão chata! Vamos aproveitar a festa. – Paula Maria disse animada. – Como nos velhos tempos! Vamos!

Lety olhou para Fernando e ele sorriu, fazendo um gesto para que ela as acompanhasse.

– Está bem. Mas já vou dizendo que ainda não aprendi a dançar. – Lety se levantou e elas comemoraram. Juntas foram para o meio do salão onde havia a pista de dança. A música que tocava era animada e Lety começou a dançar com o seu jeito único. Fernando riu olhando em direção a ela e deu um longo suspiro apaixonado, pensando que havia feito a melhor escolha da sua vida se casando com ela.

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– Meninas, eu estou muito cansada. Preciso de um pouco de água. – Lety disse respirando ofegante.

Começava a sentir calor e precisava de um descanso. Se dependesse de suas amigas, elas não parariam de dançar mesmo que a música acabasse. Enquanto Fernando estava entretido na mesa conversando com os pais de Lety, ela se afastou indo ao bar buscar um copo de água.

– Por favor, um copo de água. – Ela pediu ao barman.

Lety virou-se para observar a festa, e então prendeu sua respiração ao reconhecer um rapaz mais ao fundo, segurando uma bandeja de bebidas e servindo à mesa de um dos convidados. Era o mesmo homem que Lety havia visto no restaurante com Carol, e novamente sentiu a sensação ruim percorrer seu corpo. Não sabia explicar porque sentia aquilo toda vez que olhava para aquele homem, mas algo lhe dizia que ela o conhecia de algum lugar, só não conseguia se lembrar de onde.

– Lety! Que festa animada! – Tomás se aproximou e notou que Lety estava olhando paralisada para algum lugar. – Lety? Lety! – Ele passou a mão na frente do rosto de Lety e ela pareceu despertar de um transe. - O que foi?

– Ai Tomás... Já teve a sensação de que conhecia alguém de algum lugar, mas não se lembra de onde?

– Várias vezes. Por quê?

– É que tenho a impressão de que conheço aquele homem de algum lugar, mas não consigo me lembrar.

– Que homem? Tem tantos por aqui.

– Aquele. O garçom. Ali servindo a mesa dos pais da Carol.

Tomas ajeitou seus óculos para conseguir ver melhor. Ao localizar o homem a quem Lety se referia, sua reação foi a mesma que a de Lety quando ela o olhava, mas diferente dela, Tomás sabia exatamente de onde conhecia aquele homem.

– Lety, você... Você tem certeza que não se lembra de onde o conhece?

– Eu sei que o conheço, mas não me lembro de onde. Eu tenho uma sensação muito ruim quando olho para ele, Tomás, mas não sei explicar por que. Você o conhece?

– Conheço Lety, e você também. – Ele parecia magoado.

– E quem é?

– É o Miguel, Lety.

– Miguel? Miguel... Miguel? O Miguel que conhecemos?

– Esse mesmo. – Tomás olhou para Lety, magoado, lembrando-se de tudo o que sua amiga havia passado. – Ele está muito mudado, mas eu tenho certeza que é ele. Não me esqueceria dele. Não depois de tudo que ele te fez.

Lety sentiu o seu coração acelerar e as suas mãos suarem. Um flashback passou por sua mente, e toda a humilhação que havia passado voltou a perturbá-la. Aquele homem a destruiu por completo, e fez que por um instante Lety tivesse vontade de perder a vida. Aquele homem havia a feito passar por um dos piores dias da sua vida. Lety sentiu seu corpo se pesar e escorou-se no balcão. Tomás a segurou pelo braço, temendo que ela desmaiasse a qualquer momento.

– Lety... Você está bem?

Lety sentia que tudo ao seu redor começava a rodar. Em sua mente, apenas a imagem de todas as pessoas rindo e caçoando apontando os dedos em sua direção, chamando-a de feia. Ela já não se concentrava nas pessoas ao seu redor, e mal notou quando Carol se aproximou preocupada, perguntando à Tomas o que aconteceu.

– Eu vou chamar o Fernando. – Carol disse se afastando.

Lety só conseguia olhar para o homem a poucos metros de si. Agora ela conseguia reconhece-lo claramente. Como poderia esquecer a imagem daquele homem que a enganou e a fez passar por tamanha humilhação?! Tudo começava a ficar escuro e distante, e a ultima coisa que Lety viu foi Fernando correndo em sua direção, segurando-a pela cintura antes que ela desfalecesse em seus braços.

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Um cheiro forte fez com que Lety despertasse. A luz a incomodou, e ela demorou um pouco para perceber que várias pessoas estavam ao seu redor. Carol, Omar, Tomás, seus pais, e Fernando. Notou que estava deitada em um sofá, na recepção, que ficava em um local separado. Por sorte todos os convidados estavam entretidos com a festa.

– Graças a Deus! – Julieta exclamou.

– Ela vai ficar bem. Foi apenas uma queda de pressão. – Lety reconheceu o homem em sua frente, um primo da Carol que havia sido apresentado a ela poucos minutos após a festa começar. Por sorte, ele era médico.

– Obrigada, Gabriel. – Carol disse.

– Meu amor, como você está? – Fernando perguntou segurando a mão de Lety, com um tom claramente preocupado.

– Um pouco tonta. E com dor de cabeça.

– Isso é por causa da queda da pressão. Beba muita água e logo você ficará bem. – Gabriel disse, sorrindo.

– Obrigada. – Lety disse tentando sorrir, mas sem sucesso. Ainda estava confusa com o que havia acontecido.

– Você nos assustou. – Carol disse para a amiga.

– Tem certeza de que ela ficará bem? – Erasmo perguntou.

– Sim Senhor. Ela só precisa de um pouco de espaço. Se puderem deixa-la aqui descansando, será melhor para ela.

– Isso. Vamos voltar para a festa. Você vai ficar bem, não é? – Carol perguntou.

– Sim, podem ir. Ficarei bem, obrigada.

Um a um eles se retiraram, ainda com olhares preocupados para Lety, ficando apenas Fernando e Tomás que olhava para ela com os braços cruzados.

– O que foi que aconteceu, Lety? – Fernando perguntou. – Você estava muito pálida.

Lety e Tomás trocaram olhares, e então Tomas suspirou, preparando-se para contar toda a verdade.

– Acontece que a Lety...

– Senti muito calor depois de dançar tanto. Acho que foi o calor. – Lety disse fuzilando Tomás com o olhar, para que ele não a desmentisse. Contrariado ele revirou os olhos.

– Você precisa se cuidar, meu amor. Fica muito tempo sem comer, e não pode exagerar muito para se cansar. O primo da Carol disse que é normal acontecer isso na primeira gravidez, e que você não pode exagerar.

– É, você tem razão. Eu me cuidarei mais de agora em diante. – Ela forçou um sorriso e Fernando beijou sua mão.

– Fiquei tão preocupado com você.

– Eu estou bem, agora.

– Quer ir para casa?

– Eu acho que seria melhor. Preciso deitar um pouco.

– Está bem. Vou buscar o carro para deixa-lo na porta e volto para te pegar, está bem?

– Está bem.

– Cuida dela enquanto isso? – Fernando perguntou à Tomás

– É claro.

Rapidamente Fernando se levantou e passou por Tomás, deixando os dois a sós.

– Por que não contou para ele? – Tomás perguntou.

– Eu conheço ele. Ia querer ir atrás do Miguel e só Deus sabe o que faria com ele. Não quero causar um tumulto no casamento da minha amiga.

– Mas Lety... Você mentiu para ele.

– Foi por uma boa causa, Tomás. Eu não quero mais saber desse assunto. Isso foi um triste acaso, e não vai acontecer de novo. Não vou sair por aí trombando com ele.

– Mas você viu como ficou, não é?

– Isso não vai se repetir. Quais são as chances de encontra-lo na rua? Então prefiro esquecer que isso aconteceu e continuar a minha vida. E Fernando não vai saber disso, está bem?

– Mas Lety...

– Me prometa, Tomás.

Contrariado ele desistiu de discutir sobre aquele assunto.

– Está bem, eu prometo.

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Finalmente Lety pôde deitar em sua cama e descansar sua mente. Sentia-se triste por não ter aproveitado mais a festa que havia planejado por tanto tempo, mas não poderia mais ficar no mesmo ambiente que Miguel. Depois de tomar um bom banho gelado, ela deitou sua cabeça no travesseiro, tentando esquecer o que havia acontecido.

– Precisa de alguma coisa? – Fernando deitou-se ao lado dela.

– Só preciso que você fique aqui comigo, abraçadinho.

– Seu desejo é uma ordem. – Ele se ajeitou na cama, aninhando Lety em seus braços, deixando seus rostos colados um no outro. – Melhor?

– Muito melhor.

– Tem certeza de que está bem?

– Agora sim.

– Você me deu um grande susto, Lety. Mil coisas passaram em minha cabeça quando te vi desacordada nos meus braços.

– Eu estou bem agora, meu amor. Não precisa se preocupar.

– Fiquei com medo de que algo acontecesse à vocês.

– Nada vai acontecer. Estamos bem. – Lety sorriu tranquilizando-o.

– Ótimo. Agora posso dormir melhor. – Ele sorriu e a beijou.

Em poucos minutos o silencio tomou conta do quarto escuro, e Fernando adormeceu. Lety gostaria de ter feito o mesmo, mas a imagem do seu passado não saía de sua mente. Mesmo que ela quisesse enterrá-lo, mesmo que ela tivesse se transformado em uma mulher completamente diferente da que era, que aceitava a si mesma, nada poderia apagar aquelas memórias que ela achava que já tinham sido enterradas. Maldita hora que isso tinha que acontecer.


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