Bésame escrita por Verônica Souza


Capítulo 15
Escondendo o jogo




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Durante todo o caminho de volta para casa Fernando ficou em silencio. Lety pensava se ele havia ficado bravo por conta do comercial, mas conhecia ele bem o suficiente para saber que havia algo mais além disso. Preferiu não perguntar no carro, esperou até que chegassem em casa. Assim que chegaram, Lety o observou sentar-se no sofá e tombar a cabeça para trás, cobrindo o rosto com o braço. Um gesto que Lety entendia que ele estava tenso e preocupado com alguma coisa.

– Algum problema? – Perguntou sentando-se ao lado dele.

– Dia cheio no trabalho. – Respondeu sem olhá-la.

– Não quer falar sobre isso?

Por alguns segundos ele ficou em silencio.

– Não, é melhor irmos dormir. – Levantando-se do sofá, ele mal olhou para Lety e seguiu para o quarto dos dois. Lety tentou pensar se havia dito ou feito algo errado durante o meio tempo em que o esperou para ir embora, antes disso ele estava completamente normal.

Lety o seguiu em silencio, sem tocar mais no assunto. A falta de conversa era perturbadora, mas ela não queria força-lo a nada. Deitaram para dormir, mas Fernando ficou rolando na cama a noite inteira. Lety também não conseguiu dormir, preocupada com o que estaria acontecendo para Fernando ficar daquele jeito, e pior, sem querer lhe contar.

Por fim Fernando levantou-se no meio da madrugada e saiu do quarto. Lety estava adormecida, não notou quando ele a deixou sozinha na cama. Na sala de estar, Fernando andava de um lado para o outro, com pensamentos demais para conseguir dormir.

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– Ele não estava na cama? – Carol perguntou à Lety.

– Não. Quando acordei ele já estava se arrumando, mas tenho certeza que ele não dormiu. Estava cansado hoje de manhã, e mal conversou enquanto vínhamos para cá.

Lety e Carol conversavam sozinhas na sala de reunião.

– Eu não sei mais o que fazer... Já tentei de todos os modos saber o que está acontecendo. Não sei se é algo que fiz, algo que eu disse.

– Talvez seja pelo comercial.

– Não, não. Se fosse por isso ele diria, eu tenho certeza. Estávamos muito bem até irmos embora.

– Não se preocupe Lety, talvez ele esteja um pouco tenso com o trabalho, ou talvez esteja apenas ansioso para a chegada do bebe.

– Mas já?

– Alguns homens reagem diferentes à gravidez da esposa, Lety. Alguns não ficam tão ansiosos, outros se desesperam. Por pensar como será, se será um bom pai.

– É, talvez seja isso. Eu vou conversar com ele. – Lety suspirou e se levantou, seguindo para a sala da presidência.

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Fernando estava de cabeça baixa sentando à sua mesa. Não estava se concentrando no trabalho naquele dia. Ao ouvir batidas na porta ele ergueu a cabeça, e antes de dizer “entre” a porta se abriu, e Pilar entrou sorridente.

– Bom dia.

– O que você quer? – Perguntou sem rodeios. – Fui claro em nosso acordo que não quero que fique vindo à minha sala.

– Eu apenas vim formalizar o nosso acordo.

– Formalizar?

– É claro. Acha que vou deixar que a qualquer momento você desista? Aqui está. – Ela colocou alguns papeis à mesa. – Você precisa assiná-los.

– E o que é isso? – Perguntou olhando para os papeis.

– Um contrato. De que eu serei a modelo que fará todos os comerciais da Conceitos durante um ano.

Fernando suspirou irritado e pegou os papeis.

– Vou assiná-los depois, estou com muito trabalho para fazer.

– Estou vendo. – Ela sorriu divertida, se aproximando de Fernando. – Então, acordo fechado. É muito bom negociar com você, Pavel.

Fernando não a corrigiu. Apenas colocou os papeis de volta à mesa com ferocidade. Pilar se afastou, saindo da sala. No mesmo instante Lety passou por ela, entrando desconfiada.

– O que ela queria? – Lety perguntou fechando a porta. – Finalmente veio dizer que vai embora?

Fernando olhou para Lety com seriedade.

– Não. Na verdade, ela não vai embora tão cedo.

– O que? Por quê?

– Agora ela é contratada pela Conceitos.

– Como assim? – Lety perguntou assustada, se aproximando da mesa.

– Bom... Precisamos de uma modelo, e ela se ofereceu. Ela é uma modelo famosa, seria bom para a empresa tê-la nos comerciais.

– Fernando, meu amor... – Lety sentou-se na cadeira de frente para Fernando. – Aquela é Pilar Zacarias. Aquela mulher é um ser... Digamos que desprezível. Você a odeia, lembra? Por que de repente quer contratá-la?

– Eu apenas estou pensando na Conceitos, Lety. – Respondeu com frieza. – Ou você tem alguma outra opção? Talvez Aurora possa fazer os comerciais.

Lety ficou em silencio. Fernando a estava atingindo, mas ela nem ao menos sabia o motivo. Ela apenas levantou-se e o olhou, esperando que ele se desculpasse a qualquer momento, mas não o fez. Fernando apenas deu um longo suspiro e encostou-se em sua cadeira, fechando os olhos.

– Vou almoçar com a Carolina. – Disse magoada. – Ela quer ajuda para os últimos detalhes do casamento.

– Está bem. – Fernando respondeu sem olhá-la.

– Quer alguma coisa?

– Não, estou bem.

Lety abaixou a cabeça e saiu da sala, dando uma ultima olhada para Fernando antes de fechar a porta.

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– O que? O QUE? – Luigi levantou-se de sua cadeira com um pulo. – Irminha, por favor, diz que está brincando, Irminha!

– Desculpe Sr. Luigi, foi o que o Seu Fernando mandou dizer. Que Pilar Zacarias está contratada pela Conceitos para fazer comerciais durante um ano.

– Mas ele ficou louco? Como ele quer que eu faça todos esses comerciais com uma modelo igual em todos eles? Principalmente por... Essa louca! Ai ele só pode ter enlouquecido!

– Eu também não sei por que ele decidiu isso.

– Porque ficou louco, Irminha! Por isso! Aposto que ficou magoadinho porque a Lety fez um comercial maravilhoso e todos elogiaram. Mas ele vai se ver comigo.

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Omar entrou na sala da presidência e se aproximou da cadeira de Fernando. Ao se aproximar, colocou a mão na testa dele. Fernando olhou confuso para Omar, e então ele se afastou.

– O que foi isso? – Fernando perguntou.

– Estou vendo se você está com febre ou delirando. Quero dizer, delirando está... Mas tem que haver um motivo para isso.

– O que você quer, Carvajal?

– Soube que contratou a Pilar. Irmãozinho... Você enlouqueceu? Você não odeia essa mulher?

– Odeio. E agora odeio ainda mais. – Fernando bateu à mesa.

– O que deu em você, Fernando? Ah espera... Eu já sei! Ela fez alguma macumba pra você, não é?! Eu sabia que ela era assim! Eu sabia!

– Omar não seja imbecil! – Fernando se levantou, colocando as mãos no bolso e andando pela sala. – Ela não fez nada disso. Se eu não lhe desse isso... Ela usaria algo contra a Lety, e eu não posso permitir isso.

– Contra a Lety?

– Sim.

– Mas o que foi?

– É melhor se sentar, é uma longa história.

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– E aqui ficará o bolo. – Carolina apontou para uma foto em suas mãos. Lety não prestava atenção, estava olhando para outra direção. – Lety!

– Sim?

– Você está prestando atenção?

– Ai me desculpa. – Lety disse ainda olhando para a outra direção. – É que eu tenho a impressão de que conheço aquele homem de algum lugar. Ele não me é estranho.

– Talvez seja algum cliente da Conceitos?

– Não, acho que não.

– Bom então alguma pessoa que você viu alguma vez. Isso é mesmo importante?

– Eu não sei... Tenho uma sensação ruim quando olho para ele.

– Isso é estranho, Lety. – Carolina olhou para um homem ao fundo, com jaqueta preta e óculos escuros conversando no balcão. – Quer que eu vá lá para descobrir o nome dele?

– Não. É melhor não. Se eu estou com essa sensação ruim eu quero distancia dele. Por que não continua me mostrando os detalhes do casamento? Isso é bem mais importante.

– Tem razão.

Carol voltou a mostrar à Lety as fotos, e ela tentou se entreter, mas ainda com a sensação de que aquele homem era conhecido.

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Omar se ajeitou na cadeira encarando Fernando.

– Eu não sei o que é pior: você em silencio me olhando assim, ou dizendo alguma besteira. – Fernando disse.

– Eu só estou pensando... Em como você é burro. Me desculpe, mas é burro!

– E pode ao menos dizer o porquê da ofensa?

– Porque você está descontando tudo isso na Lety. Você está sendo grosseiro sem motivo algum. Não é culpa dela essa tal Pilar ter feito você assinar um acordo com ela. Por que não diz de uma vez para ela o que aconteceu? Quem sabe ela te ajude e resolva essa situação?

– Mesmo que eu quisesse, faz parte do acordo Lety não saber de nada, se não Pilar irá dizer à toda imprensa que Lety é a Aurora. Lety já me disse várias vezes que tem medo de que descubram isso e as nossas vidas se transformem em um caos. E não podemos lidar com isso nesse momento, principalmente com um bebe a caminho.

– Eu entendo que esteja em um beco sem saída, mas tem mesmo que tratar a Lety assim?

– Eu não estou tratando ela assim de propósito. É que eu... Argh! – Fernando bateu na mesa e escorou-se na cadeira. – Eu estou nervoso. Estou pensativo e não consigo me concentrar em nada.

– Bem... Já que isso já está resolvido, o meu conselho é que continue vivendo sua vida normalmente, antes que isso abale o seu casamento e tudo o que você fez seja em vão.

Fernando olhou para Omar e quis agradecer. Por mais que ele dissesse coisas sem sentido, a maioria de seus conselhos eram uteis e sinceros.

– Boa tarde. – Lety entrou na sala da presidência com seriedade. – Fernando, depois precisamos dar uma olhada no orçamento daquele comercial que será gravado na semana que vem.

– Está bem, Lety. – Ele disse manso, mas Lety não pareceu mais calma. Estava fria e magoada, e não fazia questão de olhar para Fernando. – Como foi o almoço?

– Bom. – Respondeu simplesmente. – Vou voltar para a minha sala, tenho muito trabalho a fazer.

– Por que não faz aqui? Podemos fazer juntos.

– Prefiro fazer sozinha, para me concentrar melhor. Com licença. – Dizendo isso ela se afastou entrando em sua salinha. Omar olhou para Fernando como se dissesse “Eu avisei”.

– E agora? O que eu faço?

– Agora você tem que se desculpar.

– Ela não vai querer me desculpar sem que eu diga o que aconteceu. E eu não posso dizer.

– Então arrume um jeito de fazê-la esquecer o modo como você tratou ela.

– Você tem certeza que está na profissão certa? Não quer ser um psicólogo?

– Sou mil e uma utilidades. – Omar respondeu se levantando, sorridente.

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Lety ainda estava com uma sensação ruim em relação ao homem que havia visto mais cedo. Não conseguia tirar seu rosto da cabeça, mas também não conseguia se lembrar quem era. Queria saber por que estava com uma sensação tão ruim por alguém que ela nem ao menos se lembrava. Mas seus pensamentos foram interrompidos por Fernando abrindo a porta.

– Tudo bem aí? – Perguntou escorando-se à porta.

– Sim. Por que não estaria? – Disse voltando sua atenção para a tela do computador. – Já estou terminando o orçamento para darmos uma olhada.

– Pode deixar isso por um instante?

– Realmente precisamos disso hoje e...

– Lety. – Fernando chamou sua atenção e ela o olhou.

– O que você quer, Fernando?

– Podemos conversar um pouco?

– Conversar sobre o que? Não temos nada para conversar.

– Você sabe que temos sim.

– Quer conversar sobre como tem me tratado friamente desde ontem sem nem ao menos dar uma explicação? Ou sobre estar estranho e não confiar em mim para me contar sobre isso?

– Eu não estou estranho, só estou um pouco estressado com todos esses comerciais. – Mentiu, se aproximando. – Eu sei que não tinha que ter descontado em você.

– Descontado em mim? O que te faz pensar que tem descontado em mim?

– Não me torture, Letícia, por favor. – Ele tocou em seus ombros a virou para olhá-lo. – Não foi a minha intenção descontar em você, me desculpe.

– Está desculpado. Agora podemos voltar ao trabalho?

– Não. Não te deixarei trabalhar enquanto não disser que me perdoa mesmo, e que estamos bem.

– Nós estamos bem sim.

– Mesmo?

– É claro. Não é pelo meu marido descontar os seus problemas em mim que vamos nos divorciar.

– Letícia! – Fernando suspirou e virou-se de costas, contrariado com as mãos na cintura. – O que preciso fazer para que você me perdoe?

– Precisa me ajudar a terminar esse orçamento. Estamos com pressa.

Fernando deu um longo suspiro e desistiu de tentar conversar naquele momento. Lety segurava o sorriso satisfeito. Não estava mais brava com ele, mas gostava de vê-lo arrependido.

– Lety? – Paula Maria entrou na sala. – Lety, o Tomás está aqui! Ele quer te ver.

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– Quem diria que veríamos Alice Ferreira carregando um herdeiro de Tomás Moura. – Sara disse divertida olhando para o bebe no colo de Alice.

– E ele é tão lindo quanto o pai. – Alice disse sorrindo.

– Claro que é. – Omar disse prendendo o riso, levando um tapa de Carol.

– Meus parabéns Alice e Tomás. – Carol disse sorrindo.

– Tomás! – Lety exclamou animada.

– Lety! – Ele abriu os braços e os dois correram para se abraçar. – Quanto tempo, Lety!

– Pensei que não voltariam mais de viagem!

– Se dependesse da minha gatinha teríamos ficado no Brasil por mais meses, mas eu precisava voltar para o trabalho.

– E sua mãe nos ameaçou de ligar para a policia se não voltássemos. – Alice disse.

– Não me diga que esse é o pequeno Julio? – Lety se aproximou de Alice olhando para o bebe. – Tomás ele se parece tanto com você!

– É uma pena não é? – Fernando disse e todos olharam para ele. – Brincadeira! – Sorriu sem graça. – Companheiro Tomás, quanto tempo!

– Companheiro Seu Fernando!

Os dois se abraçaram.

– Ele cresceu tanto desde a ultima foto que você me mandou, Tomás. – Lety disse sorrindo para ele.

– Quer segurá-lo? – Alice perguntou. – Afinal você precisa ir treinando.

Lety sorriu e Alice lhe entregou o bebe. Todos ficaram em silencio olhando para Lety segurando o bebe com tanta ternura e delicadeza. Fernando suspirou orgulhoso e seu coração se encheu de alegria apenas por pensar no momento que seria o seu filho ali.

– Ele é um anjinho. – Lety disse emocionada.

– E nós temos um convite para você, Lety. – Tomás abraçou Alice pela cintura e os dois sorriram olhando para ela. – Queremos que você seja a madrinha do Julinho. Você aceita?

Lety olhou emocionada para os dois e então sorriu.

– Mas é claro que eu aceito!

– E você aceita ser o padrinho, Companheiro Seu Fernando?

– Eu? – Fernando olhou abismado para os dois. – Tem certeza?

– Mas é claro! Nós confiamos em vocês dois para cuidarem bem dele na nossa ausência, e para serem os segundos pais dele.

– Bom... Sendo assim, é claro que eu aceito! – Fernando disse animado e todos bateram palmas. O bebe se mexeu inquieto e Lety e Alice fizeram um gesto pedindo silencio.

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– Foi uma grande surpresa, não é? – Fernando perguntou quando voltaram para a sala.

– Foi sim. Eu não esperava por isso. – Lety disse sorrindo abobada.

– Sabe, Lety... – Fernando se aproximou, tocando a cintura dela. – Vendo você segurar o bebe com tanta ternura, me fez pensar em como será quando o nosso estiver aqui. – Ele repousou as mãos no ventre dela e ela sorriu.

– Eu pensei o mesmo.

– Mal posso esperar.

– Eu também.

– Ainda falta muito, não é?

– Falta um pouco. – Lety riu. – Mas aposto que irá passar tão rápido que quando assustarmos já vai chegar a hora.

– Para ser sincero eu não sei qual será minha reação, Lety. Acho que ficarei paralisado.

– É melhor não, quem irá me levar para o hospital quando chegar a hora?

– Acho que teremos que ir os dois para o hospital. Vou desmaiar de tanto nervosismo. Eu já começo a suar só de pensar, olha só.

– Calma. – Lety riu. – Ainda falta muito para isso.

– É... Falta, não é?! Mas até lá irei proteger os dois de tudo, e de todos. – Ele acariciou a barriga dela e os dois se beijaram, sem ao menos se lembrarem de que pouco tempo atrás o clima estava tenso entre eles.


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