A Âncora escrita por Nice Chick


Capítulo 4
Acidentes acontecem




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Acordei em uma cama macia, debaixo de um lençol florido. Ao meu lado, Mathew dormia um sono profundo. Instantaneamente abri um sorriso. Levantei-me da cama rapidamente e corri para o banheiro pegando as peças de roupa jogadas pelo chão, acho que seria este o andar da vergonha. Escovei meus dentes e tomei um banho frio para tirar o cheiro de ice do meu cabelo e diminuir a dor de cabeça. Quando sai do banho Sophia batia na porta. Coloquei minha blusa preta rendada, um short jeans claro e sai para tomar café da manhã. Sophia parecia normal, mas meio triste. Seu rosto estava vermelho, como se estivesse chorando pouco tempo atrás.

– Está tudo bem So? - perguntei a ela esperando uma reação dramática, mas não foi o que aconteceu.

– Estou, só com um pouco de ressaca - mentira claro, já que Sophia não tem ressaca. Ignorei sua cara fechada e segui em frente.

Quando chegamos na sala de jantar, me assustei. Comer na casa de Sophia era como ir a um restaurante e pedir todas as opções do cardápio. Eram bolos, biscoitos, pães, requeijões, queijos, sucos, salames, presuntos, iogurtes de todos os sabores, frutas, leite integral, desnatado, semi-desnatado, sem lactosa, etc. Enquanto os milhares de empregados serviam a todos, comia rapidamente com medo que um chef fosse chegar a qualquer momento e fazer uma omelete para mim em uma chapa móvel.

Uns vinte minutos depois Mathew chegou para tomar café. Seu cabelo molhado do banho só o fazia mais bonito, isso e o sorriso estampado na sua cara. Estava apenas com a uma calça jeans amarrotada, mas por razões desconhecidas, tinha esquecido de colocar uma camisa. Desviou seu olhar para mim só por um segundo.

– Bom dia.

– Bom dia - sorrimos e Mathew me beijou na bochecha.

Philipe veio logo depois, mas era possível perceber muitas diferenças. Diferente de Mathew, seu corpo cheirava a maconha e ao perfume fedorento da puta que tinha comido na noite passada. Nem sequer havia tomado uma ducha. Suas olheiras eram tão longas que terminavam na marca do nariz. O hálito de uísque ainda não tinha o deixado.

Sophia era a única que nunca se sentia mal. Como havia dito antes, Sophia não tinha ressaca. Tinha puxado a habilidade de não nunca passar mal depois de uma "noite longa" como ela chamava de seu pai, o maior bêbado do mundo. Ele bebia a noite toda e no dia seguindo acordava, colocava seu terno e ia trabalhar. Sendo assim Sophia estava sempre com os cabelos arrumados e nunca tinha olheiras.

Depois do café fomos nadar e arrumar as coisas para voltar para casa. Tristemente tínhamos prova de biologia no dia seguinte e como Mathew estava reprovando em biologia achei que seria importante que ele pelo menos lesse os oito capítulos da prova. Íamos fazer uma pequena parada naquela praia deserta, então preparamos o carro de Mathew com tudo necessário para fazer um pinique e saímos mais cedo.

Eram 11 horas quando saímos. A estrada estava tranquila. Apenas alguns carros de família que passavam em direção à cidade e muitos caminhões de carga que gostavam de passar por lá e sentir a brisa marítima. O vento batia em meus cabelos. Tão fortes que casavam calafrios. Mathew cantava no ritmo do radio, mas continuava concentrado na estrada.

Ao som de “Chandelier” nossa viagem ficava cada vez melhor. Risadas e beijos. Vinte minutos depois, chegamos.

Pães, queijos, bolos, uísque, cigarros e mais tudo que conseguimos roubar da casa de Sophia completavam nosso almoço. Arrumada dentro de uma bela cesta trançada, levamos a comida para a beira mar, preparamos um tipo de mesa com um forro colorido e comemos. Comemos e cantamos. Cantamos e dançamos ao som de todas as músicas possíveis. Nadamos. Depois de horas de conversas ridículas, muitos mergulhos e muita comida, bêbados, resolvemos voltar para casa. Parecíamos idiotas cambaleando até o carro.

Abri meus olhos.

Flores.

As mesmas, papoulas. Levantei e olhei ao redor. O campo de flores se estendia até o horizonte que parecia tocar gentilmente os últimos raios de sol, impedido-os de sumir no além do universo.

O perfume forte das papoulas era gostoso e aconchegante. Queria deitar-me novamente e dormir para sempre, mesmo assim sem hesitar-me comecei uma caminhada calma e serena. Distante, no meio do nada, aquela mesma figura me intrigava.

Os olhos amarelos e os dentes afiados. Mas desta vez cheguei mais perto daquela fera desconhecida.

Uma loba. Seu pelo glorioso e dourado me assustava, mas também merecia meu respeito e compaixão. Os olhos amarelos e grandes brilhavam como diamantes. E o andar calmo e sábio da bela loba, em direção ao infinito.

Acordei no hospital. Meu corpo estava dolorido e não conseguia mover nem se quer um osso.

O cheiro de morte e doença entrava rapidamente pelo meu nariz. Na cadeira ao meu lado, Mathew me observava com um olhar preocupado. Quando percebeu que estava acordada, se levantou. Não conseguia me olhar direto nos olhos. Estava envergonhado.

– Joanne? Você esta ai?

– Acho que sim.

– Joanne – disse Mathew triste. Em seu rosto não havia mais um sorriso – nós sofremos um acidente. Um caminhão nos atingiu.

Infelizmente não lembrava de nada. Só sentia um dor forte e constante sobre todo o meu corpo. Minhas roupas estavam sujas, sujas de sangue.

– Você está bem? - disse olhando para seu rosto cansado e sujo.

– Sim, meus ferimentos foram mínimos. Mas o caminhão veio na sua direção. Ele praticamente destruiu seus rins, fígado, baço, e pulmões. Me desculpe. Me desculpe.

Em seguida coloquei as mãos em meu rosto. Um fio em minhas narinas era o que me fazia respirar.

– Você chamou minha mãe?

– Sim, ela está vindo - sua face piorava a cada palavra - mas não sei se ela chegara a tempo...

– A tempo de que? - no fundo sabia o que era, mas não queria acreditar.

– A tempo de sua cirurgia. Você sofreu muito dano nos órgãos internos. Me desculpe.

Estava triste. Morrer não era uma opção. Ainda era tão nova, não tinha feito nada da minha vida. Minha uma chance era esperar o melhor. Ao meu redor tudo que podia ouvir era Mathew pedindo desculpas e o som de suas lágrimas molhando os lençóis.


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